quinta-feira, março 29, 2012

'Foi uma experiência muito forte', diz Oprah sobre entrevista com médium


29/03/2012

'Foi uma experiência muito forte', diz Oprah sobre entrevista com médium.

Apresentadora americana entrevistou o médium João de Deus em Goiás.
Dona de casa diz ter visto Oprah chorar sob árvore durante entrevista.


A apresentadora de TV norte-americana Oprah Winfrey disse nesta quinta-feira (29/03/2012) que estava “maravilhada” com a entrevista que fez

com o médium João de Deus, em Abadiânia, cidade goiana a cerca de 150 km de Brasília. Oprah passou o dia na cidade finalizando uma reportagem com o médium, que faz cirurgias espirituais.


“Foi uma experiência muito forte. Eu ainda estou processando o que aconteceu. Eu estou maravilhada”, disse a apresentadora aoG1, em uma rápida entrevista ao deixar a Casa Dom Inácio de Loyola, onde o médium faz cirurgias espirituais. João de Deus não deu entrevista.

Oprah disse que estava fazendo uma “visita profissional” ao médium. “Eu estou aqui como membro da imprensa.” Ela não disse quando a reportagem deve ser veiculada em seu canal de televisão. Durante todo o dia ela esteve acompanhada de uma equipe composta por cinegrafistas, fotógrafos produtores e seguranças. Oprah não revelou se voltaria nesta quinta para os Estados Unidos.

De acordo com funcionários da instituição, ela chegou antes das 8h, tomou café da manhã e fez uma entrevista com o médium João de Deus debaixo da mangueira no quintal da casa. Na parte da tarde ela participou de orações e sessões de meditação com o médium e outros membros da casa. Oprah deixou o local por volta das 17h.


Surpresa

A presença da apresentadora em Abadiânia provocou surpresa nas pessoas que aguardavam para ser atendidas pelo médium. A dona de casa Maria Aquino, que mora em Brasília e vai toda semana a Abadiania para consultas, disse à reportagem do G1 Oprah foi cordial. “Vê-la foi uma emoção a mais. Acompanho o trabalho dela. Ela é muito simpática pelo que eu vi.”

Maria Aquino disse ter visto a apresentadora chorar durante a conversa com João de Deus sob a mangueira. Ela disse que ouviu João de Deus declarar que a apresentadora teria uma “cadeira cativa” na casa.

A psicóloga Maria Fernanda Robotton tentou falar com a apresentadora. Fernanda, que é de São Paulo e fazia sua primeira visita à casa na companhia de 30 pessoas em busca de equilíbrio espiritual, se disse emocionada.

“Foi minha sogra que comentou que havia uma mulher parecida com a Oprah aqui. Sou superfã. Ela faz um trabalho humanitário muito importante e ajuda muitas pessoas. Não perdia nenhum programa. Encontrar com ela aqui foi uma coincidência bacana”, afirmou.

A casa onde João de Deus faz cirurgias espirituais é muito frequentada por estrangeiros. A alemã Lea Schnneider veio em busca de conhecimento espiritual pela primeira vez e não sabia que Oprah estava lá. Depois de saber da presença da apresentadora ela afirmou ter entendido o burburinho durante a manhã.

Rainha do talk show, Oprah dominou a televisão norte-americana por um quarto de século e se transformou em uma das mulheres mais ricas dos Estados Unidos, com fortuna estimada em mais de US$ 2,4 bilhões. Ela se despediu de seu programa de TV pioneiro no dia 25 de maio do ano passado, após 25 anos de confissões íntimas de famosos, para abrir sua própria emissora.

De acordo com o ranking da revista norte-americana Forbes, divulgado em agosto de 2011, Oprah é a 14ª mulher mais poderosa do mundo. No mesmo mês, a apresentadora recebeu um Oscar por trabalho humanitário.


Fonte : G-1 Globo


domingo, março 25, 2012

Além da Vida (Hereafter)



Além da Vida (um filme dirigido por Clint Eastwood)

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Patch Adams o Amor é Contagioso



Patch Adams o Amor é Contagioso


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O Mistério da Libélula



O Mistério da Libélula

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Depois de Partir




Depois de Partir

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Além da Eternidade



Além da Eternidade

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O Filme dos Espiritos



O Filme dos Espiritos

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Antes que Termine o Dia


ANTES QUE TERMINE O DIA

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Um Olhar do Paraiso




Um Olhar do Paraiso

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Sempre ao Seu Lado



Sempre ao seu lado

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sábado, março 24, 2012

Calendário Assistência 2012



C.E. Miguel Arcanjo e Tenda Espirita Mamãe Oxum - 2012

Rua Francisco Framback, 91 E – Cascatinha - Petrópolis - RJ

Site: temoxum.bravehost.com

E-mail: temoumbanda@yahoo.com.br

JANEIRO

FEVEREIRO

MARÇO

20/01- Gira de OXOSSE

Abertura do ano

as 20 horas

27/01 – Gira de Exus

RECESSO PARA OBRAS

02/03 – Pretos-Velhos

09/03 – Saúde

16/03 – Não tem Gira

23/03 –Gira de Exus

ABRIL

MAIO

JUNHO

06/04 – Não tem Gira

13/04 – Saúde

20/04 – Caboclos

23/04 –Gira de OGUM

27/04 – Gira de Exus

04/05 - Pretos - Velhos

11/05 - Saúde

13/05 – Festa Preto- Velho

18/05 – Caboclos

25/05 – Gira Exus/Ciganos

01/06 – Preto-Velho

08/06 – Saúde

13/06 – Festa de Exus

15/06 – Caboclos

22/06 – Gira de Exus

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

06//07 – Pretos-Velhos

13/07 – Saúde

20/07 – Caboclos

29/06 – SEMINÁRIO

03/08 – Pretos-Velhos

10/08 – Saúde

16/08 – Gira de OBALUAÊ

24/09 – Caboclos

31/08 – Gira de Exus

14/09 – Saúde

21/09 – Caboclos

30/09 – Festa de COSME E DAMIÃO

às 17 horas

OUTUBRO

NOVEMBRO

DEZEMBRO

05/10 – Pretos- Velhos

12/10 – Não tem Gira

19/10 – Caboclos

26/10 – Gira de Exus

02/11 – Não tem Gira

09/11 – Saúde

16/11 – Caboclos

23/11 – Gira de Exus

02/12 – Bênção de Vovó Catarina – Gira da OXUM

A giras de sextas-feiras têm início às 20 horas. As fichas são distribuídas a partir de 19:45 até as 21:30. As pessoas que chegarem após este horário receberão apenas o passe, sem consulta.

Nossa casa não cobra consultas nem trabalhos, porém aceitamos colaboração de materiais de uso como velas, fósforos, charutos, fumos, etc...

ATENÇÃO: NÃO É PERMITIDO NO RECINTO PESSOAS COM MINI-SAIAS, SHORTS OU BERMUDAS CURTAS, BLUSAS DECOTADAS OU MINI-BLUSAS, CAMISETAS TIPO MACHÃO.

A CARIDADE NÃO SERÁ NEGADA, PORÉM RESPEITEM O TEMPLO RELIGIOSO.

terça-feira, março 20, 2012

Evento: Praça Florida de Livros 2012 em Petópolis







PRAÇA FLORIDA DE LIVROS 2012

"Seja a paz”

Programação oficial:

Toda a programação tem entrada franca.

Em todos os dias do evento

Exposição, venda e troca de livros espíritas; sessões de autógrafos; Performances.

Local: Praça Dom Pedro.

Horário: 10h às 19h.


13 de abril, sexta-feira

20 h
Palestra inaugural da Praça Florida de Livros, com Darcy Neves Moreira. Tema: “Seja a paz”.
Local: Centro Espírita Missionários da Caridade (Cemica). Estrada da Independência, 82, Cremerie.

Darcy Neves Moreira é diretora da área de educação do Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (Ceerj). Juntamente com outros nomes do Espiritismo fluminense, implantou a Confraternização Espírita do Estado do Rio de Janeiro (Comeerj).

14 de abril, sábado

17h
Palestra com Cristian Macedo. Tema: “Juventude e paz”.
Local: União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep). Rua Casimiro de Abreu, 295/A, Centro.
Cristian Macedo é de Gravataí, RS. Professor de História, articulista na imprensa espírita, e autor dos livros O Despertar da Alma; Cartas ao Jovem Espírita e Culpa, Pecados e Capitais. É um dos fundadores da Sociedade Espírita Esperança, também em Gravataí.

15 de abril, domingo

10h
Palestra com Aloísio Silva. Tema: “A paz pelo perdão”.
Local: Grupo da Fraternidade Espírita Oswaldo Cruz. Rua Gal. Marciano Magalhães, 339, Morin.
Natural de Guarapari, ES, Aloísio Silva é professor de Psicologia, fundador e atual presidente da Sociedade Guarapari de Estudos Espíritas, além de expositor e escritor. Alguns de seus livros espíritas: Con versando com os Jovens, Terapêutica do Perdão e Por Entre as Dores.

15h
Espetáculo infantil: “O reino enfeitiçado”. Texto Clara Gomes. Direção Regina Guimarãez. Encenação Cia. De Teatro da UMEP. Classificação: Livre.
Local: UMEP – Rua Casimiro de Abreu, 295/A - Centro.

16 de abril, segunda-feira

20 h
Palestra com Marcus de Mário. Tema: “Educando para a paz”.
Local: Grupo Espírita Irmã Catarina (Geic). Rua Bingen, 447, Bingen.
O paulista Marcus de Mário é educador, escritor e consultor em Educação. Faz parte do Centro Espírita Humildade e Amor, Rio de Janeiro, RJ. É diretor do Instituto Brasileiro de Educação Moral (Ibem) e membro do Grupo de Estudo e Pesquisa Espírita (Gepe). Alguns de seus livros: Espiritismo e Cultura, O Homem de Bem e Visão Espírita da Educação.

17 de abril, terça-feira

10h
Painéis para a juventude. Tema: “Intolerância religiosa e a paz”
Local: Centro de Cultura Raul de Leoni (Teatro Afonso Arinos). Praça Visconde de Mauá, 305, Centro.

14h30
Cinema em debate
Filme: “A Orquestra dos Meninos, de Paulo Thiago”. Com Murilo Rosa, Priscila Fantim e Othon Bastos.
Local: Centro de Cultura Raul de Leoni (Cine Humberto Mauro). Praça Visconde de Mauá, 305, Centro.

18h30
Conversando sobre Espiritismo – Lydiênio Barreto de Menezes e Enir Sattler Local: Centro de Cultura Raul de Leoni – Praça Visconde de Mauá, 305, Centro.

18 de abril, quarta-feira – Dia do Espírita.

9h
Sessão Solene – Dia do espírita, em Petrópolis.
Local: Câmara Municipal de Petrópolis. Praça Visconde de Mauá, 89, Centro.

14h30
Cinema em debate
Filme: Feliz Natal, de Christian Carion. Com Diane Kruger e Benno Fürmann.
Local: Centro de Cultura Raul de Leoni (Cine Humberto Mauro). Praça Visconde de Mauá, 305, Centro.

18h30
Conversando sobre Espiritismo – Márcio Simões e Marco Lazarinni.
Local: Centro de Cultura Raul de Leoni. Praça Visconde de Mauá, 305, Centro.

20 h
Abertura oficial da Praça Florida de Livros.
Palestra com José Carlos Leal, escritor homenageado
Local: Theatro D. Pedro. Praça dos Expedicionários, s/nº, Centro Histórico.
José Carlos Leal é graduado em Letras e mestre em Ciência da Literatura. É um dos expositores espíritas mais requisitados da atualidade. Tem publicados livros sobre a área de literatura e sobre Espiritismo, dentre os quais destacamos Evangelho e Qualidade de Vida, Con fissões de uma Harpista, O Jesus dos Espíritas, O que não é o Espiritismo, Como Aproveitar Bem uma Encarnação, As Três Revelações, Trabalhando para Si Mesmo e O Projeto Divino, entre muitos outros títulos. Além disso, é professor do Instituto de Cultura Espírita e membro da Academia Duque Caxiense de Letras.

19 de abril, quinta-feira

10h
Painéis para a juventude. Tema: “Educação dos sentimentos”, com Luis Carlos Ruíz Estribí - Nascido no Panamá, é bacharel em Marketing e Publicidade e mestre em Administração com ênfase em Marketing & Comércio Internacional. Faz parte, desde 1982, da “Fraternidad Espírita Dios, Amor y Caridad (Fedac), onde, além de organizar a programação doutrinária, também é responsável pelo Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (Esde). Desde 1985, integra o grupo de jovens da instituição, sendo atualmente seu secretário. É, ainda, um palestrante conhecido internacionalmente. Local: Centro de Cultura Raul de Leoni (Teatro Afonso Arinos). Praça Visconde de Mauá, 305, Centro.

14h30
Cinema em debate
Filme: À Prova de Fogo, de Alex Kendrick. Com Kirk Cameron e Erin Bethea.
Local: Centro de Cultura Raul de Leoni (Cine Humberto Mauro). Praça Visconde de Mauá, 305, Centro.

18h30
Conversando sobre Espiritismo – Marcus de Mário e Carlos Gama
Local: Centro de Cultura Raul de Leoni – Praça Visconde de Mauá, 305, Centro.

20 h
Encontro musical “Você é a paz”. Allan Filho e convidados.
Local: Theatro D. Pedro. Praça dos Expedicionários, s/nº, Centro Histórico.

20 de abril, sexta-feira

15h
Performance cênica – “Morte e Vida Severina” - Livre adaptação da Obra de João Cabral de Melo Neto. Destacam-se as personagens Severino e Cigana representando respectivamente a morte e a vida, acentuando assim, o caráter imaginário e onírico do poema. O texto original continua sendo uma referência para entender a alma do retirante nordestino e de todos os que sofrem e mesmo assim se “atiram” no mundo com a esperança como guia e a determinação de melhorar de vida, como objetivo único e determinado. Texto: João Cabral de Melo Neto. Concepção e atuação - Regina Guimarãez - Supervisão - Vagner Souza.
Praça D. Pedro – Centro histórico. Classificação: 12 anos.

20 h
Palestra com Roberto Quaresma. Tema: “A minha paz vos deixo. A minha paz vos dou”.
Local: Grupo Espírita Bezerra de Menezes (Gebem). Estrada União e Indústria, 13.291/A, Itaipava.
Roberto Quaresma é engenheiro e palestrante espírita. É trabalhador do Centro Espírita Léon Denis e um dos principais articulistas da Revista Internacional de Espiritismo (RIE). É autor dos livros Na Estrada com Jesus e Coisas da Vida na Visão Espírita.

21 de abril, sábado Um dia de Paz – Seminários

9h às 12h
Seminário com João Ascenso. Tema: “Inteligência emocional e espiritismo”.
Local: União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep). Rua Casimiro de Abreu, 295/A, Centro.
João Ascenso é psicólogo organizacional, doutorando em Neurociências e membro da Associação Médico-Espírita Carioca. Milita no movimento espírita não só no Brasil, mas também em Portugal e Inglaterra, países onde já estudou e residiu. Faz parte do Centro Espírita Seara de Amor e Luz, no Rio de Janeiro, RJ.

12 às 14h
Almoço beneficente

14 às 17h
Seminário com André Trigueiro. Tema: Ecologia e paz
Local: União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep). Rua Casimiro de Abreu, 295/A, Centro.
Jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental e professor universitário. É apresentador e editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News, repórter do Jornal Nacional e comentarista de meio ambiente do Jornal da Globo. É autor dos livros Espiritismo e Ecologia, Mundo Sustentável e Mundo Sustentável II – Novos rumos para um planeta em crise.




quarta-feira, março 07, 2012

Medicina reconhece obsessão espiritual





Código Internacional de Doenças (OMS) inclui influência dos Espíritos - Medicina reconhece obsessão espiritual
Por Dr. Sérgio Felipe de Oliveira*
A obsessão espiritual como doença_da_alma, já é reconhecida pela Medicina. Em artigos anteriores, escrevi que a obsessão espiritual, na qualidade de doença da alma, ainda não era catalogada nos compêndios da Medicina, por esta se estruturar numa visão cartesiana, puramente organicista do Ser e, com isso, não levava em consideração a existência da alma, do espírito.
No entanto, quero retificar, atualizar os leitores de meus artigos com essa informação, pois desde 1998, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o bem-estar espiritual como uma das definições de saúde, ao lado do aspecto físico, mental e social. Antes, a OMS definia saúde como o estado de completo bem-estar biológico, psicológico e social do indivíduo e desconsiderava o bem estar espiritual, isto é, o sofrimento da alma; tinha, portanto, uma visão reducionista, organicista da natureza humana, não a vendo em sua totalidade: mente, corpo e espírito.
Mas, após a data mencionada acima, ela passou a definir saúde como o estado de completo bem-estar do ser humano integral: iológico, psicológico e espiritual.
Desta forma, a obsessão espiritual oficialmente passou a ser conhecida na Medicina como possessão e estado_de_transe, que é um item do CID - Código Internacional de Doenças - que permite o diagnóstico da interferência espiritual Obsessora.
O CID 10, item F.44.3 - define estado de transe e possessão como a perda transitória da identidade com manutenção de consciência do meio-ambiente, fazendo a distinção entre os normais, ou seja, os que acontecem por incorporação ou atuação dos espíritos, dos que são patológicos, provocados por doença.
Os casos, por exemplo, em que a pessoa entra em transe durante os cultos religiosos e sessões mediúnicas não são considerados doença.
Neste aspecto, a alucinação é um sintoma que pode surgir tanto nos transtornos mentais psiquiátricos - nesse caso, seria uma doença, um transtorno dissociativo psicótico ou o que popularmente se chama de loucura bem como na interferência de um ser desencarnado, a Obsessão espiritual.
Portanto, a Psiquiatria já faz a distinção entre o estado de transe normal e o dos psicóticos que seriam anormais ou doentios.




O manual de estatística de desordens mentais da Associação Americana de Psiquiatria - DSM IV - alerta que o médico deve tomar cuidado para não diagnosticar de forma equivocada como alucinação ou psicose, casos de pessoas de determinadas comunidades religiosas que dizem ver ou ouvir espíritos de pessoas mortas, porque isso pode não significar uma alucinação ou loucura.


Na Faculdade de Medicina DA USP, o Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, médico, que coordena a cadeira (HOJE OBRIGATÓRIA) de Medicina e Espiritualidade.
Na Psicologia, Carl Gustav Jung, discípulo de Freud, estudou o caso de uma médium que recebia espíritos por incorporação nas sessões espíritas.
Na prática, embora o Código Internacional de Doenças (CID) seja conhecido no mundo todo, lamentavelmente o que se percebe ainda é muitos médicos rotularem todas as pessoas que dizem ouvir vozes ou ver espíritos como psicóticas e tratam-nas com medicamentos pesados pelo resto de suas vidas.
Em minha prática clínica (também praticada por Ian Stevenson), a grande maioria dos pacientes, rotulados pelos psiquiatras de "psicóticos" por ouvirem vozes (clariaudiência) ou verem espíritos (clarividência), na verdade, são médiuns com desequilíbrio mediúnico e não com um desequilíbrio mental, psiquiátrico. (Muitos desses pacientes poderiam se curar a partir do momento que tivermos uma Medicina que leva em consideração o Ser Integral).
Portanto, a obsessão espiritual como uma enfermidade da alma, merece ser estudada de forma séria e aprofundada para que possamos melhorar a qualidade de vida do enfermo.


*Dr. Sérgio Felipe é médico psiquiatra que coordena a cadeira de Medicina e Espiritualidade na USP.

Fonte: FEB

sábado, março 03, 2012

UMA VIAGEM PELO UNIVERSO COM FLAMMARION E URÂNIA - EXCERTOS DE URÂNIA



Camille Flammarion

Urânia

Traduzido do Francês

Uranie

1889

Viagem entre os universos e os mundos -
As humanidades desconhecidas

Vi então a Terra que tombava nas profundezas da imensidade; as cúpulas do observatório, Paris iluminada, desciam rapidamente; não obstante sentir-me imóvel, tive a impressão análoga às que se experimenta em balão, quando, elevando-se nos ares, se vê a Terra descer. Subi, subi durante muito tempo, arrebatado em mágica ascensão para o Zênite inacessível. Urânia estava junto de mim, um pouco mais elevada, fitando-me com doçura e mostrando-me os reinos terrestres. O dia voltara.

Reconheci a França, o Reno, a Alemanha, a Áustria, a Itália, o Mediterrâneo, a Espanha, o oceano Atlântico, a Mancha, a Inglaterra. Mas toda essa liliputiana geografia diminuía rapidamente. Em breve o globo terráqueo estava reduzido às aparentes dimensões do plenilúnio, depois às de uma luazinha cheia.

– Eis aí – disse-me ela –, o famoso globo terrestre sobre o qual se agitam tantas paixões, e que encerra em seu círculo estreito o pensamento de tantos milhões de seres cuja vista não se estende ao Além. Vê quanto a sua aparente grandeza diminui à proporção que o nosso horizonte se dilata. Já não distinguimos mais a Europa da Ásia. Eis ali o Canadá, a América do Norte. Quanto é minúsculo tudo aquilo!

Passando vizinho à Lua, eu havia notado as paisagens montanhosas do nosso satélite, os cimos radiante de luz, os profundos vales cheios de sombras, e teria desejado deter-me para estudar de mais perto essa morada vizinha; mas, sem mesmo dignar-se lançar para ela um simples olhar, Urânia me arrastava em rápido vôo para as regiões siderais.

Subimos sempre. A Terra, diminuindo de mais em mais, à proporção que nos distanciamos, chegou a ficar reduzida ao aspecto de simples estrela, brilhando com a luz solar no seio da imensidade vazia e negra. Tínhamo-nos voltado para o Sol, que resplendia no Espaço sem iluminá-lo, e víamos, ao mesmo tempo em que a ele, as estrelas e os planetas, que a sua luz não apagava, por isso que não ilumina o éter invisível. A deusa angélica mostrou-me Mercúrio, na vizinhança do Sol; Vênus, que brilhava do lado oposto; a Terra, igual a Vênus, comparada em aspecto e em brilho; Marte, cujos mediterrâneos e canais reconheci; Júpiter, com as suas quatro luas enormes; Saturno, Urano...

– Todos esses mundos – disse-me ela – são sustentados no vácuo pela atração do Sol, em torno do qual giram com velocidade. É um todo harmonioso, gravitando em redor do centro. A Terra não é mais do que uma ilha flutuante, uma aldeia dessa grande pátria solar, e esse império solar não é, ele próprio, mais do que uma província no seio da imensidade sideral.

Subíamos sempre. O Sol e seu sistema distanciavam-se rapidamente; a Terra não era mais que um ponto; Júpiter mesmo, esse mundo tão colossal, mostrou-se diminuído, e assim Marte e Vênus, a um pontinho minúsculo, apenas superior ao da Terra. Passamos à vista de Saturno, cingido dos seus anéis gigantescos, e cujo só testemunho bastaria para provar a imensa e inimaginável variedade que reina no Universo; Saturno, verdadeiro sistema por si, com os seus anéis formados de corpúsculos conduzidos em uma rotação vertiginosa, e com os seus oito satélites acompanhando-o qual um celeste cortejo!

À medida que subíamos, o nosso Sol ia diminuindo de grandeza. Bem depressa desceu a categoria de estrela, depois perdeu toda a majestade, toda a hegemonia sobre a população sideral, e não foi mais do que uma estrela, apenas mais brilhante do que as outras.

Eu contemplava toda aquela imensidade estrelada, no meio da qual nos elevávamos sempre, e procurava reconhecer as constelações; estas, porém, começavam a mudar sensivelmente de formas, por motivo da diferença de perspectiva causada pela minha viagem; a Via-Láctea estava submersa sob o nosso vôo, qual catarata de sóis em fusão, tombando ao fundo do Infinito; as estrelas das quais nos aproximávamos emanavam rutilâncias fantásticas, derramando uma espécie de rios de luzes, irradiações de ouro e prata, cegando-nos de fulgurantes claridades. Acreditei ver o nosso Sol, transformado insensivelmente em uma estrelinha, reunir-se à constelação do Centauro, enquanto uma nova luz, pálida, azulada, bastante estranha, chegava da região para a qual Urânia me conduzia. Essa claridade nada tinha de terrestre e não me recordava nenhum dos efeitos que eu havia admirado nas paisagens da Terra, nem entre os tons tão cambiantes dos crepúsculos depois da tempestade, nem nas brumas indecisas da manhã, nem durante as horas calmas e silenciosas do clarão da Lua no espelho do mar. Este último efeito era talvez aquele de que esse aspecto mais se aproximava, mas a estranha luz era, e cada vez se tornava mais verdadeiramente azul, não de um reflexo de azul celeste ou de um contraste análogo ao que produz a luz elétrica comparada à do gás, mas azulada igual a se o próprio Sol fosse azul!

Qual não foi a minha estupefação, quando me apercebi de que nos aproximávamos, com efeito, de um sol absolutamente azul, igual a um disco brilhante que houvesse sido recortado nos nossos mais belos céus terrestres, destacando-se luminosamente em um fundo todo negro, todo constelado de estrelas! Esse sol safira era o centro de um sistema de planetas iluminados pela sua luz. Íamos passar pertinho de um desses planetas. O sol azul crescia a olhos vistos; mas, novidade tão singular quanto a primeira, a luz com que ele iluminava o dito planeta se complicava de um certo lado com uma coloração verde. Olhei de novo para o céu e avistei um segundo sol e esse de um belo verde-esmeralda! Não acreditava em meus olhos.

– Estamos atravessando – disse Urânia – o sistema solar de Gama de Andrômeda, do qual ainda não vês mais do que uma parte, pois ele se compõe, na realidade, não desses dois sóis, mas de três, um azul, um verde, e um amarelo-laranja. O sol azul, que é o menor, gira em torno do sol verde, e este gravita com seu companheiro em redor do grande sol alaranjado que vais avistar dentro em pouco.

Com efeito, vi logo aparecer um terceiro sol, colorido dessa ardente irradiação, cujo contraste com seus dois companheiros produzia a mais estranha das claridades. Conhecia bem tão curioso sistema sideral, por tê-lo mais de uma vez observado com o telescópio; mas, não suspeitava sequer o seu verdadeiro esplendor. Que fornalhas, que deslumbramentos. Que vivacidade de cores nessa estranha fonte de luz azul, nessa iluminação verde do segundo sol, e nessa irradiação de ouro fulvo do terceiro!

Mas, havíamo-nos aproximado, conforme disse, de um dos mundos pertencentes ao sistema do sol safira. Tudo era azul: paisagens, águas, plantas, rochedos, levemente esverdeados do lado que recebia luz do segundo sol, e apenas tocadas dos raios do sol alaranjado que se erguia no horizonte longínquo. À medida que penetrávamos na atmosfera desse mundo, uma suave música, deliciosa, erguia-se nos ares à semelhança de um perfume, de um sonho. Jamais eu ouvira coisa igual. A doce melodia, profunda, distante, parecia vir de um conjunto de harpas e violinos sustentado por um acompanhamento de órgão. Era um canto delicado, que inebriava desde o primeiro momento; que não carecia de análise para ser compreendido e enchia a alma de volúpia. Parecia-me que teria ficado uma eternidade a ouvi-lo; não ousei dirigir a palavra ao meu guia, tanto receava perder-lhe uma nota. Urânia apercebeu-se. Estendeu a mão para um lago e com o dedo indicou um grupo de seres alados que pairavam por cima das águas azuis.

Não tinham a forma humana terrestre. Eram criaturas evidentemente organizadas para viver no ar. Pareciam tecidas de luz. De longe, tomei-as, a princípio, por libélulas: tinham-lhes a forma esbelta e elegante, as vastas asas, a vivacidade, a ligeireza. Mas, examinando-as de mais perto, notei seu porte, que não era inferior ao nosso, e reconheci, pela expressão dos olhares, que não eram animais.

As suas cabeças pareciam-se igualmente com as das libélulas, e, à semelhança dessas criaturas aéreas, não tinham pernas. A música deliciosa que eu ouvia não era senão o ruído de seu vôo.

Eram numerosíssimas, vários milhares talvez. Viam-se, nos cimos das montanha, plantas que não eram nem árvores, nem flores. Erguiam débeis hastes a enormes alturas, e esses talos ramificados sustentavam, parecendo braços estendidos, amplas taças em forma de tulipas. Essas plantas eram animadas, pelo menos no grau das nossas sensitivas, e mais ainda; e, igual ao desmódio (planta que tem forma de borboleta) de folhas móveis, manifestavam por movimentos as suas impressões interiores. Esses pequenos bosques formavam verdadeiras cidades vegetais. Os habitantes daquele mundo não tinham outras moradas além de tais plantas, e era no meio dessas perfumadas sensitivas que repousavam, quando não flutuavam nos ares.

– Este mundo parece fantástico – disse Urânia – e a ti próprio perguntas que idéias podem ter tais seres, que costumes, que história, que espécie de artes, de literatura e de ciências. Longo seria responder a todas as perguntas que poderias fazer. Fica sabendo unicamente que seus olhos são superiores aos melhores telescópios; que seu sistema nervoso vibra à passagem de um cometa e descobre eletricamente fatos que na Terra jamais se conhecerão. Os órgãos que estás vendo abaixo das asas lhes servem de mãos, mais hábeis que as vossas.

Por imprensa têm eles a fotografia direta dos acontecimentos e a fixação fônica das próprias palavras. Não se ocupam, de resto, senão de pesquisas científicas, isto é, do estudo da Natureza. As três paixões que absorvem a maior parte da vida terrestre, o ávido desejo da riqueza, a ambição política e o amor lhes são desconhecidas, porque de nada carecem para viver, nem há divisões internacionais, nem outro governo além de um conselho de administração, e porque são andróginos (ambisséxuos).

– Andróginos! repliquei. E ousei acrescentar: Será melhor?

– Coisa diversa. São grandes perturbações a menos em uma Humanidade. É preciso – continuou ela – desprender-se inteiramente das sensações e das idéias terrenas, para estar em situação de compreender a diversidade infinita manifestada pelas diferentes formas da Criação. De igual modo que sobre o vosso planeta as espécies têm mudado de idade em idade, desde os seres tão esquisitos das primeiras épocas geológicas até o aparecimento da Humanidade; de igual maneira que ainda agora a população animal e vegetal da Terra é composta das mais diversas formas, desde o homem ao coral, desde a ave ao peixe, desde o elefante à borboleta; assim também, e em uma extensão incomparavelmente mais vasta, entre as inumeráveis terras do Céu, as forças da Natureza têm dado origem a uma infinita diversidade de seres e de coisas. A forma das criaturas é, em cada mundo, o resultado dos elementos especiais a cada globo, substância, calor, luz, eletricidade, densidade, peso. As formas, os órgãos, o número dos sentidos – vós outros tendes apenas cinco, e assim mesmo bastante pobres – dependem das condições vitais de cada esfera. A vida é terrestre na Terra, marciana em Marte, saturniana em Saturno, netuniana em Netuno, em resumo, apropriada a cada mansão, ou, para dizer mais rigorosamente ainda, produzida e desenvolvida por esse mundo em particular, conforme o seu estado orgânico, e segundo uma lei primordial a que obedece a Natureza inteira: a lei do progresso.

Enquanto ela me falava, tinha eu acompanhado com o olhar o vôo dos seres aéreos para a cidade florida e vira com espanto as plantas a se moverem, erguendo-se ou abaixando-se para recebê-los; o sol verde descera abaixo do horizonte e o sol alaranjado levantara-se no céu; a paisagem estava adornada de coloração esférica, sobre a qual pairava uma lua enorme, metade alaranjada, metade verde. Então, a imensa melodia que musicava a atmosfera parou e, em meio de profundo silêncio, ouvi um cântico, erguendo-se em voz tão pura que nenhuma voz humana lhe pudera ser comparada.

– Maravilhoso sistema – exclamei eu –, de tal mundo iluminado por semelhantes clarões! São estrelas duplas, tríplices, múltiplas, vistas de perto?

– São esplêndidos sóis – respondeu-me a deusa –, graciosamente associados nos laços de mútua atração. Vós outros as vedes, da Terra, embaladas duas a duas no seio dos céus, sempre belas, sempre luminosas, puras sempre.

Suspensas no Infinito, apóiam-se uma na outra sem jamais se tocarem, tal qual se a sua união, mais moral que material, fosse regida por um princípio invisível, e, seguindo harmoniosas curvas, gravitam em cadência em torno uma da outra, celestes casais desabrochados na primavera da Criação, nas campinas consteladas da imensidade. Enquanto os sóis simples qual o vosso brilham solitários, fixos, tranqüilos, nos desertos do Espaço, os sóis duplos e múltiplos parecem animar, com os seus movimentos, a sua coloração e vida, as silenciosas regiões do eterno vácuo. Esses relógios siderais marcam para vós outros os séculos e as eras dos outros universos. Mas – acrescentou –, continuemos a nossa viagem. Estamos apenas a alguns trilhões de léguas da Terra.

– Alguns trilhões?

– Sim. Se pudéssemos ouvir daqui os ruídos do vosso planeta, os seus vulcões, a sua artilharia, os seus trovões, os alaridos das grandes turbas nos dias de revolta, ou os cânticos piedosos das igrejas que se elevam para o Céu, a distância é tal que, admitindo pudessem esses ruídos transpô-la com a velocidade do som no ar, eles não empregariam menos de cento cinqüenta mil séculos para chegar até aqui. Ouviríamos hoje unicamente o que se passara na Terra há quinze milhões de anos.

“Entretanto, achamo-nos ainda, em relação à imensidade do Universo, mui próximo da tua Pátria. Continuas a reconhecer o teu Sol, lá em baixo, pequenina estrela. Não saímos do universo a que ele pertence com o seu sistema de planetas.

“Esse universo se compõe de muitos milhares de sóis, separados uns dos outros por trilhões de léguas.

“É tão considerável a sua extensão, que um relâmpago, com a velocidade de trezentos mil quilômetros por segundo, empregaria quinze milênios em transpô-la.

“E por toda parte sóis, para qualquer lado que volvamos o olhar; por toda a parte fontes de luz, de calor e de vida, fontes de inexaurível variedade, sóis de todos os esplendores, de todas as grandezas, de todas as idades, sustentados no eterno vácuo, no éter luminífero, pela atração mútua de todos e pelo movimento de cada um.

Cada estrela, sol enorme, gira sobre si mesma, qual esfera de fogo, e voga rumo a um fim. Vosso Sol caminha e vos leva para a constelação de Hércules; este, cujo sistema acabamos de atravessar, caminha para o sul das Plêiades; Sirius se precipita para a Pomba; Pólux se dirige para a Via-láctea; todos esses milhões, todos esses bilhões de sóis correm através da imensidão com velocidades que atingem duzentos, trezentos e quatrocentos mil metros por segundo! É o movimento que sustenta o equilíbrio do Universo, que lhe constitui a organização, a energia e a vida.”


Variedade infinita dos seres - As metamorfoses

Desde muito tempo já, o sistema tricolor tinha fugido sob o nosso vôo. Passamos pela vizinhança de grande número de mundos bem diferentes da pátria terrestre. Uns pareceram-me inteiramente cobertos de água e povoados de seres aquáticos; outros unicamente habitados por plantas. Alguns se acham absolutamente desprovidos de água: são os que pertencem a sistemas idênticos ao da estrela Alfa de Hércules – privados de hidrogênio. Outros parecem em labaredas. Paramos perto de muitos. Que inimaginável variedade!

Sobre um de entre eles, as rochas, as plantas e as paisagens reenviam, durante as horas da noite, a luz que receberam e acumularam no decurso do dia. Talvez o fósforo constitua importante contingente na composição desses corpos. É um mundo muito estranho, onde a noite é desconhecida, embora seja desprovido de satélites. Parece que seus habitantes desfrutam de uma propriedade orgânica muito preciosa: são conformados de tal sorte que percebem todas as funções da manutenção vital do organismo. De cada molécula do corpo, por assim dizer, parte um nervo que transmite ao cérebro as impressões variadas que recebe, de maneira que o homem se vê interiormente e conhece, de início, todas as causas das doenças, os menores sofrimentos, os quais são detidos desde os seus germens.

Em outro globo, que atravessamos também durante a noite, isto é, do lado do seu hemisfério noturno, os olhos humanos estão organizados de tal sorte que são luminosos, alumiam, qual se alguma emanação fosforescente irradiasse do seu estranho foco. Uma reunião noturna, composta de grande número de pessoas, oferece aspecto verdadeiramente fantástico, por isso que a claridade, e assim a cor dos olhos, muda conforme as diversas paixões que as animam. Além disso, o poder desses olhares é tal que exercem influência elétrica e magnética de intensidade variável e, em certos casos, podem fulminar, fazer cair morta à vítima na qual se fixe toda a energia da sua vontade.

Um pouco mais longe, o meu guia celeste assinala um mundo onde os organismos gozam de preciosa faculdade: a Alma pode mudar de corpo, sem passar pela circunstância da morte, muitas vezes desagradável, e sempre triste.

Um sábio, que trabalhou a vida inteira pela instrução da Humanidade, e vê chegar o fim de seus dias sem haver terminado os nobres empreendimentos, pode mudar de corpo com um adolescente e recomeçar uma vida nova, mais útil ainda do que a primeira.

Para essa transmigração basta o consentimento do adolescente e a operação magnética de um médico competente. Vêem-se também, às vezes, dois entes, unidos pelos tão suaves e fortes laços do amor, operar igual mudança de corpo, após vários lustros de união: a Alma do esposo vem habitar o corpo da esposa, e vice-versa, pelo resto da existência.

O conhecimento íntimo da vida se torna incomparavelmente mais completo para cada um deles. Vêem-se também sábios, historiadores, desejosos de viver dois séculos em vez de um, mergulhar em sonos fictícios de hibernação artificial, que lhes suspendem a vida durante metade de cada ano e mesmo mais. Alguns conseguem até viver três vezes mais tempo do que a vida normal dos centenários.

Momentos depois, atravessando outro sistema, encontramos um gênero de organizações inteiramente diverso e, com segurança, superior ao nosso. Nos habitantes do planeta que tínhamos então sob os olhos, mundo iluminado por brilhante sol hidrogenado, o pensamento não é obrigado a passar pela palavra para manifestar-se. Quantas vezes não tem acontecido, quando uma idéia luminosa ou engenhosa nos vem ocupar o cérebro, querer exprimi-la ou escrevê-la, e, durante o tempo em que começamos a falar ou escrever, sentir já a idéia dissipada, esvaída, obscurecida ou metamorfoseada? Os habitantes desse planeta possuem um sexto sentido, a que se poderia chamar autotelegráfico, em virtude do qual, se o que pensa a isso não se opõe, o pensamento se comunica ao exterior e pode ser lido em um órgão situado mais ou menos no mesmo lugar da fronte humana. Essas conversações silenciosas são muitas vezes as mais profundas e as mais preciosas; são sempre as mais sinceras.

Somos ingenuamente dispostos a crer que a organização humana nada deixa a desejar na Terra. Entretanto, não temos muitas vezes lamentado ser a criatura obrigada a ouvir, mal grado seu, palavras desagradáveis, um discurso absurdo, um sermão orgulhoso em vácuo, música péssima, maledicências ou calúnias?

As nossas gramáticas têm pretendido que podemos fechar os ouvidos a esses discursos, assim não é, infelizmente. Não podemos fechar os ouvidos, tal qual fechamos os olhos. Há aí uma lacuna. Fiquei surpreendidíssimo de assinalar um planeta onde a Natureza não esqueceu essa particularidade. Porque nos houvéssemos detido nele um momento, mostrou-me Urânia esses ouvidos que se fechavam à maneira de pálpebras e interceptavam radicalmente a transmissão do som. Há aqui, disse-me ela, muito menos cóleras surdas do que entre vós outros; mas as dissidências entre os partidos políticos são muito mais acentuadas, não querendo os adversários ouvir coisa alguma, e triunfando efetivamente, apesar dos mais loquazes advogados e dos tribunos dotados de melhores pulmões.

Em outro mundo, cuja atmosfera está constantemente eletrizada, cuja temperatura é muito alta, e onde os habitantes têm tido quase ou nenhuma razão suficiente para inventar vestimentas, certas paixões se traduzem pela iluminação de uma parte do corpo. É, por analogia, o que se passa, em menor escala, em nossas campinas terrestres, onde se vêem, durante as serenas noites de estio, os pirilampos consumindo-se, silenciosamente, em amorosa flama.

O aspecto dos casais luminosos é curioso de observar, à noite, nas grandes cidades. A cor da fosforescência difere segundo os sexos, e a intensidade varia segundo as idades e os temperamentos. O sexo forte acende uma flama vermelha, mais ou menos ardente, e o sexo gracioso uma flama azulada, às vezes pálida e discreta. Só os nossos pirilampos poderiam formar uma idéia, muito rudimentar, da natureza das impressões sentidas por esses entes especiais. Não queria eu dar crédito a meus olhos quando atravessávamos a atmosfera de tal planeta; porém, ainda muito mais surpreendido fiquei, chegando ao satélite desse mundo singular.

Era uma lua solitária, iluminada por uma espécie de sol crepuscular. Sombrio vale ofereceu-se aos nossos olhares. Das árvores disseminadas nos dois lados pendiam criaturas humanas envoltas em sudários. Tinham-se elas mesmas atadas aos ramos, pela cabeleira, e dormiam ali no mais profundo silêncio. O que eu tomara por sudários era um tecido formado pelo alongamento dos cabelos emaranhados e encanecidos. E porque me admirasse de semelhante posição, disse Urânia que era aquele o seu modo habitual de sepultamento e de ressurreição. Sim, naquele mundo os entes humanos gozam da faculdade orgânica dos insetos, que têm o dom de dormir no estado de crisálida para se metamorfosearem em aladas borboletas. Há nisso uma espécie de dupla raça humana, e os estagiários da primeira fase, os seres mais grosseiros e materiais, não aspiram senão a morrer, para ressuscitar na mais esplêndida das metamorfoses. Cada ano desse mundo representa cerca de dois séculos terrestres. Vivem-se ali dois terços de ano em estado inferior, um terço (o inverno) em estado de crisálida e, na primavera seguinte, sentem, os suspensos, gradualmente a vida voltar à carne transformada; agitam-se, despertam, deixam a carcaça na árvore e, desprendendo-se, maravilhosos entes alados voam nas regiões aéreas, para viver aí um novo ano fenixiano, isto é, duzentos dos de nosso rápido planeta.

Atravessamos, assim, grande número de sistemas e parecia-me que a eternidade inteira não teria sido bastante longa para permitir-me gozar de todas essas criações desconhecidas na Terra; mas meu guia me deixava apenas o tempo para respirar, e novos sóis e mundos continuavam aparecendo. Em nosso trajeto tínhamos quase abalroado uns cometas transparentes que erravam, quais sopros, de um a outro sistema, cujas Humanidades teriam sido novos assuntos de estudo.

Os cinco pobres sentidos incompletos, que constituem a nossa bagagem orgânica, são verdadeiramente insignificantes à riqueza de percepções dos seres munidos de quinze, dezoito e mesmo vinte e seis sentidos diferentes, conforme constatamos em muitas terras do céu.

No entanto, a musa celeste continuava a levar-me sem parar, sempre cada vez mais alto, cada vez mais longe, até que, enfim, chegamos ao que me pareceu o subúrbio do Universo.

Os sóis tornavam-se mais raros, menos luminosos, mais pálidos; a noite se fez mais completa entre os astros e em breve nos achamos no meio de verdadeiro deserto; os milhares de estrelas que constituem o Universo visível da Terra estavam afastados e reduzidos a uma pequena via-láctea, isolada no vácuo infinito.

– Eis-nos finalmente, exclamei, nos limites da Criação!

– Olha! respondeu-me ela, mostrando-me o zênite.

O tempo, o espaço e a vida - Os horizontes celestes

Quê! Era verdade? Outro universo descia em nosso rumo! Milhões e milhões de sóis grupados planavam, novo arquipélago celeste, e se iam desenvolvendo qual vasta nuvem de estrelas, à proporção que subíamos. Tentei sondar com a vista, em torno de mim, em todas as profundezas, o Espaço infinito, e por toda parte avistei clarões análogos, montões de estrelas disseminados em todas as distâncias.

O novo universo em que penetrávamos era principalmente composto de sóis vermelhos, rubis e granadas. Muitos tinham absolutamente a cor do sangue.

Sua travessia foi uma verdadeira fulguração. Corríamos rapidamente de sol em sol, mas incessantes comoções elétricas nos atingiam, à semelhança dos clarões de uma aurora boreal.

Que estranhos estádios, esses mundos iluminados unicamente de sóis rubros! Depois, em um distrito desse universo, notamos um grupo secundário, composto de grande número de estrelas cor de rosa e outras azuis. De súbito, precipitou-se em nosso rumo, e nos envolveu, um enorme cometa, cuja extremidade dianteira semelhava uma goela colossal. Aconcheguei-me com terror à ilharga da deusa, que durante um momento desapareceu da minha vista em luminosa névoa. Mas nos tornamos a encontrar em escuro deserto, pois que esse segundo universo se afastara igual ao primeiro.

– A Criação, disse-me ela, se compõe de um número infinito de universos distintos, separados uns dos outros por abismos de nada.

– Um número infinito?

– Objeção matemática, replicou. Sem dúvida, um número, por muito grande que seja, não pode ser presentemente infinito, pois que, pelo pensamento, se pode aumentá-lo sempre de uma unidade, ou mesmo duplicá-lo, triplicá-lo, centuplicá-lo. Lembra-te, porém, de que o momento atual não é mais do que uma porta por onde o futuro se precipita para o passado. A eternidade não tem fim, e o número dos universos será, ele também, sem fim. Além disso, as estrelas, os sóis e os universos não formam um número. Eles são, por melhor dizer, sem número. Olha! Vês ainda, sempre e por toda parte, novos arquipélagos de ilhas celestes, novos universos.

– Parece-me, ó Urânia, que há muito tempo já, e com grande velocidade, estamos subindo no céu sem limites!

– Poderíamos sempre subir assim, respondeu ela, sem jamais atingir um limite definitivo. Poderíamos vogar para a esquerda, para a direita, para frente, para trás, para baixo, para não importa qual direção, e jamais, em parte nenhuma, depararíamos uma fronteira... Nunca, nunca um fim. Sabes onde estamos? Sabes que caminho temos percorrido? Estamos... no vestíbulo do Infinito, tal qual o estávamos na Terra. Não temos avançado um único passo!

Grande comoção se apoderara do meu Espírito. As últimas palavras de Urânia tinham-me penetrado até à medula, qual calafrio glacial. Nunca um fim, nunca, nunca! repetia eu. E não podia dizer, nem pensar outra coisa. Entretanto, a magnificência do espetáculo reapareceu a meus olhos e o aniquilamento cedeu lugar ao entusiasmo.

– A Astronomia! exclamei. É tudo! Saber estas coisas; viver no infinito. Urânia! Que é o resto das idéias humanas perante a Ciência! Sombras, fantasmas!

– Oh! disse ela, tu vais despertar na Terra, tu admirarás ainda, e legitimamente, a ciência de teus mestres; mas, fica sabendo: a Astronomia atual das suas escolas e dos observatórios, a Astronomia matemática, a bela ciência dos Newton, dos Laplace, dos Le Verrier, não é ainda a ciência definitiva.

“Não está lá, meu filho, o fim que busco desde os dias de Hiparco e de Ptolomeu. Vê esses milhões de sóis análogos àquele que dá vida à Terra e, tal qual ele, fontes de movimento, de atividade e de esplendor; pois bem, é esse o objeto da ciência futura: o estudo da vida universal e eterna. Até hoje, não se há penetrado no templo. Os algarismos não são um fim, mas um meio; não representam o edifício da Natureza, mas os métodos, os andaimes. Vais assistir à aurora de um novo dia. A Astronomia matemática vai ceder o lugar à Astronomia física, ao verdadeiro estudo da Natureza.

“Sim – acrescentou –, os astrônomos, que calculam os movimentos aparentes dos astros na sua passagem de cada dia pelo meridiano; os que anunciam a chegada dos eclipses, dos fenômenos celestes, dos cometas periódicos; os que observam com tanta atenção as posições exatas das estrelas, dos planetas de vários graus da esfera celeste; os que descobrem os cometas, os planetas das estrelas variáveis; os que buscam e determinam as perturbações produzidas nos movimentos da Terra, pela atração da Lua e dos planetas; os que consagram suas vigílias à descoberta dos elementos fundamentais do sistema do mundo; todos, observadores ou calculistas, são os preparadores de materiais, precursores da nova Astronomia.

São imensos trabalhos, labores dignos de admiração, transcendentes obras que põem em evidência as mais elevadas faculdades do espírito humano. Mas é o exército do passado. Matemáticos e geômetras. Doravante o coração dos sábios vai pulsar por uma conquista mais nobre ainda. Todos esses grandes Espíritos, estudando o céu, não têm, na realidade, saído da Terra. O fim da Astronomia não é mostrar a situação aparente de pontos brilhantes, nem pesar pedras em movimentos no Espaço, nem nos fazer conhecer com antecedência os eclipses, as fases da Lua ou as marés. Tudo isso é belo, mas insuficiente.

“Se a vida não existisse na Terra, este planeta seria absolutamente destituído de interesse para qualquer espírito que fosse, e a mesma reflexão se pode aplicar a todos os mundos, que gravitam em torno de milhares de sóis, nas profundezas da imensidade. A vida é o fim da Criação inteira. Se não houvesse vida, nem pensamento, tudo isto seria como que nulo e não acontecido. A Criação é um poema, do qual cada letra é um sol. Estás destinado a assistir a uma completa transformação da Ciência. A Matéria vai ceder lugar ao Espírito.”

– A vida universal! – disse eu –. Os planetas do nosso sistema solar serão todos habitados?... São habitados os milhares de mundos que povoam o infinito?... Essas Humanidades assemelham-se à nossa?... Conhecê-las-emos algum dia?...

– A época em que vives na Terra, a própria duração da Humanidade terrestre não é mais do que um momento na eternidade.

Não compreendi essa resposta às minhas perguntas.

– Nenhuma razão há, acrescentou Urânia, para que todos os mundos sejam habitados agora. A época presente não tem mais importância do que as precedentes ou as que se hão de seguir.

“A duração da existência da Terra será muito mais longa – talvez dez vezes mais longa – do que a do seu período vital humano. Em uma dezena de mundos, tomados ao acaso na imensidade, poderíamos, por exemplo, conforme os casos, achar apenas um atualmente habitado por uma raça inteligente. Uns o foram outrora; outros sê-lo-ão no futuro; estes se acham em via de preparação, aqueles têm percorrido todas as suas fases; aqui, berços; além, túmulos; e depois, uma variedade infinita se revela nas manifestações das forças da Natureza, não sendo a vida terrestre de modo algum o tipo da vida extraterrestre. Seres podem viver em organizações inteiramente diversas das conhecidas no vosso planeta. Os habitantes dos outros não têm a vossa forma, nem os vossos sentidos. São outros.

“Dia virá, e mui proximamente, pois que estás chamado a vê-lo, em que o estudo das condições da vida nas diversas províncias do Universo será o objeto essencial – e o grande encanto – da Astronomia. Bem depressa, em vez de se ocuparem simplesmente com a distância, com o movimento e com a massa material dos vossos planetas vizinhos, os astrônomos descobrir-lhe-ão a constituição física, os aspectos geográficos, a climatologia, a meteorologia; penetrarão o mistério da sua organização vital e discutirão a respeito dos respectivos habitantes. Afirmarão que Marte e Vênus se acham atualmente povoados de seres pensantes; que Júpiter está ainda no seu período primário de preparação orgânica; que Saturno plana em condições inteiramente diferentes das que presidiram ao estabelecimento da vida terrena e, sem jamais passar por estado análogo ao da Terra, será habitado por seres incompatíveis com os organismos terrestres. Novos métodos farão conhecer a constituição física e química dos astros, a natureza das atmosferas. Instrumentos aperfeiçoados permitirão mesmo descobrir os testemunhos diretos da existência dessas Humanidades planetárias e pensar em estabelecer comunicação com elas. Eis a transformação científica que há de assinalar o fim do décimo-nono século e que há de inaugurar o vigésimo.”

Eu escutava, enlevado, as palavras da musa celeste, que iluminavam para mim, com luz inteiramente nova, os destinos da Astronomia e me inundavam de ardor mais vivo ainda. Tinha sob os olhos o panorama dos mundos inumeráveis que rolam no Espaço, e compreendi que o fim da Ciência devia ser tornar conhecidos esses longínquos universos, fazer-nos viver nesses horizontes imensos. A formosa deusa continuou:

– A missão da Astronomia será mais elevada ainda. Depois de vos haver feito sentir e dado a conhecer que a Terra não é mais do que uma cidade na pátria celeste e que o homem é cidadão do céu, irá mais longe. Descobrindo o plano sobre o qual o universo físico está construído, mostrará que o universo moral se acha alicerçado sobre esse mesmo plano; que os dois mundos não formam senão um mesmo mundo e que o Espírito governa a Matéria. O que ela houver feito quanto ao Espaço, realizará quanto ao Tempo.

“Depois de haver apreciado a imensidade do Espaço, e reconhecido que as mesmas leis reinam simultaneamente em todos os lugares e fazem do imensurável Universo uma exclusiva unidade, sabereis que os séculos do passado e do futuro estão associados ao tempo presente, e que as mônadas pensantes viverão eternamente, por transformações sucessivas e progressivas; aprendereis que há Espíritos incomparavelmente superiores aos maiores Espíritos da Humanidade terrestre, e que tudo progride para a perfeição suprema; ficareis sabendo também que o mundo material não é mais do que uma aparência e que o ser real consiste em uma força imponderável, invisível e intangível.

“A Astronomia será, pois, eminentemente e antes de tudo, a diretriz da Filosofia. Os que raciocinarem fora dos conhecimentos astronômicos ficarão à margem da Verdade. Os que, fiéis, seguirem o seu fanal, irão subindo gradualmente na solução dos grandes problemas.

“A filosofia astronômica será a religião dos espíritos superiores.

“Deves assistir, acrescentou ela, a essa dupla transformação da Ciência. Quando deixares o mundo terrestre, a ciência astronômica, que tão legitimamente já admiras, estará de todo renovada, tanto na forma quanto na essência.

“Isso, porém, não é tudo. A renovação de uma ciência antiga pouco serviria ao progresso geral da Humanidade, se esses sublimes conhecimentos, que desenvolvem o Espírito, iluminam a Alma e a libertam das mediocridades sociais, ficassem encerrados no acanhado círculo dos astrônomos de profissão. Esse tempo vai passar também. O alqueire deve ser entornado. Cumpre empunhar o facho, aumentar-lhe o fulgor, levá-lo às praças públicas, às ruas populosas, até às mais escusas vielas. Todo o mundo é chamado a receber a luz; estão todos sequiosos dela, principalmente os humildes, principalmente os deserdados da fortuna, pois esses pensam mais, estão ávidos de ciência, enquanto que os satisfeitos do século nem suspeitam da sua própria ignorância e têm quase orgulho em permanecer assim. Sim, a luz da Astronomia deve ser espalhada pelo mundo; deve penetrar até as massas populares, iluminar as consciências, elevar os corações. E será essa a sua mais bela missão; será esse o seu benefício.”


O planeta Marte - A aparição de Spero -

As comunicações psíquicas - Os habitantes de Marte

Tinha sido ludíbrio de um sonho?

O meu Espírito se transportara realmente ao planeta Marte, ou fora vítima de uma ilusão absolutamente imaginária?

Tão vivo, tão intenso havia sido o sentimento da realidade, e as coisas que vira se achavam tão perfeitamente concordes com as noções científicas que possuímos já sobre a natureza física do mundo marciano, que eu não podia aceitar uma dúvida a esse respeito, conservando-me estupefato dessa viagem extática, e a mim próprio dirigindo mil perguntas que se combatiam umas às outras.

A ausência de Spero, em toda essa visão, intrigava-me um tanto. Continuava a sentir-me tão intimamente ligado à sua querida lembrança, que me parecia devera ter adivinhado a sua presença, voar diretamente para ele, vê-lo, falar-lhe, ouvi-lo. Mas não teria o magnetizado de Nancy sido ludíbrio da sua própria imaginação, ou da minha, ou da do experimentador? Por outra parte, admitindo mesmo que os meus dois amigos estivessem realmente reencarnados naquele planeta vizinho, eu respondia, a mim próprio, que pessoas podem perfeitamente não se encontrar, percorrendo a mesma cidade, e, com muito maior razão, um mundo. E, no entanto, não era decerto o cálculo das probabilidades que se devia invocar para o caso, pois o sentimento de atração, da força daquele que nos ligava, devia modificar o acaso dos encontros e pôr na balança um elemento que o fizesse vencer tudo o mais. Assim discorrendo comigo mesmo, recolhi-me ao meu observatório de Juvisy, onde preparara algumas baterias elétricas para uma experiência de óptica, em correspondência com a torre de Montlhery. Quando me certifiquei de que tudo estava bem em ordem, entreguei ao meu ajudante o cuidado de fazer os sinais convencionados, das dez às onze horas, e parti, eu próprio, para a velha torre, na qual me instalei uma hora depois. Caíra a noite. Do alto do antigo torreão, o horizonte é perfeitamente circular, e destacado em toda a sua circunferência, que se estende em um raio de 20 a 25 quilômetros em redor daquele ponto central. Um terceiro posto de observação, situado em Paris, estava em comunicação conosco. O fim da experiência era saber se os raios de diversas cores do espectro luminoso viajam todos com a mesma velocidade de 300.000 quilômetros por segundo. O resultado foi afirmativo.

Tendo as experiências ficado concluídas às onze horas, mais ou menos, e porque a noite estrelada estivesse maravilhosa e a Lua começasse a erguer-se, logo que coloquei os aparelhos ao abrigo do tempo, no interior da torre, subi para a plataforma superior, a fim de contemplar a imensa paisagem iluminada pelos primeiros raios da lua nascente. A atmosfera estava serena, tépida, quase quente.

O meu pé, porém, ainda estava no último degrau, quando estaquei, petrificado de espanto; soltando um grito que pareceu imobilizar-se na garganta. Spero, sim, o próprio Spero estava ali, diante de mim, sentado no parapeito. Levantei os braços para o céu, e me senti prestes a perder os sentidos; ele, porém, me disse, com a sua voz extremamente meiga, que eu tanto e tanto conhecia:

– Porventura te causo medo?

Não tive forças para responder, nem para adiantar-me. Contudo, ousei olhar de frente para o meu amigo, que sorria. O seu querido semblante, iluminado pelo luar, conservava-se tal qual eu o havia visto por ocasião da partida de Paris para Cristiânia, moço, agradável, pensativo, com um olhar muito brilhante. Deixei o último degrau e tive o impulso íntimo de precipitar-me para ele, a fim de abraçá-lo. Não me atrevi, porém, e conservei-me defronte dele, contemplando-o.

Tinha recuperado o uso dos sentidos.

– Spero !... És tu ! – exclamei.

– Estava aqui durante a tua experiência – respondeu ele –, e fui eu mesmo quem te inspirou a idéia de comparar o extremo roxo ao extremo vermelho, para a velocidade das ondas luminosas. Unicamente estava invisível, tanto quanto os raios ultra-roxos.

– Vejamos! é isto possível? Deixa-me tocar-te.

Passei minha mão pelo rosto, pelo corpo, pelos cabelos, e tive absolutamente a mesma impressão de haver tocado um corpo vivo. A minha razão se negava a admitir o testemunho dos meus olhos, dos meus dedos e do meu ouvido e, no entanto, eu não podia duvidar de que fosse ele. Não há sósia igual. E, depois, minhas dúvidas ter-se-iam desfeito desde as suas primeiras palavras, pois que acrescentou logo:

– O meu corpo, neste momento, está dormindo em Marte.

– Assim – disse eu –, tu continuas a existir, vives ainda... e conheces afinal a resposta ao grande problema que tanto te atormentou... E Icleia?

Vamos conversar – respondeu ele –. Tenho muitas coisas que te dizer.

Sentei-me a seu lado, na borda do largo parapeito que domina a velha torre, e eis o que ouvi:

Algum tempo depois do acidente do lago de Tyrifjorden, sentira-se acordado do que parecia um longo e pesado sono. Achava-se sozinho, em escuridão completa, à beira de um lago; sentia-se vivo, mas não se podia ver, nem tocar em si mesmo. O ar o feria. Não estava somente leve, mas também imponderável. O que lhe parecia subsistir dele era somente a faculdade de pensar.

A sua primeira idéia, reunindo as reminiscências, foi que despertava da queda no lago norueguês. Quando, porém, amanheceu o dia, percebeu que se achava em outro mundo. As duas luas que giravam rapidamente no firmamento, em sentido contrário uma à outra, fizeram-no pensar que estava em nosso vizinho, o planeta Marte, e não tardou que outros testemunhos tal lho provassem.

Conservou-se ali um certo tempo na condição de Espírito; reconheceu a presença de uma Humanidade muito elegante, na qual predomina soberano o sexo feminino, por incontestável superioridade sobre o sexo masculino. Os organismos são leves e delicados; a densidade dos corpos é muito fraca, o peso mais fraco ainda. Na superfície desse mundo a força material desempenha apenas um papel secundário na Natureza; a delicadeza das sensações decide de tudo. Há ali grande número de espécies de animais e várias raças humanas. Em todas essas espécies e em todas essas raças, o sexo feminino é mais belo e mais forte (consistindo a força na superioridade das sensações) do que o masculino, e é aquele que rege o mundo.

No grande desejo de conhecer a vida que tinha diante de si, decidiu não se conservar por muito tempo em estado de Espírito contemplador, mas renascer sob uma forma corporal humana e, dada a condição orgânica daquele planeta, sob a forma feminina.

Entre as almas terrestres flutuantes na atmosfera de Marte tinha ele encontrado já (pois as almas se sentem) a de Icleia, que o seguira, guiada por uma atração constante. Ela, por seu lado, sentira-se levada para uma encarnação masculina.

Estavam assim reunidos ambos, em um dos mais privilegiados países desse mundo, vizinhos e predestinados a novo encontro na vida e a partilhar das mesmas emoções, dos mesmos pensamentos, das mesmas obras. Assim, conquanto a memória da sua existência terrestre se conservasse velada e quase apagada pela nova transformação, vago sentimento de parentesco e simpático apego imediato os havia reunido logo que se tinham avistado. A superioridade psíquica, a natureza dos seus pensamentos habituais, o estado de espírito acostumado a procurar os fins e as causas, lhes haviam dado uma espécie de íntima penetração que os desprendia da geral ignorância dos viventes. Tinham-se amado tão de súbito, haviam tão passivamente sentido a influência magnética do choque de reencontro, que para logo constituíram um mesmo e único ente, tão unidos quanto o estavam no momento da separação terrestre. Lembravam-se de se terem encontrado já, estavam convencidos de que fora na Terra, nesse planeta vizinho que à noite brilha com tão vivo fulgor no céu de Marte, e às vezes, em seus vôos solitários por sobre as colinas povoadas de plantas aéreas, contemplavam a estrela da tarde, procurando reatar o fio quebrado de uma tradição interrompida.

Inesperado acontecimento veio explicar tais reminiscências e provar que não se enganavam.

Os habitantes de Marte são muito superiores aos da Terra, pela sua organização, pelo número e pela delicadeza de seus sentidos, e pelas faculdades intelectuais. O fato de ser a densidade muito fraca na superfície daquele mundo, e as substâncias constitutivas dos corpos menos pesadas lá do que aqui, permitiu a formação de seres incomparavelmente menos pesados, mais aéreos, mais sutis, mais sensíveis. O fato de ser nutritiva a atmosfera, libertou os organismos marcianos das grosserias das necessidades terrestres. É totalmente outro estado. A luz ali é menos viva, estando o planeta mais afastado do Sol do que a Terra; o nervo óptico é mais sensível. Sendo ali intensíssimas as influências elétricas e magnéticas, os habitantes possuem sentidos ignorados das organizações terrestres, sentidos que os põem em comunicação com essas influências. Tudo se contém na Natureza. Os seres, em toda parte, são apropriados aos meios em que habitam e em cujo seio nasceram. Os organismos não podem mais ser terrestres em Marte, de igual modo que não podem ser aéreos no fundo do mar.

Ademais, o estado de superioridade conseqüente dessa ordem de coisas evoluiu por si mesmo, pela facilidade da realização de todo o trabalho intelectual. A Natureza parece obedecer ao pensamento. O arquiteto que quer levantar um edifício; o engenheiro que deseja modificar a superfície do solo, quer se trate de levantar ou de cavar, de cortar montanhas ou de aterrar vales, não se esbarram, qual acontece na Terra, com o peso dos materiais e nas dificuldades da execução. Assim, têm a Arte feito, desde a origem, os mais rápidos progressos.

Além disso ainda, sendo a Humanidade marciana várias dezenas de milhares de séculos anterior à terrestre, tem percorrido anteriormente a esta todas as fases do seu desenvolvimento. Os mais transcendentes progressos científicos atuais da Terra não passam de pueris brinquedos de criança, comparados à Ciência dos habitantes daquele planeta.

Principalmente em astronomia estão mais adiantados e conhecem melhor a Terra do que desta conhecem aquela pátria.

Inventaram eles, entre outros, uma espécie de aparelho telefotográfico, no qual um rolo de estofo recebe perpetuamente, desenrolando-se, a imagem do nosso mundo e a fixa inalteravelmente. Imenso museu, consagrado especialmente aos planetas do sistema solar, conserva na ordem cronológica todas essas imagens fotográficas fixadas para sempre.

Encontra-se ali a história toda da Terra; a França do tempo de Carlos Magno, a Grécia do tempo de Alexandre, o Egito do tempo de Ramsés. Microscópios permitem mesmo reconhecer ali os pormenores históricos, assim Paris durante a revolução francesa, Roma sob o pontificado de Bórgia; a frota espanhola de Cristóvão Colombo chegando à América; os Francos de Clóvis tomando posse das Gálias; o exército de Júlio César detido na conquista da Inglaterra, pela maré que lhe levou os navios; as tropas do Rei David, fundador dos exércitos permanentes; e também a maior parte das cenas históricas, reconhecíveis por certos caracteres especiais.

Um dia em que os dois antigos noivos visitavam esse museu, a reminiscência, vaga até então, iluminou-se qual paisagem noturna atravessada por um relâmpago. De súbito reconheceram o aspecto de Paris durante a Exposição de 1867. Acentuou-se-lhes a lembrança. Cada um deles sentiu, separadamente, que tinha vivido ali, e, sob essa impressão tão forte, foram logo dominados pela certeza de ali terem vivido juntos. A memória avivou-se gradualmente, não já por intermitentes clarões, mas qual a luz progressiva do começo da aurora.

Lembraram-se então, ambos, sob a forma de inspiração, das palavras do Evangelho: Há diversas moradas na casa de meu Pai.

Em verdade te digo, se um homem não nasce de novo, não verá o reino de Deus... Cumpre que nasças de novo.

Desde esse dia, não conservaram mais dúvida alguma sobre a sua anterior existência terrestre; ficaram inteiramente convencidos de que continuavam, no planeta Marte, a sua precedente vida. Pertenciam ao ciclo dos grandes Espíritos de todos os séculos, os quais sabem que o destino não pára no mundo atual, e continua no Céu, assim como cada planeta, Terra, Marte, ou qualquer outro, é um astro desse Céu.

O fato bem singular da mudança de sexo, que se me afigurava ter certa importância, ao que parece, não tinha nenhuma. Contrariamente ao que admitido entre os terrestres, contou-me que as almas não possuem sexo e têm um destino igual. Soube eu também que naquele planeta, menos material do que o nosso, a organização em nada se assemelha à dos nossos corpos terrestres. As concepções e os nascimentos efetuam-se ali de um modo inteiramente diverso, que lembra, mas sob uma forma espiritual, a fecundação das flores e o seu desabrochar. O prazer é sem azedume. Não se conhecem lá os pesados fardos terrestres, nem os dilaceramentos da dor. Tudo é mais aéreo, mais etéreo, imaterial. Poder-se-ia chamar aos marcianos flores viventes, aladas e pensantes. Mas, de fato, nenhuma criatura terrestre pode servir de paralelo para auxiliar a compreensão da forma e do modo de existência ali.

Eu escutava a narração da alma defunta, quase sem a interromper, pois me parecia sempre que ela ia sumir-se, conforme tinha vindo. Entretanto, à lembrança do meu sonho, que me havia acudido, pela coincidência das precedentes descrições com o que eu tinha visto, não pude deixar de referir ao meu celeste companheiro esse surpreendente sonho, e de exprimir-lhe o meu pasmo por não o ter visto nessa viagem a Marte, o que me dizia duvidar da realidade de tal excursão.

– Mas – replicou ele –, eu te vi perfeitamente, e tu me viste também, e me falaste... Porque era eu...

Tão estranha foi a entonação da voz ao pronunciar as últimas palavras, que reconheci nela, subitamente, a melodiosa voz da bela Marciana que tanto me impressionara.

– Sim – prosseguiu ele –, era eu; procurava dar-me a conhecer; mas, deslumbrado por um espetáculo que te cativara o Espírito, não te desprendias das sensações terrestres; conservavas-te sensual e terrestre, e não conseguiste elevar-te à pura percepção. Sim, fui eu quem te estendeu os braços para te fazer apear do carro aéreo à porta da nossa morada, quando subitamente despertaste.

– Mas então – exclamei –, se és essa Marciana, porque me apareces aqui sob a forma de Spero, que já não existe?

Não é na tua retina nem no teu nervo óptico que atuo, replicou ele, mas no teu ser mental e no teu cérebro. Acho-me neste momento em comunicação contigo; influencio diretamente a sede cerebral da tua sensação. Na realidade, o meu ser mental não tem forma, é igual ao teu, idêntico a todas as almas. Quando, porém, me coloco – e é o caso neste momento – em relação direta com o teu pensamento, não me podes ver senão tal qual me conheceste. Acontece o mesmo durante o sonho, isto é, durante mais da quarta parte da vida terrestre – durante quatro lustros sobre catorze – vedes, ouvis, falais, tocais com a mesma impressão, com a mesma clareza, com a mesma segurança com que o fazeis durante a vida normal, de vigília, e, no entanto, no sonho, os olhos estão fechados, o tímpano está insensível, os lábios mudos, os braços estendidos sem movimento. A mesma coisa se dá também nos estados de sonambulismo, de hipnotismo, de sugestão. Tu me vês, tu me ouves e me tocas, pelo teu cérebro influenciado; porém, sob a forma que tu vês eu não existo, de igual modo que não existe o arco-íris ante os olhos de quem o contempla.

– Poderias tu, porventura, aparecer-me também sob a tua forma marciana?

– Não; a menos que sejas realmente transportado em Espírito àquele planeta. Seria um modo de comunicação inteiramente diverso. Aqui, em nossa conversação, tudo é subjetivo quanto a ti. Os elementos da minha forma em Marte não existem na atmosfera terrestre, e o teu cérebro não os imaginaria. Não me poderias tornar a ver senão pela lembrança do teu sonho de hoje; mas, desde que procurasses analisar as minudências, a imagem se esvairia. Tu não nos viste exatamente tal qual somos, porque o teu Espírito não pode julgar senão pelos olhos terrestres, que não são sensíveis para todas as radiações, e porque os da Terra não possuem todos os nossos sentidos.

– Confesso – repliquei –, que não apreendo bem a vida marciana no estado de entes de seis membros.

– Se suas formas não fossem tão elegantes, ter-te-iam parecido monstruosas. Cada mundo tem os seus organismos apropriados às condições de existência. Confesso-te, por minha vez, que, para os habitantes de Marte, o Apolo do Belvedere e a Vênus de Médicis são verdadeiras monstruosidades, por motivo do seu peso animal.

“Entre os marcianos, tudo é de extrema delicadeza. Conquanto o nosso planeta seja muito menor do que a Terra, todavia os seres ali são maiores do que aqui, pois o peso é mais fraco, e os organismos podem elevar-se mais alto sem ser impedidos pelo seu peso e sem pôr em risco a correspondente estabilidade.

“São maiores e mais leves, porque os materiais constitutivos desse planeta têm uma densidade muito fraca. Aconteceu lá o que aconteceria na Terra, se o peso aqui não fosse tão intenso. As espécies aladas teriam dominado o mundo, em vez de se atrofiarem na impossibilidade de um desenvolvimento. Em Marte, o desenvolvimento orgânico se efetuou na série das espécies aladas. A Humanidade marciana é, com efeito, uma raça de origem sextúpede; atualmente, porém, é bípede, bímana, e o que se poderia chamar bialada, pois que esses seres têm duas asas.

“O gênero de vida é inteiramente diverso da vida terrestre, primeiramente porque se vive tanto nos ares e nas plantas aéreas, quanto na superfície do solo; depois, porque, sendo a atmosfera nutritiva, ali não se come. As paixões não são as mesmas. O assassínio é desconhecido lá. Não tendo necessidades materiais, sua Humanidade jamais viveu, mesmo nas idades primitivas, na barbárie da rapina e da guerra. As idéias e os sentimentos são de uma ordem inteiramente intelectual.

“Contudo, encontram-se na morada daquele planeta, senão semelhanças, ao menos analogias. Assim, há ali, quanto na Terra, uma sucessão de dias e de noites que não difere essencialmente do que existe aqui, sendo de 24 horas, 39 minutos e 35 segundos a duração do dia e noite. Havendo 668 desses dias no ano marciano, temos mais tempo para os nossos trabalhos, investigações, estudos e divertimentos. As nossas estações são também quase duas vezes maiores do que as deste mundo, mas têm a mesma intensidade. Os climas não são muito diferentes; tal região de Marte, nas margens do mar equatorial, difere menos do clima da França do que a Lapônia do da Núbia.

“Um habitante da Terra não se considera ali muito expatriado. A maior disparidade entre os mundos consiste certamente na grande elevação da nossa Humanidade sobre a da Terra.

“Essa superioridade é devida principalmente aos progressos realizados pela ciência astronômica e à propagação universal, entre todos os habitantes do planeta, dessa ciência sem a qual é impossível pensar com acerto, sem a qual não se tem senão idéias falsas sobre a Criação, sobre os destinos. Somos muito favorecidos, tanto pela agudeza dos nossos sentidos, quanto pela pureza de nosso céu. Há muito menos água em Marte do que na Terra, e muito menos nuvens.

“O céu ali é quase constantemente belo, em particular na zona temperada.”

– Entretanto, são freqüentes as inundações.

– Sim, e muito recentemente ainda os telescópios da Terra assinalaram uma, bastante extensa, ao longo das margens de um mar a que os teus colegas deram um nome que me será sempre querido, mesmo distante da Terra. A maior parte das nossas plagas são praias, planícies iguais. Poucas montanhas possuímos, e os mares não são fundos. Os habitantes aproveitam esses transbordamentos para irrigação das vastas campinas. Têm retificado, alargado, canalizado os cursos de água e construído nos continentes uma rede inteira de imensos canais. Esses continentes mesmos não são, qual os do globo terrestre, eriçados de elevações alpestres ou himalaicas, mas planícies imensas, atravessadas em todos os sentidos pelos rios canalizados e pelos canais que põem em comunicação todos os mares uns com os outros.

“Outrora havia, relativamente ao volume do planeta, quase tanta água em Marte quanto na Terra. Insensivelmente, de século em século, uma parte da água das chuvas atravessou as profundas camadas do solo e não tornou à superfície. Combinou-se quimicamente com as rochas e foi excluída do curso da circulação atmosférica. De século em século, também, as chuvas, as neves, os ventos, os gelos do inverno, as secas do verão, têm desagregado as montanhas e os cursos de água, trazendo esses destroços para a bacia do mar, cujo leito têm gradualmente levantado. Não mais possuímos grandes oceanos, nem mares profundos, mas unicamente mediterrâneos. Muitos estreitos, golfos, mares análogos à Mancha, ao mar Vermelho, ao Adriático, ao Báltico, ao Cáspio. Praias lindíssimas, enseadas mansas, lagos e espaçosos rios, frotas antes aéreas do que aquáticas, céu quase sempre puro, principalmente pela manhã. A Terra não tem manhãs tão luminosas quanto as nossas.

“O regime meteorológico difere sensivelmente do da Terra, porque, sendo a atmosfera mais rarefeita, as águas, na superfície aliás, se evaporam mais facilmente; depois porque, condensando-se novamente, em vez de formar nuvens duradouras, tornam a passar, quase sem transição, do estado gasoso ao estado líquido. Poucas nuvens e poucos nevoeiros.

“A Astronomia lá é cultivada por motivo da pureza do céu. Temos dois satélites cujo curso pareceria estranho aos astrônomos da Terra, porque, enquanto um dá meses de cento e trinta horas, ou de cinco dias marcianos e mais oito horas, o outro, pela combinação do seu movimento com a rotação diurna do planeta, surge ao Ocidente e desaparece no Levante, atravessando o céu de Oeste para Este em cinco horas e meia, e passa de uma à outra fase em menos de três horas! É um espetáculo único em todo o sistema solar, que muito tem contribuído para atrair a atenção dos habitantes para o estudo do firmamento. Além disso, temos eclipses de luas quase todos os dias; jamais, porém, eclipses totais do Sol, porque os nossos satélites são muito pequenos.

“A Terra nos aparece no mesmo grau de Vênus para a Terra. É ela, para lá, a estrela da manhã e da tarde e, na antiguidade, antes da invenção dos instrumentos de óptica – os quais nos ensinaram que é um planeta habitado qual o nosso, mas inferiormente, –, os nossos antepassados adoravam-na, saudando nela uma divindade tutelar. Todos os mundos têm uma forma de mitologia durante os séculos de infância, e essa mitologia tem por objeto o aspecto aparente dos corpos celestes.

“Às vezes a Terra, acompanhada da Lua, passa por lá diante do Sol e se projeta sobre o seu disco, qual uma pequena mancha negra acompanhada de outra menor. Então, seguem todos com curiosidade esses fenômenos celestes. Nossos jornais tratam muito mais de ciência do que de teatros, de fantasias literárias, de questões políticas ou de tribunais.

“O Sol nos parece um tanto menor, e dele recebemos menos luz e menos calor. Nossos olhos, mais sensíveis, vêem melhor do que os dos terrestres. A temperatura é um pouco mais elevada.”

– Quê! – exclamei –; vós outros estais mais longe do Sol e sentis mais calor do que os da Terra?

– Chamounix fica um pouco mais distante do Sol do que o cimo do Monte-Branco – respondeu ele –. Não é só a distância do Sol que regula as temperaturas: cumpre levar em conta também a constituição da atmosfera. Os nossos gelos polares se desfazem mais completamente do que os da Terra sob o nosso Sol de verão.

– Quais são os países de Marte mais povoados?

– Somente as regiões polares (onde da Terra se avistam as neves e os gelos derretendo-se em cada primavera) são as inabitadas; a população das regiões temperadas é muito densa; mas são, ainda assim, as terras equatoriais as mais povoadas (a população é tão densa ali quanto a da China) e, principalmente, às margens dos mares, apesar das enchentes. Grande número de cidades são edificadas quase sobre a água, de algum modo suspensas nos ares, dominando as inundações de antemão calculadas e esperadas.

– As artes e as indústrias assemelham-se às nossas? Há caminhos de ferro, navios a vapor, o telégrafo, o telefone?

– Isso é diferente. Nunca tivemos vapor, nem caminhos de ferro, porque conhecemos sempre a eletricidade, e a navegação aérea nos é natural. As nossas frotas são movidas pela eletricidade e mais aéreas do que aquáticas. Vivemos principalmente na atmosfera e não temos habitações de pedra, de ferro e de madeira. Não conhecemos os rigores do inverno, porque ninguém ali fica exposto; os que não habitam as regiões equatoriais emigram todo o outono, qual fazem os pássaros aqui. Ser-te-ia muito difícil formar uma idéia exata do nosso gênero de vida.

– Existe em Marte grande número de humanos que tenham já habitado na Terra?

– Não. Entre os cidadãos deste planeta, a maior parte são ignorantes, ou indiferentes, ou cépticos, e não estão preparados para a vida do Espírito. Acham-se presos à Terra, por muito tempo. Muitas almas dormem completamente. As que vivem, trabalham, aspiram ao conhecimento do verdadeiro, são as únicas chamadas à imortalidade consciente, as únicas a que o mundo espiritual interessa e estão aptas para compreendê-lo. Essas almas podem deixar a Terra e reviver em outras Pátrias. Algumas vão durante certo tempo habitar em Marte, primeira estação de uma viagem ultraterrestre, afastando-se do Sol, ou Vênus, primeira parada aquém; mas Vênus é um mundo análogo à Terra e menos privilegiado ainda, devido a suas demasiado rápidas estações, que obrigam os organismos a sofrer os mais bruscos contrastes de temperatura. Certos Espíritos voam imediatamente até às regiões estreladas. Conforme sabes, o Espaço não existe. Em resumo, a justiça reina no sistema do mundo moral, qual o equilíbrio no sistema do mundo físico, e o destino das almas não é mais do que o resultado perpétuo das aptidões, das aspirações, e, conseguintemente, das suas obras.

“A senda urânica está, aberta a todos, mas a alma não é verdadeiramente uraniana senão quando se tem desprendido totalmente do peso da vida material. Dia virá em que não haverá mais, neste planeta, outra crença, nem outra religião senão o conhecimento do Universo e a certeza da imortalidade em suas infinitas regiões, no seu domínio eterno.”

– Que estranha singularidade – exclamei –, não conhecer ninguém na Terra essas sublimes verdades! Ninguém olha para o Céu. Vive-se aqui como se somente a nossa ilhota existisse no mundo.

– A Humanidade terrestre é jovem, replicou Spero. Não se deve desanimar. É criança, e está ainda na ignorância primitiva. Diverte-se com frioleiras, obedece a mestres que ela mesma escolhe. Gosta de dividir-se em nações e vestir-se ridiculamente em trajes nacionais para se exterminar por música. Depois, vós outros ergueis estátuas aos que vos levam à matança. Arruinai-vos, suicidais-vos e, no entanto, não podeis viver sem arrancar à Terra o pão cotidiano. É uma triste situação essa, mas que basta largamente à maior parte dos habitantes do planeta. Se alguns, de aspirações mais elevadas, têm, às vezes, pensado nos problemas de ordem superior, na natureza da alma, na existência de Deus, o resultado não tem sido melhor, pois puseram as almas fora da Natureza, e inventaram uns deuses esquisitos, infames, que jamais existiram senão na sua imaginação pervertida, e em cujo nome têm cometido todos os atentados à consciência humana, abençoado todos os crimes e submetido os espíritos fracos à escravidão, da qual difícil será libertarem-se. O menor animal, em Marte, é melhor, mais belo, mais meigo, mais inteligente e mais grandioso do que o deus dos exércitos de David, de Constantino, de Carlos Magno e de todos os assassinos coroados. Não há, pois, que admirar a tolice e a grosseria dos Terrestres. Mas a lei do progresso rege o mundo. Estais mais adiantados do que no tempo dos antepassados da idade da pedra, cuja mísera existência se consumia em disputar os dias e as noites às feras. Em algumas centenas de séculos estareis mais adiantados do que hoje. Então Urânia reinará nos vossos corações.

– Seria mister um fato material, brutal, para instruir os humanos e convencê-los. Se, por exemplo, pudéssemos entrar algum dia em comunicação com a terra vizinha em que habitas, não em comunicação psíquica com um ser isolado, qual o faço neste momento, mas com o próprio planeta, por centenas e milhares de testemunhos, seria isso um gigantesco vôo para o progresso.

– Poderiam consegui-lo desde já, se o quisessem; pois, pelo que nos toca, em Marte, estamos inteiramente preparados para isso, e o temos mesmo tentado já por muitas vezes. Os da Terra, porém, jamais nos responderam! Refletores solares, desenhando em vossas vastas planícies figuras geométricas, provavam que existimos. Poderiam responder-nos com figuras semelhantes, traçadas em suas planícies, ou durante o dia, ao sol, ou durante a noite, com a luz elétrica. Vós outros, porém, nem nisso mesmo pensais e, se alguém propusesse tentá-lo, os juízes declará-lo-iam interdito, pois só essa idéia está inacessivelmente acima do consenso universal dos cidadãos do teu planeta. Em que se ocupam as suas assembléias científicas? Em conservar o passado. Em que se ocupam as suas assembléias políticas? Em aumentar os encargos públicos. No reino dos cegos os zarolhos são reis.

“Mas não se deve perder totalmente a esperança. O progresso os arrebata a pesar seu. Um dia saberão que são cidadãos do céu. Viverão então na luz, no saber, no verdadeiro mundo do Espírito.”

Enquanto o habitante de Marte me dava a conhecer os principais traços da sua nova Pátria, o globo terrestre tinha voltado para o Oriente, o horizonte se inclinara e a Lua se erguera gradualmente na cúpula celeste que ela iluminava com o seu clarão. De repente, baixando os olhos para o lugar onde Spero estava sentado, não pude conter um movimento de surpresa. O clarão do luar espalhava a sua luz, tanto sobre a pessoa do meu amigo quanto sobre mim, e, no entanto, ao passo que o meu corpo projetava sombra no parapeito, o dele ficava sem sombra! Levantei-me bruscamente para verificar melhor o fato, e voltei-me logo, estendendo a mão até o seu ombro e seguindo no parapeito a sombra do meu gesto. Instantaneamente, porém, o meu visitante desaparecera. Achava-me absolutamente só, na torre silenciosa. A minha sombra, muito negra, projetava-se distintamente no parapeito. A Lua brilhava. A cidade dormia a meus pés. O ar estava tépido e sem brisas.

Entretanto, pareceu-me ouvir passos. Prestei atenção, e distingui com efeito uns passos bastante pesados que se aproximavam de mim. Evidentemente subiam na torre.

– O senhor não desceu ainda! – exclamou o guarda, parando no terraço –. Eu estava esperando para fechar as portas, e supunha que as experiências se achavam terminadas.










Calendário Assistência 2019

Tenda Espírita Mamãe Oxum

Calendário 2019

FEVEREIRO

MARÇO

ABRIL

Não haverá GIRA.

Estaremos realizando obras de manutenção no imóvel.

De 01/03 à 10/03 – TERREIRO FECHADO

15/03 - sexta-feira – Saúde

20/03 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

22/03 - sexta-feira – Caboclos

29/03 - sexta-feira - Exus

03/04 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

05/04 - sexta-feira – Pretos-Velhos

12/04 - sexta-feira – Saúde

17/04 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

23/04 - terça-feira – Saudação à Ogum Às 20h

26/04 - sexta-feira - Malandros

MAIO

JUNHO

JULHO

30/05 - sexta-feira – Pretos-Velhos

10/05 - sexta-feira – Saúde

13/05 - segunda-feira – Festa dos Pretos-Velhos às 20h

17/05 - sexta-feira – Caboclos

22/05 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

24/05 - sexta-feira – Saudação à Santa Sara com Corrente de Ciganos

31/05 - sexta-feira - Exus

05/06 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

07/06 - sexta-feira – Pretos-Velhos

13/06 - quinta-feira – Saudação à Santo Antonio com Corrente de Exus às 20h

19/06 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

21/06 - sexta-feira – Caboclos

28/06 – sexta-feira – Malandros

03/07 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

05/07 - sexta-feira – Pretos-Velhos

14/07 – domingo – SEMINÁRIO das 10h30min às 18h

17/07 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

19/07 - sexta-feira – Caboclos

26/07 – sexta-feira – Exus e Saudação à Nanã

AGOSTO

SETEMBRO

OUTUBRO

02/08 - sexta-feira – Pretos-Velhos

07/08 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

09/08 - sexta-feira – Saúde

16/08 - sexta-feira – Saudação à Obaluaê / Omolu

18/08 – Domingo – Calunga às 09h

21/08 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

23/08 – sexta-feira – Caboclos

30/08 - sexta-feira - Malandros

04/09 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

06/09 - sexta-feira – Pretos-Velhos

13/09 - sexta-feira – Saúde

18/08 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

20/09 - sexta-feira – Caboclos

27/09 – sexta-feira –Distribuição de doces às 15h

Não tem Gira

29/09 – Festa de São Cosme e São Damião às 16h

02/10 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

04/10 - sexta-feira – Pretos-Velhos

11/10 – sexta-feira – Saúde

12/10 – Sábado – Cachoeira/Mata

16/10 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

18/10 - sexta-feira – Caboclos

25/10 - sexta-feira – Exus

NOVEMBRO

DEZEMBRO

01/11 - sexta-feira – Esteira Das Almas

06/11 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

08/11 - sexta-feira – Saúde

15/11 - sexta-feira – Dia Nacional da Umbanda – Orixás – 20h

20/11 – quarta-feira – Café com Vovó Catarina

22/11 - sexta-feira – Festa aos Malandros

25/11 - segunda-feira /Calunga 17h

30/11 – Sábado - Praia

-

08/12 – Domingo – Saudação aos Orixás –

Encerramento das Atividades/ 2019

Atenção:

As Giras têm início às 20h e as fichas são distribuídas a partir das 19:45 até às 21h.

As consultas não são cobradas. “Dai de graça o que de graça recebestes de Deus”.

A Tenda Espírita Mamãe Oxum é um Templo Sagrado, respeite-o como tal.

Evite roupas ousadas como shorts, mini blusas, vestidos muito decotados ou curtos. Respeitem as Entidades.

Mãe Márcia “Anêrê de Oxum”

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