VEREMOS 
TAMBÉM O ESTUDO DOS MAPAS DA FUTURA FORMA FÍSICA E O VÍNCULO ENTRE PAIS E 
FILHOS.
CONHECER O ESPIRITISMO NÃO IMPLICA EM SE RENUNCIAR A 
ATUAL CRENÇA RELIGIOSA MAS EM ALARGAR OS 
CONHECIMENTOS PARA ALÉM DOS LIMITES DA 
MATÉRIA.
PERMITA-SE 
CONHECER A DOUTRINA ESPÍRITA.
carlos 
eduardo cennerelli
Pesquisa e 
Formatação
Do livro: 
Missionários da Luz
Série: Nosso 
Lar
Autor: André 
Luiz (Espírito)
Psicografia: 
Francisco Cândido Xavier
 
Oração de Druso 
(instrutor de André Luiz), antes de sua reencarnação. 
AÇÃO e REAÇÃO - 
Francisco Cândido Xavier – André Luiz - 17ª edição. *  - @1956
  
        Druso ergueu-se e rogou permissão para 
orar à despedida.
        Todas as frontes penderam silenciosas, 
enquanto a voz dele se elevou para o Infinito, à maneira de melodia emoldurada 
de lágrimas.
        
- Senhor Jesus - clamou humilde - neste instante em que te oferecemos o 
coração, dera que nossa alma se incline, reverente, para agradecer-te as bênçãos 
de luz que a tua incomensurável bondade aqui nos concedeu em cinqüenta anos de 
amor...
        Tu, Mestre, que ergueste Lázaro do 
sepulcro, levantaste-me também das trevas para a alvorada remissora, lançando no 
inferno de minha culpa o orvalho de tua compaixão...
        Estendeste os braços magnânimos ao meu 
espírito mergulhado na lodosa corrente do crime.
        Trouxeste-me do pelourinho do remorso 
para o serviço da esperança.
        Reanimaste-me quando minhas forças 
desfaleciam...
        Nos dias agoniados, foste o alimento de 
minhas ânsias; Nas sendas mais escabrosas, eras, em tudo, o meu companheiro 
fiel.
        Ensinaste-me, sem ruído, que somente 
através da recuperação do respeito a mim mesmo, no pagamento de meus débitos, é 
que poderei empreender a reconquista de minha paz...
        E confiaste-me, Senhor, o trabalho 
neste pouso restaurador, com assistência constante de tua benevolência infinita, 
a fim de que eu pudesse avançar das sombras da noite para o fulgor de novo 
dia!...
        Agradeço-te, pois, os instrutores que 
me deste, a cuja devoção afetuosa tão pesado tenho sido, os companheiros 
generosos que tantas vezes me suportaram as exigências e os irmãos enfermos que 
tantos ensinamentos preciosos me trouxeram ao coração!...
        E agora, Senhor, que a esfera dos 
homens me descerrará de novo as portas, acompanha-me, por acréscimo de 
misericórdia, com a graça de tua bênção.
        Não permitas que o reconforto do mundo 
me faça esquecer-te e constrange-me ao convívio da humildade para que o orgulho 
me não sufoque.
        Dá-me a luta edificante por mestra do 
meu resgate e não retires o teu olhar de sobre os meus passos, ainda que, para 
isso, deva ser o sofrimento constante a marca de meus 
dias.
        E, se possível, deixa que os irmãos 
desta casa me amparem com os seus pensamentos em orações de auxilio, para que, 
no pedregoso caminho da regeneração de que careço, não me canse de louvar-te o 
excelso amor para sempre!...
        Calou-se Druso, em pranto.
 
PREPARAÇÃO  
DE  EXPERIÊNCIAS
André Luiz
Cap 12 (Missionários da 
Luz)
 – Preparação de 
experiências – 
Registra providências no 
Planejamento de Reencarnações e os mapas dos futuros corpos físicos; trata ainda 
do interessante e raríssimo caso dos "completistas" (encarnados que aproveitam 
todas as oportunidades de evolução).
A medicina do futuro, 
certamente levará em conta o psiquismo, identificando-o como responsável, senão 
por todas, mas pela maioria das patologias.
 
CENTRO DE PLANEJAMENTO DE 
REENCARNAÇÕES
André Luiz
(Do livro 
"Missionários da Luz", cap. 12, Francisco Cândido Xavier, edição 
FEB)
Como se processam as 
reencarnações?
Existem métodos, 
planejamentos, diretrizes e escolhas? 
Podemos decidir qual 
corpo tomaremos na nova encarnação? 
Todas as pessoas 
possuem esta liberdade?
 E os detalhes do corpo, como altura, peso, 
traços faciais, cor dos olhos, cabelos e pele e outras minúcias, são obra do 
acaso, herança genética ou fruto de elaborada engenharia 
celeste?
 Somos "assim ou assado" porque Deus quer ou 
quis ou haverá, no Além, por trás de cada ser renascido, um sofisticado 
instituto de planejamento de reencarnações?
Se a sua mente vive repleta de perguntas sobre o 
assunto, se a sua inteligência visualiza outra dinâmica para o incessante vaivém 
da vida, se você não suporta mais ouvir respostas do tipo "porque sim", "só Deus 
sabe" e "tá na Bíblia" para explicar tantas e tão angustiantes questões, aqui 
estão algumas explicações bem mais conclusivas... e coerentes! - Instituto André 
Luiz.
 
Do livro: Missionários da 
Luz
Série: Nosso 
Lar
Autor: André Luiz 
(Espírito)
Psicografia: Francisco Cândido 
Xavier
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Do livro: 
Missionários da LuzSérie: Nosso Lar
 Autor: André Luiz 
(Espírito)
 Psicografia: Francisco Cândido 
Xavier
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André 
Luiz
(Do livro "Missionários da Luz", cap. 12, Francisco Cândido Xavier, 
edição FEB)
A sós com Alexandre, mentor devotado 
e amigo, comecei a meditar na possibilidade de contribuir igualmente no caso que 
se me deparava. Nunca tivera oportunidade de acompanhar, de perto, um 
processo de reencarnação, estudando os ascendentes espirituais nas questões da 
embriologia. Não seria interessante, para mim, utilizar a 
experiência? Nesse propósito, dirigi-me ao instrutor, sem falar, porém, da minha 
pretensão em sentido direto:
- Notável para mim a solicitação de 
hoje -exclamei. - Longe estava de pensar, no mundo, na multiplicidade de tarefas 
atribuídas aos benfeitores e missionários desencarnados. A extensão do serviço 
em nosso campo de ação assombraria a qualquer mortal.
- Sem dúvida - respondeu o mentor, 
atencioso -, os trabalhos se desdobram em todas as direções. O pedido de 
Herculano vem focalizar um dos mais importantes problemas da felicidade humana: 
o da aproximação fraternal, do perdão recíproco, da semeadura do amor, através 
da lei reencarnacionista.
Alexandre meditou alguns momentos e 
continuou:
- O caso é típico. O 
drama de Segismundo é demasiadamente complexo para ser comentado em poucas 
palavras. Basta, todavia, recordar que ele, Adelino e Raquel são os 
protagonistas culminantes de dolorosa tragédia, ocorrida ao tempo de minha 
última peregrinação pela Crosta. Em seguida a uma paixão desvairada, Adelino foi 
vítima de homicídio; Segismundo, do crime; e Raquel, do prostíbulo. 
Desencarnaram, cada um por sua vez, sob intensa vibração de ódio e desesperação, 
padecendo vários anos, em zonas inferiores. 
Mais tarde, por 
intercessão de amigos redimidos, os antigos cônjuges obtiveram a volta ao corpo 
físico, a fim de santificarem os laços sentimentais e se reaproximarem dos 
antigos adversários. Mas, como acontece quase sempre, os heróis na promessa 
fraquejam na realização, porque se apegam muito mais aos próprios desejos que à 
compreensão da Vontade Divina. De posse dos bens da vida física, nega-se Adelino 
a perdoar, recapitulando erradamente as lições do 
passado.
 Antes mesmo da reencarnação do antigo 
transviado, já se manifesta contrário a qualquer auxílio. Sempre o velho círculo 
vicioso - quando fora da oportunidade bendita de trabalho terrestre e vendo a 
extensão das próprias necessidades, desvela-se o companheiro em prometer 
fidelidade e realização, mas, logo que se apossa do tesouro do corpo físico, 
volta ao endurecimento espiritual e ao menosprezo das leis de 
Deus.
 
Calou-se o mentor, por alguns 
instantes, acentuando em seguida:
- Buscarei, porém, chamá-los à 
recordação dos compromissos.
Neste ínterim, entendendo que a 
oportunidade era preciosa, solicitei:
- Ser-me-ia possível 
acompanhá-lo? Creio que aproveitaria muito. Poderia talvez adquirir valores 
significativos para o serviço do próximo e para meu benefício 
pessoal.
 Ignoro até quando me será permitido estudar em 
sua companhia e estimarei o aproveitamento integral de semelhante 
oportunidade.
Alexandre sorriu, compassivo, e 
falou:
- Não tenho objeções. 
Entretanto, não creio deva seguir os trabalhos sem algum conhecimento prévio do 
assunto. 
Em toda edificação 
verdadeiramente útil, não podemos prescindir da base. Temos bons amigos no 
Planejamento de 
Reencarnações, serviço muito 
importante em nossa colônia espiritual, diretamente relacionado com as 
atividades do Esclarecimento. Nessa instituição durante alguns dias, você terá 
uma idéia aproximada de nossa tarefa, portas adentro de semelhantes 
trabalhos.
 Grande percentagem de reencarnações na Crosta 
se processa em moldes padronizados para todos, no campo de manifestações 
puramente evolutivas.
 Mas outra percentagem não obedece ao mesmo 
programa. Elevando-se a alma em cultura e conhecimentos, e, conseqüentemente, em 
responsabilidade, o processo reencarnacionista individual é mais complexo, 
fugindo à expressão geral, como é lógico. Em vista disso, as colônias 
espirituais mais elevadas mantêm serviços especiais para a reencarnação de 
trabalhadores e missionários.
 
As explicações eram sedutoras e 
relevantes e, compreendendo a importância dos esclarecimentos para meu pobre 
espírito, Alexandre continuou:
- Quando me refiro a 
trabalhadores, falo dos companheiros não completamente bons e redimidos, mas 
daqueles que apresentam maior soma de qualidades superiores, a caminho da 
vitória plena sobre as condições e manifestações grosseiras da vida. Em geral, 
como acontece a nós outros, são entidades em débito, mas com valores de boa 
Vontade, perseverança e sinceridade, que lhes outorgam o direito de influir 
sobre os fatores de sua reencarnação, escapando, de certo modo, ao padrão geral. 
Claro que nem sempre tais alterações se verificam em condições agradáveis para a 
experiência futura. Os serviços de retificação representam tarefas 
enormes.
E desejando imprimir 
fortemente em meu espírito a noção da responsabilidade, o instrutor prosseguiu, 
tornando mais grave a inflexão da voz: 
- O problema da queda é 
também uma questão de aprendizado e o mal indica posição de desequilíbrio, 
exigindo restauração e corrigenda. A evolução confere-nos poder, mas gastamos 
muito tempo, aprendendo a utilizar esse poder harmonicamente. A racionalidade 
oferece campo seguro aos nossos conhecimentos; entretanto, André, quase todos 
nós, trabalhadores da Terra, nos demoramos séculos no serviço de iluminação 
íntima, porque não basta adquirir idéias e possibilidades, é preciso ser 
responsável, e nem é justo tenhamos tão-somente a informação do raciocínio, mas 
também a luz do amor.
 
- Daí as lutas 
sucessivas em continuadas reencarnações da alma! - exclamei, vivamente 
impressionado.
- Sim - continuou meu 
amável interlocutor -, temos necessidade da luta que corrige, renova, restaura e 
aperfeiçoa. A reencarnação é o meio, a educação divina é o 
fim.
 Por isso mesmo, a par de 
milhões de semelhantes nossos que evolvem, existem milhões que se reeducam em 
determinados setores do sentimento, porquanto, se já possuem certos valores da 
vida, faltam-lhes outros não menos importantes.
Identificando-me a 
dificuldade para compreender-lhe o ensinamento de maneira integral, meu 
orientador voltou a dizer:
- Embora na condição de 
médico do mundo, acredito que você não tenha sido completamente estranho aos 
estudos evangélicos.
- Sim, sim - retruquei 
-, tenho as minhas recordações nesse sentido.
- Pois bem, o próprio 
Jesus nos deixou material de pensamento para o assunto em exame, quando nos 
asseverou que se a nossa mão ou os nossos olhos fossem motivos de escândalo 
deveriam ser cortados ao penetrarmos no templo da 
vida.
 Compete-nos transferir a imagem literal para a 
interpretação simples do espírito. Se já falimos muitas vezes em experiências da 
autoridade, da riqueza, da beleza física, da inteligência, não seria lógico 
receber idêntica oportunidade nos trabalhos 
retificadores.
Compreendera claramente 
onde Alexandre pretendia chegar com os seus esclarecimentos amigos. - É para a 
regulamentação de semelhantes serviços que funciona em nossa colônia espiritual, 
por exemplo, o Planejamento de Reencarnações; onde você terá ocasião de recolher 
ensinamentos preciosos.
 
E, atendendo-me às necessidades como 
pai afetuoso, apresentou-me o instrutor, no dia imediato, à imponente 
instituição.
Constituía-se o 
movimentado centro de serviço de vários prédios e numerosas instalações. Árvores 
acolhedoras enfileiravam-se através de extensos jardins, imprimindo encantador 
aspecto à paisagem. Reconheci logo que o instituto se caracterizava por grande 
movimento.
 Entidades insuladas ou em pequenos grupos iam 
e vinham, estampando atencioso interesse na expressão fisionômica. Pareciam 
sumamente despreocupadas de nossa presença ali, porque, quando não passavam 
sozinhas, ao nosso lado, engolfadas em profundos pensamentos, iam em grupos 
afetuosos, alimentando discretas conversações, multo graves e absorventes, ao 
que me parecia. Muitos desses irmãos, que passavam junto de nós, empunhavam 
reduzidos rolos de substância semelhante ao pergaminho terrestre, relativamente 
aos quais não possuía eu, até então, a mais leve 
notícia.
 
Alexandre, porém, como sempre, veio 
em socorro de minha estranheza, explicando, bondosamente:
- As entidades sob 
nossos olhos são trabalhadores de nossa esfera, interessados em reencarnações 
próximas. 
Nem todos estão 
diretamente ligados ao semelhante propósito, porque grande parte está em 
trabalho de intercessão, obtendo favores dessa natureza para amigos íntimos. Os 
rolos brancos que conduzem são pequenos mapas de formas orgânicas, elaborados 
por orientadores de nosso plano, especializados em conhecimentos biológicos da 
existência terrena. Conforme o grau de adiantamento do futuro reencarnante e de 
acordo com o serviço que lhe é designado no corpo carnal, é necessário 
estabelecer planos adequados aos fins 
essenciais.
 
- E a lei da 
hereditariedade fisiológica? 
perguntei.
- Funciona com 
inalienável domínio sobre todos os seres em evolução, mas sofre, naturalmente, a 
influência de todos aqueles que alcançam qualidades superiores ao ambiente 
geral. Além do mais, quando o interessado em experiências novas no plano da 
Crosta é merecedor de serviços «intercessórios», as forças mais elevadas podem 
imprimir certas modificações à matéria, desde as atividades embriológicas, 
determinando alterações favoráveis ao trabalho de 
redenção.
A essa altura da 
palestra esclarecedora, Alexandre convidou-me a transpor o 
limiar.
 
Achamo-nos, em breve, num dos 
gabinetes extensos do edifício principal, aonde um dos numerosos amigos do 
orientador veio atender-nos atenciosamente.
Apresentou-me Alexandre ao 
Assistente Josino, que me recebeu com extrema gentileza e fidalguia de trato. 
Esclareceu o instrutor o objetivo de nossa visita.
 Desejava me fosse conferida a possibilidade de 
visitar a instituição de planejamento, quantas vezes me fosse possível durante a 
semana em curso, em vista da minha necessidade de adquirir noções seguras, 
referentemente ao trabalho de auxílio nas atividades reencarnacionistas. O 
Assistente prometeu a melhor boa vontade.
 Conduzir-me-ia a colegas dele, para que me não 
faltassem minúcias de conhecimento, exporia suas próprias experiências à minha 
observação, para que eu retirasse delas o máximo proveito e, por fim, quanto 
estivesse ao seu alcance, guiaria meus impulsos no 
aprendizado.
Felicitavam-me o 
íntimo as melhores e mais confortadoras impressões, não só pela recepção 
carinhosa, senão também pelo ambiente educativo. 
Não longe de nós, em 
luminosos pedestais, descansavam duas maravilhas da estatuária, a figuração 
delicada de um corpo masculino e outro modelo feminino, singularmente belo pela 
perfeição anatômica, não somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e 
as mais diversas glândulas. Através de disposições elétricas, ambas as 
figurações palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os 
homens e mulheres mais evolvidos na esfera carnal.
 
|  | 
"Não longe de nós, em luminosos 
pedestais, descansavam duas maravilhas da estatuária, a figuração delicada de um 
corpo masculino e outro modelo feminino, singularmente belo pela perfeição 
anatômica, não somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e as mais 
diversas glândulas. Através de disposições elétricas, ambas as figurações 
palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os homens e 
mulheres mais evolvidos na esfera carnal." - André Luiz |  | 
 
Identificando-me a 
admiração, Alexandre sorriu e disse ao Assistente Josino, com o propósito de 
fazer-se ouvido por mim:
- Talvez André não 
conheça bastante o nosso respeito e gratidão ao aparelho físico terrestre. - Em 
verdade - ajuntei - ignorava, até ago¬ra, que o corpo carnal fosse, entre nós, 
objeto de tamanhos cuidados. Não sabia que a nossa colônia contasse com 
instituição desse teor.
- Como não, meu 
amigo? - interferiu o Assistente, com inflexão de carinho - o corpo físico na 
Crosta Planetária representa uma bênção de Nosso Eterno Pai. Constitui primorosa 
obra da Sabedoria Divina, em cujo aperfeiçoamento incessante temos nós a 
felicidade de colaborar. Quanto devemos à máquina humana pelos seus milênios de 
serviço a favor de nossa elevação na vida eterna? Nunca relacionaremos a 
extensão de semelhante débito.
E, fixando os 
modelos que me provocavam assombro, acentuou:
- Todo o nosso zelo, 
no serviço de reencarnação, permanece muito aquém do quanto deveríamos realizar 
em benefício do aprimoramento da máquina 
orgânica.
 
Embora hesitante, ousei 
perguntar:
- Todos os núcleos de 
espiritualidade superior mantêm círculos de trabalho dessa 
natureza?
Foi Alexandre quem 
respondeu, com a delicadeza habitual:
- Em todas as 
colônias de expressão elevada, essas tarefas são desempenhadas com infinito 
carinho. O auxílio à reencarnação de companheiros nossos traduz o nosso 
reconhecimento ao aparelho físico que nos tem proporcionado tantos benefícios; 
através do tempo.
 
Recordei, porém, que 
o meu pai terrestre , um dia, voltara à experiência carnal, procedendo das zonas 
francamente inferiores, e indaguei:
- E aqueles que 
regressam à Crosta, partindo das regiões mais baixas, terão o mesmo generoso 
auxílio?
Desejando imprimir à 
pergunta a mais viva sinceridade, acrescentei:
- Meu genitor, na 
derradeira romagem terrestre, voltou, faz algum tempo, à esfera carnal em 
condições bem amargas...
Alexandre 
interrompeu-me o curso da frase, ponderando:
- Compreendemos. Se 
for ele criatura de razão esclarecida, embora não iluminada, permanecia após a 
morte em estado de queda e não deve ter voltado à bendita oportunidade da escola 
física sem o trabalho «intercessório» e forte ajuda de corações bem-amados de 
nosso plano. 
Nesse caso, terá 
recebido a cooperação de benfeitores, situados em posições mais altas, que lhe 
terão endossado as promessas no serviço regenerador. Se ele foi, porém, criatura 
em esforço puramente evolutivo, circunstância essa na qual não teria regressado 
em condições amargurosas, contou ele naturalmente com o abençoado concurso dos 
trabalhadores espirituais que velam, na Crosta, pela execução dos trabalhos 
reencarnacionistas, em processos naturais. 
 
Em face dos esclarecimentos do 
instrutor, entendi as diferenças e tranqüilizei o coração. 
Fosse porque a palestra escalpelara 
melindroso assunto de família humana, fosse pelo propósito de me deixarem a sós 
com as minhas profundas reflexões naquele extenso gabinete de serviço, o 
orientador e o assistente entraram em silêncio, compelindo-me a rebuscar novos 
motivos de conversação para o meu aprendizado.
Passei então a observar 
detidamente os modelos masculino e feminino, não longe de meus olhos. 
Muito gentil Josino pousou a destra, 
de leve, nos meus ombros, e falou-me: 
- Aproxime-se das criações 
educativas. Você lucrará muito, observando de perto.
Não contive um gesto de 
agradecimento e afastei-me dos dois respeitáveis amigos, acercando-me das 
figurações ali expostas. 
Detive-me na 
contemplação do molde masculino, que apresentava absoluta harmonia de linhas, 
qual arte helênica de sabor antigo.
O modelo, estruturado em substância 
luminosa, constituía, a meu parecer, a mais primorosa obra anatômica até então 
sob minha análise. Semelhava-se aquela figura humana, imóvel, a qualquer coisa 
divinal.
Fixei-lhe as minuciosidades com 
espanto. 
Nunca vira semelhante 
perfeição de minudências fisiológicas. Toda a musculatura estava, ali, formada 
em fibras radiosas. Desde o frontal ao ligamento anular do tarso, viam-se fios 
de luz simbolizando as regiões diversas da musculatura em geral. Determinadas 
fibras, todavia, como as que se localizavam na zona orbicular das pálpebras, no 
triangular dos lábios, no grande peitoral, no pectineo, nas eminências tenar e 
hipotênar até o extensor dos dedos, eram mais brilhantes. 
Do exame de superfície, 
passei a observações mais profundas, identificando as disposições maravilhosas 
das figuras representativas da circulação linfática e sanguínea. Oh! Os órgãos 
estavam todos ali, vibrando em obediência a dispositivos elétricos para 
demonstrações educativas. Os vasos para o sangue venoso apresentavam-se em luz 
acinzentada, ao passo que as regiões do sangue arterial figuravam-se em cor 
encarnada.
 
Surpreendido, rendi silencioso 
preito de admiração à Sabedoria Divina, que nos concede o sublime aparelho 
físico terrestre para as nossas aquisições eternas.
Impressionava-me a 
composição perfeita dos vasos distribuídos em torno do tronco celíaco, à maneira 
de pequenos rios de luz, destacando-se em expressão a luminosidade das cavas 
superior e inferior, das jugulares externa e interna, das artérias e veias 
axilares, da veia porta, das artérias esplênica e mesentérica superior, da aorta 
descendente, dos vasos ilíacos e dos gânglios da 
virilha.
 
Cobrindo as maravilhas 
orgânicas, estava o sistema nervoso, semelhando-se a capa radiante estruturada 
em fios tenuíssimos de luz feérica. A região do cérebro parecia uma lâmpada em 
azul suavíssimo, cuja luminosidade se ligava em senti¬do direto ao cerebelo, 
descendo em seguida pela medula espinhal até o plexo sagrado, onde o foco 
brilhante adquiria expressão mais intensa, para atenuar-se, depois, no grande 
ciático.
 
Transferi minhas 
observações para a forma feminina, igualmente radiosa, concentrando meu 
potencial analítico sobre o sistema endocrínico, disposto à maneira de 
constelação, entre as peças orgânicas. Desde a epífise, situada entre os 
hemisférios cerebrais, até os núcleos procriadores, as glândulas pareciam formar 
belo sistema luminoso, semelhante a pequenos astros de vida, congregados em 
sentido vertical, qual antena rútila atraindo a luz procedente de Mais Alto. 
Cada qual apresentava 
sua forma específica, suas expressões vibratórias, suas características 
particulares, diversificando-se, igualmente, a cor de cada uma, embora 
recebessem todas, a seu modo, a coloração da epífise, semelhante a pequenino sol 
azulado, mantendo em seu campo de atração magnética todas as de¬mais, desde a 
hipófise à região dos ovários, como o nosso astro de vida, garantindo a coesão e 
o movimento da sua grande família de planetas e 
asteróides.
 
Minha estupefação não tinha 
limites.
É forçoso confessar, porém, que 
minha surpresa se distendia muito mais, ao fixar os eflúvios brilhantes que 
emanavam dos centros genitais, semelhando-se, em conjunto, a minúsculo santuário 
cheio de luz.
Como eu dirigisse ao meu instrutor 
um olhar de indagação, seus esclarecimentos não se fizeram 
esperar.
- Na Crosta - disse-me 
Alexandre, sorrindo, após reaproximar-se de mim -, em sentido geral ainda existe 
muita ignorância acerca da missão divina do sexo. Para nós, porém, que desejamos 
valorizar as experiências, a paternidade e a maternidade terrestres são 
sagradas. 
A faculdade criadora é 
também divindade do homem. O útero maternal significa, para nós outros, a porta 
bendita para a redenção; para grande número de pessoas na Esfera do Globo, a 
visão celestial é símbolo de repouso e alegria sem fim, enquanto, para muitos de 
nós, a visão terrestre significa trabalho edificante e 
salutar.
 Não alcançaremos, porém, a terra prometida do 
serviço redentor, sem o concurso das forças criadoras associadas, do homem e da 
mulher. 
 
Compreendi, com novo espírito, o 
caráter sublime das energias sexuais e recordei-me, compadecidamente, de todos 
os encarnados que ainda não conseguiram edificar o respeito e o entendimento, 
relativos aos sagrados órgãos procriadores. Meu orientador, entretanto, como 
antena receptora de todas as minhas emissões mentais, advertiu-me, 
bondoso:
- Relegue ao esquecimento qualquer 
expressão das reminiscências menos construtivas. Os que ultrajam o sexo, 
escrevendo, agindo ou falando, já são grandes infelizes por si 
mesmos.
Guardei a lição e abençoei a nova 
experiência que começava.
Despediu-se Alexandre, deixando-me 
na grande instituição de planejamento, onde o Assistente Josino, ocupado nos 
encargos de seu ministério, me confiou aos cuidados de Manassés, um irmão dos 
serviços informativos da casa, que me acolheu prazerosamente, cercando-me de 
gentileza e carinho. 
Senti imediatamente que o meu 
aprendizado ali se iniciava com imenso proveito. Manassés era um livro volante. 
Seus pareceres e informes traduziam valiosos 
ensinamentos.
Aproximando-nos dos 
pavilhões de desenho, onde numerosos cooperadores traçavam planos para 
reencarnações incomuns, foi o meu novo companheiro procurado por uma entidade 
simpática que lhe pedia informações. Manassés apresentou-ma, otimista. 
Tratava-se dum colega 
que, depois de quinze anos de trabalho nas atividades de auxílio, regressaria à 
esfera carnal para a liquidação de determinadas contas. O recém-chegado parecia 
hesitante. Via-se-lhe o receio, a indecisão.
- Não se deixe dominar 
pelas impressões negativas - dirigia-se Manassés a ele, infundindo-lhe bom 
ânimo. - O problema do renascimento não é assim tão intrincado. Naturalmente, 
exige coragem, boas disposições.
- Entretanto - 
exclamava o interlocutor, algo triste -, temo contrair novos débitos ao invés de 
pagar os velhos compromissos. É tão penoso vencer na experiência carnal, em 
vista do esqueci¬mento que sobrevém à encarnação...
- Mas seria muito mais 
difícil triunfar guardando a lembrança - redargüiu Manassés, 
incontinenti.
Prosseguindo, 
sorridente, acrescentou:
- Se tivéssemos grandes 
virtudes e belas realizações, não precisaríamos recapitular as lições já vividas 
na carne. E se apenas possuímos chagas e desvios para rememorar, abençoemos o 
olvido que o Senhor nos concede em caráter temporário. Esforçou-se o outro para 
esboçar um sorriso e objetou:
- Conheço-lhe o 
otimismo; quisera ser igual¬mente assim. Voltarei confiante no concurso fraterno 
de vocês.
E modificando o tom de 
voz, indagou:
- Pode informar se o 
meu modelo está pronto? 
- Creio que poderá 
procurá-lo amanhã - tornou Manassés, bem disposto -; já fui observar o gráfico 
inicial e dou-lhe parabéns por haver aceitado a sugestão amorosa dos amigos bem 
orienta¬dos, sobre o defeito da perna.
 Certamente, lutará você com grandes 
dificuldades nos princípios da nova luta, mas a resolução lhe fará grande 
bem.
- Sim - disse o outro, 
algo confortado -, preciso defender-me contra certas tentações de minha natureza 
inferior e a perna doente me auxiliará, ministrando-me boas preocupações. 
Ser-me-á um antídoto à 
vaidade, uma sentinela contra a ¬devastação do amor-próprio 
excessivo.
- Muito bem! - respondeu 
Manassés, franca¬mente otimista.
- E pode informar-me 
ainda a média de tempo conferida à minha forma física 
futura?
- Setenta anos, no 
mínimo - redargüiu meu novo companheiro, contente.
O outro fixou uma 
expressão de reconhecimento, enquanto Manassés 
continuava:
- Pondere a graça 
recebida, Silvério, e, de¬pois de tomar-lhe a posse no plano físico, não volte 
aqui antes dos setenta. Trate de aproveitar a oportunidade. Todos os seus amigos 
esperam que você volte, mais tarde, à nossa colônia, na gloriosa condição de um 
«completista».
 
O interpelado mostrou um raio de 
esperança nos olhos, agradeceu e despediu-se.
As últimas observações de Manassés 
acenderam-me curiosidade mais forte. Não contive a indagação que me vagueava no 
pensamento e perguntei sem rebuços:
- Meu amigo, que 
significa a palavra «completista»?
Ele sorriu, complacente, 
e retrucou, bem-humorado:
- É o título que designa 
os raros irmãos que aproveitaram todas as possibilidades construtivas que o 
corpo terrestre lhes oferecia.
 Em geral, quase todos 
nós, em regressando à esfera carnal, perdemos oportunidades muito importantes no 
desperdício das forças fisiológicas. Perambulamos por lá, fazendo alguma coisa 
de útil para nós e para outrem, mas, por vezes, desprezamos cinqüenta, sessenta, 
setenta per cento e, freqüentemente, até mais, de nossas 
possibilidades.
 Em muitas ocasiões, prevalece ainda, contra 
nós, a agravante de termos movimentado as energias sagradas da vida em 
atividades inferiores que degradam a inteligência e embrutecem o coração. 
Aqueles, porém, que 
mobilizam a máquina física, à maneira do operário fidelíssimo, conquistam 
direitos muito expressivos em nossos planos.
 O «completista», na 
qualidade de trabalhador leal e produtivo, pode escolher, à vontade, o corpo 
futuro, quando lhe apraz o regresso à Crosta em missões de amor e iluminação, ou 
recebe veículo enobrecido para o prosseguimento de suas tarefas, a caminho de 
círculos mais elevados de 
trabalho.
 
Semelhante notícia representava para 
mim valiosa revelação. Nada mais legítimo que dotar o servidor fiel de recursos 
completos. 
E lembrei-me dos 
desregramentos de toda a sorte a que se entregam as criaturas humanas, em todos 
os países, doutrinas e situações, complicando os caminhos evolutivos, criando 
laços escravizantes, enraizando-se no apego aos quadros transitórios da 
existência material, alimentando enganos e fantasias, destruindo o corpo e 
envenenando a alma. Num transporte de justificada admiração, 
redargúi:
- Recordando o cativeiro 
dos Espíritos encarnados no plano da sensação, consola-nos saber que há um 
prêmio aos raríssimos homens que vivem na sublime arte do equilíbrio espiritual, 
mesmo na carne.
- Sim - disse Manassés, 
aprovando-me com o olhar -, por mais estranho que possa parecer, semelhantes 
exceções existem no mundo. 
Passam, 
freqüentemente, para cá, entre os anônimos da Crosta, sem fichas de propaganda 
terrestre, mas com imenso lastro de espiritualidade 
superior.
E dando-me a impressão 
de que desejava esclarecer-me, relativamente a ele mesmo, 
acrescentou:
- Há muitos anos me 
esforço para conseguir a condição dos «completistas»; no entanto, até agora 
continuo em fase de preparação...
Compreendi que Manassés, 
tanto quanto eu, trazia regular bagagem de recordações menos felizes, com 
respeito ao uso que fizera do corpo terreno nas experiências passadas e procurei 
modificar a orientação da palestra:
- Sabe de algum 
«completista» que tenha regressado à 
Crosta? – interroguei.
- 
Sim.
- Naturalmente - 
continuei, curioso - terá escolhido um organismo 
irrepreensível.
Meu novo companheiro 
mostrou significativa expressão fisionômica e 
acentuou:
- Nenhum dos que 
tenho visto partir, embora os méritos de que se encontravam revestidos, 
escolheram formas irrepreensíveis, quanto às linhas exteriores. Solicitaram 
providências em favor da existência sadia, preocupando-se com a resistência, 
equilíbrio, durabilidade e fortaleza do instrumento que os deveria servir, mas 
pediram medidas tendentes a lhes atenuarem o magnetismo pessoal, em caráter 
provisório, evitando-se-lhes apresentação física muito primorosa, ocultando, 
assim, a beleza de suas almas para a eficiente garantia de suas 
tarefas.
 Assim procedem, porquanto, vivendo a maioria 
das criaturas no jogo das aparências, quando na Crosta Planetária, 
incumbir-se-iam elas próprias de esmagar os missionários do Bem, se lhes 
conhecessem a verdadeira condição, através das vibrações destruidoras da inveja, 
do despeito, da antipatia gratuita e das disputas injustificáveis. Em vista 
disso, os trabalhadores conscientes, na maioria das vezes, organizam seus 
trabalhos em moldes exteriores menos graciosos, fugindo, por antecipação, ao 
influxo das paixões devastadoras das almas em 
desequilíbrio.
 
Entendi a extensão do esclarecimento 
e meditava na grandeza dos princípios espirituais que regem a experiência 
humana, quando Manassés acrescentou, após longa pausa:
- As mentes juvenis, 
quais crianças do mundo, brincam com o fogo das emoções; todavia, os espíritos 
amadurecidos, mormente quando chegam à situação de «completistas», abandonam 
toda experiência que os possa distrair no caminho de realização da Vontade 
Divina.
 
Em seguida, convidado pelo meu novo 
amigo, penetrei numa das dependências consagradas aos serviços de desenho. 
Pequenas telas, 
demonstrando peças do organismo humano, estavam ordenadamente em todos os 
recantos. Tinha a impressão fiel de que me encontrava num grande centro de 
anatomistas, cercados de auxiliares competentes e operosos. Espalhavam-se 
desenhos de membros, tecidos, glândulas, fibras, órgãos de todos os feitios e 
para todos os gostos.
- Como sabe - observou 
Manassés, cuidadoso -, no serviço de recapitulação ou de tarefas especializadas 
na superfície do Globo, a reencarnação nunca pode ser vulgar. Para isso, 
trabalham aqui centenas de técnicos em questões de Embriologia e Biologia em 
geral, no sentido de orientar as experiências individuais do futuro de quantos 
irmãos se ligam a nós no esforço coletivo.
 
Sentindo espontânea veneração, 
contemplei os servidores que se inclinavam atenciosos, arquitetando o porvir de 
muitos companheiros. 
Como era complexa a oportunidade de 
renascer! Que atividades intensas exigiam dos benfeitores espirituais! Ao meu 
gesto de estranheza, respondeu Manassés numa síntese 
expressiva:
- Você não ignora que os 
homens ainda selvagens ou semi-selvagens, embora utilizando os recursos sempre 
sagrados da Natureza, edificam suas habitações em moldes mais simples e 
rudimentares; todavia, o homem que já atingiu certo padrão de ideal, 
desenvolvendo faculdades superiores, Constrói o lar, organizando plantas 
prévias.
Indicando o quadro interior, 
extremamente movimentado, acrescentou, sorridente:
- Não estamos aqui senão 
cogitando, igualmente, de projetos para futuras habitações carnais. O corpo 
humano não deixa de ser a mais importante moradia para nós outros, quando 
compelidos à permanência na Crosta. Não podemos esquecer que o próprio Divino 
Mestre classificava-o como templo do Senhor,
Impressionado, seguia atenciosamente 
os trabalhos em 
curso. Dispúnhamo-nos a seguir adiante, quando uma irmã, de 
porte muito respeitável, se aproximou saudando Manassés afetuosamente. Ele 
respondeu com gentileza e apresentou-ma.
- É nossa irmã 
Anacleta.
Cumprimentei-a, sentindo-lhe a 
simpatia pessoal.
- Trata-se de uma das nossas 
trabalhadoras mais corajosas - acentuou o funcionário do trabalho de 
informações.
A senhora sorriu, algo contrafeita 
por se ver focalizada na opinião franca do companheiro. 
Todavia, Manassés, com o otimismo 
que lhe era característico, prosseguiu:
- Imagine que voltará à 
Esfera do Globo, em breves dias, em tarefa de profunda abnegação por quatro 
entidades que, há mais de quarenta anos, se debatem em regiões abismais das 
zonas inferiores.
 
- Não vejo nisso abnegação alguma - 
atalhou à senhora, sorrindo -, cumprirei tão somente um 
dever.
E fixando-me, desassombrada e 
serena, asseverou:
- As mães que não 
completaram a obra de amor que o Pai lhes confia junto dos filhos amados, devem 
ser bastante fortes para recomeçarem os serviços imperfeitos. Esse o meu caso. 
Não se deve mencionar sacrifício onde existe apenas 
obrigação.
 
Interessava-me a história daquela 
irmã despretensiosa e simpática e, por isso mesmo, animei-me a 
perguntar-lhe:
- Regressará, então, 
dentro em breve? De qualquer maneira, sua resolução traduz devotamento e 
bondade. Não posso esquecer que também minha mãe voltou ao círculo da carne, 
tangida por sublime dedicação.
Notei que os olhos dela 
se encheram de lágrimas discretas, que não chegaram a cair, emocionada talvez 
com a minha observação sincera. Estendeu-me a destra, gentilmente, e, dando a 
idéia de que não desejava continuar em conversação relativa ao assunto, 
disse-me, comovida:
- Muito grata pelo 
conforto de suas palavras. 
 
Mais tarde, ao se lembrar de mim, 
ajude-me com o seu pensamento amigo.
Nesse ponto da ligeira palestra, 
Manassés indagou:
- Já recebeu todos os 
projetos?
- Sim - respondeu ela -, 
não somente os que se referem aos meus pobres filhos, mas também a planta 
relativa à minha própria forma futura.
- Está 
satisfeita?
- Muitíssimo! - redargüiu a dama. - 
Na lei do Pai, a justiça está cheia de misericórdia e continuo na condição de 
grande devedora.
Em seguida, despediu-se, calma e 
afável. 
Manassés compreendeu-me a 
curiosidade e explicou:
- Anacleta é um exemplo 
vivo de ternura e devotamento, mas voltará às lutas do corpo a fim de operar 
determinadas retificações no coração ma¬terno. Por imprevidência dela, noutro 
tempo, os quatro filhos, que o Senhor lhe confiara, caíram desastradamente. A 
pobrezinha albergava certas noções de carinho que não se compadecem com a 
realidade. Seu esposo era homem probo e trabalhador e, apesar de abastado, nunca 
se esqueceu dos deveres que lhe prendiam as atividades de homem de bem ao campo 
da sociedade em 
geral. Caracterizava-se por uma energia sempre construtiva, mas 
a esposa, embora devotadíssima, contrariava-lhe a influência do lar, viciando o 
afeto de mãe com excessos de meiguice desarrazoada. E, como conseqüência 
indireta, quatro almas não encontraram recursos para a jornada de redenção. 
Três rapazes e uma 
jovem, cuja preparação intelectual exigira os mais árduos sacrifícios, caíram 
muito cedo em desregramentos de natureza física e moral, a pretexto de atenderem 
a obrigações sociais. E tão degradantes foram esses desregramentos que perderam 
muito cedo o templo do corpo, entrando em regiões baixas, em tristes condições. 
Anacleta, contudo, voltando ao campo espiritual, compreendeu o problema e 
dispôs-se a trabalhar afanosamente para conseguir, não só a reencarnação de si 
própria, senão também a dos filhos que deverão segui-la nas provas purificadoras 
da Crosta.
- Quantos anos gastaram 
para obter semelhante concessão? - perguntei, 
impressionado.
- Mais de 
trinta.
- Imagino-lhe os 
sacrifícios futuros! - exclamei.
- Sim - esclareceu 
Manassés -, a experiência ser-lhe-á bem dura, porque dois dos rapazes deverão 
regressar na condição de paralíticos, um na qualidade de débil mental e, para 
auxiliá-la na viuvez precoce, terá tão-somente a filha, que, por si mesma, será 
também portadora de prementes necessidades de 
retificação.
 
Ia dizer de minha profunda surpresa, 
diante do mecanismo de introdução ao serviço reencarnacionista, quando outra 
irmã se acercou de nós, procurando por Manassés.
Depois das saudações afetivas, 
explicou-se ela, gentil, dirigindo-se ao meu novo 
amigo:
- Desejo sua 
obsequiosa interferência na retificação do meu plano.
E abrindo pequeno 
mapa, onde se via desenhado com extrema perfeição um organismo de mulher, 
acentuou:
- Veja bem o meu 
projeto para o sistema endocrínico. Sei que os amigos me favoreceram, 
planejando-o com muita harmonia nas menores disposições; entretanto, desejaria 
modificações...
- Em que sentido? - 
indagou o interpelado, r surpreso.
A recém-chegada 
indicou os pontos do projeto onde se localizava o colo e 
falou:
- Fui advertida por 
benfeitores daqui, no sentido de não me apresentar na Crosta, dentro de linhas 
impecáveis para a forma física e, em razão disso, para que eu tenha mais 
probabilidades de êxito em meu favor, na tarefa que me proponho desempenhar, 
estimaria que a tireóide e as paratireóides não estivessem tão perfeitamente 
delineadas. 
Como sabe, Manassés, 
minha tarefa não será fácil. Devo reaver um patrimônio espiritual de grandes 
proporções. Preciso fugir de qualquer possibilidade de queda e a perfeita 
harmonia física me perturbaria as atividades.
O novo companheiro 
endereçou-me expressivo olhar e disse-lhe:
- Tem razão. A sedução 
carnal é imenso perigo, não só para aqueles que emitem a sua influenciação, como 
também para quantos a recebem. 
- Prefiro a fealdade 
corpórea - tornou ela.
Não estou interessada 
num corpo de Vênus e, sim, na redenção de meu espírito para a Eternidade. 
Manassés prometeu 
interpor os seus bons ofícios, e, tão logo se despediu da nova interlocutora, 
passou a mostrar-me as mais interessantes figurações de órgãos do corpo humano. 
 
Admirava, tomado de profunda 
impressão; aqueles gráficos numerosos que se alinhavam, com absoluta ordem, 
demonstrando o cuidado espiritual que precede o serviço de reencarnações, quando 
o meu amigo ponderou:
- A medicina humana 
será muito diferente no futuro, quando a Ciência puder compreender a extensão e 
complexidade dos fatores mentais no campo das moléstias do corpo 
físico.
 Muito raramente não se encontram as afecções 
diretamente relacionadas com o psiquismo. Todos os órgãos são subordinados à 
ascendência moral. As preocupações excessivas com os sintomas patológicos 
aumentam as enfermidades; as grandes emoções po0dem curar o corpo ou 
aniquilá-lo.
 Se isso pode acontecer na esfera de atividades 
vulgares das lutas físicas, imagine o campo enorme de observações que nos 
oferece o plano espiritual, para onde se transferem, todos os dias, milhares de 
almas desencarnadas, em lamentáveis condições de desequilíbrio da 
mente.
 O médico do porvir conhecerá semelhantes 
verdades e não circunscreverá sua ação profissional ao simples fornecimento de 
indicações técnicas, dirigindo-se, muito mais, nos trabalhos curativos, às 
providências espirituais, onde o amor cristão represente o maior papel. 
 
Desejando, porém, prosseguir nos 
esclarecimentos, quanto ao serviço reencarnacionista, Manassés tomou pequeno 
gráfico e, apresentando-me as linhas gerais, acentuou:
- Aqui temos o projeto 
de futura reencarnação dum amigo meu. Não observa certos 
pontos escuros, desde o cólon descendente à alça sigmóide? Isso indica que ele 
sofrerá uma úlcera de importância, nessa região, logo que chegue à maioridade 
física. Trata-se, porém, de escolha dele.
E porque extrema 
curiosidade me vagueasse nos olhos, Manassés explicou:
- Esse amigo, faz 
mais de cem anos, cometeu revoltante crime, assassinando um pobre 
homem:
 a facadas; logo que se entregou ao homicídio, 
como acontece muitas vezes, a vítima desencarnada ligou-se fortemente a ele, e 
da semente do crime, que o infeliz assassino plantou num momento, colheu 
resultados terríveis por muitos anos. Como não ignora, o ódio recíproco opera 
igualmente vigorosa imantação e a entidade, fora da carne, passou a vingar-se 
dele, todos os dias, matando-o devagarzinho, através de ataques sistemáticos 
pelo pensamento mortífero. Em suma, quando o homicida desencarnou, por sua vez, 
trazia o organismo perispiritual em dolorosas condições, além do remorso natural 
que a situação lhe impusera. 
Arrependeu-se do 
crime, sofreu muito nas regiões purgatoriais e, depois de largos padecimentos 
purificadores, aproximou-se da vítima, beneficiando-a em louváveis serviços de 
resgate e penitência. 
Cresceu moralmente, 
tornou-se amigo de muitos benfeitores, conquistou a simpatia de vários 
agrupamentos de nosso plano e obteve preciosas intercessões. 
Entretanto... A 
dívida permanece. O amor, contudo, transformou o caráter do trabalho de 
pagamento. O nosso amigo, ao voltar à Crosta, não precisará desencarnar em 
espetáculo sangrento, mas onde estiver, durante os tempos de cura completa, na 
carne que ele outrora menosprezou, carregará a própria ferida, conquistando, dia 
a dia, a necessária renovação.
Experimentará 
desgostos, em virtude do sofrimento físico pertinaz, lutará incessantemente, 
desde a eclosão da úlcera até o dia do resgate final no aparelho fisiológico; 
entretanto, se souber manter-se fiel aos compromissos novos, terá atingido, mais 
tarde, a plena libertação. 
 
Enquanto fixava no projeto minha 
melhor atenção, Manassés continuava: 
- Segundo observamos, 
a justiça se cumpre sempre, mas, logo que se disponha o Espírito a precisa 
transformação no Senhor, atenua-se o rigorismo do processo redentor. O próprio 
Pedro nos lembrou, há muitos séculos, que «o amor cobre a multidão dos 
pecados».
 
Examinei, impressionado, a planta 
educativa e. porque não encontrasse palavras bastante claras para pintar minha 
admiração, silenciei comovidamente.
Compreendendo-me o estado d’alma, 
o companheiro continuou:
- São inúmeros os 
projetos de corpos futuros em nossos setores de serviço. Depreende-se, da 
maioria deles, que todos os enfermos na carne são almas em trabalho da ingente 
conquista de si próprias. Ninguém trai a Vontade de Deus, nos processos 
evolutivos, sem graves tarefas de reparação, e todos os que tentam enganar a 
Natureza, quadro legítimo das leis divinas, acabam por enganar a si mesmos. A 
vida é uma sinfonia perfeita. Quando procuramos desafiná-la, no círculo das 
no¬tas que devemos emitir para a sua máxima glorificação, somos compelidos a 
estacionar em pesado serviço de recomposição da harmonia quebrada. 
 
E, durante alguns dias, ali 
permaneci na instituição benemérita, compreendendo que a existência humana não é 
um ato acidental e que, no plano da ordem divina, a justiça exerce o seu 
ministério, todos os dias, obedecendo ao alto desígnio que manda ministrar os 
dons da vida «a cada um por suas obras».
INSTITUTO ANDRÉ LUIZ 
©1999 - 2010 
Todos os direitos reservados. 
 
REENCARNAÇÃO
Cap 
13 – Reencarnação – (seguramente 
o mais importante de todo o livro) - Após comentários sobre o perdão e o sexo, 
descreve a sublimidade que é a reencarnação de um Espírito, a partir da 
obra-prima que é a fecundação. É focalizada a interessantíssima questão das 
“fecundações físicas” e das “fecundações psíquicas”, aquela, nascendo das uniões 
físicas, no domínio das formas, e esta, das uniões espirituais, nos 
resplandecentes domínios da alma. Somos informados que o corpo perispiritual, 
que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no 
sangue(!).
NOTA: Raramente se encontrará na literatura espírita fonte igual 
de ensinamentos sobre a programação da existência terrena, que afinal de contas, 
não passa de uma etapa da bênção maior que é a vida !
(Do livro "Missionários da Luz", 
cap. 13, Francisco Cândido Xavier, edição FEB)
André Luiz
Senti-me ditoso e emocionado quando 
Alexandre me convidou a visitar, em companhia dele, o ambiente doméstico de 
Adelino e Raquel, onde se verificaria a reencarnação de Segismundo. 
Profundo contentamento extravasava 
de meu espírito, porquanto era a primeira vez que iria 
tomar conhecimento direto com o fenômeno reencarnacionista. 
Desde os primeiros tempos de estudo 
no campo da Medicina, fascinavam-me as leis biogenéticas. Entretanto, nunca me 
fora dado intensificar observações e especializar experiências. Na colônia 
espiritual a que me conduziram a Providência de Deus e a generosa intercessão 
dos amigos, muita vez recebera lições referentemente ao assunto; todavia, até 
então, nunca vira, de mais perto, o processo de imersão da entidade desencarnada 
no campo da matéria densa.
Em razão disso, acompanhei o 
prestimoso orientador com agradável e ansiosa expectativa. 
Alexandre explicou-me, por excesso 
de gentileza, que, noutro tempo, recebera muitos favores das personagens 
envolvidas naquele caso de reencarnação e que se sentia feliz pela oportunidade 
de lhes ser útil. Comentou as dificuldades do serviço de libertação espiritual e 
exaltou a lei do bem, que chama todos os filhos da Criação ao concurso fraterno 
e aos serviços «intercessórios».
Depois de confortadora e instrutiva 
conversação, alcançamos o lar de Adelino, deliciosamente colocado em pitoresco 
canto suburbano, qual ninho gracioso, rodeado de tufos de 
vegetação.
Eram dezoito horas, 
aproximadamente.
Com surpresa, verifiquei que 
Herculano nos esperava no limiar. O instrutor, porém, informou-me que havia 
notificado o amigo sobre a nossa visita, recomendando-lhe trouxesse Segismundo 
para o trabalho de aproximação.
Cumprimentou-nos o companheiro, 
afetuosamente, e dirigiu-se ao meu orientador, esclarecendo:
- Segismundo veio em minha companhia 
e espera-nos, lá dentro.
- Foi excelente medida - falou 
Alexandre, bem-humorado -, consagrarei aos nossos amigos a minha noite próxima. 
Veremos o que é possível fazer.
Entramos.
O casal Adelino-Raquel tomava a 
refeição da tarde, junto de um pequenino, no qual adivinhei o primogênito da 
casa. Não longe, acomodado numa cadeira de descanso, 
repousava uma entidade que se levantou imediatamente, quando percebeu nossa 
presença, dirigindo-se particularmente ao encontro do meu orientador, que lhe 
abriu os braços carinhosos.
Herculano, perto de mim, explicou, 
em tom discreto:
- 
É Segismundo.
Notei que o desencarnado abraçara-se 
com Alexandre, chorando convulsivamente. O instrutor acolhia-o como pai, e, após 
ouvi-lo durante alguns minutos, falou-lhe compassivamente:
- 
Acalme-se, meu amigo! Quem não terá suas lutas, seus problemas, suas dores? E se 
todos somos devedores uns dos outros não será motivo de júbilo e glorificação 
receber as sublimes possibilidades de resgate e pagamento? Não chore! Nossos 
irmãos permanecem ao jantar. Não devemos perturbá-los, emitindo forças 
magnéticas de desalento.
E repondo-o na vasta cadeira de 
braços, como se Segismundo estivesse enfraquecido e enfermiço, 
continuou:
- Tenha coragem. O ensejo próximo é 
divino para o seu futuro espiritual. Organizaremos as coisas, não tenha 
receio.
- Entretanto, meu amigo - falou o 
interlocutor, em lágrimas -, experimento grandes obstáculos.
E acentuava em tom 
humilde:
- Reconheço que fui um 
grande criminoso, mas pretendo redimir as velhas culpas. Adelino, porém, apesar 
das promessas na esfera espiritual, esqueceu, na recapitulação presente, o 
perdão aos meus antigos erros...
Alexandre que ouvia, enternecido, 
sorriu paternalmente e redargüiu:
- Ora, Segismundo, 
porque envenenar o coração? Porque não desculpa você, por sua vez? Não complique 
a própria situação, abrigando in¬justificável desânimo. Levante as energias, meu 
amigo! Coloque-se na situação do ex-adversário, vítima noutro tempo de seu ato 
impensado! Não encontraria, talvez, as mesmas dificuldades? Tenha calma e 
prudência, não perca a bendita ocasião de tolerar alguma coisa desagradável ao 
seu sentimento, a fim de reparar o passado e atender às necessidades do 
presente. Vamos, equilibre-se! O momento é de gratidão a Deus e de harmonia com 
os semelhantes!...
Segismundo enxugou os olhos, sorriu 
com esforço e murmurou:
- Tem razão.
Herculano, que o contemplava, 
compadecido, entrou na palestra, acrescentando:
- Ele tem estado muito abatido, 
desanimado... 
- É natural - tornou Alexandre, 
decidido -, porque, em tais circunstâncias, sofre a criatura certos 
desequilíbrios, em face das necessidades do regresso à carne, mas Segismundo tem 
levado muito longe o fenômeno, acentuando os próprios sofri¬mentos, com 
expectativas e inquietações injustificáveis.
Fixando, mais detidamente, a atenção 
no casal que se mantinha à mesa, falou, afetuoso:
- Observemos Adelino e Raquel. 
Vejamos a cooperação que podem receber.
Acompanhamo-lo, em 
silêncio.
O chefe da casa permanecia 
taciturno, conversando com a esposa tão somente por monossílabos. Via-se que a 
companheira se esforçava; no entanto, ele continuava quase 
sombrio.
- Não se efetuou o negócio que você 
esperava? - interrogou à senhora, tentando a palestra afetiva.
- Não - respondeu ele 
secamente.
- Mas você continua 
interessado?
- Sim.
- E viajará na semana próxima, caso 
não se realize o empreendimento até domingo?
- Talvez.
A esposa fez longa pausa, algo 
desapontada, argüindo em seguida:
- Que desculpa apresenta a 
Companhia, em vista de semelhante demora?
O marido fitou-a com frieza e 
respondeu, lacônico:
- Nenhuma.
A essa altura, Alexandre fez 
significativo gesto com a cabeça e falou-nos, preocupado:
- Em verdade, a condição 
espiritual de Adelino é das piores, porque o sublime amor do altar doméstico 
anda muito longe, quando os cônjuges perdem o gosto de conversar entre si. Em 
semelhante estado psíquico, não poderá ser útil, de modo algum, aos nossos 
propósitos.
Alexandre levantou-se, deu alguns 
passos em torno da reduzida família e dirigiu-se a nós outros, 
afirmando:
- Procurarei despertar-lhe as fibras 
sensíveis do coração, de modo a prepará-lo, convenientemente, a fim de ouvir-nos 
nesta noite.
Assim dizendo, o devotado orientador 
aproximou-se da criança, belo menino de três anos aproximadamente, e colocou-lhe 
a destra sobre o coração. vi que o pequeno sorriu, mostrando novo brilho nos 
olhos azuis e falou, com inflexão de infinito carinho:
- Mamãe, porque papai 
está triste?
O dono da casa ergueu o rosto, com 
admiração, ao passo que a senhora respondia, comovida: - Não sei, Joãozinho. Ele 
deve estar preocupado com os negócios, meu filho.
- 
E que são «negócios», mamãe? - tornou a criança ingênua.
- São as lutas da 
vida.
O menino fitou a mãezinha, com 
atenção, e perguntou:
- Papai fica alegre nos 
negócios?
- Fica, sim - respondeu à senhora, 
sorrindo. 
- E porque fica triste 
em casa?
Enquanto o pai seguia o diálogo, sob 
forte impressão, a genitora carinhosa esclareceu a criança, com 
paciência:
- Nas lutas de cada dia, Joãozinho, 
teu pai deve estar contente com todos e não deve ofender a ninguém. Entretanto, 
o que te parece tristeza é o cansaço do trabalho. Quando ele volta ao lar traz 
consigo muitas preocupações. Se na rua deve teu pai mostrar cordialidade e 
alegria a todos, de modo a não ferir os demais, não acontece o mesmo aqui, onde 
se encontra à vontade para refletir nos problemas que o interessam de perto. 
Aqui, é o lar, meu filho, onde está com o direito de não esconder as 
preocupações mais íntimas...
A criança escutou, atenta, dividindo 
os olhares afetuosos entre pai e mãe, e tornou:
- Que pena, hein, 
mamãe?
O chefe da pequena 
família, tocado nas fibras recônditas da alma pela ternura do filhinho e pela 
humildade sincera da companheira, sentiu que a nuvem de sombra dos seus próprios 
pensamentos dava lugar a repousantes sensações de alivio confortador. Sorriu, 
repentinamente transformado, e dirigiu-se ao pequeno, com nova inflexão de voz: 
- Que idéia é essa, Joãozinho? Não 
me sinto entristecido. Estou, aliás, satisfeitíssimo, como no último dia de 
nosso passeio a serra! Tua mãe explicou muito bem o que se passa. Quando teu pai 
estiver silencioso não quer dizer que se encontra desalentado. Por vezes, é 
preciso calar para pensar melhor.
A dona da casa mostrou largo sorriso 
de satisfação, observando a mudança brusca do companheiro. O menino, por sua 
vez, não disfarçava o júbilo no semblante infantil, e assim que o pai terminou 
as explicações afetuosas, sempre envolvido nas irradiações magnéticas do bondoso 
instrutor, dirigiu-se novamente ao chefe da casa, perguntando:
- Papai, porque você não 
vem rezar, de noite, comigo?
O genitor trocou expressivo olhar 
com a esposa e falou ao pequenino:
- Tenho tido sempre muito serviço à 
noite, mas voltarei hoje mais cedo para acompanhar tuas 
preces.
E sorrindo, com paternal alegria, 
acrescentou: 
- Já sabes orar 
sozinho?
O pequeno redargüiu, 
satisfeito:
- Mamãe ensina-me todas 
as noites a rezar por você. Quer ver?
E, abandonando o talher, 
instintivamente olhou para o alto, de mãos postas, e recitou:
- «Meu Deus, guarda o 
papai nos caminhos da vida, dá-lhe saúde, tranqüilidade e coragem nas lutas de 
cada dia! Assim seja!»
O genitor, que se apresentara tão 
impenetrável e rude a principio, mostrou os olhos rasos d’água sensibilizados 
nas fibras mais intimas, e fixando ternamente o filho, 
murmurou:
- Estás muito adiantado. Hoje, 
Joãozinho, rezarei também.
De alma desanuviada agora, Adelino 
contemplou a companheira, orgulhoso de possuir-lhe o devotamento, e 
acentuou:
- A palestra do João 
fez-me enorme bem. Trazia o coração desalentado, opresso. Eu mesmo não saberia 
definir meu estado d’alma... Há muitos dias, minhas noites são agitadas, cheias 
de aflições e pesadelos! Tenho sonhado sistematicamente que alguém se aproxima 
de mim, na qualidade de vigoroso inimigo. Por vezes, rendo graças a Deus, ao 
despertar pela manhã, porque me sinto mais à vontade, enfrentando as máscaras 
humanas, que lutando, noite inteira, em sonhos cruéis...
A esposa, admirada, observou, 
carinhosa:
- Creio que deverias descansar um 
pouco... Comovido, ante a delicadeza da mulher, Adelino 
continuou:
- Tenho tido receio de 
mim mesmo! Tão logo me acomodo no leito, sinto instintivamente que uma sombra se 
aproxima de mim. Adormeço sob incrível ansiedade e o pesadelo começa, sem que eu 
saiba explicar conscientemente coisa alguma.
- E os sonhos são sempre os mesmos? 
- indagou a esposa, solicita.
- Sempre - respondeu 
ele, com emoção vejo que um homem se aproxima de mim, estendendo as mãos, à 
maneira dum mendigo vulgar a implorar socorro, mas, ao lhe fixar a fisionomia, 
inexplicável terror invade-me o espírito... Tenho a impressão de que ele deseja 
assassinar-me pelas costas... Em certas ocasiões, tento estender-lhe as mãos, 
vencendo a impressão de pavor; entretanto, fujo sempre, num misto de ódio e 
repugnância oh! Que pesadelos terríveis e longos!
E, modificando o tom de voz, 
acrescentou:
- Admito esteja eu sob fortes 
desequilíbrios nervosos, sem atinar com o motivo...
- Porque não se submeter ao 
necessário tratamento médico? - perguntou a esposa afetuosa.
O marido pensou alguns momentos, 
como se o seu espírito vagueasse através de longínquas recordações. Em seguida, 
fixando na companheira os olhos muito brilhantes, acentuou:
- Talvez não precise 
recorrer a facultativos. É possível que o nosso filhinho esteja com a razão... 
As lutas grosseiras do mundo impuseram-me o esquecimento da fé em Deus. Há 
quantos anos terei abandonado a oração?
De olhos molhados e pensativos, 
prosseguiu:
- Quando menino, minha 
mãe me educava na ciência da prece. Ensinado a curvar-me diante da vontade do 
Altíssimo, sentia a Bondade Divina em todas as coisas e ajoelhava-me confiante 
ao pé de minha carinhosa genitora, implorando as bênçãos do Alto... Depois, 
vieram as emoções dos sentidos, o duelo com os maus, a experiência difícil na 
concorrência ao pão de cada dia... Desde então perdi a crença pura, que sinto 
necessidade de retomar...
A esposa enxugou os olhos, comovida. 
Há muitos anos não observava no companheiro semelhantes demonstrações emotivas. 
Ergueu-se, emocionada, e falou com ternura:
- Volte hoje mais cedo para orarmos 
juntos. 
E procurando imprimir notas de 
alegria à conversação, chamou o filhinho a pronunciar-se, 
acrescentando:
- Hoje, Joãozinho, papai 
rezará conosco. 
Iluminou-se o semblante do pequenino 
de intraduzível alacridade. Contemplou a mãezinha, enternecido, e 
observou:
- Então, mamãe, farei todas as 
orações que eu já sei.
Após o jantar, experimentando 
disposições diferentes, Adelino despediu-se com delicadeza que Herculano 
classificou de inabitual.
Alexandre, muito satisfeito, 
asseverou, depois de restituir a criança aos cuidados maternos:
- Felizmente, nossos serviços preparatórios desdobram-se com 
excelentes promessas. Conseguimos bastante em reduzidos 
minutos.
De minha parte, imensa 
era a surpresa que me invadia o espírito. Porque tamanhos cuidados? Alexandre e 
outros benfeitores espirituais, tão elevados quanto ele mesmo, não poderiam 
organizar todos os serviços atinentes à reencarnação de Segismundo? Não eram 
senhores de grande poder sobre todos os obstáculos?
Mas, dando-me a idéia de que 
desejava responder às minhas interrogações íntimas, o instrutor afavelmente 
falou a Herculano, nestes termos: 
- Não devemos e nem 
podemos forçar a ninguém e precisamos das boas disposições de Adelino para o 
trabalho a fazer.
Em seguida, passou a 
orientar Segismundo, relativamente à conduta mental, aconselhando-o a 
preparar-se com todos os recursos ao seu alcance para o, êxito na experiência 
próxima. Outros amigos espirituais das personagens daquele drama entre duas 
esferas também chegaram ao ninho doméstico, acentuando-se a alegria da 
camaradagem fraternal. 
A presença do meu 
instrutor parecia incentivo a contentamento geral. Alexandre sabia conduzir a 
palestra elevada e comunicava seu valioso otimismo a todos os companheiros. 
Comentava-se a dificuldade da reencarnação em vista dos conflitos vibratórios 
causadas pela incompreensão das criaturas terrestres, quando o chefe da casa 
voltou ao lar, interessado em cultivar as doces emoções daquele 
dia.
Agradavelmente surpreendidos, a 
esposa e o filhinho fizeram-lhe muita festa, encetando nova conversação 
confortadora e educativa. 
Fez-se mais de uma hora de boa 
leitura e excelente troca de idéias, renovando Adelino os seus propósitos de 
reaver a serenidade íntima, através de maior comunhão espiritual com a pequena 
família.
Quando a mãezinha dedicada lembrou 
ao pequeno a necessidade de recolher-se, Joãozinho recordou a promessa paternal 
e indagou:
- Papai sabe o que 
devemos fazer antes da oração?
O chefe da casa sorriu e pediu-lhe 
explicações.
O menino, com assombrosa vivacidade, 
esclareceu:
- Diz mamãe que devemos 
chamar os mensageiros de Deus para que nos assistam.
- Pois bem - tornou o genitor, 
bem-humorado -, chame por eles em nosso favor.
O pequeno pronunciou algumas 
palavras de convite, de mãos postas, e, em seguida, encaminharam-se os três, 
para o aposento íntimo. 
Alexandre, que parecia muito 
satisfeito com a lembrança espontânea do pequenino, disse-nos 
então:
- Estamos convidados a 
participar das suas mais íntimas orações. 
Acompanhemo-los.
Naquele momento, nosso grupo estava 
acrescido de três entidades amigas de Raquel, que tinham vindo, até ali, 
igualmente convocadas pela dedicação de Herculano, a fim de cooperarem na 
solução do assunto.
O quadro interior era dos mais 
comoventes. O pequenino pusera-se de joelhos e fazia a oração dominical, com 
infantil emotividade. Adelino e a companheira seguiam-lhe a prece com grande 
atenção. Por nossa vez, continuamos, agora em silêncio, a observar e colaborar 
naquele serviço espiritual com as melhores forças do sentimento.
Notei que a esposa se 
achava rodeada de intensa luminosidade, que, partindo de seu coração, envolvia o 
esposo e o pequenino em suaves irradiações. Muito sensibilizado, Adelino deixou 
escapar uma lágrima furtiva, quando o filho, terminando as preces, curtas em 
palavras e grandiosas em espiritualidade, lhe beijou carinhosamente as mãos. 
Mais alguns minutos e todos se 
recolhiam sob os cobertores, felizes e tranqüilos.
Nesse instante, Alexandre 
falou:
- Agora, meus amigos, façamos o 
nosso serviço de oração cooperadora. Precisamos conversar seriamente com 
Adelino, relativamente à situação. O orientador pediu a proteção divina para o 
casal, em voz alta, sendo acompanhado por nós, em profundo silêncio. 
As vibrações do nosso pensamento em 
rogativa congregaram-se, como parcelas de luminosas substâncias a se reunirem 
num todo, derramando-se sobre o leito conjugal, quais correntes sutis de forças 
magnéticas revigorantes e regeneradoras.
Foi então que vi Raquel abandonar o 
corpo físico, dentro de luminosas irradiações, parecendo-me alheia à situação. 
Despreocupada, feliz, abraçou-se com 
uma das entidades que nos acompanhavam, velha senhora que Alexandre nos 
apresentara pouco antes, declarando tratar-se da avó materna da dona da casa. A 
anciã desencarnada convidou a neta a permanecerem juntas em oração, ao que 
Raquel aquiesceu com visível contentamento.
A esposa de Adelino, entretanto, 
parecia identificar tão-somente a presença da velhinha amorosa. Fixava em nós o 
olhar, indiferentemente, como se ali não estivéssemos. Estranhando o fato, 
dirigi-me ao instrutor, pedindo-lhe explicações. Alexandre não se fez rogado e, 
não obstante a delicadeza do serviço em curso, esclareceu-me 
delicadamente:
- Não se surpreenda. Cada um de nós 
deve ter a possibilidade de ver somente aquilo que nos proporcione proveito 
legítimo. Além do mais, não seria justo intensificar a percepção de nossa amiga 
para que nos acompanhe no trabalho desta noite. Ela nos auxiliará com o valor da 
oração, mas não precisará seguir, de perto, os esclarecimentos que a condição do 
esposo requisita. Quem faz o que pode, recebe o salário da paz. Raquel vem 
fazendo quanto lhe é possível para o êxito no desempenho das obrigações que a 
trouxeram ao mundo; por isso mesmo, não deve ser advertida e nem perturbada. 
Atendamos Segismundo e Adelino.
Satisfeito com as elucidações 
recebidas e admirando a Justiça Divina a manifestar-se nos mínimos pormenores de 
nossas atividades espirituais, observei que a companheira de Adelino se 
mantinha, não longe de nós, em fervorosa prece.
Nesse momento, o esposo 
de Raquel afastava-se do corpo físico, pesadamente. Não apresentava, tal qual a 
consorte, um halo radioso em derredor da personalidade, parecendo mover-se com 
extrema dificuldade. Enquanto seu olhar vagueava no quarto, angustiado e 
espantadiço, Alexandre se aproximou de mim e observou:
- Está examinando a 
lição? Repare as singularidades da vida espiritual. Adelino e Raquel são 
Espíritos associados de muitas existências em comum, partilham o mesmo cálice de 
dores e alegrias terrestres. Na atualidade, seus corpos repousam um ao lado do 
outro, no mesmo leito; entretanto, cada um vive em plano mental diferente. É 
muito difícil estarem reunidas nos laços domésticos as almas da mesma esfera. 
Raquel, fora dos veículos de carne, pode ver a avozinha, com quem se encontra 
ligada no mesmo círculo de elevação. Adelino, porém, somente poderá ver 
Segismundo, com quem se encontra imantado pelas forças do ódio que ele deixou, 
imprudentemente, desenvolver-se, de novo, em seu coração...
A palavra do orientador, contudo, 
foi interrompida por um grito lancinante. Adelino, receoso, identificara a 
presença do antigo adversário e, espavorido, tentava correr, inutilmente. 
Movimentava-se, com dificuldade, ansioso de retomar o corpo físico, à maneira de 
criança medrosa procurando um refúgio, mas Alexandre, aproximando-se dele, com 
amorosa autoridade, estendeu-lhe as mãos, das quais saíam grandes chispas de 
luz.
 Contido pelos raios magnéticos, o esposo de 
Raquel pôs-se a tremer, sentindo-se que ele começava a ver alguma coisa além da 
figura do ex-inimigo. Aos poucos, em vista das vigorosas emissões magnéticas de 
Alexandre, ele pôde ver nosso venerável orientador, com quem passou a sintonizar 
diretamente e caiu de joelhos, em convulsivo pranto. Observei o pensamento de 
Adelino naquela hora comovedora e percebi que ele associava a visão radiosa às 
preces do filhinho. Ele via, ali, a estranha figura de Segismundo e a 
resplandecente presença de Alexandre e fazia intraduzível esforço para 
recordar-se de alguma coisa do passado distante que a sua memória não conseguia 
situar com exatidão. Supôs, naturalmente, que o nosso mentor devia ser um 
emissário do Céu para salvá-lo dos pesadelos cruéis e, ofuscado pela intensa 
luz, soluçava, genuflexo, entre o medo e o júbilo, suplicando paz e 
proteção.
O bondoso instrutor dirigiu-se para 
ele, com a serenidade de um pai carinhoso e experiente, e levantando-o, 
exclamou:
- Adelino, guarda a paz que te 
trazemos em nome do Senhor!
E, abraçando-o de encontro ao peito 
amigo, continuou:
- Que temes, meu 
irmão?
Ergueu ele os olhos lacrimosos e 
indicando Segismundo, triste, alegou sentidamente:
- Mensageiro de Deus, livrai-me 
deste pesadelo infeliz! Se viestes, trazido pelas orações de meu filho inocente, 
ajudai-me por caridade!
E apontando o pobre amigo, 
continuava:
- Este fantasma 
enlouquece-me! Sinto-me doente, desventurado!...
Alexandre, porém, fixando-o 
firmemente, indagou:
- É assim que recebes os 
irmãos mais infelizes? É assim que te portas, ante os desígnios supremos? Onde 
puseste as noções de solidariedade humana? Porque fugir aos mais infortunados da 
sorte? É sempre muito fácil amar os amigos, admirar os bons, compreender os 
inteligentes, defender os familiares, entronizar as afeições, conservar os que 
nos estimam, louvar os justos e exaltar os heróis conhecidos; mas, se somos 
respeitáveis em semelhantes posições intimas, é preciso reconhecer que elas 
traduzem serviço realizado em nosso processo evolutivo. 
Nós, porém, meu amigo, 
ainda não alcançamos a redenção final.
 Por isso mesmo, a tempestade é nossa 
benfeitora; a dificuldade, nossa mestra; o adversário, instrutor eficiente. 
Modifica as vibrações de teus pensamentos! 
Recebe com caridade o 
mendigo que te bate à porta, quando não tenhas adquirido ainda bastante luz para 
recebê-lo com o amor que Jesus nos ensinou!
Impressionado com as palavras 
ouvidas, pronunciadas com inflexão de ternura paternal, Adelino, em lágrimas 
copiosas, voltou-se para Segismundo, encarando-o de frente. Alexandre, como se 
lhe aproveitasse a nova atitude, acentuou:
- Contempla o pobrezinho 
que te pede socorro! Observa-lhe o estado de humilhação e necessidade. 
Imagina-te na posição dele e reflete! Não te doeria a indiferença dos outros? 
Não te dilaceraria a alma a crueldade alheia? Estimarias que alguém te 
classificasse de fantasma, tão-só pelas tuas demonstrações de sofrimento? 
Adelino, meu amigo, abre 
as portas do coração aos que te procuram em nome do Poderoso Pai.
O interpelado voltou-se, qual 
criança medrosa, e, fixando o mentor generoso, falou:
- Oh! Mensageiro dos 
Céus, tenho medo, muito medo!... Algo existe entre este homem de sombra e eu, 
compelindo-me a profunda aversão! 
Creio que ele deseja 
roubar-me a vida, aniquilar a minha felicidade doméstica, envenenar-me o coração 
para sempre!...
Compreendi que a aproximação de 
Segismundo despertava em Adelino reencarnado as reminiscências do passado 
sombrio. Ele, a vítima de outro tempo, não conseguia localizar os fatos vividos, 
mas experimentava, no plano emotivo, as recordações imprecisas dos 
acontecimentos, cheias de ansiedades dolorosas.
Findo ligeiro intervalo, Alexandre 
objetou:
- Não deves permitir a 
intromissão de forças negativas e destruidoras no campo íntimo da alma. É sempre 
possível transformar o mal em bem, quando há firme disposição da criatura no 
serviço de fidelidade ao Senhor. 
Considera, meu amigo, as 
grandes verdades da vida eterna! Ainda que este irmão te procurasse na condição 
dum adversário, ainda que ele te buscasse como inimigo feroz, deverias abrir-lhe 
o espírito fraternal! Toda reconciliação é difícil quando somos ignorantes na 
prática do amor, mas sem a reconciliação humana jamais seria possível nossa 
integração gloriosa com a Divindade!
E porque o esposo de Raquel chorasse 
copiosamente, o orientador observou:
- Não chores! Equilibra o coração e 
aproveita a sagrada oportunidade!...
Adelino, então, enxugou as lágrimas 
e pediu, humilde:
- Auxiliai-me por amor de 
Deus!
Sentindo-lhe a sinceridade profunda, 
o instrutor convidou Segismundo a aproximar-se. Ele levantou-se, cambaleante, 
angustiado.
Amparando a ex-vítima, 
Alexandre indicou-lhe a figura do ex-assassino e 
apresentou:
- Este é o nosso amigo 
Segismundo que necessita de tua cooperação no serviço redentor. Estende-lhe as 
mãos fraternas e atende em nome de Jesus!
Adelino não hesitou e, 
embora o grande esforço intimo, visível à nossa percepção espiritual, apertou a 
destra do ex-adversário, fundamente comovido.
- Perdoe-me, irmão! - murmurou 
Segismundo, com infinita humildade. - O Senhor recompensá-lo-á pelo bem que me 
faz!...
O marido de Raquel fixou-o nos 
olhos, como a dissipar as derradeiras sombras do desentendimento, e 
redargüiu:
- Disponha de mim... Serei seu 
amigo!...
O ex-homicida inclinou-se, 
respeitoso, e beijou-lhe a mão. O ato espontâneo de Segismundo conquistara-o. 
Não podia ser mau aquele Espírito angustiado e triste que lhe osculava as mãos 
com veneração e carinho. Foi então que vi um fenômeno singular. O organismo 
perispiritual de Adelino parecia desfazer-se de pesadas nuvens, que se rompiam 
de alto a baixo, revelando-lhe as características luminosas. Irradiações 
suavíssimas aureolavam-lhe agora a personalidade, deixando perceber a sua 
condição elevada e nobre.
Herculano, junto de mim, falou-me em 
tom discreto:
- O perdão de Adelino 
foi sincero. As sombras espessas do ódio foram efetivamente dissipadas. Louvado 
seja Deus!
Alexandre abraçou as duas almas 
reconciliadas e renovou-lhes fraternal observação, repassada de sabedoria e 
ternura. Em seguida, recomendou ao esposo de Raquel que descansasse da luta, 
dispondo-se a sair em nossa companhia. 
Notei que marido e mulher, 
impulsionados pelos amigos espirituais ali presentes, voltavam ao corpo físico, 
a fim de permutarem impressões, referentemente aos fatos que classificariam de 
sonhos, dentro da coloração mental de cada um.
Ao se retirar, Alexandre, 
satisfeito, comentou paternalmente:
- Com o auxílio de Jesus, a tarefa 
foi executada com êxito.
E, fixando Segismundo, 
acrescentou:
- Creio que na próxima semana poderá 
iniciar o seu serviço definitivo de reencarnação. Acompanhá-lo-emos com carinho. 
Não receie coisa alguma.
Enquanto Segismundo sorria, 
resignado e confiante, o orienta dor dirigiu-se a Herculano, 
explicando-se:
- Já observei o 
gráfico 
referente ao organismo físico que o nosso amigo receberá de futuro, verificando, de 
perto, as imagens da moléstia do coração que ele sofrerá na idade madura, como 
conseqüência da falta cometida no passado. 
Segismundo 
experimentará grandes perturbações dos nervos cardíacos, mormente os nervos do 
tônus. 
Entretanto - e nesse 
momento concentrou toda a sua atenção no interessado -, é necessário que você 
lhe faça ver que as provas de resgate legítimo inclinam a alma encarnada a 
situações periclitantes e difíceis na recapitulação das experiências; todavia, 
não obrigam a novas quedas espirituais, quando dispomos de verdadeira boa 
vontade no trabalho de elevação. 
O aprendiz aplicado 
pode ganhar muito tempo e conquistar imensos valores se, de fato, procura 
conhecer as lições e pô-las em prática. 
A justiça divina nunca 
foi exercida sem amor. E quando a fidelidade sincera ao Senhor permanece viva no 
coração dos homens, há sempre lugar para o «acréscimo de misericórdia» a que se 
referia Jesus em seu apostolado.
 
Em seguida, convidando-me a 
acompanhá-lo, Alexandre despediu-se dos demais, 
frisando:
- Voltaremos a vê-los 
no dia da ligação inicial de Segismundo com a matéria física. Preciso cooperar, 
na ocasião, com os nossos amigos Construtores, aos quais 
pedi me apresentassem os 
mapas cromossômicos, referentemente aos serviços a serem 
encetados.
 
Separamo-nos.
E eu, torturado de curiosidade 
estranha, em vista daqueles cuidados extremos para que Adelino e Segismundo se 
reconciliassem, antes da reaproximação pelos laços da carne, não sopitei as 
interrogações que me atormentavam o espírito. 
Não seria licito 
providenciar a reencarnação do necessitado, sem quaisquer delongas? Porque 
tamanha demonstração de carinho para com o esposo de Raquel se ele deveria 
sentir-se satisfeito em poder cooperar na obra sublime de redenção? Não 
dispúnhamos de suficiente poder para quebrar todas as 
resistências?
Alexandre ouviu-me, pacientemente, 
mostrou um sorriso de pai e respondeu:
- Sua estranheza é natural. Não se 
habituou ainda aos trabalhos de socorro ou de organização neste lado da 
vida.
E, depois de pequena pausa, 
considerou:
- Cada homem, como cada 
Espírito, é um mundo por si mesmo e cada mente é como um céu... Do firmamento 
descem raios de sol e chuvas benéficas para a organização planetária, mas 
também, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu 
procedem as faíscas destruidoras. 
Assim, a mente humana. 
Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de 
células do organismo físico; mas, quando perturbada, emite raios magnéticos de 
alto poder destrutivo para as comunidades celulares que a servem. 
O pensamento envenenado 
de Adelino destruía a substância da hereditariedade, intoxicando a cromatina 
dentro da própria bolsa seminal. Ele poderia atender aos apelos da Natureza, 
entregando-se à união sexual, mas não atingiria os objetivos sagrados da 
Criação, porque, pelas disposições lamentáveis de sua vida íntima, estava 
aniquilando as células criadoras, ao nascerem, e, quando não as aniquilasse por 
completo, intoxicava os genes do caráter, dificultando-nos a 
ação...
 Ora, no caso de Segismundo, unido a ele, em 
processo ativo de redenção, não podemos dispensar-Lhe o concurso amoroso e 
fraterno. Daí a necessidade desse trabalho intenso para despertar-lhe os valores 
afetivos. Somente o amor proporciona vida, alegria e equilíbrio. Modificado em 
sua posição íntima, Adelino emitirá doravante forças magnéticas protetoras dos 
elementos destinados ao serviço elevado da procriação.
A palavra do orienta dor não podia 
ser mais lógica. Começava agora a compreender o sentido sublime do trabalho que 
se realizara para que o esposo de Raquel se fizesse mais humano e mais doce. 
Como não encontrasse expressões para 
definir meu assombro, Alexandre sorriu e acentuou, depois de longo 
intervalo:
- Segundo pode observar, não existem 
por aqui milagres para o culto do menor esforço. E quando ensinamos, em toda 
parte, a necessidade da prática do amor, não procedemos obedientes a meros 
princípios de essência religiosa, mas atendendo a imperativos reais da própria 
vida.
No curso de seus esclarecimentos, 
alusivos ao interessante caso de Segismundo, o bondoso instrutor ferira assuntos 
de grande relevância para mim. 
Mencionara a união 
sexual e designara o trabalho criador como seu objetivo sagrado. Não seria esse 
o momento oportuno de ouvi-lo, mais extensamente, respeito ao delicado assunto? 
Crivei-o de 
interrogações ansiosas. Alexandre não se mostrou surpreendido e ouviu-me as 
perguntas, com imperturbável serenidade. Quando me coloquei na atitude de 
expectativa, respondeu, amavelmente:
- O sexo tem sido tão 
aviltado pela maioria dos homens reencarnados na Crosta que é muito difícil para 
nós outros, por enquanto, elucidar o raciocínio humano, com referência ao 
assunto. 
Basta dizer que a união 
sexual entre a maioria dos homens e mulheres terrestres se aproximam 
demasiadamente das manifestações dessa natureza entre os 
irracionais.
 No capítulo de relações dessa espécie, há 
muita inconsciência criminosa e indiferença sistemática às leis divinas. Desse 
plano não seria razoável qualquer comentário de nossa parte. Trata-se dum 
domínio de semibrutos, onde muitas inteligências admiráveis preferem demorar em 
baixas correntes evolutivas.
É 
inegável que também aí funcionam as tarefas de abnegados construtores 
espirituais, que colaboram na formação básica dos corpos, destinados a servirem 
às entidades que reencarnam nesses círculos mais grosseiros. 
Entretanto, é preciso 
considerar que o serviço, em semelhante esfera, é levado a efeito em massa, com 
características de mecanismo primitivo. O amor, nesses planos mais baixos, é tal 
qual o ouro perdido em vasta quantidade de ganga, exigindo largo esforço e 
laboriosas experiências para revelar-se aos entendidos. Entre as criaturas, 
porém, que se encaminham, de fato, aos montes de elevação, a união sexual é 
muito diferente. Traduz a permuta sublime das energias perispirituais, 
simbolizando alimento divino para a inteligência e para o coração e força 
criadora não somente de filhos carnais, mas também de obras e realizações 
generosas da alma para a vida eterna.
Alexandre fez ligeira pausa, sorriu 
paternalmente e continuou:
- Lembre-se, André, de que me referi 
a objetivos sagrados da Criação e não exclusivamente ao trabalho procriador. 
A procriação é um dos 
serviços que podem ser realizados por aquele que ama, sem ser o objeto exclusivo 
das uniões. O Espírito que odeia ou que se coloca em posição negativa, diante da 
Lei de Deus, não pode criar vida superior em parte alguma.
Compreendi que o problema era muito 
difícil de ser explanado, mas, como se quisesse desfazer todas as minhas 
dúvidas, o dedicado instrutor prosseguiu, após breve interrupção:
- É necessário deslocar 
a concepção do sexo, abstendo-nos de situá-la tão-somente em determinados órgãos 
do corpo transitório das criaturas. Vejamos o sexo como qualidade positiva ou 
passiva, emissora ou receptora da alma.
 Chegados a esse entendimento, 
verificamos que toda manifestação sexual evolui com o ser. Enquanto nos 
mergulhamos no charco das vibrações pesadas e venenosas, experimentamos, nesse 
domínio, simplesmente sensações. À medida que nos dirigimos a caminho do 
equilíbrio, colhemos material de experiências proveitosas, oportunidades de 
retificação, força, conhecimento, alegria e poder.
Em nos harmonizando com 
as leis supremas, encontramos a iluminação e a revelação, enquanto os Espíritos 
Superiores colhem os valores da Divindade. Substituamos as palavras «união 
sexual» por «união de qualidades» e observaremos que toda a vida universal se 
baseia nesse divino fenômeno, cuja causa reside no próprio Deus, Pai Criador de 
todas as coisas e de todos os seres.
As palavras de Alexandre abriam-me 
novos horizontes ao pensamento. As questões obscuras do tema tornavam-se claras 
ao meu campo mental. Fazendo-me sentir que os intervalos da conversação se 
destinavam a fornecer-me tempo de meditar, o benevolente orientador continuou, 
depois de longa pausa:
- Essa união de 
qualidades», entre os astros, chama-se magnetismo planetário da atração, entre 
as almas denomina-se amor, entre os elementos químicos é conhecida por 
afinidade. Não seria possível, portanto, reduzir semelhante fundamento da vida 
universal, circunscrevendo-o a meras atividades de certos órgãos do aparelho 
físico. 
A paternidade ou a 
maternidade é tarefa sublime; não representam, porém, os únicos serviços 
divinos, no setor da Criação infinita. O apóstolo que produz no domínio da 
Virtude, da Ciência ou da Arte, vale-se dos mesmos princípios de troca, apenas 
com a diferença de planos, porque, para ele, a permuta de qualidades se verifica 
em esferas superiores.
 Há fecundações físicas e 
fecundações psíquicas. As primeiras exigem as disposições da forma, a fim 
de atenderem a exigências da vida, em caráter provisório, no campo das 
experiências necessárias. 
As segundas, porém, 
prescindem do cárcere de limitações e efetua-se nos resplandecentes domínios da 
alma, em processo maravilhoso de eternidade. Quando nos referimos ao amor do 
Onipotente, quando sentimos sede da Divindade, nossos espíritos não procuram 
outra coisa senão a troca de qualidades com as esferas sublimes do Universo, 
sequiosos do Eterno Princípio Fecundante...
Alexandre fez longa pausa, como se 
ele mesmo permanecesse embevecido com semelhantes evocações. Por minha vez, 
achava-me deslumbrado. Nunca ouvira definições tão profundas, referentemente à 
posição do sexo na vida universal.
- É 
lamentável - continuou o orientador, gravemente - que a maioria dos nossos 
irmãos encarnados na Crosta tenha menosprezado as faculdades criativas do sexo, 
desviando-as para o vórtice de prazeres inferiores.
 Todos pagarão, porém, ceitil por ceitil, o que 
devem ao altar santificado, através de cuja porta receberam a graça de trabalhar 
e aprender na superfície da Terra. Todo ato criador está cheio de sagradas 
comoções da Divindade e são essas comoções sublimes da participação da alma, nos 
poderes criadores da Natureza, que os homens conduzem, imprevidentemente, para a 
zona do abuso e da viciação. 
Tentam 
arrastar a luz para as trevas e convertem os atos sexuais, profundamente 
veneráveis em todas as suas características, numa paixão viciosa tão deplorável 
como a embriaguez ou a mania do ópio. Entretanto, André, sem que os olhos 
mortais Lhes observem as angústias retificadoras, todos os infelizes, em 
semelhantes despenhadeiros, são punidos severamente pela Natureza 
divina.
A essa altura das luminosas 
elucidações, sentindo que o respeitável amigo entraria em nova pausa, ousei 
interrogar:
- Mas não é o uso do 
sexo uma lei natural na esfera da Crosta?
Alexandre sorriu com benevolência e 
respondeu: 
- Ninguém contesta esse 
caráter das manifestações sexuais nos círculos da carne, mas todas as leis 
naturais na experiência humana devem ser exercidas, como em toda parte, sobre as 
bases da lei universal do bem e da ordem. 
Quem foge ao bem, é 
defrontado pelo crime; quem foge à ordem, cai no desequilíbrio. As uniões 
sexuais, portanto, que se efetuem à distância desses sublimes imperativos, 
transformam-se em causas geradoras de sofrimento e perturbação. 
Ao demais, não devemos 
esquecer que o sexo, na existência humana, pode ser um dos instrumentos do amor, 
sem que o amor seja o sexo. Por isso mesmo, os homens e as mulheres, cuja alma 
se vai libertando dos cativeiros da forma física, escapam, gradativamente, do 
império absoluto das sensações carnais. 
Para eles, a união 
sexual orgânica vai deixando de ser uma imposição, porque aprendem a trocar os 
valores divinos da alma, entre si, alimentando-se reciprocamente, através de 
permutas magnéticas, não menos valiosas para os setores da Criação Infinita, 
gerando realizações espirituais para a eternidade gloriosa, sem qualquer 
exigência dos atritos celulares. 
Para esse gênero de 
criaturas, a união reconfortadora e sublime não se acha circunscrita à 
emotividade de alguns minutos, mas constitui a integração de alma com alma, 
através da vida inteira, no campo da Espiritualidade Superior.
 Diante dos fenômenos da presença física, 
bastam-lhes, na maioria das vezes, o olhar, a palavra, o simples gesto de 
carinho e compreensão, para que recebam o magnetismo criador do coração amado, 
impregnando-se de força e estimulo para as mais difíceis 
edificações.
Imprimiu Alexandre pequeno intervalo 
à palestra e, em seguida, abanando a cabeça, significativamente, 
observou:
- Não há criação sem 
fecundação. As formas físicas descendem das uniões físicas. As construções 
espirituais procedem das uniões espirituais. A obra do Universo é filha de Deus. 
O sexo, portanto, como qualidade positiva ou passiva dos princípios e dos seres, 
é manifestação cósmica em todos os círculos evolutivos, até que venhamos a 
atingir o campo da Harmonia Perfeita, onde essas qualidades se equilibram no 
seio da Divindade.
Não ousei quebrar o silêncio que se 
seguiu. O venerando instrutor, engolfado em profundos pensamentos, não mais 
voltou ao assunto, compelindo-me, talvez, a meditações mais 
edificantes.
Esperei, ansioso, o instante de 
tornar às observações do caso Segismundo. O estudo que encetara era 
verdadeiramente fascinador. 
Foi por isso, com justificada 
alegria, que recebi o convite de Alexandre para o regresso ao lar de Adelino. O 
bondoso orientador alegava que era preciso visitar o casal e o amigo em processo 
reencarnacionista, na véspera da primeira ligação com a matéria 
orgânica.
Chegados à moradia nossa conhecida, 
encontramos Herculano e Segismundo em companhia de outras entidades. Alexandre 
informou-me tratar-se de Espíritos 
construtores, que iam cooperar na formação fetal do nosso 
amigo.
Como da outra vez, banhava-se o 
ninho doméstico na luz crepuscular, mantendo-se a pequena família no mesmo ato 
de refeição. 
Adelino, porém, demonstrava 
diferente posição espiritual. Cercava-o claro ambiente de otimismo, delicadeza e 
alegria. Meu amável instrutor, muito satisfeito com a nova situação, passou a 
examinar os 
mapas cromossômicos, com a assistência dos construtores presentes. 
Em vão procurava compreender aqueles 
caracteres singulares, semelhantes a pequeninos arabescos, francamente 
indecifráveis ao meu olhar.
Alexandre, porém, sempre gentil e 
benevolente, acentuou:
- Este não é um estudo 
que você possa entender, por enquanto. 
Estou examinando a 
geografia dos genes nas estrias cromossômicas, a fim de certificar-me até que 
ponto poderemos colaborar em favor de nosso amigo Segismundo, com recursos 
magnéticos para a organização das propriedades 
hereditárias.
 
Conformei-me e passei a observar 
Segismundo, que parecia extenuado, abatido. Não conseguia manter-se sentado. 
Assistido pela dedicação de Herculano, conversava dificilmente, conosco, 
estirado numa cama, em grande prostração.
Demonstrava-se satisfeito com a 
minha simpatia fraternal e, enquanto os demais lhe estudavam a situação, 
entretive com ele conversação rápida, que me deu a conhecer, mais uma vez, a penosa 
impressão dos que se encontram no limiar de nova experiência 
terrestre.
- Já estive mais animado - disse-me 
ele, triste -; entretanto, agora, falece-me a energia... Sinto-me fraco, 
incapacitado... Enquanto lutei por obter a transformação de meu futuro pai, 
experimentava mais confiança e serenidade... Agora, porém..., Que consegui a 
dádiva do retorno à luta, tenho receio de novos 
fracassos...
- Tenha calma - respondi, 
confortando-o -; a sua oportunidade de redenção é das melhores. Além disso, 
muitos companheiros segui-lo-ão de perto, colaborando em seu êxito no 
porvir.
O interlocutor sorriu com 
dificuldade e observou:
- Sim, reconheço... Dentre todos os 
irmãos que me assistem agora, Herculano me acompanhará com desvelo e 
constância... Bem sei.
 No entanto, o renascimento na carne, com os 
valores espirituais que já possuímos, representa um fato gravíssimo em nosso 
processo de elevação... Ai de mim, se cair outra 
vez!...
Dirigia-lhe exortações de coragem e 
bom ânimo, quando o meu orientador, dando por findo o exame da documentação, se 
aproximou de nós ambos e falou-lhe com afetuosa autoridade:
- Segismundo, é 
incrível que desfaleça no momento culminante de suas atuais realizações. 
Restaure a sua fé, regenere a esperança, porque você não pode entrar na corrente 
material, à maneira dos nossos irmãos ignorantes e infelizes, que reclamam quase 
absoluto estado de inconsciência para penetrarem, de novo, o santuário 
maternal.
 Não deixe de cooperar com a sua confiança em 
nosso labor para o seu próprio beneficio. Dê trabalho à sua imaginação criadora. 
Mentalize os primórdios da condição fetal, formando em sua mente o modelo 
adequado. 
Você encontrará na 
maternidade nobre de Raquel os mais eficientes auxílios e receberá de nós outros 
a mais decidida colaboração; entretanto, lembre-se de que o seu trabalho 
individual será muito importante, no setor da adaptação e da recepção, para que 
triunfe na presente oportunidade. 
Não perca tempo em 
expectativas ansiosas, cheias de dores e apreensões. Levante o padrão de suas 
forças morais.
Segismundo ouviu, respeitoso, a 
advertência. Reconheci que as palavras reconfortantes de Alexandre se fizeram 
seguir de maravilhoso efeito. Segismundo melhorou repentinamente, esforçando-se 
por alijar a carga de preocupações inúteis. 
Impressionado com o esclarecimento 
do prestimoso mentor, não hesitei em dirigir-lhe nova consulta.
- Existem, então - 
perguntei sob forte interesse -, aqueles que reencarnam inconsciente do ato que 
realizam?
- 
Certamente - respondeu ele, solicito -, assim também como desencarna diariamente 
na Crosta milhares de pessoas sem a menor noção do ato que experimentam. Somente 
as almas educadas têm compreensão real da verdadeira situação que se lhes 
apresenta em frente da morte do corpo.
 Do mesmo modo, aqui. A maioria dos que retomam 
a existência corporal na esfera do Globo é magnetizada pelos benfeitores 
espirituais, que lhe organizam novas tarefas redentoras, e quantos recebem 
semelhantes auxilio são conduzidos ao templo maternal de carne como crianças 
adormecidas. 
O trabalho inicial, que 
a rigor Lhes compete na organização do feto, passa a ser executado pela mente 
materna e pelos amigos que os ajudam de nosso plano. 
São inúmeros os que 
regressam à Crosta nessas condições, reconduzidos por autoridades superiores de 
nossa esfera de ação, em vista das necessidades de certas almas encarnadas, de 
certos lares e determinados agrupamentos.
 
A explicação não podia ser mais 
lógica e, uma vez ainda, admirei no amoroso amigo o dom da clareza e da 
simplicidade.
Demoramo-nos, por mais algum tempo, 
naquele ninho acolhedor e, ao despedir-se, quase à meia-noite, após reconfortar 
o espírito de Segismundo, Alexandre dirigiu-se a Herculano e aos construtores, 
nestes termos:
- Voltaremos na noite 
de amanhã, para a ligação inicial, fazendo a entrega de nosso irmão reencarnante 
aos nossos amigos.
Um dos Espíritos Construtores, que 
parecia o chefe do grupo em operações, abraçou-o, comovida¬mente, e 
falou:
- Contamos com o seu 
concurso para a divisão da cromatina no útero materno.
- Com muito prazer! - redargüiu, 
bem-humorado.
Voltando a outras ocupações, não 
continha as idéias novas que a experiência de Segismundo despertava em mim. Como 
seria feito o auxilio naquelas circunstâncias? Raquel estaria consciente de 
nossa colaboração? Como interpretaria o casal as atividades de nosso plano, caso 
viesse a conhecer a extensão de nossa tarefa? Alexandre, porém, incumbiu-se de 
interromper minhas indagações interiores, acrescentando, como se estivesse 
ouvindo os meus pensamentos:
- Em casos dessa 
natureza André, a nossa intervenção desenvolve-se com a mesma santidade que 
caracteriza o concurso de um médico responsável e honesto, ao praticar a 
intervenção no parto comum. 
A modelagem fetal e o 
desenvolvimento do embrião obedecem a leis físicas naturais, qual ocorre na 
organização de formas em outros reinos da Natureza, mas, em todos esses 
fenômenos, os ascendentes de cooperação espiritual coexistem com as leis, de 
acordo com os planos de evolução ou resgate. Nosso concurso, portanto, em 
processos tais, é uma das tarefas mais comuns.
Compreendi a elevação do 
esclarecimento e pacifiquei a mente, esperando o dia seguinte. 
Escoadas, porém, as horas do dia, a 
curiosidade voltou a espicaçar-me. 
Em que momento 
deveriamos buscar a moradia de Adelino? Sem qualquer intenção menos digna, 
preocupava-me o instante da primeira ligação de Segismundo à matéria. Agria 
Alexandre no momento da união sexual ou o fenômeno obedeceria a diferentes 
determinações? 
Meu orientador sorria em 
silêncio, compreendendo-me a tortura mental. As horas sucediam-se umas às outras 
e, observando-me a impaciência, Alexandre esclareceu-me, bondoso:
- Não é necessária a 
nossa presença ao ato de união celular. Semelhantes momentos do tálamo conjugal 
são sublimes e invioláveis nos lares em bases retas. Você sabe que a fecundação 
do óvulo materno somente se verifica algumas horas depois da união 
genesíaca.
 O elemento masculino deve fazer extensa 
viagem, antes de atingir o seu objetivo.
 
E, sorrindo, 
acrescentou:
- Temos 
tempo.
Compreendi a delicadeza dos 
esclarecimentos e, sequioso de informações referentes ao assunto, 
interroguei:
- Com relação às uniões 
sexuais, de acordo com o seu parecer, todas elas são invioláveis?
- Isto não - aduziu o 
instrutor, atencioso -, você não deve esquecer que aludi aos «lares em bases 
retas». 
Todos os encarnados que 
edificam o ninho conjugal, sobre a retidão, conquistam a presença de testemunhas 
respeitosas, que lhes garantem a privacidade dos atos mais íntimos, 
consolidando-Lhes as fronteiras vibratórias e defendendo-as contra as forças 
menos dignas, tomando, por base de seus trabalhos, os pensamentos elevados que 
encontram no ambiente doméstico dos amigos; não ocorre o mesmo, entretanto, nas 
moradias, cujos proprietários escolhem baixas testemunhas espirituais, 
buscando-as em zonas inferiores. 
A esposa infiel aos 
princípios nobres da vida em comum e o esposo que põe sua casa em ligação com o 
meretrício, não devem esperar que seus atos afetivos permaneçam coroados de 
veneração e santidade. 
Suas relações mais 
intimas são objeto de participação das desvairadas testemunhas que escolheram. 
Tornam-se vítimas inconscientes de grupos perversos, que lhes partilham as 
emoções de natureza fisiológica, induzindo-as a mais dolorosa viciação. 
Ainda que esses cônjuges 
infelizes estejam temporariamente catalogados no pináculo das posições sociais 
humanas, não poderão trair a miserável condição interior, sequiosos que vivem de 
prazeres criminosos, dominados de estranha e incoercível 
volúpia.
 
A resposta impressionante de 
Alexandre surpreendeu-me. Compreendi com mais intensidade que cada um de nós 
permanece com a própria escolha de situação, em todos os lugares. Todavia, nova 
questão surgia-me no cérebro e procurei movimentá-la, para melhor aclarar o 
raciocínio.
- Entendo a magnitude de suas 
elucidações - afirmei, respeitoso. 
– 
Entretanto, considerando 
o perigo de certas atitudes inferiores dos que assumem o compromisso da fundação 
de um lar, que condição, por exemplo, é a da esposa fiel e devotada, ante um 
marido desleal e aventureiro, no campo sexual? Permanecerá a mulher nobre e 
santa à mercê das criminosas testemunhas que o homem escolheu?
- Não! - disse ele, 
veemente - o mau não pode perturbar o que é genuinamente bom. Em casos dessa 
espécie, a esposa garantirá o ambiente doméstico, embora isto lhe custe as mais 
difíceis abnegações e pesados sacrifícios. Os atos que lhe exijam a presença 
enobrecedora são sagrados, ainda que o companheiro, na vida comum, se tenha 
colocado em nível inferior aos brutos. 
Em situações como essa, 
no entanto, o marido imprevidente torna-se paulatinamente cego a virtude e 
converte-se por vezes no escravo integral das entidades perversas que tomou por 
testemunhas habituais, presentes em todos os seus caminhos e atividades fora do 
santuário da família. Chegado a esse ponto, é muito difícil impedir-lhe a queda 
nos desfiladeiros fatais do crime e das trevas.
 
- Oh! Meu Deus! - exclamei - - 
quanto trabalho esperando o concurso das almas corajosas: quanta ignorância a 
ser vencida!...
- Você diz bem - 
acrescentou o orientador, gravemente -, porque, de fato, a maioria das tragédias 
conjugais se transfere para além-túmulo, criando pavorosos infernos para aqueles 
que as viveram na Crosta do Mundo. É muito doloroso observar a extensão dos 
crimes perpetrados na existência carnal e ai dos desprevenidos que não se 
esforçam, a tempo, no sentido de combater as paixões baixas! Angustioso lhes é 
aqui o despertar!...
 
Calei-me e Alexandre, pensativo, 
entrou também em silêncio profundo, dando-me a entender suas admiráveis 
faculdades de concentração.
Eram aproximadamente vinte e duas 
horas, quando nos pusemos a caminho da residência de Raquel.
A pequena família acabava de 
recolher-se. 
Herculano e os demais receberam-nos 
com inequívocas demonstrações de carinho.
O chefe dos Construtores dirigiu-se 
ao meu instrutor, nestes termos:
- Esperávamos pela sua colaboração 
para iniciarmos o serviço magnético no paciente. 
Passamos, em seguida, à pequena 
câmara, onde Segismundo repousava. Permanecia ele aflito, de olhar triste e 
vagueante.
Não pude sopitar uma 
interrogação:
- Por que motivo 
Segismundo sofre tanto? - indaguei de Alexandre, em tom discreto.
- Desde muito, e, 
particularmente, desde a semana passada, está em processo de ligação fluídica 
direta com os futuros pais. Herculano está encarregado de ajudá-lo nesse 
trabalho.
 À medida que se intensifica semelhante 
aproximação, ele vai perdendo os pontos de contacto com os veículos que 
consolidou em nossa esfera, através da assimilação dos elementos de nosso 
plano.
 Semelhante operação é necessária para que o 
organismo perispiritual possa retomar a plasticidade que lhe é característica 
e, no 
estágio em que ele se encontra, o serviço impõe-lhe 
sofrimentos.
A observação era muito nova para mim 
e continuei indagando:
- Mas o organismo 
perispirítico de Segismundo não é o mesmo que ele trouxe da Crosta, ao 
desencarnar pela última vez?
- Sim - concordou o 
orientador -, tem a mesma identidade essencial; todavia, com o curso do tempo, 
em vista de nova alimentação e novos hábitos em meio muito diverso, incorporou 
determinados elementos de nossos círculos de vida, dos quais é necessário se 
desfaça a fim de poder penetrar, com êxito, a corrente da vida carnal. 
Para isto, as lutas das 
ligações fluídicas primordiais com as emoções que lhes são conseqüentes 
desgastam-lhe as resistências dessa natureza, salientando-se que, nesta noite, 
faremos a parte restante do serviço, mobilizando, em seu auxilio, nossos 
recursos magnéticos.
- Oh! - disse eu - não teremos aqui 
um fato semelhante à morte física na Crosta? 
Alexandre sorriu e 
aquiesceu:
- Sem dúvida, desde que consideremos 
a morte do corpo carnal como simples abandono de envoltórios atômicos 
terrestres.
Reconheci, porém, que a hora não 
comportava longas dissertações, e, vendo que o meu bondoso instrutor fixava a 
atenção nos Construtores, abstive-me de novas interrogações.
Seguido pelos amigos, Alexandre 
aproximou-se de Segismundo e falou-lhe, bem-humorado:
- Então? Mais forte?
E, acariciando-lhe a face, 
acrescentou:
- Você deve estar satisfeito: é 
chegado o momento decisivo. Todas as nossas expressões de reconhecimento a Deus 
são insignificantes, diante da nova oportunidade recebida.
- Sim... - falou Segismundo, 
arquejante - estou grato... Não se esqueçam de mim... Com o auxilio 
necessário.
E olhando angustiosamente para o meu 
orientador, observou, inquieto:
- Tenho receio... Muito 
receio...
Alexandre sentou-se paternalmente ao 
lado dele e disse-lhe, com ternura:
- Não asile o monstro 
do medo no coração. A hora é de confiança e coragem. Ouça, Segismundo! Se você 
guarda alguma preocupação, divida conosco os seus pesares, fale de tudo o que 
constitua dificuldade em seu intimo!
 Abra sua alma, querido amigo! Lembre-se de que 
o instante da passagem definitiva de plano se aproxima. Torna-se indispensável 
manter o pensamento puro, lavado de todos os detritos!
O interlocutor deixou cair algumas 
lágrimas e conversou com esforço:
- Sabe que empreendi 
pequenina obra de socorro, nas cercanias de nossa colônia espiritual... A obra 
foi autorizada pelos nossos Maiores e... Apesar do bom funcionamento... Sinto 
que não está terminada e que tenho em sua estrutura grandes responsabilidades... 
Não sei se fiz bem... Pedindo agora o retorno à Crosta do Mundo, antes de 
consolidar meu trabalho... Entretanto... Reconheci que para seguir além... 
Precisava reconciliar-me com a própria consciência, buscando os adversários de 
outro tempo... A fim de resgatar minhas faltas...
E enquanto o instrutor e os demais 
amigos o acompanhavam, em silêncio, Segismundo pros¬seguia:
- Foi por isto... Que insisti tanto 
pela obtenção de minha volta... 
Como poderia conduzir os outros à 
plena conversão espiritual... Diante dos ensinamentos do Cristo... Sem haver 
pago minhas próprias dívidas? Como ensinar os irmãos sofredores... Sofrendo eu 
mesmo... Dolorosas chagas em virtude do passado cruel? Agora, porém... Que se 
aproxima o recomeço difícil... Tortura-me o receio de errar novamente... Quando 
Raquel e Adelino voltaram... Prometeram-me amparos fraternais e estou certo... 
De que serão dois benfeitores para mim... No entanto... Afligem-me receios e 
ansiedades ante o futuro desconhecido...
Valendo-se da pausa que se fizera 
naturalmente, Alexandre tomou a palavra, com franqueza e 
otimismo:
- Não adianta inquietar-se tanto, 
meu amigo! Desprenda-se de suas criações aqui. Todas as nossas obras, efetuadas 
de acordo com as leis divinas, sustentam-se por si mesmas e esperam-nos em 
qual¬quer tempo para a colheita de saborosos frutos de alegria eterna. Somente o 
mal está condenado à destruição e apenas o erro necessita laboriosos processos 
de retificação. 
Esteja, portanto, calmo e feliz. Sua 
insistência pelo regresso atual aos círculos terrenos foi muito bem lembrado. O 
resgate do desvio de outra época concederá ao seu espírito uma luz nova e mais 
brilhante. Persevere no seu propósito. Valer-se da escola, receber-lhe a 
orientação sublime, assenhorear-se-lhe dos benefícios, representa a maior 
felicidade do aluno fiel. 
Assim, pois, Segismundo, a sua 
felicidade de voltar agora à esfera carnal é muito grande. Lave a sua mente na 
água viva da confiança em Deus, e caminhe. Para a nova experiência você não pode 
levar senão o patrimônio divino já adquirido com o seu esforço para a vida 
eterna, constituída pelas idéias enobrecedoras e pelas luzes intimas que o seu 
espírito já conquistou. 
Não se detenha, desse modo, em 
lembranças dos aspectos exteriores de nossas atividades neste plano. Persistir 
em semelhantes estados d’alma poderá trazer conseqüências muito graves, 
porquanto a sua inadaptação perturbaria o desenvolvimento fetal e determinaria a 
morte prematura de seu novo aparelho físico, no período infantil. Não se prenda 
a receios pueris. É verdade que você deve e precisa pagar, mas, em sã 
consciência, qual de nós não é devedor? Com tristeza e abatimento nunca 
resgataremos nossos débitos. É indispensável criar esperanças novas. 
Segismundo fez um gesto 
significativo de afirmação e sorriu com dificuldade, mostrando-se menos 
triste.
- Não perturbe o seu trabalho 
valioso do momento. Recorde as graças que temos recebido e não 
tema!
Calando-se o mentor, notei que 
Segismundo, sob forte emoção, não conseguia recursos para manter a palestra. 
Vi-o, porém, tomar a destra de Alexandre, com infinito esforço, beijando-a, 
respeitoso, em sinal de reconhecimento.
Ponderei, então, no 
concurso enorme que todos recebemos ao regressar ao círculo carnal. Aqueles 
devotados benfeitores auxiliavam Segismundo, desde o primeiro dia, e, ainda ali, 
diante do possível recuo do interessado, eles mesmos se mostravam dispostos a 
consolar-lhe todas as tristezas, levantando-lhe o ânimo para o êxito 
final.
 
Os Espíritos 
Construtores começaram o trabalho de magnetização do corpo perispirítico, no que 
eram amplamente secundados pelo esforço do abnegado orientador, que se mantinha 
dedicado e firme em todos os campos de serviço.
Sem que me possa fazer 
compreendido, de pronto, pelo leitor comum, devo dizer que «alguma coisa da 
forma de Segismundo estava sendo eliminada». Quase que imperceptivelmente, à 
medida que se intensificavam as operações magnéticas, tornava-se ele mais 
pálido. Seu olhar parecia penetrar outros domínios. Tornava-se vago, menos 
lúcido.
A certa altura, 
Alexandre falou-lhe com autoridade:
- Segismundo, 
ajude-nos! Mantenha clareza de propósitos e pensamento firme!
Tive a impressão de que 
o reencarnante se esforçava por obedecer.
- Agora - continuou o 
instrutor - sintonize conosco relativamente à forma pré-infantil. Mentalize sua 
volta ao refúgio maternal da carne terrestre! Lembre-se da organização fetal, 
faça-se pequenino! Imagine sua necessidade de tornar a ser criança para aprender 
a ser homem!
Compreendi que o 
interessado precisava oferecer o maior coeficiente de cooperação individual para 
o êxito amplo. Surpreendido, reconheci que, ao influxo magnético de Alexandre e 
dos Construtores Espirituais, a forma perispiritual de Segismundo tornava-se 
reduzida.
A operação não foi 
curta, nem simples. Identificava o esforço geral para que se efetuasse a redução 
necessária.
Segismundo parecia cada 
vez menos consciente. Não nos fixava com a mesma lucidez e suas respostas às 
nossas perguntas afetuosas não se revelavam completas.
Por fim, com grande 
assombro meu, verifiquei que a forma de nosso amigo assemelhava-se à de uma 
criança.
O fenômeno espantava-me 
e não pude conter as interrogações que se me represavam no íntimo. Observando 
que Alexandre e os Construtores se dispunham a alguns minutos de intervalo, 
antes da penetração na câmara conjugal, acerquei-me do prestimoso orientador, 
que me percebeu, num relance, a curiosidade.
Acolheu-me, cortês como 
sempre, e falou:
- Já sei. Você 
permanece torturado pelo espírito de pesquisa.
Sorri desapontado, mas 
cobrei ânimo e indaguei:
- Como pode ser o que 
vejo? Ignorava que o renascimento compelisse o plano espiritual a serviços tão 
complexos!
- O trabalho 
enobrecedor está em toda parte - acentuou Alexandre, intencionalmente. - O 
paraíso da ociosidade é talvez a maior ilusão dos princípios teológicos que 
obscureceram na Crosta o sentido divino da verdadeira Religião.
Fez uma pausa, fixou um 
gesto expressivo e continuou:
- Quanto à estranheza 
de que se sente possuído, não vemos razão para tanto.
 A desencarnação normal 
na Terra obriga o corpo denso de carne a não menores modificações. A enfermidade 
mortal, para o homem terreno, não deixa, em certo sentido, de ser prolongada 
operação redutiva, libertando por fim a alma, desembaraçando-a dos laços 
fisiológicos. Há pessoas que, depois de algumas semanas de leito, se tornam 
francamente irreconhecíveis. E devemos considerar que o aparelho físico 
permanece muito distante da plasticidade do corpo perispiritual, profundamente 
sensível a influenciação magnética.
A explicação não podia 
ser mais lógica.
- O que vimos, porém, 
com Segismundo perguntei - é regra geral para todos os casos? 
- De modo algum 
respondeu o instrutor, atencioso -, os processos de reencarnação, tanto quanto 
os da morte física, diferem ao infinito, não existindo, segundo cremos, dois 
absolutamente iguais. As facilidades e obstáculos estão subordinados a fatores 
numerosos, muitas vezes relativos ao estado consciencial dos próprios 
interessados no regresso à Crosta ou na libertação dos veículos carnais. Há 
companheiros de grande elevação que, ao voltarem à esfera mais densa em 
apostolado de serviço e iluminação, quase dispensam o nosso concurso. Outros 
irmãos nossos, contudo, procedentes de zonas inferiores, necessitam de 
cooperação muito mais complexa que a exercida no caso de 
Segismundo.
- Não deveriam 
renascer, porém - interroguei, curioso -, tão somente aqueles que se revelassem 
preparados?
- Não podemos esquecer, 
no entanto - refutou meu esclarecido interlocutor -, que a reencarnação é o 
curso repetido de lições necessárias. A esfera da Crosta é uma escola divina. E 
o amor, por intermédio das atividades «intercessórias», reconduz diariamente ao 
banco escolar da carne milhões de aprendizes.
O orientador amigo 
calou-se por alguns instantes, e prosseguiu:
- A reencarnação de 
Segismundo obedece às diretrizes mais comuns. Traduz expressão simbólica da 
maioria dos fatos dessa natureza, porquanto o nosso irmão pertence à enorme 
classe média dos Espíritos que habitam a Crosta, nem altamente bons, nem 
conscientemente maus. Acresce notar, todavia, que à volta de certas entidades 
das regiões mais baixas ocasiona laboriosos e pacientes esforços dos 
trabalhadores de nosso plano. Semelhantes seres obrigam-nos a processos de 
serviço que você gastará ainda muito tempo para compreender.
As elucidações de 
Alexandre calavam-me fundo, satisfazendo-me a pesquisa intelectual; entretanto, 
novas indagações surgiam-me na mente sequiosa. Foi então que, premido por 
intensa e legítima curiosidade, perguntei, respeitoso:
- O auxílio que vemos 
atingirá, porventura, a todos? Aqui nos encontramos num lar em bases retas, 
segundo sua própria afirmação. Mas... Se nos achássemos numa casa típica de 
deboche carnal? E se fôssemos aqui defrontados por paixões criminosas e 
desvarios desequilibrantes?
O instrutor meditou 
gravemente e redargüiu: 
- André, o diamante 
perdido no lodo, por algum tempo, não deixa de ser diamante. Assim, também, a 
paternidade e a maternidade, em si mesmas, são sempre divinas. Em todo lugar 
desenvolve-se o auxilio da esfera superior, desde que se encontre em jogo o 
trabalho da Vontade de Deus. Entretanto, devemos considerar que, em tais 
circunstâncias, as atividades de auxilio são verdadeiramente sacrificiais. 
As vibrações 
contraditórias e subversivas das paixões desvairadas da alma em desequilíbrio 
comprometem os nossos melhores esforços, e, muitas vezes, nessas paisagens de 
irresponsabilidade e viciação, para ajudar, em obediência ao nosso ministério, 
devemos, antes de tudo, lutar contra entidades monstruosas, dominadoras dos 
círculos de vida dos homens e das mulheres que, imprevidentemente, escolhe o 
perigoso caminho da perturbação emocional, onde tais entidades ignorantes e 
desequilibradas transitam.
 Nesses casos, nem sempre a nossa colaboração 
pode ser perfeita, porquanto são os próprios pais que, menosprezando a grandeza 
do mandato que lhes foi confiado, abrem as portas de suas potências sagradas aos 
impiedosos monstros da sombra que lhes perseguem os filhos nascituros. 
Certas almas heróicas 
escolhem semelhante entrada na existência carnal, a fim de se fortalecerem nas 
resistências supremas contra o mal, desde os primeiros dias de serviço uterino. 
Entretanto, devemos considerar que é preciso ser suficientemente forte na fé e 
na coragem para não sucumbir. Nos renascimentos dessa espécie, o maior número de 
criaturas, porém, cumpre o programa salutar das provações retificadoras. Muitas 
fracassam; todavia, há sempre grande quantidade das que retiram os melhores 
lucros espirituais no setor da experiência para a vida eterna.
Alexandre comentara o 
assunto com imponente beleza. Começava eu a compreender a procedência de certos 
fenômenos teratológicos e de determinadas moléstias congênitas que, no mundo, 
confrangem o coração. As asserções do momento levavam-me a novo e fascinante 
estudo - a questão das provas retificadoras e necessárias.
Em seguida 
Alexandre convidou os 
Construtores a examinarem os mapas cromossômicos, em companhia dele, junto de 
Herculano.
Acompanhei o trabalho 
com interesse, embora absolutamente desprovido de competência para ajuizar com 
precisão, relativamente aos caprichosos desenhos sob nosso olhar.
Não me é dado 
transmitir determinadas definições daquela pequena assembléia de autoridades 
espirituais, por falta de elementos para a comparação analógica, mas posso dizer 
que, finda a parte propriamente técnica das conversações, o meu orientador 
acrescentava, satisfeito:
- Com exceção do tubo 
arterial, na parte a dilatar-se para o mecanismo do coração, tudo irá muito bem. 
Todos os genes poderão ser localizados com normalidade 
absoluta.
Depois de pequena 
pausa, acentuou:
- Os membros e os 
órgãos serão excelentes. E se o nosso amigo souber valorizar as oportunidades do 
futuro, possivelmente conquistará o equilíbrio do aparelho circulatório, 
mantendo-se em serviço de iluminação por abençoado tempo de trabalho terrestre. 
Depende dele o êxito preciso. Voltando-se para os Construtores, falou-lhes, 
afável:
- Meus amigos, o nosso 
Herculano permanecerá em definitivo junto de Segismundo, na nova experiência, 
até que ele atinja os sete anos, após o renascimento, ocasião em que o processo 
reencarnacionista estará consolidado. 
Depois desse período, a 
sua tarefa de amigo e orientador será amenizada, visto que seguirá o nosso irmão 
em sentido mais distante. Sei que o devotado companheiro tomará todas as 
providências indispensáveis à harmoniosa organização fetal, seja auxiliando o 
reencarnante, seja defendendo o templo maternal contra o assédio de forças menos 
dignas; entretanto, peço-lhes muita atenção nos primórdios de formação do timo, 
glândula, como sabem, de importância essencial para a vida infantil, desde o 
útero materno. 
Precisamos do 
equilíbrio perfeito desse departamento glandular, até que se forme a medula 
óssea e se habilite à produção dos corpúsculos vermelhos para o sangue. Os 
diversos gráficos das disposições cromossômicas facilitarão os serviços dessa 
natureza.
Alguns dos amigos 
presentes passaram a observar os mapas com maior atenção.
Enquanto se estendiam, 
sob meus olhos, aqueles microscópicos sinais, facultando amplo exame da 
célula-ovo, acerquei-me do instrutor e, sentindo-o mais acessível às minhas 
interrogações, perguntei:
- Temos, nestes mapas, 
a geografia dos genes da hereditariedade distribuídos nos cromossomos. A lei da 
herança, porém, será ilimitada? A criatura receberá, ao renascer, a total 
imposição dos característicos dos pais? As enfermidades ou as disposições 
criminosas serão transmissíveis de maneira integral?
- Não, André - observou 
o orientador, com grave inflexão -, estamos diante dum fenômeno físico natural. 
O organismo dos nascituros, em sua expressão mais densa, provém do corpo dos 
pais, que lhes entretêm a vida e lhes criam os caracteres com o próprio sangue; 
todavia, em semelhante imperativo das leis divinas para o serviço de reprodução 
das formas, não devemos ver a subversão dos princípios de liberdade espiritual, 
imanente na ordem da Criação Infinita. 
Por isso mesmo, a 
criatura terrena herda tendências e não, qualidades. As primeiras cercam o homem 
que renasce, desde os primeiros dias de luta, não só em seu corpo transitório, 
mas também no ambiente geral a que foi chamado a viver, aprimorando-se; as 
segundas resultam do labor individual da alma encarnada, na defesa, educação e 
aperfeiçoamento de si mesma nos círculos benditos da experiência. Se o Espírito 
reencarnado estima as tendências inferiores, desenvolvê-las-á, ao reencontrá-las 
dentro do novo quadro de experiência humana, perdendo um tempo precioso e 
menosprezando o sublime ensejo de elevação. 
Todavia, se a alma que 
regressa ao mundo permanece disposta ao serviço de auto-elevação, sobrepairará a 
quaisquer exigências menos nobres do corpo ou do ambiente, triunfando sobre as 
condições adversas e obtendo títulos de vitória da mais alta significação para a 
vida eterna. Em sã consciência, portanto, ninguém se pode queixar de forças 
destruidoras ou de circunstâncias asfixiantes, em se referindo ao círculo onde 
renasceu. Haverá sempre, dentro de nós, a luz da liberdade intima indicando-nos 
a ascensão. Praticando a subida espiritual, melhoraremos sempre. Esta é a 
lei.
Em virtude das 
anteriores explicações do orientador, relativamente à importância da assistência 
de Herculano a Segismundo reencarnado, até aos sete anos, procurei obter do 
instrutor alguma elucidação a respeito. Pedi desculpas a Alexandre, todavia, não 
me pude furtar à delicada inquirição. Porque tamanho cuidado com o sangue do 
futuro recém-nascido? Somente aos sete anos iniciais de existência humana 
estaria terminado o serviço de reencarnação?
Como sempre acontecia, 
o nobre mentor ou, viu-me, complacente, sorriu qual pai carinhoso, e respondeu, 
solicito:
- Você não ignora que o 
corpo humano tem as suas atividades propriamente vegetativas, mas talvez ainda 
não saiba que o corpo perispiritual, que dá forma aos elementos celulares, está 
fortemente radicado no sangue. Na organização fetal, o patrimônio sanguíneo é 
uma dádiva do organismo materno. 
Logo após o 
renascimento, inicia-se o período de assimilação diferente das energias 
orgânicas, em que o «eu» reencarnado ensaia a consolidação de suas novas 
experiências e, somente aos sete anos de vida comum, começa a presidir, por si 
mesmo, ao processo de formação do sangue, elemento básico de equilíbrio ao corpo 
perispirítico ou forma preexistente, no novo serviço iniciado.
O sangue, portanto, é 
como se fora o fluido divino que nos fixa as atividades no campo material e em 
seu fluxo e refluxo incessante, na organização fisiológica, nos fornece o 
símbolo do eterno movimento das forças sublimes da Criação Infinita. Quando a 
sua circulação deixa de ser livre, surge o desequilíbrio ou enfermidade e, se 
surgem obstáculos que impedem o seu movimento, de maneira absoluta, então 
sobrevém a extinção do tônus vital, no campo físico, ao qual se segue a morte 
com a retirada imediata da alma.
Fortemente 
impressionado com a revelação do respeitável amigo, observei:
- Oh! Como é grande a 
responsabilidade do homem, em frente ao corpo material!
- Diz bem - acrescentou 
o orientador - ao se referir com semelhante admiração a esse soberano dever da 
criatura reencarnada. Sem atender às pesadas responsabilidades que lhe competem 
na preservação do vaso físico, homem algum poderá realizar o progresso 
espiritual.
 O Espírito renasce na carne para a produção de 
valores divinos em sua natureza; mas como atender ao semelhante imperativo, 
destruindo a máquina orgânica, base fundamental do serviço a fazer? Inda agora, 
referia-se você à lei da herança. O corpo terreno é também um patrimônio herdado 
há milênios e que a Humanidade vem aperfeiçoando, através dos séculos. O plasma, 
sublime construção efetuada ao influxo divino, com água do mar, nas épocas 
primitivas, é o fundamento primordial das organizações fisiológicas. Em voltando 
à Crosta, temos de aproveitar-lhe a herança, mais ou menos evolvida no corpo 
humano.
A essa altura das 
elucidações surpreendentes para mim, Alexandre, depois de ligeiro intervalo, 
continuou:
- Por isso mesmo, não 
desconhece você que, enquanto nos movimentamos na esfera da carne, somos 
criaturas marinhas respirando em terra firme. 
No processo vulgar de 
alimentação, não podemos prescindir do sal; nosso mecanismo fisiológico, a 
rigor, se constitui de sessenta per cento de água salgada, cuja composição é 
quase idêntica à do mar, constante dos sais de sódio, de cálcio, de potássio. 
Encontra-se, na esfera de atividade fisiológica do homem reencarnado, o sabor do 
sal no sangue, no suor, nas lágrimas, nas secreções. Os corpúsculos aclimatados 
nos mares mais quentes viveriam à vontade no liquido orgânico. Há verdadeiras 
surpresas de comparação analógica que poderíamos efetuar neste 
sentido.
Não soube o que 
responder, em vista das definições ouvidas, e, ante o meu silêncio, foi o 
próprio Alexandre que continuou, depois de significativa 
parada:
- Como vê, ao 
renascermos na Crosta do Mundo, recebemos com o corpo uma herança sagrada, cujos 
valores precisamos preservar, aperfeiçoando-o. As forças físicas devem evoluir 
como as nossas almas. Se nos oferecem o vaso de serviço para novas experiências 
de elevação, devemos retribuir, com o nosso esforço, auxiliando-as com a luz de 
nosso respeito e equilíbrio espiritual, no campo de trabalho e educação 
orgânica. 
O homem do futuro 
compreenderá que as suas células não representam apenas segmentos de carne, mas 
companheiras de evolução, credoras de seu reconhecimento e auxilio efetivo. Sem 
esse entendimento de harmonia no império orgânico, é inútil procurar a 
paz.
A conversação brilhante 
do orientador magnânimo e sábio sugeria sublimes questões. Entretanto, ele mesmo 
recordou-me o trabalho em curso e deu por findos os esclarecimentos daquela 
hora.
Estávamos a duas horas 
depois de meia-noite. 
Permaneciam agora, ao 
nosso lado, não somente Alexandre e os Construtores, mas também diversos amigos 
espirituais da família.
Congregando todos os 
companheiros em torno de si, como figura máxima daquela reunião, Alexandre 
falou, gravemente:
- 
Agora, meus irmãos, penetremos a câmara de nossos dedicados colaboradores para 
que se efetue o júbilo da união espiritual.
E, depositando 
Segismundo nos braços da entidade que fora na Crosta Terrestre a carinhosa mãe 
de Raquel, acentuou:
- Seja você, minha 
irmã, a portadora do sagrado depósito. O coração filial que nos espera sentirá 
novas felicidades ao contacto de sua ternura. Raquel bem merece semelhante 
alegria. 
Voltando-se para a 
assembléia ali congregada, explicou:
- Faremos agora o ato 
de ligação inicial, em sentido direto, de Segismundo com a matéria orgânica. 
Espero, porém, caros companheiros, a visita reiterada de todos vocês ao nosso 
irmão reencarnante, principalmente no período de gestação do seu corpo 
futuro.
 Não ignoram o valor da colaboração afetuosa 
nesse serviço. Somente aqueles que semearam muitas afeições podem receber o 
concurso de muitos amigos e Segismundo deve receber esse prêmio pelos seus 
nobres sentimentos e elevados trabalhos a todos nós, nestes últimos anos em que 
se devotou a grandes obras de benemerência e fraternidade.
Logo após, penetrávamos 
o aposento conjugal, onde o espetáculo íntimo era divinamente belo. No leito de 
madeira, em macios lençóis de linho, repousavam dois corpos que a bênção do sono 
imobilizava, mas, ali mesmo, Adelino e Raquel nos esperavam em espírito, 
conscientes da grandeza da hora em curso. 
Em despertando na 
esfera densa de luta e aprendizado, seus cérebros carnais não conseguiriam fixar 
a reminiscência perfeita daquela cena espiritual, em que se destacavam como 
principais protagonistas; contudo, o fato gravar-se-ia para sempre em sua 
memória eterna.
Os amigos invisíveis do 
lar, companheiros de nosso plano, haviam enchido a câmara de flores de luz. 
Desde a meia-noite, haviam obtido permissão para ingressar no futuro berço de 
Segismundo, com o amoroso propósito de adornar-lhe os caminhos do 
recomeço.
Mais de cem amigos se 
reuniam ali, prestando-lhe afetuosa homenagem.
Alexandre caminhou à 
nossa frente, cumprimentando carinhosamente o casal, temporariamente desligado 
dos veículos físicos.
Em seguida, com a 
melhor harmonia, os presentes passaram às saudações, enchendo de conforto 
celeste o coração dos cônjuges esperançosos.
O quadro era lindo e 
comovedor.
Duas entidades, ao meu 
lado, comentavam fraternalmente:
- É sempre penoso 
voltar à carne, depois de havermos conhecido as regiões de luz divina; 
entretanto, é tão sagrado o amor cristão que, mesmo em tal circunstância, 
sublime é a felicidade daqueles que o praticam.
- Sim - respondeu a 
outra -, Segismundo tem lutado muito pela redenção e, nessa luta, vem sendo um 
servo devotado de todos nós. Bem merece as alegrias desta hora.
A esse tempo, observei 
que a entidade convidada a guardar o reencarnante se mantinha à pequena 
distância de Raquel, entre os Espíritos Construtores.
Refletia sobre esse 
fato, quando alguém me tocou levemente, despertando-me a atenção:
Era Alexandre que 
sorria paternalmente, elucidando-me:
- Deixemos os nossos 
amigos, por alguns minutos, no suave contentamento das expansões afetivas. 
Iniciaremos o trabalho no momento oportuno. 
Perplexo, diante dos 
fatos novos para mim, eu não acomodara o raciocínio em face dos múltiplos 
problemas daquela noite. Por isso mesmo, alucinantes interrogações vagueavam-me 
no cérebro. O orientador percebeu-me o estado d’alma e, talvez por esse motivo, 
deu-me a impressão de mais paciente.
Valendo-me daquele 
instante, indiquei Segismundo, recolhido nos braços acolhedores que o guardavam, 
e perguntei:
- Nosso irmão 
reencarnante apresentar-se-á, mais tarde, entre os homens, tal qual vivia entre 
nós? Já que as suas instruções se baseiam na forma perispiritual preexistente, 
terá ele a mesma altura, bem como as mesmas expressões que o caracterizavam em 
nossa esfera?
Alexandre respondeu sem 
titubear:
- Raciocine devagar, 
André! Falamos da forma preexistente, nela significando o modelo de configuração 
típica ou, mais propriamente, o «uniforme humano». Os contornos e minúcias 
anatômicas vão desenvolver-se de acordo com os princípios de equilíbrio e com a 
lei da hereditariedade. 
A forma física futura 
de nosso amigo Segismundo dependerá dos cromossomos paternos e maternos; 
adicione, porém, a esse fator primordial, a influência dos moldes mentais de 
Raquel, a atuação do próprio interessado, o concurso dos Espíritos Construtores, 
que agirão como funcionários da natureza divina, invisíveis ao olhar terrestre, 
o auxilio afetuoso das entidades amigas que visitarão constantemente o 
reencarnante, nos meses de formação do novo corpo, e poderá fazer uma idéia do 
que vem a ser o templo físico que ele possuirá, por algum tempo, como dádiva da 
Superior Autoridade de Deus, a fim de que se valha da bendita oportunidade de 
redenção do passado e iluminação para o futuro, no tempo e no espaço. 
Alguns fisiologistas da 
Crosta concordam em asseverar que a vida humana é uma resultante de conflitos 
biológicos, esquecidos de que, muitas vezes, o conflito aparente das forças 
orgânicas não é senão a prática avançada da lei de cooperação 
espiritual.
- Segismundo terá então 
- insisti - uma forma física eventual, imprecisa, por enquanto, ao nosso 
conhecimento?
O instrutor esclareceu 
sem demora:
- Se estivéssemos 
diretamente ligados ao caso dele, estaríamos de posse de todas as informações 
referentes ao porvir, nesse particular, mas a nossa colaboração neste 
acontecimento é transitória e sem maior significação no tempo. Os orientadores 
de Segismundo, porém, nas esferas mais altas, guardam o programa traçado para o 
bem do reencarnante. Note que me refiro ao bem e não ao destino. Muita gente 
confunde plano construtivo com fatalismo. O próprio Segismundo e o nosso irmão 
Herculano estão de posse dos informes a que nos reportamos, porque ninguém 
penetra num educandário, para estágio mais ou menos longo, sem finalidade 
especifica e sem conhecimento dos estatutos a que deve obedecer.
Nesse ponto, o mentor 
generoso fez ligeiro intervalo e continuou em seguida:
- Os contornos 
anatômicos da forma física, disformes ou perfeitos, longilíneos ou brevilíneos, 
belos ou feios, fazem parte dos estatutos educativos. Em geral, a reencarnação 
sistemática é sempre um curso laborioso de trabalho contra os defeitos morais 
preexistentes nas lições e conflitos presentes. Pormenores anatômicos 
imperfeitos, circunstâncias adversas, ambientes hostis, constituem, na maioria 
das vezes, os melhores lugares de aprendizado e redenção para aqueles que 
renascem. 
Por isso, o mapa de 
provas úteis é organizado com antecedência, como o caderno de apontamentos dos 
aprendizes nas escolas comuns. Em vista disso, o mapa alusivo a Segismundo está 
devidamente traçado, levando-se em conta a cooperação fisiológica dos pais, a 
paisagem doméstica e o concurso fraterno que lhe será prestado por inúmeros 
amigos daqui. Imagine, pois, o nosso amigo voltando a uma escola, que é a Terra; 
assim procedendo, alimenta um propósito que é o da aquisição de valores novos. 
Ora, para realizá-lo terá de submeter-se às regras do educandário, renunciando, 
até certo ponto, à grande liberdade de que dispõe em nosso meio.
- Não poderíamos, porém 
- indaguei -, intitular semelhante prova de - «destino fixado»? 
O instrutor aduziu com 
paciência:
- Não incida no erro de 
muita gente. Isto implicaria obrigatoriedade de conduta espiritual. 
Naturalmente, a criatura renasce com independência relativa e, por vezes, 
subordinada a certas condições mais ásperas, em virtude das finalidades 
educativas, mas semelhante imperativo não suprime, em caso algum, o impulso 
livre da alma, no sentido de elevação, estacionamento ou queda em situações mais 
baixas. Existe um programa de tarefas edificantes a serem cumpridas por aquele 
que reencarna, onde os dirigentes da alma fixam a cota aproximada de valores 
eternos que o reencarnante é suscetível de adquirir na existência transitória. E 
o Espírito que torna à esfera de carne pode melhorar essa cota de valores, 
ultrapassando a previsão superior, pelo esforço próprio intensivo, ou 
distanciar-se dela, enterrando-se ainda mais nos débitos para com o próximo, 
menosprezando as santas oportunidades que lhe foram conferidas.
A essa altura, 
Alexandre interrompeu-se, talvez ponderando o tempo gasto em nossa conversação, 
e, como quem sentia necessidade de pôr termo à palestra, 
observou:
- Todo plano traçado na 
Esfera Superior tem por objetivos fundamentais o bem e a ascensão, e toda alma 
que reencarna no círculo da Crosta, ainda aquela que se encontre em condições 
aparentemente desesperadoras, tem recursos para melhorar sempre.
Logo após, convidou-me 
o orientador amigo a nos aproximarmos do casal.
Recordou Alexandre que 
a hora ia adiantada e devíamos entregar aos cônjuges felizes o sagrado 
depósito.
Os Construtores, por 
intermédio do mentor que os dirigia, pediram-lhe fizesse a prece daquele ato de 
confiança e observei que profundo silêncio se fizera entre todos.
Dispunha-se o instrutor 
ao serviço da oração, quando Raquel se lhe aproximou, e pediu, humilde: 
- Boníssimo amigo, se é 
possível, desejaria receber meu novo filho, de joelhos!...
Alexandre aquiesceu 
sorrindo e, mantendo-se entre ela, genuflexa, e Adelino que se conservava, como 
nós outros, de pé, extremamente comovido, começou a orar, estendendo as mãos 
generosas para o alto:
- «Pai de Amor e 
Sabedoria, digna-Te abençoar os filhos de Tua Casa Terrestre, que vão partilhar 
contigo, neste momento, a divina faculdade criadora! Senhor, faze descer, por 
misericórdia, a Tua bênção neste ninho afetuoso, transformado em asilo de 
reconciliação. Aqui nos reunimos, companheiros de luta no passado, acompanhando 
o amigo que retorna ao testemunho de humildade e compreensão de Tua 
lei!
 «Oh! Pai, fortifica-o 
para a travessia longa do rio do esquecimento temporário, permite que possamos 
manter sempre viva a sua esperança, ajuda-nos, ainda e sempre, para que possamos 
vencer todo o mal!
«Concede aos que 
recebem agora o novo ministério de orientação do lar, com o nascimento de um 
novo filho, a Tua luz generosa e santificada, que dissipa todas as sombras! 
Fortalece-lhes, Senhor, a noção de responsabilidade, abre-lhes a porta de Tua 
confiança sublime, conserva-os na bendita alegria de Teu amor desvelado! 
Restaura-lhes a energia para que recebam, jubilosos, a missão da renúncia até ao 
fim, santifica-Lhes os prazeres para que não se percam nos despenhadeiros da 
fantasia!
«Este, Senhor, é um ato 
de confiança de Tua bondade infinita que desejamos honrar para sempre! Abençoa, 
pois, o nosso trabalho amoroso e, sobretudo, Pai, suplicamos Tua graça para a 
nossa irmã que se entrega, reverente, ao divino sacrifício da maternidade. 
Unge-Lhe o coração com a Tua magnanimidade paternal, intensifica-Lhe o bom 
ânimo, dilata-lhe a fé no futuro sem fim! Sejam para ela, em particular, os 
nossos melhores pensamentos, nossos votos de paz e esperanças mais puras! 
«Acima de tudo, porém. 
Senhor, seja feita a Tua vontade em todos os recantos do Universo, e que nos 
caiba, a nós, humildes servos de Teu reino, a alegria incessante de 
reverenciar-Te e obedecer-Te para sempre!...»
Calara-se Alexandre, 
observando eu que todo o aposento se enchia de novas luzes. Reconheci que de 
todos nós, entidades espirituais que ali nos congregávamos, partiam raios 
luminosos que se derramavam sobre Raquel em pranto de emoção sublime, mas o 
fenômeno radioso não se circunscreveu a isto. Tão logo o meu orientador se 
calara, alguma coisa parecia responder à sua súplica. Leve rumor, que apenas 
encontrava eco em nossos ouvidos se fazia sentir acima de nossas cabeças. 
Ergui-me, surpreso, e pude ver que uma coroa brilhante e infinitamente bela 
descia do alto sobre a fronte de Raquel, ajoelhada, em silêncio. Tive a 
impressão de que a auréola se compunha de turmalinas eterizadas, que miraculoso 
ourives houvera tornado resplandecentes. Seu brilho feria-nos o olhar e o 
próprio Alexandre, ao fixá-la, curvou-se, reverente. A coroa sublime, sustentada 
por Espíritos muito superiores a nós, que eu não podia ver, descansou sobre a 
fronte de Raquel.
Notei, embora a comoção 
do momento, que o meu instrutor fez um gesto à depositária de Segismundo, para 
que efetuasse a entrega do reencarnante aos braços maternais.
Raquel, dando-me a 
impressão de que não via a luminosa auréola, ergueu os olhos rasos de lágrimas e 
recebeu o depósito que o Céu lhe confiava. Alexandre estendeu-Lhe a destra, 
ajudando-a a levantar-se, e vi que Adelino se aproximou da esposa, estreitando-a 
carinhosamente nos braços, beijando-lhe a fronte orvalhada de 
luz.
Foi então, ó divino 
mistério da Criação Infinita de Deus, que a vi apertar a «forma infantil» de 
Segismundo de encontro ao coração, mas tão fortemente, tão amorosamente, que me 
pareceu uma sacerdotisa do Poder da Divindade Suprema. Segismundo ligara-se a 
ela como a flor se une à haste. Então compreendi que, desde aquele momento, era 
alma de sua alma aquele que seria carne de sua carne.
Alexandre recomendou 
aos amigos presentes, com exceção dos Construtores, de Herculano e de mim, que 
se afastassem da câmara, conduzindo Adelino, confortado e feliz, a pequena 
excursão pelo exterior, e, guiando Raquel, com infinito cuidado, ao corpo 
físico, disse-nos:
- Agora, auxiliemos 
nosso amigo no primeiro contacto com a matéria mais densa.
Raquel acordara, 
experimentando no coração estranha ventura. Abraçou-se, instintivamente, ao 
companheiro adormecido, como o navegante feliz, ao sentir-se em porto de 
tranqüilidade e segurança. Havia atravessado o espesso véu de vibrações que 
separa o plano espiritual da esfera física e não conservava qualquer 
reminiscência precisa da sublime felicidade de momentos antes; todavia, seu 
sentimento de júbilo permanecia dilatado, suas esperanças transbordavam e uma 
confiança imensa no porvir acalentava-lhe, agora, o coração. Seria mãe pela 
segunda vez? - pensava, contente. Essa idéia, que lhe não despontava no cérebro 
por acaso, balsamizava-lhe a alma com deliciosa alegria. Estava pronta para o 
serviço divino da maternidade, confiaria no Senhor como escrava de sua bondade 
infinita,
Não via a esposa de 
Adelino que Alexandre e os Construtores Espirituais lhe rodeavam a mente de 
sublime luz, banhando-Lhe as idéias com a água viva do amor 
espiritual.
Observando que a forma 
de Segismundo se ligara a ela, por divino processo de união magnética, recebi a 
determinação do meu orientador para seguir-lhe, de perto, o trabalho de auxilio 
na ligação definitiva de Segismundo à matéria.
Indicando os órgãos 
geradores de Raquel e fazendo incidir sobre eles a sua luz, Alexandre 
preveniu-me, quanto à grandeza do quadro sob nossa observação, acentuando, 
respeitosamente:
- Temos aqui o altar 
sublime da maternidade humana. Perante o seu augusto tabernáculo, ao qual 
devemos a claridade divina de nossas experiências, devemos cooperar, na tarefa 
do amor, guardando a consciência voltada para a Majestade 
Suprema.
Inclinei-me para a 
organização feminina de nossa irmã reencarnada, dentro de uma veneração que 
nunca, até então, havia sentido.
Auxiliado pelo concurso 
magnético do mentor querençoso, passei a observar as minúcias do fenômeno da 
fecundação.
Através dos condutos 
naturais, corriam os elementos sexuais masculinos, em busca do óvulo, como se 
estivessem preparados de antemão para uma prova eliminatória, em corrida de três 
milímetros, aproximadamente, por minuto. Surpreendido, reconheci que o número 
deles se contava por milhões e que seguiam, em massa, para frente, em impulso 
instintivo, na sagrada competição.
No silêncio sublime 
daqueles minutos, compreendi que Alexandre, em vista de ser o missionário mais 
elevado do grupo em operação de auxilio, dirigia os serviços graves da ligação 
primordial. Segundo depreendi, ele podia ver as disposições cromossômicas de 
todos os princípios masculinos em movimento, depois de haver observado, 
atentamente, o futuro óvulo materno, presidindo ao trabalho prévio de 
determinação do sexo do corpo a organizar-se.
Após acompanhar, 
profundamente absorto no serviço, a marcha dos minúsculos competidores que 
constituíam a substância fecundante, identificou o mais apto, fixando nele o seu 
potencial magnético, dando-me a idéia de que o ajudava a desembaraçar-se dos 
companheiros para que fosse o primeiro a penetrar a peque nina bolsa maternal. O 
elemento focalizado por ele ganhou nova energia sobre os demais e avançou 
rapidamente na direção do alvo. A célula feminina que em face do microscópico 
projétil espermático se assemelhava a um pequeno mundo arredondado de açúcar, 
amido e proteínas, aguardando o raio vitalizante, sofreu a dilaceração da 
cutícula, à maneira de pequenina embarcação torpedeada, e enrijeceu-se, de modo 
singular, cerrando os poros tenuíssimos, como se es¬tivesse disposta a 
recolher-se às profundezas de si mesma, a fim de receber, face a face, o 
esperado visitante, e impedindo a intromissão de qualquer outro dos 
competidores, que haviam perdido a primeira posição na grande prova. Sempre sob 
o influxo luminoso-magnético de Alexandre, o elemento vitorioso prosseguiu a 
marcha, depois de atravessar a periferia do óvulo, gastando pouco mais de quatro 
minutos para alcançar o seu núcleo. Ambas as forças, masculina e feminina, 
formavam agora uma só, convertendo-se ao meu olhar em tenuíssimo foco de luz. O 
meu orientador, absolutamente entregue ao seu trabalho, tocou a pequenina forma 
com a destra, mantendo-se no serviço de divisão da cromatina, cujas 
particularidades são ainda inacessíveis à minha compreensão, conservando a 
atitude do cirurgião seguro de si, na técnica operatória. Em seguida Alexandre 
ajustou a forma reduzida de Segismundo, que se interpenetrava com o organismo 
perispirítico de Raquel, sobre aquele microscópico globo de luz, impregnado de 
vida, e observei que essa vida latente começou a movimentar-se.
Havia decorrido 
precisamente um quarto de hora, a contar do instante em que o elemento ativo 
ganhara o núcleo do óvulo passivo.
Depois de prolongada 
aplicação magnética, que era secundada pelo esforço dos Espíritos Construtores, 
Alexandre aproximou-se de mim e falou:
- Está terminada a 
operação inicial de ligação. Que Deus nos proteja.
Sentindo a admiração 
com que eu seguia, agora, o processo da divisão celular, em que se formava 
rapidamente a vesícula de germinação, o orientador acentuou:
- O organismo maternal 
fornecerá todo o alimento para a organização básica do aparelho físico, enquanto 
a forma reduzida de Segismundo, como vigoroso modelo, atuará como imã entre 
limalhas de ferro, dando forma consistente à sua futura manifestação no cenário 
da Crosta.
Estava boquiaberto, 
diante do que me fora dado observar. E, sentindo que o fenômeno da redução 
perispiritual de Segismundo era um fato espantoso aos meus olhos, acrescentou 
bondosamente o instrutor:
- Não se esqueça, 
André, de que a reencarnação significa recomeço nos processos de evolução ou de 
retificação. Lembre-se de que os organismos mais perfeitos da nossa Casa 
Planetária procedem inicialmente da ameba. Ora, recomeço significa 
«recapitulação» ou «volta ao princípio». Por isso mesmo, em seu desenvolvimento 
embrionário, o futuro corpo de um homem não pode ser distinto da formação do 
réptil ou do pássaro. O que opera a diferenciação da forma é o valor evolutivo, 
contido no molde perispirítico do ser que toma os fluidos da carne. Assim, pois, 
ao regressar à esfera mais densa, como acontece a Segismundo, é indispensável 
recapitular todas as experiências vividas no longo drama de nosso 
aperfeiçoamento, ainda que seja por dias e horas breves, repetindo em curso 
rápido as etapas vencidas ou lições adquiridas, estacionando na posição em que 
devemos prosseguir no aprendizado. Logo depois da forma microscópica da ameba, 
surgirão no processo fetal de Segismundo os sinais da era aquática de nossa 
evolução e, assim por diante, todos os períodos de transição ou estações de 
progresso que a criatura já transpôs na jornada incessante do aperfeiçoamento, 
dentro da qual nos encontramos, agora, na condição de humanidade.
A hora ia muita 
avançada.
Sentindo que Alexandre 
não se demoraria, acerquei-me, ainda uma vez, do quadro de formação fetal. O 
óvulo fecundado animava-se de profunda vida, evoluindo para a vesícula 
germinal.
O orientador amigo 
convidou-me à retirada e falou:
- Meu trabalho está 
findo. Entretanto, André, considerando as suas necessidades de valores novos, 
poderei solicitar aos Construtores a aquiescência de sua cooperação fraterna nos 
serviços protetores, sempre que você conte com oportunidade de vir até 
aqui.
Rejubilei-me, 
encantado. Efetivamente, não desejava outra coisa. Aquele estudo de embriologia, 
sob novo prisma, era fascinante e maravilhoso. 
Enquanto dava expansão 
à minha alegria íntima, o obsequioso mentor combinava providências, relativas ao 
meu concurso e aprendizado simultâneos, ouvindo os companheiros.
Daí a momentos, quando 
trocávamos saudações de despedida, Herculano, com muita simpatia e acolhimento, 
declarou que permaneceria à minha espera, sempre que eu pudesse voltar à 
residência de Adelino, para colaborar nos trabalhos de 
proteção.
Do livro 
“Missionários da Luz”. Espírito André Luiz.
 
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| Título: 
"MISSIONÁRIOS DA LUZ" – 20 
capítulos; 347 páginas Autor: Espírito ANDRÉ LUIZ (pseudônimo 
espiritual de um consagrado médico que exerceu a Medicina no Rio de 
Janeiro)
 Psicografia: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER (concluída em 
Maio/1945)
 Edições: Primeira edição em 1945, pela Federação Espírita 
Brasileira (Rio de Janeiro/RJ); em Dezembro/2001: 36ª Edição (do 442° ao 461° 
milheiro)
 Conteúdo 
doutrinário:
 Essa obra descreve vários 
processos mediúnicos e como se desenvolvem as providências do plano espiritual, 
antes, durante e após as reuniões mediúnicas. Nelas, são pormenorizados 
atendimentos a encarnados e desencarnados, sobressaindo preciosos 
ensinamentos.
 Há descrição da sublimidade da reencarnação de um espírito, a 
partir da obra-prima que é a fecundação.
 Raramente se encontrará na 
literatura espírita fonte igual de ensinamentos sobre a programação da 
existência terrena, que afinal de contas, não passa de uma etapa da bênção maior 
que é a vida!
 SINOPSE - 
Capítulo a Capítulo
 
 Cap 1 – O 
psicógrafo – É detalhada a participação de Espíritos protetores na reunião 
mediúnica, particularmente quanto à psicografia, cujos mecanismos 
psicossomáticos são detalhados. Muito útil aos médiuns psicógrafos.
 Cap 2 – A 
epífise – 
É a glândula da vida mental. Segrega “hormônios psíquicos”: As funções 
espirituais dessa glândula, denominada “pineal” (forma de pinha) são trazidas 
para os ensinos espíritas, S.M.J., pela primeira vez. Tem potencial magnético 
controlador das glândulas genitais. Atua qual poderosa usina segregando 
unidades-força nas energias geradoras. É, sobretudo, a glândula da vida 
espiritual do homem encarnado.
 Cap 3 – 
Desenvolvimento mediúnico – Demonstra as providências 
da Espiritualidade, preceden-tes à reunião mediúnica propriamente dita. Médiuns, 
à visão espiritual, apresentavam: um, "bacilos psíquicos" (larvas) da tortura 
sexual; outro, intoxicação alcoólica ampla, tendo pequeninas figuras 
horripilantes, vorazes, ao longo da veia porta...; uma médium, com o ventre 
superlotado de alimentação, vítima da excessiva alimentação, trazia voracíssimas 
lesmas (parasitos destruidores).
 Cap 4 - 
Vampirismo – A. Luiz inaugura, no 
Espiritismo, o emprego das palavras "vampiro/vampirismo", quando trata de 
obsessor/obsessão (desencarnado, ainda rudemente fixado às sensações físicas, 
roubando energias e sensações deletérias de encarnado viciado em alcoolismo, 
tabagismo, toxicomania, sexo desvairado e, de forma geral, nos demais 
vícios);
 - é registrado o problema da alimentação de carne e dedica especial 
atenção ao tratamento do ser humano para com os animais, acenando com uma "nova 
era", quando o homem cultivará o solo com amor e os respeitará (aos 
animais);
 Cap 5 – 
Influenciação – Comentários sobre os 
Espíritos desencarnados, exploradores, que aguardam à porta dos Centros 
Espíritas a saída dos médiuns invigilantes... E ainda, sobre o abandono das 
reuniões mediúnicas, por parte dos médiuns...
 Cap 6 – A 
oração – 
A.Luiz rememora suas atividades de médico terreno. Agora, diante de um “doente 
da alma”, vampirizado, como atendê-lo?... O Instrutor espiritual, em resposta, 
demonstra como a prece constrói fronteiras vibratórias: a oração é o mais 
eficiente antídoto do vampirismo. Há preciosa informação sobre os bilhões de 
raios cósmicos que a cada minuto descem sobre a fronte humana, oriundos do solo, 
da água, dos metais, dos vegetais, dos animais e dos próprios seme-lhantes — 
todos, sem contar os raios solares, caloríficos e luminosos; igualmente, emanam 
sobre cada um de nós, os terrenos, trilhões de raios psíquicos(!)
 Cap 7 – Socorro 
Espiritual – É lecionado que à noite há 
mais facilidade para ajuda espiritual, quando os raios solares diretos não 
desintegram certos recursos dos cooperadores espirituais. Também é à noite que 
os encarnados sofrem os fenômenos desastrosos mais sérios da circulação, pela 
invigilância na criação de fantasmas cruéis, no campo vivo do pensamento.
 O 
capítulo registra um caso de "moratória" (enfermo grave, prestes à 
desencarnação, que recebe energias que lhe acrescentam mais 5 meses de 
existência terrena).
 Cap 8 – No 
plano dos sonhos – É citado o curso 
espiritual ministrado por Instrutor espiritual a 300 (trezentos) alunos, 
encarnados e desdobrados pelo sono, dos quais apenas 32 (trinta e dois) 
assimilam as lições. É sugerido como o sono pode ser excelente oportunidade de 
boas realizações e de aprendizado, além da chance de reencontro com parentes ou 
amigos desencarnados. Há o relato singular do pavor-pesadelo de um encarnado que 
ao dormir depara-se com um amigo desencarnado, sobre o qual fizera alusões 
desabonadoras durante o dia...
 Cap 9 – 
Mediunidade e fenômeno – O capítulo explana sobre a 
necessidade de planejamento, disciplina e construtividade para todos os 
candidatos às atividades mediúnicas, os quais se iniciarão com trabalhos em 
pequenas tarefas, para depois, progressivamente, alcançarem grandes obras. Há 
interessantíssimo registro: o Espírito de Verdade é Jesus(!).
 O 
desenvolvimento mediúnico não deve ser provocado. As expressões fenomênicas nos 
trabalhos mediúnicos deverão estar em plano secundário, pois o Espírito é 
tudo.
 Cap 10 – 
Materialização – Mostra-nos este capítulo 
como Sessões de Materialização são trabalhosas, expondo seus grandes riscos para 
os médiuns, tendo em vista que poucos reúnem as condições espirituais que elas 
exigem: valores morais legitimamente consolidados.
 NOTA: Lembramos aos 
leitores que estávamos em 1945 — reuniões de materialização aconteciam quase 
como rotina... e ainda por cima, em residências...
 Cap 11 
– 
Intercessão – Atendendo à solicitação pungente de uma viúva (encarnada, 
desdobrada pelo sono) o Instrutor, levando A.Luiz, vai à residência dela. Lá, se 
deparam com inúmeros Espíritos desencarnados, familiares diversos, atraídos 
pelas vibrações pesadas e doentias dos encarnados. Esses Espíritos estavam 
envolvidos em círculos escuros, à mesa de refeições da família, absorvendo as 
emanações dos alimentos (pelas narinas). É explicado como tal se processa: 
vampirização recíproca... É-nos mostrado o terrível ambiente de um matadouro, 
com Espíritos desencarnados atirando-se vampirescamente ao sangue dos animais 
abatidos. O capítulo mostra ainda o martírio de um suicida, atormentado pelo 
remorso de ter assassinado um amigo para roubar-lhe a noiva.
 Cap 12 – 
Preparação de experiências – Registra 
providências no Planejamento de Reencarnações e os mapas dos futuros corpos 
físicos; trata ainda do interessante e raríssimo caso dos "completistas" 
(encarnados que aproveitam todas as oportunidades de evolução).
 A medicina do 
futuro, certamente levará em conta o psiquismo, identificando-o como 
responsável, senão por todas, mas pela maioria das patologias.
 Cap 13 – 
Reencarnação – (seguramente 
o mais importante de todo o livro) - Após comentários sobre o perdão e o sexo, 
descreve a sublimidade que é a reencarnação de um Espírito, a partir da 
obra-prima que é a fecundação. É focalizada a interessantíssima questão das 
“fecundações físicas” e das “fecundações psíquicas”, aquela, nascendo das uniões 
físicas, no domínio das formas, e esta, das uniões espirituais, nos 
resplandecentes domínios da alma. Somos informados que o corpo perispiritual, 
que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no 
sangue(!).
 NOTA: Raramente se encontrará na literatura espírita fonte igual 
de ensinamentos sobre a programação da existência terrena, que afinal de contas, 
não passa de uma etapa da bênção maior que é a vida !
 Cap 14 – 
Proteção – 
É citado que muitos são os casais “sem a coroa dos filhos”, por terem agido 
egoisticamente, desde o presente ou em vidas passadas. Há a informação sobre a 
reencarnação, que só se completa por volta de sete anos do parto.
 É descrita 
a proteção espiritual na fase fetal e embrionária do ser humano.
 Cap 15 – 
Fracasso – 
O capítulo é de grande densidade dramática, narrando como uma gravidez é 
interrompida por invigilância (aborto indireto) da mulher grávida que o pratica 
pela terceira vez: sai pela noite, em busca de prazeres mundanos; no amanhecer, 
perde aquele que lhe seria filho (o aborto é-lhe incensado por Espíritos que a 
vampirizavam e que por isso mesmo não lhe admitiam ser mãe, já que com um filho, 
não mais lhes daria atenção...).
 Cap 16 – 
Incorporação – O capítulo demonstra todo 
o processo da psicofonia ("incorporação"). Um Espírito desencarnado é levado à 
reunião mediúnica do mesmo grupo de médiuns que participava, quando encarnado. A 
médium que o atenderá na reunião (à noite), horas antes tem graves problemas 
conjugais (marido alcoólico) e é-nos demonstrado o abençoado apoio espiritual 
que ela então recebe, mercê do seu devotamento.
 Cap 17 – 
Doutrinação – Ao doutrinar Espíritos os 
médiuns acabam doutrinando-se...
 Aqui vemos o Espírito de um sacerdote ser 
doutrinado por interferência de sua mãe (também desencarnada) que se 
responsabilizava por tê-lo induzido ao sacerdócio, quando encarnados, sendo que, 
ao contrário, ele renascera para elevada tarefa no campo da filosofia 
espiritualista. É citada uma interessante contrapartida das sessões de 
materialização: quando elas acontecem no Plano Espiritual, para que 
desencarnados sofredores sejam atendidos na doutrinação... por encarnados. Há 
explicações sobre a ocorrência da doutrinação, nas reuniões mediúnicas, 
justificando porque às vezes ela precisa ser realizada por encarnados (doam seu 
“magnetismo humano”).
 NOTA: O capítulo mostra como a Espiritualidade 
atende dois Espíritos necessitados:
 - o primeiro desconhece a própria morte — 
vê, à distância, seus despojos em decomposição;
 - o segundo, quer agredir aos 
encarnados, com auxílio da médium — vê-se diante de um esqueleto, de terrível 
aspecto (composto pelos Espíritos Instrutores), desistindo da agressão.
 Na 
nossa opinião, tão forte recurso de convencimento requer enorme prudência na sua 
aplicação por médiuns doutrinadores encarnados, pelo que o desaconselhamos.
 Cap 18 – 
Obsessão – 
Trata da obsessão e da desobsessão: vários vingadores, sendo previamente 
doutrinados no Plano Espiritual, antes de se manifestarem pelos médiuns.
 O 
capítulo sugere extrema cautela aos médiuns lidadores das obsessões, muitos dos 
quais adiantam diagnósticos apressados e fazem promessa de curas no campo 
físico...
 Cap 19 – Passes 
– É 
narrado o caso de um encarnado, renitente na invigilância, que após ser atendido 
por dez vezes com socorro completo, será deixado entregue a si mesmo, só 
voltando a ser socorrido pela Espiritualidade após adotar nova resolução: 
receberá, por ora, alguma melhora, apenas.
 Trata o capítulo, de forma 
detalhada, dos passes — especifica a necessidade de conhecimentos 
especializados, além de critério e responsabilidade por parte dos 
passistas.
 Ao serem descritas várias modalidades de passes, com movimentos 
das mãos, de alto a baixo, rotatórios e longitudinais, isso parece induzir-nos a 
ter muita cautela quando quisermos avançar críticas às técnicas dos 
passes...
 Cap 20 – Adeus 
– O 
Instrutor espiritual irá para estágio em esferas mais altas.
 Antes, promove 
reunião em “Nosso Lar” para as despedidas com seus inúmeros alunos, dentre os 
quais A.Luiz. Comovidos, todos, vêem o abnegado Instrutor orar com infinita 
beleza, “como se conversasse com o Mestre presente, embora 
invisível”.
 
 PERSONAGENS CITADOS:
 ANDRÉ LUIZ - é o Autor 
Espiritual. Permaneceu no Umbral por oito anos. Somente quando orou com fé pôde 
ser recolhido à Instituição Espiritual "Nosso Lar" (situada na psicosfera da 
cidade do Rio de Janeiro), por interferência de sua mãe. Graças à sua abnegação 
e trabalhos incansáveis de auxílio ao próximo, alguns anos mais tarde conquistou 
a faculdade da volitação.
 - Informa, ao fim do livro "NOSSO LAR" (o primeiro 
de sua série), que recebeu a comenda de "Cidadão de Nosso Lar". (André Luiz é um 
exemplo dignificante de auto-reforma).
 - Na obra "OS MENSAGEIROS", reporta 
vários aprendizados que alcançou junto à equipe de auxiliares-aprendizes, no 
"Centro de Mensageiros", quando, após estágio e uma viagem à Crosta, teve 
oportunidade de pôr em prática as lições recebidas.
 - Agora, com 
"MISSIONÁRIOS DA LUZ", A.Luiz aprimora os conhecimentos já auferidos, 
estagian-do com o Instrutor ALEXANDRE num recinto terrestre, onde se desenrolam 
inúmeras atividades mediúnicas.
 
 OBS: Citaremos a seguir os nomes 
dos personagens do livro "MISSIONÁRIOS DA LUZ", colocando entre parênteses (d) = 
desencarnado; (e) = encarnado, e os respectivos capítulo e página onde são pela 
primeira vez mencionados.
 
 Instrutor ALEXANDRE (d) - 1/11 - 
Espírito de "elevadas funções" no "NOSSO LAR". Está presente de ponta a ponta no 
livro "MISSIONÁRIOS DA LUZ”. Tem profunda sabedoria e bondade.
 CALIXTO 
(d) - 1/17 - comunicante por psicografia.
 CECÍLIA (e) - 6/65 - 
desdobrada, em sono, atende ao marido que é doente grave (anomalias psíquicas, 
ligadas ao sexo)
 JUSTINA (d) - 7/70 - amiga do Instrutor 
ALEXANDRE
 ANTÔNIO (e) - 7/70 - filho de JUSTINA (está gravemente enfermo - é 
contemplado com a "morató-ria" de + 5 meses de vida física)
 Irmão 
FRANCISCO (d) - 7/72 - chefe de grupo socorrista
 AFONSO (e) - 7/73 
- quando desdobrado pelo sono, é prestimoso doador de energias 
espirituais
 VIEIRA e MARCONDES (e) - 8/85 - alunos faltosos ao Curso 
do Instrutor ALEXANDRE
 SERTÓRIO (d) - 8/85 - chefe de grupo espiritual 
que freqüenta referido Curso
 BARBOSA (d) - 8/90 - aborreceu-se com 
VIEIRA e esperou-o adormecer para "acertar contas", ou melhor, impedir que 
VIEIRA, quando na vigília, continuasse a recriminá-lo
 Irmão CALIMÉRIO 
(d) - 10/108 - Instrutor Espiritual
 Irmão ALENCAR (d) - 10/113 – 
médico, controlador mediúnico
 VERÔNICA (d) - 10/113 - 
enfermeira
 ESTER (e) - 11/123 - ficou viúva do segundo noivo, RAUL, 
que foi assassinado (o primeiro noivo, NOÉ, suicidou-se)
 ETELVINA (e) 
- 11/124 - prima de ESTER - tem razoável evolução espiritual
 AGOSTINHO e 
esposa (e) 11/129 - tios de ESTER - idosos, pobres, queixosos da 
vida
 ROMUALDA (d) - 11/147 - auxiliar da Turma de Socorro do 
Ministério do Auxílio
 SEGISMUNDO (d) - 12/154 - preparando-se para 
reencarnar (em processo normal)
 ADELINO e RAQUEL (e) - 12/155 - serão 
pais de Segismundo, que em vida passada, prejudicou-os
 HERCULANO (d) - 
12/155 - Espírito elevado
 JOSINO (d) - 12/161 – Assistente, auxiliar 
do "Planejamento de Reencarnações"
 MANASSÉS (d) - 12/167 - auxiliar do 
"Planejamento de Reencarnações"
 SILVÉRIO (d) - 12/168 - prestes a 
reencarnar - aceitou, resignado, existência com duração de aproximadamente 70 
anos, com lesão na perna, como "antídoto à vaidade"...
 ANACLETA (d) - 
12/172 - auxiliar do "Planejamento de Reencarnações"
 JOÃOZINHO (e) - 
13/184 - criança, filho de ADELINO e RAQUEL
 APULEIO (d) - 14/236 - 
chefe dos "Espíritos Construtores"
 VOLPINI (d) - 15/251 - reencarnante 
em processo complicado - (mãe já está no 7° mês de gestação)
 CESARINA 
(e) - 15/252 - futura mãe de VOLPINI - por invigilância, dá à luz a um 
natimorto, que viria a ser VOLPINI, o qual, antes do aborto, foi socorrido por 
ALEXANDRE
 FRANCISCA (e) - 15/257 - amiga de CESARINA, tenta 
dissuadi-la da invigilância
 DIONÍSIO FERNARDES (d) - 16/260 - 
recolhido a uma Instituição de Socorro
 OTÁVIA (e) - 16/260 - médium de 
psicofonia - marido tenta impedi-la do exercício mediúnico
 EUCLIDES 
(d) - 16/261 - cooperador espiritual no Centro Espírita
 LEONARDO 
(e) - 16/265 - marido de OTÁVIA - é pessoa perturbada
 GEORGINA (e) 
- 16/270 - tia de LEONARDO - auxilia OTÁVIA a não faltar ao C.E.
 MARINHO 
(d) - 17/278 - Espírito em dificuldades (foi sacerdote 
católico)
 NECÉSIO (d) - 17/284 - cooperador espiritual, também 
sacerdote católico
 ANACLETO (d) - 19/325 - chefia trabalhos de 
passes
 LÍSIAS (d) - 20/337 - amigo de ANDRÉ LUIZ
 EPAMINONDAS 
(d) - 20/344 - discípulo mais respeitável do Mentor ALEXANDRE
 TERMOS POUCO 
USADOS:
 A título de 
colaboração, registramos abaixo o significado ou origem de alguns termos pouco 
usados, que eventualmente aparecem ao longo do texto de “Missionários da 
Luz”:
 
 
| 
TERMOS | 
CAPÍTULO | 
PÁGINA | 
S I G N 
I F I C A D O |  
| 
Refocilar-se | 
2 | 
23 | 
(verbo) = refestelar-se; 
recrear-se (no charco) |  
| 
Aluviões | 
3 | 
28 | 
(subst) = depósitos de 
cascalhos/corpúsculos |  
| 
Epidídimo | 
3 | 
28 | 
(subst) = pequeno corpo 
situado nos testículos |  
| 
Cromatina | 
3 | 
30 | 
(subst) = substância do 
núcleo celular |  
| 
Nefron | 
3 | 
31 | 
(subst) = unidade 
morfológica do rim |  
| 
Sigmóide | 
3 | 
31 | 
(subst) = válvula ou 
cavidade do intestino grosso/humano |  
| 
Escalracho | 
4 | 
38 | 
(subst) = gramínea nociva 
às searas |  
| 
Avelhantado | 
5 | 
46 | 
(adjet) = tornado velho 
prematuramente |  
| 
Coorte | 
5 | 
47 | 
(subst) = multidão de 
pessoas; tropa |  
| 
Encomiásticas | 
5 | 
48 | 
adjet) = 
elogiosas |  
| 
Azáfama | 
7  | 
76 | 
(subst) = muita pressa; 
urgência; trabalho muito ativo |  
| 
Bulha | 
7 | 
76 | 
(subst) = confusão de 
sons |  
| 
Remoques | 
8 | 
89 | 
(subst) = insinuações 
maliciosas; zombaria |  
| 
Torva | 
11 | 
134 | 
(adjet) = perturbada; 
sombria |  
| 
Rútila | 
12 | 
166 | 
(adjet) = resplandecente; 
muito brilhante |  
| 
Tálamo | 
13 | 
207 | 
(subst) = leito 
conjugal |  
| 
Querençoso | 
13 | 
232 | 
(adjet) = benévolo; 
afetuoso |  
| 
Símile | 
14 | 
244 | 
(subst) = semelhante; 
análogo |  
| 
Gliais | 
16 | 
267 | 
(subst) = células do 
sistema nervoso |  
| 
Bulhento | 
16 | 
269 | 
(adjet) = desordeiro; 
arruaceiro |  
| 
Patibulares | 
17 | 
285 | 
(adjet) = figura de aspecto 
criminoso |  
| 
Stradivarius | 
18 | 
318 | 
(subst) = nome de famoso 
fabricante de violinos |  
| 
Exorna  | 
19 | 
331 | 
(verbo) = ornamenta; 
enfeita; orna |  
RIBEIRÃO 
PRETO/SPEurípedes Kühl – Responsável
 SOCIEDADE ESPÍRITA ALLAN 
KARDEC
 Rua Monte Alverne, 667 – Ribeirão 
Preto/SP
 |  
 |  
 |  
 |