VEREMOS
TAMBÉM O ESTUDO DOS MAPAS DA FUTURA FORMA FÍSICA E O VÍNCULO ENTRE PAIS E
FILHOS.
CONHECER O ESPIRITISMO NÃO IMPLICA EM SE RENUNCIAR A
ATUAL CRENÇA RELIGIOSA MAS EM ALARGAR OS
CONHECIMENTOS PARA ALÉM DOS LIMITES DA
MATÉRIA.
PERMITA-SE
CONHECER A DOUTRINA ESPÍRITA.
carlos
eduardo cennerelli
Pesquisa e
Formatação
Do livro:
Missionários da Luz
Série: Nosso
Lar
Autor: André
Luiz (Espírito)
Psicografia:
Francisco Cândido Xavier
Oração de Druso
(instrutor de André Luiz), antes de sua reencarnação.
AÇÃO e REAÇÃO -
Francisco Cândido Xavier – André Luiz - 17ª edição. * - @1956
Druso ergueu-se e rogou permissão para
orar à despedida.
Todas as frontes penderam silenciosas,
enquanto a voz dele se elevou para o Infinito, à maneira de melodia emoldurada
de lágrimas.
- Senhor Jesus - clamou humilde - neste instante em que te oferecemos o
coração, dera que nossa alma se incline, reverente, para agradecer-te as bênçãos
de luz que a tua incomensurável bondade aqui nos concedeu em cinqüenta anos de
amor...
Tu, Mestre, que ergueste Lázaro do
sepulcro, levantaste-me também das trevas para a alvorada remissora, lançando no
inferno de minha culpa o orvalho de tua compaixão...
Estendeste os braços magnânimos ao meu
espírito mergulhado na lodosa corrente do crime.
Trouxeste-me do pelourinho do remorso
para o serviço da esperança.
Reanimaste-me quando minhas forças
desfaleciam...
Nos dias agoniados, foste o alimento de
minhas ânsias; Nas sendas mais escabrosas, eras, em tudo, o meu companheiro
fiel.
Ensinaste-me, sem ruído, que somente
através da recuperação do respeito a mim mesmo, no pagamento de meus débitos, é
que poderei empreender a reconquista de minha paz...
E confiaste-me, Senhor, o trabalho
neste pouso restaurador, com assistência constante de tua benevolência infinita,
a fim de que eu pudesse avançar das sombras da noite para o fulgor de novo
dia!...
Agradeço-te, pois, os instrutores que
me deste, a cuja devoção afetuosa tão pesado tenho sido, os companheiros
generosos que tantas vezes me suportaram as exigências e os irmãos enfermos que
tantos ensinamentos preciosos me trouxeram ao coração!...
E agora, Senhor, que a esfera dos
homens me descerrará de novo as portas, acompanha-me, por acréscimo de
misericórdia, com a graça de tua bênção.
Não permitas que o reconforto do mundo
me faça esquecer-te e constrange-me ao convívio da humildade para que o orgulho
me não sufoque.
Dá-me a luta edificante por mestra do
meu resgate e não retires o teu olhar de sobre os meus passos, ainda que, para
isso, deva ser o sofrimento constante a marca de meus
dias.
E, se possível, deixa que os irmãos
desta casa me amparem com os seus pensamentos em orações de auxilio, para que,
no pedregoso caminho da regeneração de que careço, não me canse de louvar-te o
excelso amor para sempre!...
Calou-se Druso, em pranto.
PREPARAÇÃO
DE EXPERIÊNCIAS
André Luiz
Cap 12 (Missionários da
Luz)
– Preparação de
experiências –
Registra providências no
Planejamento de Reencarnações e os mapas dos futuros corpos físicos; trata ainda
do interessante e raríssimo caso dos "completistas" (encarnados que aproveitam
todas as oportunidades de evolução).
A medicina do futuro,
certamente levará em conta o psiquismo, identificando-o como responsável, senão
por todas, mas pela maioria das patologias.
CENTRO DE PLANEJAMENTO DE
REENCARNAÇÕES
André Luiz
(Do livro
"Missionários da Luz", cap. 12, Francisco Cândido Xavier, edição
FEB)
Como se processam as
reencarnações?
Existem métodos,
planejamentos, diretrizes e escolhas?
Podemos decidir qual
corpo tomaremos na nova encarnação?
Todas as pessoas
possuem esta liberdade?
E os detalhes do corpo, como altura, peso,
traços faciais, cor dos olhos, cabelos e pele e outras minúcias, são obra do
acaso, herança genética ou fruto de elaborada engenharia
celeste?
Somos "assim ou assado" porque Deus quer ou
quis ou haverá, no Além, por trás de cada ser renascido, um sofisticado
instituto de planejamento de reencarnações?
Se a sua mente vive repleta de perguntas sobre o
assunto, se a sua inteligência visualiza outra dinâmica para o incessante vaivém
da vida, se você não suporta mais ouvir respostas do tipo "porque sim", "só Deus
sabe" e "tá na Bíblia" para explicar tantas e tão angustiantes questões, aqui
estão algumas explicações bem mais conclusivas... e coerentes! - Instituto André
Luiz.
Do livro: Missionários da
Luz
Série: Nosso
Lar
Autor: André Luiz
(Espírito)
Psicografia: Francisco Cândido
Xavier
Do livro:
Missionários da Luz Série: Nosso Lar Autor: André Luiz
(Espírito) Psicografia: Francisco Cândido
Xavier
|
André
Luiz
(Do livro "Missionários da Luz", cap. 12, Francisco Cândido Xavier,
edição FEB)
A sós com Alexandre, mentor devotado
e amigo, comecei a meditar na possibilidade de contribuir igualmente no caso que
se me deparava. Nunca tivera oportunidade de acompanhar, de perto, um
processo de reencarnação, estudando os ascendentes espirituais nas questões da
embriologia. Não seria interessante, para mim, utilizar a
experiência? Nesse propósito, dirigi-me ao instrutor, sem falar, porém, da minha
pretensão em sentido direto:
- Notável para mim a solicitação de
hoje -exclamei. - Longe estava de pensar, no mundo, na multiplicidade de tarefas
atribuídas aos benfeitores e missionários desencarnados. A extensão do serviço
em nosso campo de ação assombraria a qualquer mortal.
- Sem dúvida - respondeu o mentor,
atencioso -, os trabalhos se desdobram em todas as direções. O pedido de
Herculano vem focalizar um dos mais importantes problemas da felicidade humana:
o da aproximação fraternal, do perdão recíproco, da semeadura do amor, através
da lei reencarnacionista.
Alexandre meditou alguns momentos e
continuou:
- O caso é típico. O
drama de Segismundo é demasiadamente complexo para ser comentado em poucas
palavras. Basta, todavia, recordar que ele, Adelino e Raquel são os
protagonistas culminantes de dolorosa tragédia, ocorrida ao tempo de minha
última peregrinação pela Crosta. Em seguida a uma paixão desvairada, Adelino foi
vítima de homicídio; Segismundo, do crime; e Raquel, do prostíbulo.
Desencarnaram, cada um por sua vez, sob intensa vibração de ódio e desesperação,
padecendo vários anos, em zonas inferiores.
Mais tarde, por
intercessão de amigos redimidos, os antigos cônjuges obtiveram a volta ao corpo
físico, a fim de santificarem os laços sentimentais e se reaproximarem dos
antigos adversários. Mas, como acontece quase sempre, os heróis na promessa
fraquejam na realização, porque se apegam muito mais aos próprios desejos que à
compreensão da Vontade Divina. De posse dos bens da vida física, nega-se Adelino
a perdoar, recapitulando erradamente as lições do
passado.
Antes mesmo da reencarnação do antigo
transviado, já se manifesta contrário a qualquer auxílio. Sempre o velho círculo
vicioso - quando fora da oportunidade bendita de trabalho terrestre e vendo a
extensão das próprias necessidades, desvela-se o companheiro em prometer
fidelidade e realização, mas, logo que se apossa do tesouro do corpo físico,
volta ao endurecimento espiritual e ao menosprezo das leis de
Deus.
Calou-se o mentor, por alguns
instantes, acentuando em seguida:
- Buscarei, porém, chamá-los à
recordação dos compromissos.
Neste ínterim, entendendo que a
oportunidade era preciosa, solicitei:
- Ser-me-ia possível
acompanhá-lo? Creio que aproveitaria muito. Poderia talvez adquirir valores
significativos para o serviço do próximo e para meu benefício
pessoal.
Ignoro até quando me será permitido estudar em
sua companhia e estimarei o aproveitamento integral de semelhante
oportunidade.
Alexandre sorriu, compassivo, e
falou:
- Não tenho objeções.
Entretanto, não creio deva seguir os trabalhos sem algum conhecimento prévio do
assunto.
Em toda edificação
verdadeiramente útil, não podemos prescindir da base. Temos bons amigos no
Planejamento de
Reencarnações, serviço muito
importante em nossa colônia espiritual, diretamente relacionado com as
atividades do Esclarecimento. Nessa instituição durante alguns dias, você terá
uma idéia aproximada de nossa tarefa, portas adentro de semelhantes
trabalhos.
Grande percentagem de reencarnações na Crosta
se processa em moldes padronizados para todos, no campo de manifestações
puramente evolutivas.
Mas outra percentagem não obedece ao mesmo
programa. Elevando-se a alma em cultura e conhecimentos, e, conseqüentemente, em
responsabilidade, o processo reencarnacionista individual é mais complexo,
fugindo à expressão geral, como é lógico. Em vista disso, as colônias
espirituais mais elevadas mantêm serviços especiais para a reencarnação de
trabalhadores e missionários.
As explicações eram sedutoras e
relevantes e, compreendendo a importância dos esclarecimentos para meu pobre
espírito, Alexandre continuou:
- Quando me refiro a
trabalhadores, falo dos companheiros não completamente bons e redimidos, mas
daqueles que apresentam maior soma de qualidades superiores, a caminho da
vitória plena sobre as condições e manifestações grosseiras da vida. Em geral,
como acontece a nós outros, são entidades em débito, mas com valores de boa
Vontade, perseverança e sinceridade, que lhes outorgam o direito de influir
sobre os fatores de sua reencarnação, escapando, de certo modo, ao padrão geral.
Claro que nem sempre tais alterações se verificam em condições agradáveis para a
experiência futura. Os serviços de retificação representam tarefas
enormes.
E desejando imprimir
fortemente em meu espírito a noção da responsabilidade, o instrutor prosseguiu,
tornando mais grave a inflexão da voz:
- O problema da queda é
também uma questão de aprendizado e o mal indica posição de desequilíbrio,
exigindo restauração e corrigenda. A evolução confere-nos poder, mas gastamos
muito tempo, aprendendo a utilizar esse poder harmonicamente. A racionalidade
oferece campo seguro aos nossos conhecimentos; entretanto, André, quase todos
nós, trabalhadores da Terra, nos demoramos séculos no serviço de iluminação
íntima, porque não basta adquirir idéias e possibilidades, é preciso ser
responsável, e nem é justo tenhamos tão-somente a informação do raciocínio, mas
também a luz do amor.
- Daí as lutas
sucessivas em continuadas reencarnações da alma! - exclamei, vivamente
impressionado.
- Sim - continuou meu
amável interlocutor -, temos necessidade da luta que corrige, renova, restaura e
aperfeiçoa. A reencarnação é o meio, a educação divina é o
fim.
Por isso mesmo, a par de
milhões de semelhantes nossos que evolvem, existem milhões que se reeducam em
determinados setores do sentimento, porquanto, se já possuem certos valores da
vida, faltam-lhes outros não menos importantes.
Identificando-me a
dificuldade para compreender-lhe o ensinamento de maneira integral, meu
orientador voltou a dizer:
- Embora na condição de
médico do mundo, acredito que você não tenha sido completamente estranho aos
estudos evangélicos.
- Sim, sim - retruquei
-, tenho as minhas recordações nesse sentido.
- Pois bem, o próprio
Jesus nos deixou material de pensamento para o assunto em exame, quando nos
asseverou que se a nossa mão ou os nossos olhos fossem motivos de escândalo
deveriam ser cortados ao penetrarmos no templo da
vida.
Compete-nos transferir a imagem literal para a
interpretação simples do espírito. Se já falimos muitas vezes em experiências da
autoridade, da riqueza, da beleza física, da inteligência, não seria lógico
receber idêntica oportunidade nos trabalhos
retificadores.
Compreendera claramente
onde Alexandre pretendia chegar com os seus esclarecimentos amigos. - É para a
regulamentação de semelhantes serviços que funciona em nossa colônia espiritual,
por exemplo, o Planejamento de Reencarnações; onde você terá ocasião de recolher
ensinamentos preciosos.
E, atendendo-me às necessidades como
pai afetuoso, apresentou-me o instrutor, no dia imediato, à imponente
instituição.
Constituía-se o
movimentado centro de serviço de vários prédios e numerosas instalações. Árvores
acolhedoras enfileiravam-se através de extensos jardins, imprimindo encantador
aspecto à paisagem. Reconheci logo que o instituto se caracterizava por grande
movimento.
Entidades insuladas ou em pequenos grupos iam
e vinham, estampando atencioso interesse na expressão fisionômica. Pareciam
sumamente despreocupadas de nossa presença ali, porque, quando não passavam
sozinhas, ao nosso lado, engolfadas em profundos pensamentos, iam em grupos
afetuosos, alimentando discretas conversações, multo graves e absorventes, ao
que me parecia. Muitos desses irmãos, que passavam junto de nós, empunhavam
reduzidos rolos de substância semelhante ao pergaminho terrestre, relativamente
aos quais não possuía eu, até então, a mais leve
notícia.
Alexandre, porém, como sempre, veio
em socorro de minha estranheza, explicando, bondosamente:
- As entidades sob
nossos olhos são trabalhadores de nossa esfera, interessados em reencarnações
próximas.
Nem todos estão
diretamente ligados ao semelhante propósito, porque grande parte está em
trabalho de intercessão, obtendo favores dessa natureza para amigos íntimos. Os
rolos brancos que conduzem são pequenos mapas de formas orgânicas, elaborados
por orientadores de nosso plano, especializados em conhecimentos biológicos da
existência terrena. Conforme o grau de adiantamento do futuro reencarnante e de
acordo com o serviço que lhe é designado no corpo carnal, é necessário
estabelecer planos adequados aos fins
essenciais.
- E a lei da
hereditariedade fisiológica?
perguntei.
- Funciona com
inalienável domínio sobre todos os seres em evolução, mas sofre, naturalmente, a
influência de todos aqueles que alcançam qualidades superiores ao ambiente
geral. Além do mais, quando o interessado em experiências novas no plano da
Crosta é merecedor de serviços «intercessórios», as forças mais elevadas podem
imprimir certas modificações à matéria, desde as atividades embriológicas,
determinando alterações favoráveis ao trabalho de
redenção.
A essa altura da
palestra esclarecedora, Alexandre convidou-me a transpor o
limiar.
Achamo-nos, em breve, num dos
gabinetes extensos do edifício principal, aonde um dos numerosos amigos do
orientador veio atender-nos atenciosamente.
Apresentou-me Alexandre ao
Assistente Josino, que me recebeu com extrema gentileza e fidalguia de trato.
Esclareceu o instrutor o objetivo de nossa visita.
Desejava me fosse conferida a possibilidade de
visitar a instituição de planejamento, quantas vezes me fosse possível durante a
semana em curso, em vista da minha necessidade de adquirir noções seguras,
referentemente ao trabalho de auxílio nas atividades reencarnacionistas. O
Assistente prometeu a melhor boa vontade.
Conduzir-me-ia a colegas dele, para que me não
faltassem minúcias de conhecimento, exporia suas próprias experiências à minha
observação, para que eu retirasse delas o máximo proveito e, por fim, quanto
estivesse ao seu alcance, guiaria meus impulsos no
aprendizado.
Felicitavam-me o
íntimo as melhores e mais confortadoras impressões, não só pela recepção
carinhosa, senão também pelo ambiente educativo.
Não longe de nós, em
luminosos pedestais, descansavam duas maravilhas da estatuária, a figuração
delicada de um corpo masculino e outro modelo feminino, singularmente belo pela
perfeição anatômica, não somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e
as mais diversas glândulas. Através de disposições elétricas, ambas as
figurações palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os
homens e mulheres mais evolvidos na esfera carnal.
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"Não longe de nós, em luminosos
pedestais, descansavam duas maravilhas da estatuária, a figuração delicada de um
corpo masculino e outro modelo feminino, singularmente belo pela perfeição
anatômica, não somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e as mais
diversas glândulas. Através de disposições elétricas, ambas as figurações
palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os homens e
mulheres mais evolvidos na esfera carnal." - André Luiz
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Identificando-me a
admiração, Alexandre sorriu e disse ao Assistente Josino, com o propósito de
fazer-se ouvido por mim:
- Talvez André não
conheça bastante o nosso respeito e gratidão ao aparelho físico terrestre. - Em
verdade - ajuntei - ignorava, até ago¬ra, que o corpo carnal fosse, entre nós,
objeto de tamanhos cuidados. Não sabia que a nossa colônia contasse com
instituição desse teor.
- Como não, meu
amigo? - interferiu o Assistente, com inflexão de carinho - o corpo físico na
Crosta Planetária representa uma bênção de Nosso Eterno Pai. Constitui primorosa
obra da Sabedoria Divina, em cujo aperfeiçoamento incessante temos nós a
felicidade de colaborar. Quanto devemos à máquina humana pelos seus milênios de
serviço a favor de nossa elevação na vida eterna? Nunca relacionaremos a
extensão de semelhante débito.
E, fixando os
modelos que me provocavam assombro, acentuou:
- Todo o nosso zelo,
no serviço de reencarnação, permanece muito aquém do quanto deveríamos realizar
em benefício do aprimoramento da máquina
orgânica.
Embora hesitante, ousei
perguntar:
- Todos os núcleos de
espiritualidade superior mantêm círculos de trabalho dessa
natureza?
Foi Alexandre quem
respondeu, com a delicadeza habitual:
- Em todas as
colônias de expressão elevada, essas tarefas são desempenhadas com infinito
carinho. O auxílio à reencarnação de companheiros nossos traduz o nosso
reconhecimento ao aparelho físico que nos tem proporcionado tantos benefícios;
através do tempo.
Recordei, porém, que
o meu pai terrestre , um dia, voltara à experiência carnal, procedendo das zonas
francamente inferiores, e indaguei:
- E aqueles que
regressam à Crosta, partindo das regiões mais baixas, terão o mesmo generoso
auxílio?
Desejando imprimir à
pergunta a mais viva sinceridade, acrescentei:
- Meu genitor, na
derradeira romagem terrestre, voltou, faz algum tempo, à esfera carnal em
condições bem amargas...
Alexandre
interrompeu-me o curso da frase, ponderando:
- Compreendemos. Se
for ele criatura de razão esclarecida, embora não iluminada, permanecia após a
morte em estado de queda e não deve ter voltado à bendita oportunidade da escola
física sem o trabalho «intercessório» e forte ajuda de corações bem-amados de
nosso plano.
Nesse caso, terá
recebido a cooperação de benfeitores, situados em posições mais altas, que lhe
terão endossado as promessas no serviço regenerador. Se ele foi, porém, criatura
em esforço puramente evolutivo, circunstância essa na qual não teria regressado
em condições amargurosas, contou ele naturalmente com o abençoado concurso dos
trabalhadores espirituais que velam, na Crosta, pela execução dos trabalhos
reencarnacionistas, em processos naturais.
Em face dos esclarecimentos do
instrutor, entendi as diferenças e tranqüilizei o coração.
Fosse porque a palestra escalpelara
melindroso assunto de família humana, fosse pelo propósito de me deixarem a sós
com as minhas profundas reflexões naquele extenso gabinete de serviço, o
orientador e o assistente entraram em silêncio, compelindo-me a rebuscar novos
motivos de conversação para o meu aprendizado.
Passei então a observar
detidamente os modelos masculino e feminino, não longe de meus olhos.
Muito gentil Josino pousou a destra,
de leve, nos meus ombros, e falou-me:
- Aproxime-se das criações
educativas. Você lucrará muito, observando de perto.
Não contive um gesto de
agradecimento e afastei-me dos dois respeitáveis amigos, acercando-me das
figurações ali expostas.
Detive-me na
contemplação do molde masculino, que apresentava absoluta harmonia de linhas,
qual arte helênica de sabor antigo.
O modelo, estruturado em substância
luminosa, constituía, a meu parecer, a mais primorosa obra anatômica até então
sob minha análise. Semelhava-se aquela figura humana, imóvel, a qualquer coisa
divinal.
Fixei-lhe as minuciosidades com
espanto.
Nunca vira semelhante
perfeição de minudências fisiológicas. Toda a musculatura estava, ali, formada
em fibras radiosas. Desde o frontal ao ligamento anular do tarso, viam-se fios
de luz simbolizando as regiões diversas da musculatura em geral. Determinadas
fibras, todavia, como as que se localizavam na zona orbicular das pálpebras, no
triangular dos lábios, no grande peitoral, no pectineo, nas eminências tenar e
hipotênar até o extensor dos dedos, eram mais brilhantes.
Do exame de superfície,
passei a observações mais profundas, identificando as disposições maravilhosas
das figuras representativas da circulação linfática e sanguínea. Oh! Os órgãos
estavam todos ali, vibrando em obediência a dispositivos elétricos para
demonstrações educativas. Os vasos para o sangue venoso apresentavam-se em luz
acinzentada, ao passo que as regiões do sangue arterial figuravam-se em cor
encarnada.
Surpreendido, rendi silencioso
preito de admiração à Sabedoria Divina, que nos concede o sublime aparelho
físico terrestre para as nossas aquisições eternas.
Impressionava-me a
composição perfeita dos vasos distribuídos em torno do tronco celíaco, à maneira
de pequenos rios de luz, destacando-se em expressão a luminosidade das cavas
superior e inferior, das jugulares externa e interna, das artérias e veias
axilares, da veia porta, das artérias esplênica e mesentérica superior, da aorta
descendente, dos vasos ilíacos e dos gânglios da
virilha.
Cobrindo as maravilhas
orgânicas, estava o sistema nervoso, semelhando-se a capa radiante estruturada
em fios tenuíssimos de luz feérica. A região do cérebro parecia uma lâmpada em
azul suavíssimo, cuja luminosidade se ligava em senti¬do direto ao cerebelo,
descendo em seguida pela medula espinhal até o plexo sagrado, onde o foco
brilhante adquiria expressão mais intensa, para atenuar-se, depois, no grande
ciático.
Transferi minhas
observações para a forma feminina, igualmente radiosa, concentrando meu
potencial analítico sobre o sistema endocrínico, disposto à maneira de
constelação, entre as peças orgânicas. Desde a epífise, situada entre os
hemisférios cerebrais, até os núcleos procriadores, as glândulas pareciam formar
belo sistema luminoso, semelhante a pequenos astros de vida, congregados em
sentido vertical, qual antena rútila atraindo a luz procedente de Mais Alto.
Cada qual apresentava
sua forma específica, suas expressões vibratórias, suas características
particulares, diversificando-se, igualmente, a cor de cada uma, embora
recebessem todas, a seu modo, a coloração da epífise, semelhante a pequenino sol
azulado, mantendo em seu campo de atração magnética todas as de¬mais, desde a
hipófise à região dos ovários, como o nosso astro de vida, garantindo a coesão e
o movimento da sua grande família de planetas e
asteróides.
Minha estupefação não tinha
limites.
É forçoso confessar, porém, que
minha surpresa se distendia muito mais, ao fixar os eflúvios brilhantes que
emanavam dos centros genitais, semelhando-se, em conjunto, a minúsculo santuário
cheio de luz.
Como eu dirigisse ao meu instrutor
um olhar de indagação, seus esclarecimentos não se fizeram
esperar.
- Na Crosta - disse-me
Alexandre, sorrindo, após reaproximar-se de mim -, em sentido geral ainda existe
muita ignorância acerca da missão divina do sexo. Para nós, porém, que desejamos
valorizar as experiências, a paternidade e a maternidade terrestres são
sagradas.
A faculdade criadora é
também divindade do homem. O útero maternal significa, para nós outros, a porta
bendita para a redenção; para grande número de pessoas na Esfera do Globo, a
visão celestial é símbolo de repouso e alegria sem fim, enquanto, para muitos de
nós, a visão terrestre significa trabalho edificante e
salutar.
Não alcançaremos, porém, a terra prometida do
serviço redentor, sem o concurso das forças criadoras associadas, do homem e da
mulher.
Compreendi, com novo espírito, o
caráter sublime das energias sexuais e recordei-me, compadecidamente, de todos
os encarnados que ainda não conseguiram edificar o respeito e o entendimento,
relativos aos sagrados órgãos procriadores. Meu orientador, entretanto, como
antena receptora de todas as minhas emissões mentais, advertiu-me,
bondoso:
- Relegue ao esquecimento qualquer
expressão das reminiscências menos construtivas. Os que ultrajam o sexo,
escrevendo, agindo ou falando, já são grandes infelizes por si
mesmos.
Guardei a lição e abençoei a nova
experiência que começava.
Despediu-se Alexandre, deixando-me
na grande instituição de planejamento, onde o Assistente Josino, ocupado nos
encargos de seu ministério, me confiou aos cuidados de Manassés, um irmão dos
serviços informativos da casa, que me acolheu prazerosamente, cercando-me de
gentileza e carinho.
Senti imediatamente que o meu
aprendizado ali se iniciava com imenso proveito. Manassés era um livro volante.
Seus pareceres e informes traduziam valiosos
ensinamentos.
Aproximando-nos dos
pavilhões de desenho, onde numerosos cooperadores traçavam planos para
reencarnações incomuns, foi o meu novo companheiro procurado por uma entidade
simpática que lhe pedia informações. Manassés apresentou-ma, otimista.
Tratava-se dum colega
que, depois de quinze anos de trabalho nas atividades de auxílio, regressaria à
esfera carnal para a liquidação de determinadas contas. O recém-chegado parecia
hesitante. Via-se-lhe o receio, a indecisão.
- Não se deixe dominar
pelas impressões negativas - dirigia-se Manassés a ele, infundindo-lhe bom
ânimo. - O problema do renascimento não é assim tão intrincado. Naturalmente,
exige coragem, boas disposições.
- Entretanto -
exclamava o interlocutor, algo triste -, temo contrair novos débitos ao invés de
pagar os velhos compromissos. É tão penoso vencer na experiência carnal, em
vista do esqueci¬mento que sobrevém à encarnação...
- Mas seria muito mais
difícil triunfar guardando a lembrança - redargüiu Manassés,
incontinenti.
Prosseguindo,
sorridente, acrescentou:
- Se tivéssemos grandes
virtudes e belas realizações, não precisaríamos recapitular as lições já vividas
na carne. E se apenas possuímos chagas e desvios para rememorar, abençoemos o
olvido que o Senhor nos concede em caráter temporário. Esforçou-se o outro para
esboçar um sorriso e objetou:
- Conheço-lhe o
otimismo; quisera ser igual¬mente assim. Voltarei confiante no concurso fraterno
de vocês.
E modificando o tom de
voz, indagou:
- Pode informar se o
meu modelo está pronto?
- Creio que poderá
procurá-lo amanhã - tornou Manassés, bem disposto -; já fui observar o gráfico
inicial e dou-lhe parabéns por haver aceitado a sugestão amorosa dos amigos bem
orienta¬dos, sobre o defeito da perna.
Certamente, lutará você com grandes
dificuldades nos princípios da nova luta, mas a resolução lhe fará grande
bem.
- Sim - disse o outro,
algo confortado -, preciso defender-me contra certas tentações de minha natureza
inferior e a perna doente me auxiliará, ministrando-me boas preocupações.
Ser-me-á um antídoto à
vaidade, uma sentinela contra a ¬devastação do amor-próprio
excessivo.
- Muito bem! - respondeu
Manassés, franca¬mente otimista.
- E pode informar-me
ainda a média de tempo conferida à minha forma física
futura?
- Setenta anos, no
mínimo - redargüiu meu novo companheiro, contente.
O outro fixou uma
expressão de reconhecimento, enquanto Manassés
continuava:
- Pondere a graça
recebida, Silvério, e, de¬pois de tomar-lhe a posse no plano físico, não volte
aqui antes dos setenta. Trate de aproveitar a oportunidade. Todos os seus amigos
esperam que você volte, mais tarde, à nossa colônia, na gloriosa condição de um
«completista».
O interpelado mostrou um raio de
esperança nos olhos, agradeceu e despediu-se.
As últimas observações de Manassés
acenderam-me curiosidade mais forte. Não contive a indagação que me vagueava no
pensamento e perguntei sem rebuços:
- Meu amigo, que
significa a palavra «completista»?
Ele sorriu, complacente,
e retrucou, bem-humorado:
- É o título que designa
os raros irmãos que aproveitaram todas as possibilidades construtivas que o
corpo terrestre lhes oferecia.
Em geral, quase todos
nós, em regressando à esfera carnal, perdemos oportunidades muito importantes no
desperdício das forças fisiológicas. Perambulamos por lá, fazendo alguma coisa
de útil para nós e para outrem, mas, por vezes, desprezamos cinqüenta, sessenta,
setenta per cento e, freqüentemente, até mais, de nossas
possibilidades.
Em muitas ocasiões, prevalece ainda, contra
nós, a agravante de termos movimentado as energias sagradas da vida em
atividades inferiores que degradam a inteligência e embrutecem o coração.
Aqueles, porém, que
mobilizam a máquina física, à maneira do operário fidelíssimo, conquistam
direitos muito expressivos em nossos planos.
O «completista», na
qualidade de trabalhador leal e produtivo, pode escolher, à vontade, o corpo
futuro, quando lhe apraz o regresso à Crosta em missões de amor e iluminação, ou
recebe veículo enobrecido para o prosseguimento de suas tarefas, a caminho de
círculos mais elevados de
trabalho.
Semelhante notícia representava para
mim valiosa revelação. Nada mais legítimo que dotar o servidor fiel de recursos
completos.
E lembrei-me dos
desregramentos de toda a sorte a que se entregam as criaturas humanas, em todos
os países, doutrinas e situações, complicando os caminhos evolutivos, criando
laços escravizantes, enraizando-se no apego aos quadros transitórios da
existência material, alimentando enganos e fantasias, destruindo o corpo e
envenenando a alma. Num transporte de justificada admiração,
redargúi:
- Recordando o cativeiro
dos Espíritos encarnados no plano da sensação, consola-nos saber que há um
prêmio aos raríssimos homens que vivem na sublime arte do equilíbrio espiritual,
mesmo na carne.
- Sim - disse Manassés,
aprovando-me com o olhar -, por mais estranho que possa parecer, semelhantes
exceções existem no mundo.
Passam,
freqüentemente, para cá, entre os anônimos da Crosta, sem fichas de propaganda
terrestre, mas com imenso lastro de espiritualidade
superior.
E dando-me a impressão
de que desejava esclarecer-me, relativamente a ele mesmo,
acrescentou:
- Há muitos anos me
esforço para conseguir a condição dos «completistas»; no entanto, até agora
continuo em fase de preparação...
Compreendi que Manassés,
tanto quanto eu, trazia regular bagagem de recordações menos felizes, com
respeito ao uso que fizera do corpo terreno nas experiências passadas e procurei
modificar a orientação da palestra:
- Sabe de algum
«completista» que tenha regressado à
Crosta? – interroguei.
-
Sim.
- Naturalmente -
continuei, curioso - terá escolhido um organismo
irrepreensível.
Meu novo companheiro
mostrou significativa expressão fisionômica e
acentuou:
- Nenhum dos que
tenho visto partir, embora os méritos de que se encontravam revestidos,
escolheram formas irrepreensíveis, quanto às linhas exteriores. Solicitaram
providências em favor da existência sadia, preocupando-se com a resistência,
equilíbrio, durabilidade e fortaleza do instrumento que os deveria servir, mas
pediram medidas tendentes a lhes atenuarem o magnetismo pessoal, em caráter
provisório, evitando-se-lhes apresentação física muito primorosa, ocultando,
assim, a beleza de suas almas para a eficiente garantia de suas
tarefas.
Assim procedem, porquanto, vivendo a maioria
das criaturas no jogo das aparências, quando na Crosta Planetária,
incumbir-se-iam elas próprias de esmagar os missionários do Bem, se lhes
conhecessem a verdadeira condição, através das vibrações destruidoras da inveja,
do despeito, da antipatia gratuita e das disputas injustificáveis. Em vista
disso, os trabalhadores conscientes, na maioria das vezes, organizam seus
trabalhos em moldes exteriores menos graciosos, fugindo, por antecipação, ao
influxo das paixões devastadoras das almas em
desequilíbrio.
Entendi a extensão do esclarecimento
e meditava na grandeza dos princípios espirituais que regem a experiência
humana, quando Manassés acrescentou, após longa pausa:
- As mentes juvenis,
quais crianças do mundo, brincam com o fogo das emoções; todavia, os espíritos
amadurecidos, mormente quando chegam à situação de «completistas», abandonam
toda experiência que os possa distrair no caminho de realização da Vontade
Divina.
Em seguida, convidado pelo meu novo
amigo, penetrei numa das dependências consagradas aos serviços de desenho.
Pequenas telas,
demonstrando peças do organismo humano, estavam ordenadamente em todos os
recantos. Tinha a impressão fiel de que me encontrava num grande centro de
anatomistas, cercados de auxiliares competentes e operosos. Espalhavam-se
desenhos de membros, tecidos, glândulas, fibras, órgãos de todos os feitios e
para todos os gostos.
- Como sabe - observou
Manassés, cuidadoso -, no serviço de recapitulação ou de tarefas especializadas
na superfície do Globo, a reencarnação nunca pode ser vulgar. Para isso,
trabalham aqui centenas de técnicos em questões de Embriologia e Biologia em
geral, no sentido de orientar as experiências individuais do futuro de quantos
irmãos se ligam a nós no esforço coletivo.
Sentindo espontânea veneração,
contemplei os servidores que se inclinavam atenciosos, arquitetando o porvir de
muitos companheiros.
Como era complexa a oportunidade de
renascer! Que atividades intensas exigiam dos benfeitores espirituais! Ao meu
gesto de estranheza, respondeu Manassés numa síntese
expressiva:
- Você não ignora que os
homens ainda selvagens ou semi-selvagens, embora utilizando os recursos sempre
sagrados da Natureza, edificam suas habitações em moldes mais simples e
rudimentares; todavia, o homem que já atingiu certo padrão de ideal,
desenvolvendo faculdades superiores, Constrói o lar, organizando plantas
prévias.
Indicando o quadro interior,
extremamente movimentado, acrescentou, sorridente:
- Não estamos aqui senão
cogitando, igualmente, de projetos para futuras habitações carnais. O corpo
humano não deixa de ser a mais importante moradia para nós outros, quando
compelidos à permanência na Crosta. Não podemos esquecer que o próprio Divino
Mestre classificava-o como templo do Senhor,
Impressionado, seguia atenciosamente
os trabalhos em
curso. Dispúnhamo-nos a seguir adiante, quando uma irmã, de
porte muito respeitável, se aproximou saudando Manassés afetuosamente. Ele
respondeu com gentileza e apresentou-ma.
- É nossa irmã
Anacleta.
Cumprimentei-a, sentindo-lhe a
simpatia pessoal.
- Trata-se de uma das nossas
trabalhadoras mais corajosas - acentuou o funcionário do trabalho de
informações.
A senhora sorriu, algo contrafeita
por se ver focalizada na opinião franca do companheiro.
Todavia, Manassés, com o otimismo
que lhe era característico, prosseguiu:
- Imagine que voltará à
Esfera do Globo, em breves dias, em tarefa de profunda abnegação por quatro
entidades que, há mais de quarenta anos, se debatem em regiões abismais das
zonas inferiores.
- Não vejo nisso abnegação alguma -
atalhou à senhora, sorrindo -, cumprirei tão somente um
dever.
E fixando-me, desassombrada e
serena, asseverou:
- As mães que não
completaram a obra de amor que o Pai lhes confia junto dos filhos amados, devem
ser bastante fortes para recomeçarem os serviços imperfeitos. Esse o meu caso.
Não se deve mencionar sacrifício onde existe apenas
obrigação.
Interessava-me a história daquela
irmã despretensiosa e simpática e, por isso mesmo, animei-me a
perguntar-lhe:
- Regressará, então,
dentro em breve? De qualquer maneira, sua resolução traduz devotamento e
bondade. Não posso esquecer que também minha mãe voltou ao círculo da carne,
tangida por sublime dedicação.
Notei que os olhos dela
se encheram de lágrimas discretas, que não chegaram a cair, emocionada talvez
com a minha observação sincera. Estendeu-me a destra, gentilmente, e, dando a
idéia de que não desejava continuar em conversação relativa ao assunto,
disse-me, comovida:
- Muito grata pelo
conforto de suas palavras.
Mais tarde, ao se lembrar de mim,
ajude-me com o seu pensamento amigo.
Nesse ponto da ligeira palestra,
Manassés indagou:
- Já recebeu todos os
projetos?
- Sim - respondeu ela -,
não somente os que se referem aos meus pobres filhos, mas também a planta
relativa à minha própria forma futura.
- Está
satisfeita?
- Muitíssimo! - redargüiu a dama. -
Na lei do Pai, a justiça está cheia de misericórdia e continuo na condição de
grande devedora.
Em seguida, despediu-se, calma e
afável.
Manassés compreendeu-me a
curiosidade e explicou:
- Anacleta é um exemplo
vivo de ternura e devotamento, mas voltará às lutas do corpo a fim de operar
determinadas retificações no coração ma¬terno. Por imprevidência dela, noutro
tempo, os quatro filhos, que o Senhor lhe confiara, caíram desastradamente. A
pobrezinha albergava certas noções de carinho que não se compadecem com a
realidade. Seu esposo era homem probo e trabalhador e, apesar de abastado, nunca
se esqueceu dos deveres que lhe prendiam as atividades de homem de bem ao campo
da sociedade em
geral. Caracterizava-se por uma energia sempre construtiva, mas
a esposa, embora devotadíssima, contrariava-lhe a influência do lar, viciando o
afeto de mãe com excessos de meiguice desarrazoada. E, como conseqüência
indireta, quatro almas não encontraram recursos para a jornada de redenção.
Três rapazes e uma
jovem, cuja preparação intelectual exigira os mais árduos sacrifícios, caíram
muito cedo em desregramentos de natureza física e moral, a pretexto de atenderem
a obrigações sociais. E tão degradantes foram esses desregramentos que perderam
muito cedo o templo do corpo, entrando em regiões baixas, em tristes condições.
Anacleta, contudo, voltando ao campo espiritual, compreendeu o problema e
dispôs-se a trabalhar afanosamente para conseguir, não só a reencarnação de si
própria, senão também a dos filhos que deverão segui-la nas provas purificadoras
da Crosta.
- Quantos anos gastaram
para obter semelhante concessão? - perguntei,
impressionado.
- Mais de
trinta.
- Imagino-lhe os
sacrifícios futuros! - exclamei.
- Sim - esclareceu
Manassés -, a experiência ser-lhe-á bem dura, porque dois dos rapazes deverão
regressar na condição de paralíticos, um na qualidade de débil mental e, para
auxiliá-la na viuvez precoce, terá tão-somente a filha, que, por si mesma, será
também portadora de prementes necessidades de
retificação.
Ia dizer de minha profunda surpresa,
diante do mecanismo de introdução ao serviço reencarnacionista, quando outra
irmã se acercou de nós, procurando por Manassés.
Depois das saudações afetivas,
explicou-se ela, gentil, dirigindo-se ao meu novo
amigo:
- Desejo sua
obsequiosa interferência na retificação do meu plano.
E abrindo pequeno
mapa, onde se via desenhado com extrema perfeição um organismo de mulher,
acentuou:
- Veja bem o meu
projeto para o sistema endocrínico. Sei que os amigos me favoreceram,
planejando-o com muita harmonia nas menores disposições; entretanto, desejaria
modificações...
- Em que sentido? -
indagou o interpelado, r surpreso.
A recém-chegada
indicou os pontos do projeto onde se localizava o colo e
falou:
- Fui advertida por
benfeitores daqui, no sentido de não me apresentar na Crosta, dentro de linhas
impecáveis para a forma física e, em razão disso, para que eu tenha mais
probabilidades de êxito em meu favor, na tarefa que me proponho desempenhar,
estimaria que a tireóide e as paratireóides não estivessem tão perfeitamente
delineadas.
Como sabe, Manassés,
minha tarefa não será fácil. Devo reaver um patrimônio espiritual de grandes
proporções. Preciso fugir de qualquer possibilidade de queda e a perfeita
harmonia física me perturbaria as atividades.
O novo companheiro
endereçou-me expressivo olhar e disse-lhe:
- Tem razão. A sedução
carnal é imenso perigo, não só para aqueles que emitem a sua influenciação, como
também para quantos a recebem.
- Prefiro a fealdade
corpórea - tornou ela.
Não estou interessada
num corpo de Vênus e, sim, na redenção de meu espírito para a Eternidade.
Manassés prometeu
interpor os seus bons ofícios, e, tão logo se despediu da nova interlocutora,
passou a mostrar-me as mais interessantes figurações de órgãos do corpo humano.
Admirava, tomado de profunda
impressão; aqueles gráficos numerosos que se alinhavam, com absoluta ordem,
demonstrando o cuidado espiritual que precede o serviço de reencarnações, quando
o meu amigo ponderou:
- A medicina humana
será muito diferente no futuro, quando a Ciência puder compreender a extensão e
complexidade dos fatores mentais no campo das moléstias do corpo
físico.
Muito raramente não se encontram as afecções
diretamente relacionadas com o psiquismo. Todos os órgãos são subordinados à
ascendência moral. As preocupações excessivas com os sintomas patológicos
aumentam as enfermidades; as grandes emoções po0dem curar o corpo ou
aniquilá-lo.
Se isso pode acontecer na esfera de atividades
vulgares das lutas físicas, imagine o campo enorme de observações que nos
oferece o plano espiritual, para onde se transferem, todos os dias, milhares de
almas desencarnadas, em lamentáveis condições de desequilíbrio da
mente.
O médico do porvir conhecerá semelhantes
verdades e não circunscreverá sua ação profissional ao simples fornecimento de
indicações técnicas, dirigindo-se, muito mais, nos trabalhos curativos, às
providências espirituais, onde o amor cristão represente o maior papel.
Desejando, porém, prosseguir nos
esclarecimentos, quanto ao serviço reencarnacionista, Manassés tomou pequeno
gráfico e, apresentando-me as linhas gerais, acentuou:
- Aqui temos o projeto
de futura reencarnação dum amigo meu. Não observa certos
pontos escuros, desde o cólon descendente à alça sigmóide? Isso indica que ele
sofrerá uma úlcera de importância, nessa região, logo que chegue à maioridade
física. Trata-se, porém, de escolha dele.
E porque extrema
curiosidade me vagueasse nos olhos, Manassés explicou:
- Esse amigo, faz
mais de cem anos, cometeu revoltante crime, assassinando um pobre
homem:
a facadas; logo que se entregou ao homicídio,
como acontece muitas vezes, a vítima desencarnada ligou-se fortemente a ele, e
da semente do crime, que o infeliz assassino plantou num momento, colheu
resultados terríveis por muitos anos. Como não ignora, o ódio recíproco opera
igualmente vigorosa imantação e a entidade, fora da carne, passou a vingar-se
dele, todos os dias, matando-o devagarzinho, através de ataques sistemáticos
pelo pensamento mortífero. Em suma, quando o homicida desencarnou, por sua vez,
trazia o organismo perispiritual em dolorosas condições, além do remorso natural
que a situação lhe impusera.
Arrependeu-se do
crime, sofreu muito nas regiões purgatoriais e, depois de largos padecimentos
purificadores, aproximou-se da vítima, beneficiando-a em louváveis serviços de
resgate e penitência.
Cresceu moralmente,
tornou-se amigo de muitos benfeitores, conquistou a simpatia de vários
agrupamentos de nosso plano e obteve preciosas intercessões.
Entretanto... A
dívida permanece. O amor, contudo, transformou o caráter do trabalho de
pagamento. O nosso amigo, ao voltar à Crosta, não precisará desencarnar em
espetáculo sangrento, mas onde estiver, durante os tempos de cura completa, na
carne que ele outrora menosprezou, carregará a própria ferida, conquistando, dia
a dia, a necessária renovação.
Experimentará
desgostos, em virtude do sofrimento físico pertinaz, lutará incessantemente,
desde a eclosão da úlcera até o dia do resgate final no aparelho fisiológico;
entretanto, se souber manter-se fiel aos compromissos novos, terá atingido, mais
tarde, a plena libertação.
Enquanto fixava no projeto minha
melhor atenção, Manassés continuava:
- Segundo observamos,
a justiça se cumpre sempre, mas, logo que se disponha o Espírito a precisa
transformação no Senhor, atenua-se o rigorismo do processo redentor. O próprio
Pedro nos lembrou, há muitos séculos, que «o amor cobre a multidão dos
pecados».
Examinei, impressionado, a planta
educativa e. porque não encontrasse palavras bastante claras para pintar minha
admiração, silenciei comovidamente.
Compreendendo-me o estado d’alma,
o companheiro continuou:
- São inúmeros os
projetos de corpos futuros em nossos setores de serviço. Depreende-se, da
maioria deles, que todos os enfermos na carne são almas em trabalho da ingente
conquista de si próprias. Ninguém trai a Vontade de Deus, nos processos
evolutivos, sem graves tarefas de reparação, e todos os que tentam enganar a
Natureza, quadro legítimo das leis divinas, acabam por enganar a si mesmos. A
vida é uma sinfonia perfeita. Quando procuramos desafiná-la, no círculo das
no¬tas que devemos emitir para a sua máxima glorificação, somos compelidos a
estacionar em pesado serviço de recomposição da harmonia quebrada.
E, durante alguns dias, ali
permaneci na instituição benemérita, compreendendo que a existência humana não é
um ato acidental e que, no plano da ordem divina, a justiça exerce o seu
ministério, todos os dias, obedecendo ao alto desígnio que manda ministrar os
dons da vida «a cada um por suas obras».
INSTITUTO ANDRÉ LUIZ
©1999 - 2010
Todos os direitos reservados.
REENCARNAÇÃO
Cap
13 – Reencarnação – (seguramente
o mais importante de todo o livro) - Após comentários sobre o perdão e o sexo,
descreve a sublimidade que é a reencarnação de um Espírito, a partir da
obra-prima que é a fecundação. É focalizada a interessantíssima questão das
“fecundações físicas” e das “fecundações psíquicas”, aquela, nascendo das uniões
físicas, no domínio das formas, e esta, das uniões espirituais, nos
resplandecentes domínios da alma. Somos informados que o corpo perispiritual,
que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no
sangue(!).
NOTA: Raramente se encontrará na literatura espírita fonte igual
de ensinamentos sobre a programação da existência terrena, que afinal de contas,
não passa de uma etapa da bênção maior que é a vida !
(Do livro "Missionários da Luz",
cap. 13, Francisco Cândido Xavier, edição FEB)
André Luiz
Senti-me ditoso e emocionado quando
Alexandre me convidou a visitar, em companhia dele, o ambiente doméstico de
Adelino e Raquel, onde se verificaria a reencarnação de Segismundo.
Profundo contentamento extravasava
de meu espírito, porquanto era a primeira vez que iria
tomar conhecimento direto com o fenômeno reencarnacionista.
Desde os primeiros tempos de estudo
no campo da Medicina, fascinavam-me as leis biogenéticas. Entretanto, nunca me
fora dado intensificar observações e especializar experiências. Na colônia
espiritual a que me conduziram a Providência de Deus e a generosa intercessão
dos amigos, muita vez recebera lições referentemente ao assunto; todavia, até
então, nunca vira, de mais perto, o processo de imersão da entidade desencarnada
no campo da matéria densa.
Em razão disso, acompanhei o
prestimoso orientador com agradável e ansiosa expectativa.
Alexandre explicou-me, por excesso
de gentileza, que, noutro tempo, recebera muitos favores das personagens
envolvidas naquele caso de reencarnação e que se sentia feliz pela oportunidade
de lhes ser útil. Comentou as dificuldades do serviço de libertação espiritual e
exaltou a lei do bem, que chama todos os filhos da Criação ao concurso fraterno
e aos serviços «intercessórios».
Depois de confortadora e instrutiva
conversação, alcançamos o lar de Adelino, deliciosamente colocado em pitoresco
canto suburbano, qual ninho gracioso, rodeado de tufos de
vegetação.
Eram dezoito horas,
aproximadamente.
Com surpresa, verifiquei que
Herculano nos esperava no limiar. O instrutor, porém, informou-me que havia
notificado o amigo sobre a nossa visita, recomendando-lhe trouxesse Segismundo
para o trabalho de aproximação.
Cumprimentou-nos o companheiro,
afetuosamente, e dirigiu-se ao meu orientador, esclarecendo:
- Segismundo veio em minha companhia
e espera-nos, lá dentro.
- Foi excelente medida - falou
Alexandre, bem-humorado -, consagrarei aos nossos amigos a minha noite próxima.
Veremos o que é possível fazer.
Entramos.
O casal Adelino-Raquel tomava a
refeição da tarde, junto de um pequenino, no qual adivinhei o primogênito da
casa. Não longe, acomodado numa cadeira de descanso,
repousava uma entidade que se levantou imediatamente, quando percebeu nossa
presença, dirigindo-se particularmente ao encontro do meu orientador, que lhe
abriu os braços carinhosos.
Herculano, perto de mim, explicou,
em tom discreto:
-
É Segismundo.
Notei que o desencarnado abraçara-se
com Alexandre, chorando convulsivamente. O instrutor acolhia-o como pai, e, após
ouvi-lo durante alguns minutos, falou-lhe compassivamente:
-
Acalme-se, meu amigo! Quem não terá suas lutas, seus problemas, suas dores? E se
todos somos devedores uns dos outros não será motivo de júbilo e glorificação
receber as sublimes possibilidades de resgate e pagamento? Não chore! Nossos
irmãos permanecem ao jantar. Não devemos perturbá-los, emitindo forças
magnéticas de desalento.
E repondo-o na vasta cadeira de
braços, como se Segismundo estivesse enfraquecido e enfermiço,
continuou:
- Tenha coragem. O ensejo próximo é
divino para o seu futuro espiritual. Organizaremos as coisas, não tenha
receio.
- Entretanto, meu amigo - falou o
interlocutor, em lágrimas -, experimento grandes obstáculos.
E acentuava em tom
humilde:
- Reconheço que fui um
grande criminoso, mas pretendo redimir as velhas culpas. Adelino, porém, apesar
das promessas na esfera espiritual, esqueceu, na recapitulação presente, o
perdão aos meus antigos erros...
Alexandre que ouvia, enternecido,
sorriu paternalmente e redargüiu:
- Ora, Segismundo,
porque envenenar o coração? Porque não desculpa você, por sua vez? Não complique
a própria situação, abrigando in¬justificável desânimo. Levante as energias, meu
amigo! Coloque-se na situação do ex-adversário, vítima noutro tempo de seu ato
impensado! Não encontraria, talvez, as mesmas dificuldades? Tenha calma e
prudência, não perca a bendita ocasião de tolerar alguma coisa desagradável ao
seu sentimento, a fim de reparar o passado e atender às necessidades do
presente. Vamos, equilibre-se! O momento é de gratidão a Deus e de harmonia com
os semelhantes!...
Segismundo enxugou os olhos, sorriu
com esforço e murmurou:
- Tem razão.
Herculano, que o contemplava,
compadecido, entrou na palestra, acrescentando:
- Ele tem estado muito abatido,
desanimado...
- É natural - tornou Alexandre,
decidido -, porque, em tais circunstâncias, sofre a criatura certos
desequilíbrios, em face das necessidades do regresso à carne, mas Segismundo tem
levado muito longe o fenômeno, acentuando os próprios sofri¬mentos, com
expectativas e inquietações injustificáveis.
Fixando, mais detidamente, a atenção
no casal que se mantinha à mesa, falou, afetuoso:
- Observemos Adelino e Raquel.
Vejamos a cooperação que podem receber.
Acompanhamo-lo, em
silêncio.
O chefe da casa permanecia
taciturno, conversando com a esposa tão somente por monossílabos. Via-se que a
companheira se esforçava; no entanto, ele continuava quase
sombrio.
- Não se efetuou o negócio que você
esperava? - interrogou à senhora, tentando a palestra afetiva.
- Não - respondeu ele
secamente.
- Mas você continua
interessado?
- Sim.
- E viajará na semana próxima, caso
não se realize o empreendimento até domingo?
- Talvez.
A esposa fez longa pausa, algo
desapontada, argüindo em seguida:
- Que desculpa apresenta a
Companhia, em vista de semelhante demora?
O marido fitou-a com frieza e
respondeu, lacônico:
- Nenhuma.
A essa altura, Alexandre fez
significativo gesto com a cabeça e falou-nos, preocupado:
- Em verdade, a condição
espiritual de Adelino é das piores, porque o sublime amor do altar doméstico
anda muito longe, quando os cônjuges perdem o gosto de conversar entre si. Em
semelhante estado psíquico, não poderá ser útil, de modo algum, aos nossos
propósitos.
Alexandre levantou-se, deu alguns
passos em torno da reduzida família e dirigiu-se a nós outros,
afirmando:
- Procurarei despertar-lhe as fibras
sensíveis do coração, de modo a prepará-lo, convenientemente, a fim de ouvir-nos
nesta noite.
Assim dizendo, o devotado orientador
aproximou-se da criança, belo menino de três anos aproximadamente, e colocou-lhe
a destra sobre o coração. vi que o pequeno sorriu, mostrando novo brilho nos
olhos azuis e falou, com inflexão de infinito carinho:
- Mamãe, porque papai
está triste?
O dono da casa ergueu o rosto, com
admiração, ao passo que a senhora respondia, comovida: - Não sei, Joãozinho. Ele
deve estar preocupado com os negócios, meu filho.
-
E que são «negócios», mamãe? - tornou a criança ingênua.
- São as lutas da
vida.
O menino fitou a mãezinha, com
atenção, e perguntou:
- Papai fica alegre nos
negócios?
- Fica, sim - respondeu à senhora,
sorrindo.
- E porque fica triste
em casa?
Enquanto o pai seguia o diálogo, sob
forte impressão, a genitora carinhosa esclareceu a criança, com
paciência:
- Nas lutas de cada dia, Joãozinho,
teu pai deve estar contente com todos e não deve ofender a ninguém. Entretanto,
o que te parece tristeza é o cansaço do trabalho. Quando ele volta ao lar traz
consigo muitas preocupações. Se na rua deve teu pai mostrar cordialidade e
alegria a todos, de modo a não ferir os demais, não acontece o mesmo aqui, onde
se encontra à vontade para refletir nos problemas que o interessam de perto.
Aqui, é o lar, meu filho, onde está com o direito de não esconder as
preocupações mais íntimas...
A criança escutou, atenta, dividindo
os olhares afetuosos entre pai e mãe, e tornou:
- Que pena, hein,
mamãe?
O chefe da pequena
família, tocado nas fibras recônditas da alma pela ternura do filhinho e pela
humildade sincera da companheira, sentiu que a nuvem de sombra dos seus próprios
pensamentos dava lugar a repousantes sensações de alivio confortador. Sorriu,
repentinamente transformado, e dirigiu-se ao pequeno, com nova inflexão de voz:
- Que idéia é essa, Joãozinho? Não
me sinto entristecido. Estou, aliás, satisfeitíssimo, como no último dia de
nosso passeio a serra! Tua mãe explicou muito bem o que se passa. Quando teu pai
estiver silencioso não quer dizer que se encontra desalentado. Por vezes, é
preciso calar para pensar melhor.
A dona da casa mostrou largo sorriso
de satisfação, observando a mudança brusca do companheiro. O menino, por sua
vez, não disfarçava o júbilo no semblante infantil, e assim que o pai terminou
as explicações afetuosas, sempre envolvido nas irradiações magnéticas do bondoso
instrutor, dirigiu-se novamente ao chefe da casa, perguntando:
- Papai, porque você não
vem rezar, de noite, comigo?
O genitor trocou expressivo olhar
com a esposa e falou ao pequenino:
- Tenho tido sempre muito serviço à
noite, mas voltarei hoje mais cedo para acompanhar tuas
preces.
E sorrindo, com paternal alegria,
acrescentou:
- Já sabes orar
sozinho?
O pequeno redargüiu,
satisfeito:
- Mamãe ensina-me todas
as noites a rezar por você. Quer ver?
E, abandonando o talher,
instintivamente olhou para o alto, de mãos postas, e recitou:
- «Meu Deus, guarda o
papai nos caminhos da vida, dá-lhe saúde, tranqüilidade e coragem nas lutas de
cada dia! Assim seja!»
O genitor, que se apresentara tão
impenetrável e rude a principio, mostrou os olhos rasos d’água sensibilizados
nas fibras mais intimas, e fixando ternamente o filho,
murmurou:
- Estás muito adiantado. Hoje,
Joãozinho, rezarei também.
De alma desanuviada agora, Adelino
contemplou a companheira, orgulhoso de possuir-lhe o devotamento, e
acentuou:
- A palestra do João
fez-me enorme bem. Trazia o coração desalentado, opresso. Eu mesmo não saberia
definir meu estado d’alma... Há muitos dias, minhas noites são agitadas, cheias
de aflições e pesadelos! Tenho sonhado sistematicamente que alguém se aproxima
de mim, na qualidade de vigoroso inimigo. Por vezes, rendo graças a Deus, ao
despertar pela manhã, porque me sinto mais à vontade, enfrentando as máscaras
humanas, que lutando, noite inteira, em sonhos cruéis...
A esposa, admirada, observou,
carinhosa:
- Creio que deverias descansar um
pouco... Comovido, ante a delicadeza da mulher, Adelino
continuou:
- Tenho tido receio de
mim mesmo! Tão logo me acomodo no leito, sinto instintivamente que uma sombra se
aproxima de mim. Adormeço sob incrível ansiedade e o pesadelo começa, sem que eu
saiba explicar conscientemente coisa alguma.
- E os sonhos são sempre os mesmos?
- indagou a esposa, solicita.
- Sempre - respondeu
ele, com emoção vejo que um homem se aproxima de mim, estendendo as mãos, à
maneira dum mendigo vulgar a implorar socorro, mas, ao lhe fixar a fisionomia,
inexplicável terror invade-me o espírito... Tenho a impressão de que ele deseja
assassinar-me pelas costas... Em certas ocasiões, tento estender-lhe as mãos,
vencendo a impressão de pavor; entretanto, fujo sempre, num misto de ódio e
repugnância oh! Que pesadelos terríveis e longos!
E, modificando o tom de voz,
acrescentou:
- Admito esteja eu sob fortes
desequilíbrios nervosos, sem atinar com o motivo...
- Porque não se submeter ao
necessário tratamento médico? - perguntou a esposa afetuosa.
O marido pensou alguns momentos,
como se o seu espírito vagueasse através de longínquas recordações. Em seguida,
fixando na companheira os olhos muito brilhantes, acentuou:
- Talvez não precise
recorrer a facultativos. É possível que o nosso filhinho esteja com a razão...
As lutas grosseiras do mundo impuseram-me o esquecimento da fé em Deus. Há
quantos anos terei abandonado a oração?
De olhos molhados e pensativos,
prosseguiu:
- Quando menino, minha
mãe me educava na ciência da prece. Ensinado a curvar-me diante da vontade do
Altíssimo, sentia a Bondade Divina em todas as coisas e ajoelhava-me confiante
ao pé de minha carinhosa genitora, implorando as bênçãos do Alto... Depois,
vieram as emoções dos sentidos, o duelo com os maus, a experiência difícil na
concorrência ao pão de cada dia... Desde então perdi a crença pura, que sinto
necessidade de retomar...
A esposa enxugou os olhos, comovida.
Há muitos anos não observava no companheiro semelhantes demonstrações emotivas.
Ergueu-se, emocionada, e falou com ternura:
- Volte hoje mais cedo para orarmos
juntos.
E procurando imprimir notas de
alegria à conversação, chamou o filhinho a pronunciar-se,
acrescentando:
- Hoje, Joãozinho, papai
rezará conosco.
Iluminou-se o semblante do pequenino
de intraduzível alacridade. Contemplou a mãezinha, enternecido, e
observou:
- Então, mamãe, farei todas as
orações que eu já sei.
Após o jantar, experimentando
disposições diferentes, Adelino despediu-se com delicadeza que Herculano
classificou de inabitual.
Alexandre, muito satisfeito,
asseverou, depois de restituir a criança aos cuidados maternos:
- Felizmente, nossos serviços preparatórios desdobram-se com
excelentes promessas. Conseguimos bastante em reduzidos
minutos.
De minha parte, imensa
era a surpresa que me invadia o espírito. Porque tamanhos cuidados? Alexandre e
outros benfeitores espirituais, tão elevados quanto ele mesmo, não poderiam
organizar todos os serviços atinentes à reencarnação de Segismundo? Não eram
senhores de grande poder sobre todos os obstáculos?
Mas, dando-me a idéia de que
desejava responder às minhas interrogações íntimas, o instrutor afavelmente
falou a Herculano, nestes termos:
- Não devemos e nem
podemos forçar a ninguém e precisamos das boas disposições de Adelino para o
trabalho a fazer.
Em seguida, passou a
orientar Segismundo, relativamente à conduta mental, aconselhando-o a
preparar-se com todos os recursos ao seu alcance para o, êxito na experiência
próxima. Outros amigos espirituais das personagens daquele drama entre duas
esferas também chegaram ao ninho doméstico, acentuando-se a alegria da
camaradagem fraternal.
A presença do meu
instrutor parecia incentivo a contentamento geral. Alexandre sabia conduzir a
palestra elevada e comunicava seu valioso otimismo a todos os companheiros.
Comentava-se a dificuldade da reencarnação em vista dos conflitos vibratórios
causadas pela incompreensão das criaturas terrestres, quando o chefe da casa
voltou ao lar, interessado em cultivar as doces emoções daquele
dia.
Agradavelmente surpreendidos, a
esposa e o filhinho fizeram-lhe muita festa, encetando nova conversação
confortadora e educativa.
Fez-se mais de uma hora de boa
leitura e excelente troca de idéias, renovando Adelino os seus propósitos de
reaver a serenidade íntima, através de maior comunhão espiritual com a pequena
família.
Quando a mãezinha dedicada lembrou
ao pequeno a necessidade de recolher-se, Joãozinho recordou a promessa paternal
e indagou:
- Papai sabe o que
devemos fazer antes da oração?
O chefe da casa sorriu e pediu-lhe
explicações.
O menino, com assombrosa vivacidade,
esclareceu:
- Diz mamãe que devemos
chamar os mensageiros de Deus para que nos assistam.
- Pois bem - tornou o genitor,
bem-humorado -, chame por eles em nosso favor.
O pequeno pronunciou algumas
palavras de convite, de mãos postas, e, em seguida, encaminharam-se os três,
para o aposento íntimo.
Alexandre, que parecia muito
satisfeito com a lembrança espontânea do pequenino, disse-nos
então:
- Estamos convidados a
participar das suas mais íntimas orações.
Acompanhemo-los.
Naquele momento, nosso grupo estava
acrescido de três entidades amigas de Raquel, que tinham vindo, até ali,
igualmente convocadas pela dedicação de Herculano, a fim de cooperarem na
solução do assunto.
O quadro interior era dos mais
comoventes. O pequenino pusera-se de joelhos e fazia a oração dominical, com
infantil emotividade. Adelino e a companheira seguiam-lhe a prece com grande
atenção. Por nossa vez, continuamos, agora em silêncio, a observar e colaborar
naquele serviço espiritual com as melhores forças do sentimento.
Notei que a esposa se
achava rodeada de intensa luminosidade, que, partindo de seu coração, envolvia o
esposo e o pequenino em suaves irradiações. Muito sensibilizado, Adelino deixou
escapar uma lágrima furtiva, quando o filho, terminando as preces, curtas em
palavras e grandiosas em espiritualidade, lhe beijou carinhosamente as mãos.
Mais alguns minutos e todos se
recolhiam sob os cobertores, felizes e tranqüilos.
Nesse instante, Alexandre
falou:
- Agora, meus amigos, façamos o
nosso serviço de oração cooperadora. Precisamos conversar seriamente com
Adelino, relativamente à situação. O orientador pediu a proteção divina para o
casal, em voz alta, sendo acompanhado por nós, em profundo silêncio.
As vibrações do nosso pensamento em
rogativa congregaram-se, como parcelas de luminosas substâncias a se reunirem
num todo, derramando-se sobre o leito conjugal, quais correntes sutis de forças
magnéticas revigorantes e regeneradoras.
Foi então que vi Raquel abandonar o
corpo físico, dentro de luminosas irradiações, parecendo-me alheia à situação.
Despreocupada, feliz, abraçou-se com
uma das entidades que nos acompanhavam, velha senhora que Alexandre nos
apresentara pouco antes, declarando tratar-se da avó materna da dona da casa. A
anciã desencarnada convidou a neta a permanecerem juntas em oração, ao que
Raquel aquiesceu com visível contentamento.
A esposa de Adelino, entretanto,
parecia identificar tão-somente a presença da velhinha amorosa. Fixava em nós o
olhar, indiferentemente, como se ali não estivéssemos. Estranhando o fato,
dirigi-me ao instrutor, pedindo-lhe explicações. Alexandre não se fez rogado e,
não obstante a delicadeza do serviço em curso, esclareceu-me
delicadamente:
- Não se surpreenda. Cada um de nós
deve ter a possibilidade de ver somente aquilo que nos proporcione proveito
legítimo. Além do mais, não seria justo intensificar a percepção de nossa amiga
para que nos acompanhe no trabalho desta noite. Ela nos auxiliará com o valor da
oração, mas não precisará seguir, de perto, os esclarecimentos que a condição do
esposo requisita. Quem faz o que pode, recebe o salário da paz. Raquel vem
fazendo quanto lhe é possível para o êxito no desempenho das obrigações que a
trouxeram ao mundo; por isso mesmo, não deve ser advertida e nem perturbada.
Atendamos Segismundo e Adelino.
Satisfeito com as elucidações
recebidas e admirando a Justiça Divina a manifestar-se nos mínimos pormenores de
nossas atividades espirituais, observei que a companheira de Adelino se
mantinha, não longe de nós, em fervorosa prece.
Nesse momento, o esposo
de Raquel afastava-se do corpo físico, pesadamente. Não apresentava, tal qual a
consorte, um halo radioso em derredor da personalidade, parecendo mover-se com
extrema dificuldade. Enquanto seu olhar vagueava no quarto, angustiado e
espantadiço, Alexandre se aproximou de mim e observou:
- Está examinando a
lição? Repare as singularidades da vida espiritual. Adelino e Raquel são
Espíritos associados de muitas existências em comum, partilham o mesmo cálice de
dores e alegrias terrestres. Na atualidade, seus corpos repousam um ao lado do
outro, no mesmo leito; entretanto, cada um vive em plano mental diferente. É
muito difícil estarem reunidas nos laços domésticos as almas da mesma esfera.
Raquel, fora dos veículos de carne, pode ver a avozinha, com quem se encontra
ligada no mesmo círculo de elevação. Adelino, porém, somente poderá ver
Segismundo, com quem se encontra imantado pelas forças do ódio que ele deixou,
imprudentemente, desenvolver-se, de novo, em seu coração...
A palavra do orientador, contudo,
foi interrompida por um grito lancinante. Adelino, receoso, identificara a
presença do antigo adversário e, espavorido, tentava correr, inutilmente.
Movimentava-se, com dificuldade, ansioso de retomar o corpo físico, à maneira de
criança medrosa procurando um refúgio, mas Alexandre, aproximando-se dele, com
amorosa autoridade, estendeu-lhe as mãos, das quais saíam grandes chispas de
luz.
Contido pelos raios magnéticos, o esposo de
Raquel pôs-se a tremer, sentindo-se que ele começava a ver alguma coisa além da
figura do ex-inimigo. Aos poucos, em vista das vigorosas emissões magnéticas de
Alexandre, ele pôde ver nosso venerável orientador, com quem passou a sintonizar
diretamente e caiu de joelhos, em convulsivo pranto. Observei o pensamento de
Adelino naquela hora comovedora e percebi que ele associava a visão radiosa às
preces do filhinho. Ele via, ali, a estranha figura de Segismundo e a
resplandecente presença de Alexandre e fazia intraduzível esforço para
recordar-se de alguma coisa do passado distante que a sua memória não conseguia
situar com exatidão. Supôs, naturalmente, que o nosso mentor devia ser um
emissário do Céu para salvá-lo dos pesadelos cruéis e, ofuscado pela intensa
luz, soluçava, genuflexo, entre o medo e o júbilo, suplicando paz e
proteção.
O bondoso instrutor dirigiu-se para
ele, com a serenidade de um pai carinhoso e experiente, e levantando-o,
exclamou:
- Adelino, guarda a paz que te
trazemos em nome do Senhor!
E, abraçando-o de encontro ao peito
amigo, continuou:
- Que temes, meu
irmão?
Ergueu ele os olhos lacrimosos e
indicando Segismundo, triste, alegou sentidamente:
- Mensageiro de Deus, livrai-me
deste pesadelo infeliz! Se viestes, trazido pelas orações de meu filho inocente,
ajudai-me por caridade!
E apontando o pobre amigo,
continuava:
- Este fantasma
enlouquece-me! Sinto-me doente, desventurado!...
Alexandre, porém, fixando-o
firmemente, indagou:
- É assim que recebes os
irmãos mais infelizes? É assim que te portas, ante os desígnios supremos? Onde
puseste as noções de solidariedade humana? Porque fugir aos mais infortunados da
sorte? É sempre muito fácil amar os amigos, admirar os bons, compreender os
inteligentes, defender os familiares, entronizar as afeições, conservar os que
nos estimam, louvar os justos e exaltar os heróis conhecidos; mas, se somos
respeitáveis em semelhantes posições intimas, é preciso reconhecer que elas
traduzem serviço realizado em nosso processo evolutivo.
Nós, porém, meu amigo,
ainda não alcançamos a redenção final.
Por isso mesmo, a tempestade é nossa
benfeitora; a dificuldade, nossa mestra; o adversário, instrutor eficiente.
Modifica as vibrações de teus pensamentos!
Recebe com caridade o
mendigo que te bate à porta, quando não tenhas adquirido ainda bastante luz para
recebê-lo com o amor que Jesus nos ensinou!
Impressionado com as palavras
ouvidas, pronunciadas com inflexão de ternura paternal, Adelino, em lágrimas
copiosas, voltou-se para Segismundo, encarando-o de frente. Alexandre, como se
lhe aproveitasse a nova atitude, acentuou:
- Contempla o pobrezinho
que te pede socorro! Observa-lhe o estado de humilhação e necessidade.
Imagina-te na posição dele e reflete! Não te doeria a indiferença dos outros?
Não te dilaceraria a alma a crueldade alheia? Estimarias que alguém te
classificasse de fantasma, tão-só pelas tuas demonstrações de sofrimento?
Adelino, meu amigo, abre
as portas do coração aos que te procuram em nome do Poderoso Pai.
O interpelado voltou-se, qual
criança medrosa, e, fixando o mentor generoso, falou:
- Oh! Mensageiro dos
Céus, tenho medo, muito medo!... Algo existe entre este homem de sombra e eu,
compelindo-me a profunda aversão!
Creio que ele deseja
roubar-me a vida, aniquilar a minha felicidade doméstica, envenenar-me o coração
para sempre!...
Compreendi que a aproximação de
Segismundo despertava em Adelino reencarnado as reminiscências do passado
sombrio. Ele, a vítima de outro tempo, não conseguia localizar os fatos vividos,
mas experimentava, no plano emotivo, as recordações imprecisas dos
acontecimentos, cheias de ansiedades dolorosas.
Findo ligeiro intervalo, Alexandre
objetou:
- Não deves permitir a
intromissão de forças negativas e destruidoras no campo íntimo da alma. É sempre
possível transformar o mal em bem, quando há firme disposição da criatura no
serviço de fidelidade ao Senhor.
Considera, meu amigo, as
grandes verdades da vida eterna! Ainda que este irmão te procurasse na condição
dum adversário, ainda que ele te buscasse como inimigo feroz, deverias abrir-lhe
o espírito fraternal! Toda reconciliação é difícil quando somos ignorantes na
prática do amor, mas sem a reconciliação humana jamais seria possível nossa
integração gloriosa com a Divindade!
E porque o esposo de Raquel chorasse
copiosamente, o orientador observou:
- Não chores! Equilibra o coração e
aproveita a sagrada oportunidade!...
Adelino, então, enxugou as lágrimas
e pediu, humilde:
- Auxiliai-me por amor de
Deus!
Sentindo-lhe a sinceridade profunda,
o instrutor convidou Segismundo a aproximar-se. Ele levantou-se, cambaleante,
angustiado.
Amparando a ex-vítima,
Alexandre indicou-lhe a figura do ex-assassino e
apresentou:
- Este é o nosso amigo
Segismundo que necessita de tua cooperação no serviço redentor. Estende-lhe as
mãos fraternas e atende em nome de Jesus!
Adelino não hesitou e,
embora o grande esforço intimo, visível à nossa percepção espiritual, apertou a
destra do ex-adversário, fundamente comovido.
- Perdoe-me, irmão! - murmurou
Segismundo, com infinita humildade. - O Senhor recompensá-lo-á pelo bem que me
faz!...
O marido de Raquel fixou-o nos
olhos, como a dissipar as derradeiras sombras do desentendimento, e
redargüiu:
- Disponha de mim... Serei seu
amigo!...
O ex-homicida inclinou-se,
respeitoso, e beijou-lhe a mão. O ato espontâneo de Segismundo conquistara-o.
Não podia ser mau aquele Espírito angustiado e triste que lhe osculava as mãos
com veneração e carinho. Foi então que vi um fenômeno singular. O organismo
perispiritual de Adelino parecia desfazer-se de pesadas nuvens, que se rompiam
de alto a baixo, revelando-lhe as características luminosas. Irradiações
suavíssimas aureolavam-lhe agora a personalidade, deixando perceber a sua
condição elevada e nobre.
Herculano, junto de mim, falou-me em
tom discreto:
- O perdão de Adelino
foi sincero. As sombras espessas do ódio foram efetivamente dissipadas. Louvado
seja Deus!
Alexandre abraçou as duas almas
reconciliadas e renovou-lhes fraternal observação, repassada de sabedoria e
ternura. Em seguida, recomendou ao esposo de Raquel que descansasse da luta,
dispondo-se a sair em nossa companhia.
Notei que marido e mulher,
impulsionados pelos amigos espirituais ali presentes, voltavam ao corpo físico,
a fim de permutarem impressões, referentemente aos fatos que classificariam de
sonhos, dentro da coloração mental de cada um.
Ao se retirar, Alexandre,
satisfeito, comentou paternalmente:
- Com o auxílio de Jesus, a tarefa
foi executada com êxito.
E, fixando Segismundo,
acrescentou:
- Creio que na próxima semana poderá
iniciar o seu serviço definitivo de reencarnação. Acompanhá-lo-emos com carinho.
Não receie coisa alguma.
Enquanto Segismundo sorria,
resignado e confiante, o orienta dor dirigiu-se a Herculano,
explicando-se:
- Já observei o
gráfico
referente ao organismo físico que o nosso amigo receberá de futuro, verificando, de
perto, as imagens da moléstia do coração que ele sofrerá na idade madura, como
conseqüência da falta cometida no passado.
Segismundo
experimentará grandes perturbações dos nervos cardíacos, mormente os nervos do
tônus.
Entretanto - e nesse
momento concentrou toda a sua atenção no interessado -, é necessário que você
lhe faça ver que as provas de resgate legítimo inclinam a alma encarnada a
situações periclitantes e difíceis na recapitulação das experiências; todavia,
não obrigam a novas quedas espirituais, quando dispomos de verdadeira boa
vontade no trabalho de elevação.
O aprendiz aplicado
pode ganhar muito tempo e conquistar imensos valores se, de fato, procura
conhecer as lições e pô-las em prática.
A justiça divina nunca
foi exercida sem amor. E quando a fidelidade sincera ao Senhor permanece viva no
coração dos homens, há sempre lugar para o «acréscimo de misericórdia» a que se
referia Jesus em seu apostolado.
Em seguida, convidando-me a
acompanhá-lo, Alexandre despediu-se dos demais,
frisando:
- Voltaremos a vê-los
no dia da ligação inicial de Segismundo com a matéria física. Preciso cooperar,
na ocasião, com os nossos amigos Construtores, aos quais
pedi me apresentassem os
mapas cromossômicos, referentemente aos serviços a serem
encetados.
Separamo-nos.
E eu, torturado de curiosidade
estranha, em vista daqueles cuidados extremos para que Adelino e Segismundo se
reconciliassem, antes da reaproximação pelos laços da carne, não sopitei as
interrogações que me atormentavam o espírito.
Não seria licito
providenciar a reencarnação do necessitado, sem quaisquer delongas? Porque
tamanha demonstração de carinho para com o esposo de Raquel se ele deveria
sentir-se satisfeito em poder cooperar na obra sublime de redenção? Não
dispúnhamos de suficiente poder para quebrar todas as
resistências?
Alexandre ouviu-me, pacientemente,
mostrou um sorriso de pai e respondeu:
- Sua estranheza é natural. Não se
habituou ainda aos trabalhos de socorro ou de organização neste lado da
vida.
E, depois de pequena pausa,
considerou:
- Cada homem, como cada
Espírito, é um mundo por si mesmo e cada mente é como um céu... Do firmamento
descem raios de sol e chuvas benéficas para a organização planetária, mas
também, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu
procedem as faíscas destruidoras.
Assim, a mente humana.
Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de
células do organismo físico; mas, quando perturbada, emite raios magnéticos de
alto poder destrutivo para as comunidades celulares que a servem.
O pensamento envenenado
de Adelino destruía a substância da hereditariedade, intoxicando a cromatina
dentro da própria bolsa seminal. Ele poderia atender aos apelos da Natureza,
entregando-se à união sexual, mas não atingiria os objetivos sagrados da
Criação, porque, pelas disposições lamentáveis de sua vida íntima, estava
aniquilando as células criadoras, ao nascerem, e, quando não as aniquilasse por
completo, intoxicava os genes do caráter, dificultando-nos a
ação...
Ora, no caso de Segismundo, unido a ele, em
processo ativo de redenção, não podemos dispensar-Lhe o concurso amoroso e
fraterno. Daí a necessidade desse trabalho intenso para despertar-lhe os valores
afetivos. Somente o amor proporciona vida, alegria e equilíbrio. Modificado em
sua posição íntima, Adelino emitirá doravante forças magnéticas protetoras dos
elementos destinados ao serviço elevado da procriação.
A palavra do orienta dor não podia
ser mais lógica. Começava agora a compreender o sentido sublime do trabalho que
se realizara para que o esposo de Raquel se fizesse mais humano e mais doce.
Como não encontrasse expressões para
definir meu assombro, Alexandre sorriu e acentuou, depois de longo
intervalo:
- Segundo pode observar, não existem
por aqui milagres para o culto do menor esforço. E quando ensinamos, em toda
parte, a necessidade da prática do amor, não procedemos obedientes a meros
princípios de essência religiosa, mas atendendo a imperativos reais da própria
vida.
No curso de seus esclarecimentos,
alusivos ao interessante caso de Segismundo, o bondoso instrutor ferira assuntos
de grande relevância para mim.
Mencionara a união
sexual e designara o trabalho criador como seu objetivo sagrado. Não seria esse
o momento oportuno de ouvi-lo, mais extensamente, respeito ao delicado assunto?
Crivei-o de
interrogações ansiosas. Alexandre não se mostrou surpreendido e ouviu-me as
perguntas, com imperturbável serenidade. Quando me coloquei na atitude de
expectativa, respondeu, amavelmente:
- O sexo tem sido tão
aviltado pela maioria dos homens reencarnados na Crosta que é muito difícil para
nós outros, por enquanto, elucidar o raciocínio humano, com referência ao
assunto.
Basta dizer que a união
sexual entre a maioria dos homens e mulheres terrestres se aproximam
demasiadamente das manifestações dessa natureza entre os
irracionais.
No capítulo de relações dessa espécie, há
muita inconsciência criminosa e indiferença sistemática às leis divinas. Desse
plano não seria razoável qualquer comentário de nossa parte. Trata-se dum
domínio de semibrutos, onde muitas inteligências admiráveis preferem demorar em
baixas correntes evolutivas.
É
inegável que também aí funcionam as tarefas de abnegados construtores
espirituais, que colaboram na formação básica dos corpos, destinados a servirem
às entidades que reencarnam nesses círculos mais grosseiros.
Entretanto, é preciso
considerar que o serviço, em semelhante esfera, é levado a efeito em massa, com
características de mecanismo primitivo. O amor, nesses planos mais baixos, é tal
qual o ouro perdido em vasta quantidade de ganga, exigindo largo esforço e
laboriosas experiências para revelar-se aos entendidos. Entre as criaturas,
porém, que se encaminham, de fato, aos montes de elevação, a união sexual é
muito diferente. Traduz a permuta sublime das energias perispirituais,
simbolizando alimento divino para a inteligência e para o coração e força
criadora não somente de filhos carnais, mas também de obras e realizações
generosas da alma para a vida eterna.
Alexandre fez ligeira pausa, sorriu
paternalmente e continuou:
- Lembre-se, André, de que me referi
a objetivos sagrados da Criação e não exclusivamente ao trabalho procriador.
A procriação é um dos
serviços que podem ser realizados por aquele que ama, sem ser o objeto exclusivo
das uniões. O Espírito que odeia ou que se coloca em posição negativa, diante da
Lei de Deus, não pode criar vida superior em parte alguma.
Compreendi que o problema era muito
difícil de ser explanado, mas, como se quisesse desfazer todas as minhas
dúvidas, o dedicado instrutor prosseguiu, após breve interrupção:
- É necessário deslocar
a concepção do sexo, abstendo-nos de situá-la tão-somente em determinados órgãos
do corpo transitório das criaturas. Vejamos o sexo como qualidade positiva ou
passiva, emissora ou receptora da alma.
Chegados a esse entendimento,
verificamos que toda manifestação sexual evolui com o ser. Enquanto nos
mergulhamos no charco das vibrações pesadas e venenosas, experimentamos, nesse
domínio, simplesmente sensações. À medida que nos dirigimos a caminho do
equilíbrio, colhemos material de experiências proveitosas, oportunidades de
retificação, força, conhecimento, alegria e poder.
Em nos harmonizando com
as leis supremas, encontramos a iluminação e a revelação, enquanto os Espíritos
Superiores colhem os valores da Divindade. Substituamos as palavras «união
sexual» por «união de qualidades» e observaremos que toda a vida universal se
baseia nesse divino fenômeno, cuja causa reside no próprio Deus, Pai Criador de
todas as coisas e de todos os seres.
As palavras de Alexandre abriam-me
novos horizontes ao pensamento. As questões obscuras do tema tornavam-se claras
ao meu campo mental. Fazendo-me sentir que os intervalos da conversação se
destinavam a fornecer-me tempo de meditar, o benevolente orientador continuou,
depois de longa pausa:
- Essa união de
qualidades», entre os astros, chama-se magnetismo planetário da atração, entre
as almas denomina-se amor, entre os elementos químicos é conhecida por
afinidade. Não seria possível, portanto, reduzir semelhante fundamento da vida
universal, circunscrevendo-o a meras atividades de certos órgãos do aparelho
físico.
A paternidade ou a
maternidade é tarefa sublime; não representam, porém, os únicos serviços
divinos, no setor da Criação infinita. O apóstolo que produz no domínio da
Virtude, da Ciência ou da Arte, vale-se dos mesmos princípios de troca, apenas
com a diferença de planos, porque, para ele, a permuta de qualidades se verifica
em esferas superiores.
Há fecundações físicas e
fecundações psíquicas. As primeiras exigem as disposições da forma, a fim
de atenderem a exigências da vida, em caráter provisório, no campo das
experiências necessárias.
As segundas, porém,
prescindem do cárcere de limitações e efetua-se nos resplandecentes domínios da
alma, em processo maravilhoso de eternidade. Quando nos referimos ao amor do
Onipotente, quando sentimos sede da Divindade, nossos espíritos não procuram
outra coisa senão a troca de qualidades com as esferas sublimes do Universo,
sequiosos do Eterno Princípio Fecundante...
Alexandre fez longa pausa, como se
ele mesmo permanecesse embevecido com semelhantes evocações. Por minha vez,
achava-me deslumbrado. Nunca ouvira definições tão profundas, referentemente à
posição do sexo na vida universal.
- É
lamentável - continuou o orientador, gravemente - que a maioria dos nossos
irmãos encarnados na Crosta tenha menosprezado as faculdades criativas do sexo,
desviando-as para o vórtice de prazeres inferiores.
Todos pagarão, porém, ceitil por ceitil, o que
devem ao altar santificado, através de cuja porta receberam a graça de trabalhar
e aprender na superfície da Terra. Todo ato criador está cheio de sagradas
comoções da Divindade e são essas comoções sublimes da participação da alma, nos
poderes criadores da Natureza, que os homens conduzem, imprevidentemente, para a
zona do abuso e da viciação.
Tentam
arrastar a luz para as trevas e convertem os atos sexuais, profundamente
veneráveis em todas as suas características, numa paixão viciosa tão deplorável
como a embriaguez ou a mania do ópio. Entretanto, André, sem que os olhos
mortais Lhes observem as angústias retificadoras, todos os infelizes, em
semelhantes despenhadeiros, são punidos severamente pela Natureza
divina.
A essa altura das luminosas
elucidações, sentindo que o respeitável amigo entraria em nova pausa, ousei
interrogar:
- Mas não é o uso do
sexo uma lei natural na esfera da Crosta?
Alexandre sorriu com benevolência e
respondeu:
- Ninguém contesta esse
caráter das manifestações sexuais nos círculos da carne, mas todas as leis
naturais na experiência humana devem ser exercidas, como em toda parte, sobre as
bases da lei universal do bem e da ordem.
Quem foge ao bem, é
defrontado pelo crime; quem foge à ordem, cai no desequilíbrio. As uniões
sexuais, portanto, que se efetuem à distância desses sublimes imperativos,
transformam-se em causas geradoras de sofrimento e perturbação.
Ao demais, não devemos
esquecer que o sexo, na existência humana, pode ser um dos instrumentos do amor,
sem que o amor seja o sexo. Por isso mesmo, os homens e as mulheres, cuja alma
se vai libertando dos cativeiros da forma física, escapam, gradativamente, do
império absoluto das sensações carnais.
Para eles, a união
sexual orgânica vai deixando de ser uma imposição, porque aprendem a trocar os
valores divinos da alma, entre si, alimentando-se reciprocamente, através de
permutas magnéticas, não menos valiosas para os setores da Criação Infinita,
gerando realizações espirituais para a eternidade gloriosa, sem qualquer
exigência dos atritos celulares.
Para esse gênero de
criaturas, a união reconfortadora e sublime não se acha circunscrita à
emotividade de alguns minutos, mas constitui a integração de alma com alma,
através da vida inteira, no campo da Espiritualidade Superior.
Diante dos fenômenos da presença física,
bastam-lhes, na maioria das vezes, o olhar, a palavra, o simples gesto de
carinho e compreensão, para que recebam o magnetismo criador do coração amado,
impregnando-se de força e estimulo para as mais difíceis
edificações.
Imprimiu Alexandre pequeno intervalo
à palestra e, em seguida, abanando a cabeça, significativamente,
observou:
- Não há criação sem
fecundação. As formas físicas descendem das uniões físicas. As construções
espirituais procedem das uniões espirituais. A obra do Universo é filha de Deus.
O sexo, portanto, como qualidade positiva ou passiva dos princípios e dos seres,
é manifestação cósmica em todos os círculos evolutivos, até que venhamos a
atingir o campo da Harmonia Perfeita, onde essas qualidades se equilibram no
seio da Divindade.
Não ousei quebrar o silêncio que se
seguiu. O venerando instrutor, engolfado em profundos pensamentos, não mais
voltou ao assunto, compelindo-me, talvez, a meditações mais
edificantes.
Esperei, ansioso, o instante de
tornar às observações do caso Segismundo. O estudo que encetara era
verdadeiramente fascinador.
Foi por isso, com justificada
alegria, que recebi o convite de Alexandre para o regresso ao lar de Adelino. O
bondoso orientador alegava que era preciso visitar o casal e o amigo em processo
reencarnacionista, na véspera da primeira ligação com a matéria
orgânica.
Chegados à moradia nossa conhecida,
encontramos Herculano e Segismundo em companhia de outras entidades. Alexandre
informou-me tratar-se de Espíritos
construtores, que iam cooperar na formação fetal do nosso
amigo.
Como da outra vez, banhava-se o
ninho doméstico na luz crepuscular, mantendo-se a pequena família no mesmo ato
de refeição.
Adelino, porém, demonstrava
diferente posição espiritual. Cercava-o claro ambiente de otimismo, delicadeza e
alegria. Meu amável instrutor, muito satisfeito com a nova situação, passou a
examinar os
mapas cromossômicos, com a assistência dos construtores presentes.
Em vão procurava compreender aqueles
caracteres singulares, semelhantes a pequeninos arabescos, francamente
indecifráveis ao meu olhar.
Alexandre, porém, sempre gentil e
benevolente, acentuou:
- Este não é um estudo
que você possa entender, por enquanto.
Estou examinando a
geografia dos genes nas estrias cromossômicas, a fim de certificar-me até que
ponto poderemos colaborar em favor de nosso amigo Segismundo, com recursos
magnéticos para a organização das propriedades
hereditárias.
Conformei-me e passei a observar
Segismundo, que parecia extenuado, abatido. Não conseguia manter-se sentado.
Assistido pela dedicação de Herculano, conversava dificilmente, conosco,
estirado numa cama, em grande prostração.
Demonstrava-se satisfeito com a
minha simpatia fraternal e, enquanto os demais lhe estudavam a situação,
entretive com ele conversação rápida, que me deu a conhecer, mais uma vez, a penosa
impressão dos que se encontram no limiar de nova experiência
terrestre.
- Já estive mais animado - disse-me
ele, triste -; entretanto, agora, falece-me a energia... Sinto-me fraco,
incapacitado... Enquanto lutei por obter a transformação de meu futuro pai,
experimentava mais confiança e serenidade... Agora, porém..., Que consegui a
dádiva do retorno à luta, tenho receio de novos
fracassos...
- Tenha calma - respondi,
confortando-o -; a sua oportunidade de redenção é das melhores. Além disso,
muitos companheiros segui-lo-ão de perto, colaborando em seu êxito no
porvir.
O interlocutor sorriu com
dificuldade e observou:
- Sim, reconheço... Dentre todos os
irmãos que me assistem agora, Herculano me acompanhará com desvelo e
constância... Bem sei.
No entanto, o renascimento na carne, com os
valores espirituais que já possuímos, representa um fato gravíssimo em nosso
processo de elevação... Ai de mim, se cair outra
vez!...
Dirigia-lhe exortações de coragem e
bom ânimo, quando o meu orientador, dando por findo o exame da documentação, se
aproximou de nós ambos e falou-lhe com afetuosa autoridade:
- Segismundo, é
incrível que desfaleça no momento culminante de suas atuais realizações.
Restaure a sua fé, regenere a esperança, porque você não pode entrar na corrente
material, à maneira dos nossos irmãos ignorantes e infelizes, que reclamam quase
absoluto estado de inconsciência para penetrarem, de novo, o santuário
maternal.
Não deixe de cooperar com a sua confiança em
nosso labor para o seu próprio beneficio. Dê trabalho à sua imaginação criadora.
Mentalize os primórdios da condição fetal, formando em sua mente o modelo
adequado.
Você encontrará na
maternidade nobre de Raquel os mais eficientes auxílios e receberá de nós outros
a mais decidida colaboração; entretanto, lembre-se de que o seu trabalho
individual será muito importante, no setor da adaptação e da recepção, para que
triunfe na presente oportunidade.
Não perca tempo em
expectativas ansiosas, cheias de dores e apreensões. Levante o padrão de suas
forças morais.
Segismundo ouviu, respeitoso, a
advertência. Reconheci que as palavras reconfortantes de Alexandre se fizeram
seguir de maravilhoso efeito. Segismundo melhorou repentinamente, esforçando-se
por alijar a carga de preocupações inúteis.
Impressionado com o esclarecimento
do prestimoso mentor, não hesitei em dirigir-lhe nova consulta.
- Existem, então -
perguntei sob forte interesse -, aqueles que reencarnam inconsciente do ato que
realizam?
-
Certamente - respondeu ele, solicito -, assim também como desencarna diariamente
na Crosta milhares de pessoas sem a menor noção do ato que experimentam. Somente
as almas educadas têm compreensão real da verdadeira situação que se lhes
apresenta em frente da morte do corpo.
Do mesmo modo, aqui. A maioria dos que retomam
a existência corporal na esfera do Globo é magnetizada pelos benfeitores
espirituais, que lhe organizam novas tarefas redentoras, e quantos recebem
semelhantes auxilio são conduzidos ao templo maternal de carne como crianças
adormecidas.
O trabalho inicial, que
a rigor Lhes compete na organização do feto, passa a ser executado pela mente
materna e pelos amigos que os ajudam de nosso plano.
São inúmeros os que
regressam à Crosta nessas condições, reconduzidos por autoridades superiores de
nossa esfera de ação, em vista das necessidades de certas almas encarnadas, de
certos lares e determinados agrupamentos.
A explicação não podia ser mais
lógica e, uma vez ainda, admirei no amoroso amigo o dom da clareza e da
simplicidade.
Demoramo-nos, por mais algum tempo,
naquele ninho acolhedor e, ao despedir-se, quase à meia-noite, após reconfortar
o espírito de Segismundo, Alexandre dirigiu-se a Herculano e aos construtores,
nestes termos:
- Voltaremos na noite
de amanhã, para a ligação inicial, fazendo a entrega de nosso irmão reencarnante
aos nossos amigos.
Um dos Espíritos Construtores, que
parecia o chefe do grupo em operações, abraçou-o, comovida¬mente, e
falou:
- Contamos com o seu
concurso para a divisão da cromatina no útero materno.
- Com muito prazer! - redargüiu,
bem-humorado.
Voltando a outras ocupações, não
continha as idéias novas que a experiência de Segismundo despertava em mim. Como
seria feito o auxilio naquelas circunstâncias? Raquel estaria consciente de
nossa colaboração? Como interpretaria o casal as atividades de nosso plano, caso
viesse a conhecer a extensão de nossa tarefa? Alexandre, porém, incumbiu-se de
interromper minhas indagações interiores, acrescentando, como se estivesse
ouvindo os meus pensamentos:
- Em casos dessa
natureza André, a nossa intervenção desenvolve-se com a mesma santidade que
caracteriza o concurso de um médico responsável e honesto, ao praticar a
intervenção no parto comum.
A modelagem fetal e o
desenvolvimento do embrião obedecem a leis físicas naturais, qual ocorre na
organização de formas em outros reinos da Natureza, mas, em todos esses
fenômenos, os ascendentes de cooperação espiritual coexistem com as leis, de
acordo com os planos de evolução ou resgate. Nosso concurso, portanto, em
processos tais, é uma das tarefas mais comuns.
Compreendi a elevação do
esclarecimento e pacifiquei a mente, esperando o dia seguinte.
Escoadas, porém, as horas do dia, a
curiosidade voltou a espicaçar-me.
Em que momento
deveriamos buscar a moradia de Adelino? Sem qualquer intenção menos digna,
preocupava-me o instante da primeira ligação de Segismundo à matéria. Agria
Alexandre no momento da união sexual ou o fenômeno obedeceria a diferentes
determinações?
Meu orientador sorria em
silêncio, compreendendo-me a tortura mental. As horas sucediam-se umas às outras
e, observando-me a impaciência, Alexandre esclareceu-me, bondoso:
- Não é necessária a
nossa presença ao ato de união celular. Semelhantes momentos do tálamo conjugal
são sublimes e invioláveis nos lares em bases retas. Você sabe que a fecundação
do óvulo materno somente se verifica algumas horas depois da união
genesíaca.
O elemento masculino deve fazer extensa
viagem, antes de atingir o seu objetivo.
E, sorrindo,
acrescentou:
- Temos
tempo.
Compreendi a delicadeza dos
esclarecimentos e, sequioso de informações referentes ao assunto,
interroguei:
- Com relação às uniões
sexuais, de acordo com o seu parecer, todas elas são invioláveis?
- Isto não - aduziu o
instrutor, atencioso -, você não deve esquecer que aludi aos «lares em bases
retas».
Todos os encarnados que
edificam o ninho conjugal, sobre a retidão, conquistam a presença de testemunhas
respeitosas, que lhes garantem a privacidade dos atos mais íntimos,
consolidando-Lhes as fronteiras vibratórias e defendendo-as contra as forças
menos dignas, tomando, por base de seus trabalhos, os pensamentos elevados que
encontram no ambiente doméstico dos amigos; não ocorre o mesmo, entretanto, nas
moradias, cujos proprietários escolhem baixas testemunhas espirituais,
buscando-as em zonas inferiores.
A esposa infiel aos
princípios nobres da vida em comum e o esposo que põe sua casa em ligação com o
meretrício, não devem esperar que seus atos afetivos permaneçam coroados de
veneração e santidade.
Suas relações mais
intimas são objeto de participação das desvairadas testemunhas que escolheram.
Tornam-se vítimas inconscientes de grupos perversos, que lhes partilham as
emoções de natureza fisiológica, induzindo-as a mais dolorosa viciação.
Ainda que esses cônjuges
infelizes estejam temporariamente catalogados no pináculo das posições sociais
humanas, não poderão trair a miserável condição interior, sequiosos que vivem de
prazeres criminosos, dominados de estranha e incoercível
volúpia.
A resposta impressionante de
Alexandre surpreendeu-me. Compreendi com mais intensidade que cada um de nós
permanece com a própria escolha de situação, em todos os lugares. Todavia, nova
questão surgia-me no cérebro e procurei movimentá-la, para melhor aclarar o
raciocínio.
- Entendo a magnitude de suas
elucidações - afirmei, respeitoso.
–
Entretanto, considerando
o perigo de certas atitudes inferiores dos que assumem o compromisso da fundação
de um lar, que condição, por exemplo, é a da esposa fiel e devotada, ante um
marido desleal e aventureiro, no campo sexual? Permanecerá a mulher nobre e
santa à mercê das criminosas testemunhas que o homem escolheu?
- Não! - disse ele,
veemente - o mau não pode perturbar o que é genuinamente bom. Em casos dessa
espécie, a esposa garantirá o ambiente doméstico, embora isto lhe custe as mais
difíceis abnegações e pesados sacrifícios. Os atos que lhe exijam a presença
enobrecedora são sagrados, ainda que o companheiro, na vida comum, se tenha
colocado em nível inferior aos brutos.
Em situações como essa,
no entanto, o marido imprevidente torna-se paulatinamente cego a virtude e
converte-se por vezes no escravo integral das entidades perversas que tomou por
testemunhas habituais, presentes em todos os seus caminhos e atividades fora do
santuário da família. Chegado a esse ponto, é muito difícil impedir-lhe a queda
nos desfiladeiros fatais do crime e das trevas.
- Oh! Meu Deus! - exclamei - -
quanto trabalho esperando o concurso das almas corajosas: quanta ignorância a
ser vencida!...
- Você diz bem -
acrescentou o orientador, gravemente -, porque, de fato, a maioria das tragédias
conjugais se transfere para além-túmulo, criando pavorosos infernos para aqueles
que as viveram na Crosta do Mundo. É muito doloroso observar a extensão dos
crimes perpetrados na existência carnal e ai dos desprevenidos que não se
esforçam, a tempo, no sentido de combater as paixões baixas! Angustioso lhes é
aqui o despertar!...
Calei-me e Alexandre, pensativo,
entrou também em silêncio profundo, dando-me a entender suas admiráveis
faculdades de concentração.
Eram aproximadamente vinte e duas
horas, quando nos pusemos a caminho da residência de Raquel.
A pequena família acabava de
recolher-se.
Herculano e os demais receberam-nos
com inequívocas demonstrações de carinho.
O chefe dos Construtores dirigiu-se
ao meu instrutor, nestes termos:
- Esperávamos pela sua colaboração
para iniciarmos o serviço magnético no paciente.
Passamos, em seguida, à pequena
câmara, onde Segismundo repousava. Permanecia ele aflito, de olhar triste e
vagueante.
Não pude sopitar uma
interrogação:
- Por que motivo
Segismundo sofre tanto? - indaguei de Alexandre, em tom discreto.
- Desde muito, e,
particularmente, desde a semana passada, está em processo de ligação fluídica
direta com os futuros pais. Herculano está encarregado de ajudá-lo nesse
trabalho.
À medida que se intensifica semelhante
aproximação, ele vai perdendo os pontos de contacto com os veículos que
consolidou em nossa esfera, através da assimilação dos elementos de nosso
plano.
Semelhante operação é necessária para que o
organismo perispiritual possa retomar a plasticidade que lhe é característica
e, no
estágio em que ele se encontra, o serviço impõe-lhe
sofrimentos.
A observação era muito nova para mim
e continuei indagando:
- Mas o organismo
perispirítico de Segismundo não é o mesmo que ele trouxe da Crosta, ao
desencarnar pela última vez?
- Sim - concordou o
orientador -, tem a mesma identidade essencial; todavia, com o curso do tempo,
em vista de nova alimentação e novos hábitos em meio muito diverso, incorporou
determinados elementos de nossos círculos de vida, dos quais é necessário se
desfaça a fim de poder penetrar, com êxito, a corrente da vida carnal.
Para isto, as lutas das
ligações fluídicas primordiais com as emoções que lhes são conseqüentes
desgastam-lhe as resistências dessa natureza, salientando-se que, nesta noite,
faremos a parte restante do serviço, mobilizando, em seu auxilio, nossos
recursos magnéticos.
- Oh! - disse eu - não teremos aqui
um fato semelhante à morte física na Crosta?
Alexandre sorriu e
aquiesceu:
- Sem dúvida, desde que consideremos
a morte do corpo carnal como simples abandono de envoltórios atômicos
terrestres.
Reconheci, porém, que a hora não
comportava longas dissertações, e, vendo que o meu bondoso instrutor fixava a
atenção nos Construtores, abstive-me de novas interrogações.
Seguido pelos amigos, Alexandre
aproximou-se de Segismundo e falou-lhe, bem-humorado:
- Então? Mais forte?
E, acariciando-lhe a face,
acrescentou:
- Você deve estar satisfeito: é
chegado o momento decisivo. Todas as nossas expressões de reconhecimento a Deus
são insignificantes, diante da nova oportunidade recebida.
- Sim... - falou Segismundo,
arquejante - estou grato... Não se esqueçam de mim... Com o auxilio
necessário.
E olhando angustiosamente para o meu
orientador, observou, inquieto:
- Tenho receio... Muito
receio...
Alexandre sentou-se paternalmente ao
lado dele e disse-lhe, com ternura:
- Não asile o monstro
do medo no coração. A hora é de confiança e coragem. Ouça, Segismundo! Se você
guarda alguma preocupação, divida conosco os seus pesares, fale de tudo o que
constitua dificuldade em seu intimo!
Abra sua alma, querido amigo! Lembre-se de que
o instante da passagem definitiva de plano se aproxima. Torna-se indispensável
manter o pensamento puro, lavado de todos os detritos!
O interlocutor deixou cair algumas
lágrimas e conversou com esforço:
- Sabe que empreendi
pequenina obra de socorro, nas cercanias de nossa colônia espiritual... A obra
foi autorizada pelos nossos Maiores e... Apesar do bom funcionamento... Sinto
que não está terminada e que tenho em sua estrutura grandes responsabilidades...
Não sei se fiz bem... Pedindo agora o retorno à Crosta do Mundo, antes de
consolidar meu trabalho... Entretanto... Reconheci que para seguir além...
Precisava reconciliar-me com a própria consciência, buscando os adversários de
outro tempo... A fim de resgatar minhas faltas...
E enquanto o instrutor e os demais
amigos o acompanhavam, em silêncio, Segismundo pros¬seguia:
- Foi por isto... Que insisti tanto
pela obtenção de minha volta...
Como poderia conduzir os outros à
plena conversão espiritual... Diante dos ensinamentos do Cristo... Sem haver
pago minhas próprias dívidas? Como ensinar os irmãos sofredores... Sofrendo eu
mesmo... Dolorosas chagas em virtude do passado cruel? Agora, porém... Que se
aproxima o recomeço difícil... Tortura-me o receio de errar novamente... Quando
Raquel e Adelino voltaram... Prometeram-me amparos fraternais e estou certo...
De que serão dois benfeitores para mim... No entanto... Afligem-me receios e
ansiedades ante o futuro desconhecido...
Valendo-se da pausa que se fizera
naturalmente, Alexandre tomou a palavra, com franqueza e
otimismo:
- Não adianta inquietar-se tanto,
meu amigo! Desprenda-se de suas criações aqui. Todas as nossas obras, efetuadas
de acordo com as leis divinas, sustentam-se por si mesmas e esperam-nos em
qual¬quer tempo para a colheita de saborosos frutos de alegria eterna. Somente o
mal está condenado à destruição e apenas o erro necessita laboriosos processos
de retificação.
Esteja, portanto, calmo e feliz. Sua
insistência pelo regresso atual aos círculos terrenos foi muito bem lembrado. O
resgate do desvio de outra época concederá ao seu espírito uma luz nova e mais
brilhante. Persevere no seu propósito. Valer-se da escola, receber-lhe a
orientação sublime, assenhorear-se-lhe dos benefícios, representa a maior
felicidade do aluno fiel.
Assim, pois, Segismundo, a sua
felicidade de voltar agora à esfera carnal é muito grande. Lave a sua mente na
água viva da confiança em Deus, e caminhe. Para a nova experiência você não pode
levar senão o patrimônio divino já adquirido com o seu esforço para a vida
eterna, constituída pelas idéias enobrecedoras e pelas luzes intimas que o seu
espírito já conquistou.
Não se detenha, desse modo, em
lembranças dos aspectos exteriores de nossas atividades neste plano. Persistir
em semelhantes estados d’alma poderá trazer conseqüências muito graves,
porquanto a sua inadaptação perturbaria o desenvolvimento fetal e determinaria a
morte prematura de seu novo aparelho físico, no período infantil. Não se prenda
a receios pueris. É verdade que você deve e precisa pagar, mas, em sã
consciência, qual de nós não é devedor? Com tristeza e abatimento nunca
resgataremos nossos débitos. É indispensável criar esperanças novas.
Segismundo fez um gesto
significativo de afirmação e sorriu com dificuldade, mostrando-se menos
triste.
- Não perturbe o seu trabalho
valioso do momento. Recorde as graças que temos recebido e não
tema!
Calando-se o mentor, notei que
Segismundo, sob forte emoção, não conseguia recursos para manter a palestra.
Vi-o, porém, tomar a destra de Alexandre, com infinito esforço, beijando-a,
respeitoso, em sinal de reconhecimento.
Ponderei, então, no
concurso enorme que todos recebemos ao regressar ao círculo carnal. Aqueles
devotados benfeitores auxiliavam Segismundo, desde o primeiro dia, e, ainda ali,
diante do possível recuo do interessado, eles mesmos se mostravam dispostos a
consolar-lhe todas as tristezas, levantando-lhe o ânimo para o êxito
final.
Os Espíritos
Construtores começaram o trabalho de magnetização do corpo perispirítico, no que
eram amplamente secundados pelo esforço do abnegado orientador, que se mantinha
dedicado e firme em todos os campos de serviço.
Sem que me possa fazer
compreendido, de pronto, pelo leitor comum, devo dizer que «alguma coisa da
forma de Segismundo estava sendo eliminada». Quase que imperceptivelmente, à
medida que se intensificavam as operações magnéticas, tornava-se ele mais
pálido. Seu olhar parecia penetrar outros domínios. Tornava-se vago, menos
lúcido.
A certa altura,
Alexandre falou-lhe com autoridade:
- Segismundo,
ajude-nos! Mantenha clareza de propósitos e pensamento firme!
Tive a impressão de que
o reencarnante se esforçava por obedecer.
- Agora - continuou o
instrutor - sintonize conosco relativamente à forma pré-infantil. Mentalize sua
volta ao refúgio maternal da carne terrestre! Lembre-se da organização fetal,
faça-se pequenino! Imagine sua necessidade de tornar a ser criança para aprender
a ser homem!
Compreendi que o
interessado precisava oferecer o maior coeficiente de cooperação individual para
o êxito amplo. Surpreendido, reconheci que, ao influxo magnético de Alexandre e
dos Construtores Espirituais, a forma perispiritual de Segismundo tornava-se
reduzida.
A operação não foi
curta, nem simples. Identificava o esforço geral para que se efetuasse a redução
necessária.
Segismundo parecia cada
vez menos consciente. Não nos fixava com a mesma lucidez e suas respostas às
nossas perguntas afetuosas não se revelavam completas.
Por fim, com grande
assombro meu, verifiquei que a forma de nosso amigo assemelhava-se à de uma
criança.
O fenômeno espantava-me
e não pude conter as interrogações que se me represavam no íntimo. Observando
que Alexandre e os Construtores se dispunham a alguns minutos de intervalo,
antes da penetração na câmara conjugal, acerquei-me do prestimoso orientador,
que me percebeu, num relance, a curiosidade.
Acolheu-me, cortês como
sempre, e falou:
- Já sei. Você
permanece torturado pelo espírito de pesquisa.
Sorri desapontado, mas
cobrei ânimo e indaguei:
- Como pode ser o que
vejo? Ignorava que o renascimento compelisse o plano espiritual a serviços tão
complexos!
- O trabalho
enobrecedor está em toda parte - acentuou Alexandre, intencionalmente. - O
paraíso da ociosidade é talvez a maior ilusão dos princípios teológicos que
obscureceram na Crosta o sentido divino da verdadeira Religião.
Fez uma pausa, fixou um
gesto expressivo e continuou:
- Quanto à estranheza
de que se sente possuído, não vemos razão para tanto.
A desencarnação normal
na Terra obriga o corpo denso de carne a não menores modificações. A enfermidade
mortal, para o homem terreno, não deixa, em certo sentido, de ser prolongada
operação redutiva, libertando por fim a alma, desembaraçando-a dos laços
fisiológicos. Há pessoas que, depois de algumas semanas de leito, se tornam
francamente irreconhecíveis. E devemos considerar que o aparelho físico
permanece muito distante da plasticidade do corpo perispiritual, profundamente
sensível a influenciação magnética.
A explicação não podia
ser mais lógica.
- O que vimos, porém,
com Segismundo perguntei - é regra geral para todos os casos?
- De modo algum
respondeu o instrutor, atencioso -, os processos de reencarnação, tanto quanto
os da morte física, diferem ao infinito, não existindo, segundo cremos, dois
absolutamente iguais. As facilidades e obstáculos estão subordinados a fatores
numerosos, muitas vezes relativos ao estado consciencial dos próprios
interessados no regresso à Crosta ou na libertação dos veículos carnais. Há
companheiros de grande elevação que, ao voltarem à esfera mais densa em
apostolado de serviço e iluminação, quase dispensam o nosso concurso. Outros
irmãos nossos, contudo, procedentes de zonas inferiores, necessitam de
cooperação muito mais complexa que a exercida no caso de
Segismundo.
- Não deveriam
renascer, porém - interroguei, curioso -, tão somente aqueles que se revelassem
preparados?
- Não podemos esquecer,
no entanto - refutou meu esclarecido interlocutor -, que a reencarnação é o
curso repetido de lições necessárias. A esfera da Crosta é uma escola divina. E
o amor, por intermédio das atividades «intercessórias», reconduz diariamente ao
banco escolar da carne milhões de aprendizes.
O orientador amigo
calou-se por alguns instantes, e prosseguiu:
- A reencarnação de
Segismundo obedece às diretrizes mais comuns. Traduz expressão simbólica da
maioria dos fatos dessa natureza, porquanto o nosso irmão pertence à enorme
classe média dos Espíritos que habitam a Crosta, nem altamente bons, nem
conscientemente maus. Acresce notar, todavia, que à volta de certas entidades
das regiões mais baixas ocasiona laboriosos e pacientes esforços dos
trabalhadores de nosso plano. Semelhantes seres obrigam-nos a processos de
serviço que você gastará ainda muito tempo para compreender.
As elucidações de
Alexandre calavam-me fundo, satisfazendo-me a pesquisa intelectual; entretanto,
novas indagações surgiam-me na mente sequiosa. Foi então que, premido por
intensa e legítima curiosidade, perguntei, respeitoso:
- O auxílio que vemos
atingirá, porventura, a todos? Aqui nos encontramos num lar em bases retas,
segundo sua própria afirmação. Mas... Se nos achássemos numa casa típica de
deboche carnal? E se fôssemos aqui defrontados por paixões criminosas e
desvarios desequilibrantes?
O instrutor meditou
gravemente e redargüiu:
- André, o diamante
perdido no lodo, por algum tempo, não deixa de ser diamante. Assim, também, a
paternidade e a maternidade, em si mesmas, são sempre divinas. Em todo lugar
desenvolve-se o auxilio da esfera superior, desde que se encontre em jogo o
trabalho da Vontade de Deus. Entretanto, devemos considerar que, em tais
circunstâncias, as atividades de auxilio são verdadeiramente sacrificiais.
As vibrações
contraditórias e subversivas das paixões desvairadas da alma em desequilíbrio
comprometem os nossos melhores esforços, e, muitas vezes, nessas paisagens de
irresponsabilidade e viciação, para ajudar, em obediência ao nosso ministério,
devemos, antes de tudo, lutar contra entidades monstruosas, dominadoras dos
círculos de vida dos homens e das mulheres que, imprevidentemente, escolhe o
perigoso caminho da perturbação emocional, onde tais entidades ignorantes e
desequilibradas transitam.
Nesses casos, nem sempre a nossa colaboração
pode ser perfeita, porquanto são os próprios pais que, menosprezando a grandeza
do mandato que lhes foi confiado, abrem as portas de suas potências sagradas aos
impiedosos monstros da sombra que lhes perseguem os filhos nascituros.
Certas almas heróicas
escolhem semelhante entrada na existência carnal, a fim de se fortalecerem nas
resistências supremas contra o mal, desde os primeiros dias de serviço uterino.
Entretanto, devemos considerar que é preciso ser suficientemente forte na fé e
na coragem para não sucumbir. Nos renascimentos dessa espécie, o maior número de
criaturas, porém, cumpre o programa salutar das provações retificadoras. Muitas
fracassam; todavia, há sempre grande quantidade das que retiram os melhores
lucros espirituais no setor da experiência para a vida eterna.
Alexandre comentara o
assunto com imponente beleza. Começava eu a compreender a procedência de certos
fenômenos teratológicos e de determinadas moléstias congênitas que, no mundo,
confrangem o coração. As asserções do momento levavam-me a novo e fascinante
estudo - a questão das provas retificadoras e necessárias.
Em seguida
Alexandre convidou os
Construtores a examinarem os mapas cromossômicos, em companhia dele, junto de
Herculano.
Acompanhei o trabalho
com interesse, embora absolutamente desprovido de competência para ajuizar com
precisão, relativamente aos caprichosos desenhos sob nosso olhar.
Não me é dado
transmitir determinadas definições daquela pequena assembléia de autoridades
espirituais, por falta de elementos para a comparação analógica, mas posso dizer
que, finda a parte propriamente técnica das conversações, o meu orientador
acrescentava, satisfeito:
- Com exceção do tubo
arterial, na parte a dilatar-se para o mecanismo do coração, tudo irá muito bem.
Todos os genes poderão ser localizados com normalidade
absoluta.
Depois de pequena
pausa, acentuou:
- Os membros e os
órgãos serão excelentes. E se o nosso amigo souber valorizar as oportunidades do
futuro, possivelmente conquistará o equilíbrio do aparelho circulatório,
mantendo-se em serviço de iluminação por abençoado tempo de trabalho terrestre.
Depende dele o êxito preciso. Voltando-se para os Construtores, falou-lhes,
afável:
- Meus amigos, o nosso
Herculano permanecerá em definitivo junto de Segismundo, na nova experiência,
até que ele atinja os sete anos, após o renascimento, ocasião em que o processo
reencarnacionista estará consolidado.
Depois desse período, a
sua tarefa de amigo e orientador será amenizada, visto que seguirá o nosso irmão
em sentido mais distante. Sei que o devotado companheiro tomará todas as
providências indispensáveis à harmoniosa organização fetal, seja auxiliando o
reencarnante, seja defendendo o templo maternal contra o assédio de forças menos
dignas; entretanto, peço-lhes muita atenção nos primórdios de formação do timo,
glândula, como sabem, de importância essencial para a vida infantil, desde o
útero materno.
Precisamos do
equilíbrio perfeito desse departamento glandular, até que se forme a medula
óssea e se habilite à produção dos corpúsculos vermelhos para o sangue. Os
diversos gráficos das disposições cromossômicas facilitarão os serviços dessa
natureza.
Alguns dos amigos
presentes passaram a observar os mapas com maior atenção.
Enquanto se estendiam,
sob meus olhos, aqueles microscópicos sinais, facultando amplo exame da
célula-ovo, acerquei-me do instrutor e, sentindo-o mais acessível às minhas
interrogações, perguntei:
- Temos, nestes mapas,
a geografia dos genes da hereditariedade distribuídos nos cromossomos. A lei da
herança, porém, será ilimitada? A criatura receberá, ao renascer, a total
imposição dos característicos dos pais? As enfermidades ou as disposições
criminosas serão transmissíveis de maneira integral?
- Não, André - observou
o orientador, com grave inflexão -, estamos diante dum fenômeno físico natural.
O organismo dos nascituros, em sua expressão mais densa, provém do corpo dos
pais, que lhes entretêm a vida e lhes criam os caracteres com o próprio sangue;
todavia, em semelhante imperativo das leis divinas para o serviço de reprodução
das formas, não devemos ver a subversão dos princípios de liberdade espiritual,
imanente na ordem da Criação Infinita.
Por isso mesmo, a
criatura terrena herda tendências e não, qualidades. As primeiras cercam o homem
que renasce, desde os primeiros dias de luta, não só em seu corpo transitório,
mas também no ambiente geral a que foi chamado a viver, aprimorando-se; as
segundas resultam do labor individual da alma encarnada, na defesa, educação e
aperfeiçoamento de si mesma nos círculos benditos da experiência. Se o Espírito
reencarnado estima as tendências inferiores, desenvolvê-las-á, ao reencontrá-las
dentro do novo quadro de experiência humana, perdendo um tempo precioso e
menosprezando o sublime ensejo de elevação.
Todavia, se a alma que
regressa ao mundo permanece disposta ao serviço de auto-elevação, sobrepairará a
quaisquer exigências menos nobres do corpo ou do ambiente, triunfando sobre as
condições adversas e obtendo títulos de vitória da mais alta significação para a
vida eterna. Em sã consciência, portanto, ninguém se pode queixar de forças
destruidoras ou de circunstâncias asfixiantes, em se referindo ao círculo onde
renasceu. Haverá sempre, dentro de nós, a luz da liberdade intima indicando-nos
a ascensão. Praticando a subida espiritual, melhoraremos sempre. Esta é a
lei.
Em virtude das
anteriores explicações do orientador, relativamente à importância da assistência
de Herculano a Segismundo reencarnado, até aos sete anos, procurei obter do
instrutor alguma elucidação a respeito. Pedi desculpas a Alexandre, todavia, não
me pude furtar à delicada inquirição. Porque tamanho cuidado com o sangue do
futuro recém-nascido? Somente aos sete anos iniciais de existência humana
estaria terminado o serviço de reencarnação?
Como sempre acontecia,
o nobre mentor ou, viu-me, complacente, sorriu qual pai carinhoso, e respondeu,
solicito:
- Você não ignora que o
corpo humano tem as suas atividades propriamente vegetativas, mas talvez ainda
não saiba que o corpo perispiritual, que dá forma aos elementos celulares, está
fortemente radicado no sangue. Na organização fetal, o patrimônio sanguíneo é
uma dádiva do organismo materno.
Logo após o
renascimento, inicia-se o período de assimilação diferente das energias
orgânicas, em que o «eu» reencarnado ensaia a consolidação de suas novas
experiências e, somente aos sete anos de vida comum, começa a presidir, por si
mesmo, ao processo de formação do sangue, elemento básico de equilíbrio ao corpo
perispirítico ou forma preexistente, no novo serviço iniciado.
O sangue, portanto, é
como se fora o fluido divino que nos fixa as atividades no campo material e em
seu fluxo e refluxo incessante, na organização fisiológica, nos fornece o
símbolo do eterno movimento das forças sublimes da Criação Infinita. Quando a
sua circulação deixa de ser livre, surge o desequilíbrio ou enfermidade e, se
surgem obstáculos que impedem o seu movimento, de maneira absoluta, então
sobrevém a extinção do tônus vital, no campo físico, ao qual se segue a morte
com a retirada imediata da alma.
Fortemente
impressionado com a revelação do respeitável amigo, observei:
- Oh! Como é grande a
responsabilidade do homem, em frente ao corpo material!
- Diz bem - acrescentou
o orientador - ao se referir com semelhante admiração a esse soberano dever da
criatura reencarnada. Sem atender às pesadas responsabilidades que lhe competem
na preservação do vaso físico, homem algum poderá realizar o progresso
espiritual.
O Espírito renasce na carne para a produção de
valores divinos em sua natureza; mas como atender ao semelhante imperativo,
destruindo a máquina orgânica, base fundamental do serviço a fazer? Inda agora,
referia-se você à lei da herança. O corpo terreno é também um patrimônio herdado
há milênios e que a Humanidade vem aperfeiçoando, através dos séculos. O plasma,
sublime construção efetuada ao influxo divino, com água do mar, nas épocas
primitivas, é o fundamento primordial das organizações fisiológicas. Em voltando
à Crosta, temos de aproveitar-lhe a herança, mais ou menos evolvida no corpo
humano.
A essa altura das
elucidações surpreendentes para mim, Alexandre, depois de ligeiro intervalo,
continuou:
- Por isso mesmo, não
desconhece você que, enquanto nos movimentamos na esfera da carne, somos
criaturas marinhas respirando em terra firme.
No processo vulgar de
alimentação, não podemos prescindir do sal; nosso mecanismo fisiológico, a
rigor, se constitui de sessenta per cento de água salgada, cuja composição é
quase idêntica à do mar, constante dos sais de sódio, de cálcio, de potássio.
Encontra-se, na esfera de atividade fisiológica do homem reencarnado, o sabor do
sal no sangue, no suor, nas lágrimas, nas secreções. Os corpúsculos aclimatados
nos mares mais quentes viveriam à vontade no liquido orgânico. Há verdadeiras
surpresas de comparação analógica que poderíamos efetuar neste
sentido.
Não soube o que
responder, em vista das definições ouvidas, e, ante o meu silêncio, foi o
próprio Alexandre que continuou, depois de significativa
parada:
- Como vê, ao
renascermos na Crosta do Mundo, recebemos com o corpo uma herança sagrada, cujos
valores precisamos preservar, aperfeiçoando-o. As forças físicas devem evoluir
como as nossas almas. Se nos oferecem o vaso de serviço para novas experiências
de elevação, devemos retribuir, com o nosso esforço, auxiliando-as com a luz de
nosso respeito e equilíbrio espiritual, no campo de trabalho e educação
orgânica.
O homem do futuro
compreenderá que as suas células não representam apenas segmentos de carne, mas
companheiras de evolução, credoras de seu reconhecimento e auxilio efetivo. Sem
esse entendimento de harmonia no império orgânico, é inútil procurar a
paz.
A conversação brilhante
do orientador magnânimo e sábio sugeria sublimes questões. Entretanto, ele mesmo
recordou-me o trabalho em curso e deu por findos os esclarecimentos daquela
hora.
Estávamos a duas horas
depois de meia-noite.
Permaneciam agora, ao
nosso lado, não somente Alexandre e os Construtores, mas também diversos amigos
espirituais da família.
Congregando todos os
companheiros em torno de si, como figura máxima daquela reunião, Alexandre
falou, gravemente:
-
Agora, meus irmãos, penetremos a câmara de nossos dedicados colaboradores para
que se efetue o júbilo da união espiritual.
E, depositando
Segismundo nos braços da entidade que fora na Crosta Terrestre a carinhosa mãe
de Raquel, acentuou:
- Seja você, minha
irmã, a portadora do sagrado depósito. O coração filial que nos espera sentirá
novas felicidades ao contacto de sua ternura. Raquel bem merece semelhante
alegria.
Voltando-se para a
assembléia ali congregada, explicou:
- Faremos agora o ato
de ligação inicial, em sentido direto, de Segismundo com a matéria orgânica.
Espero, porém, caros companheiros, a visita reiterada de todos vocês ao nosso
irmão reencarnante, principalmente no período de gestação do seu corpo
futuro.
Não ignoram o valor da colaboração afetuosa
nesse serviço. Somente aqueles que semearam muitas afeições podem receber o
concurso de muitos amigos e Segismundo deve receber esse prêmio pelos seus
nobres sentimentos e elevados trabalhos a todos nós, nestes últimos anos em que
se devotou a grandes obras de benemerência e fraternidade.
Logo após, penetrávamos
o aposento conjugal, onde o espetáculo íntimo era divinamente belo. No leito de
madeira, em macios lençóis de linho, repousavam dois corpos que a bênção do sono
imobilizava, mas, ali mesmo, Adelino e Raquel nos esperavam em espírito,
conscientes da grandeza da hora em curso.
Em despertando na
esfera densa de luta e aprendizado, seus cérebros carnais não conseguiriam fixar
a reminiscência perfeita daquela cena espiritual, em que se destacavam como
principais protagonistas; contudo, o fato gravar-se-ia para sempre em sua
memória eterna.
Os amigos invisíveis do
lar, companheiros de nosso plano, haviam enchido a câmara de flores de luz.
Desde a meia-noite, haviam obtido permissão para ingressar no futuro berço de
Segismundo, com o amoroso propósito de adornar-lhe os caminhos do
recomeço.
Mais de cem amigos se
reuniam ali, prestando-lhe afetuosa homenagem.
Alexandre caminhou à
nossa frente, cumprimentando carinhosamente o casal, temporariamente desligado
dos veículos físicos.
Em seguida, com a
melhor harmonia, os presentes passaram às saudações, enchendo de conforto
celeste o coração dos cônjuges esperançosos.
O quadro era lindo e
comovedor.
Duas entidades, ao meu
lado, comentavam fraternalmente:
- É sempre penoso
voltar à carne, depois de havermos conhecido as regiões de luz divina;
entretanto, é tão sagrado o amor cristão que, mesmo em tal circunstância,
sublime é a felicidade daqueles que o praticam.
- Sim - respondeu a
outra -, Segismundo tem lutado muito pela redenção e, nessa luta, vem sendo um
servo devotado de todos nós. Bem merece as alegrias desta hora.
A esse tempo, observei
que a entidade convidada a guardar o reencarnante se mantinha à pequena
distância de Raquel, entre os Espíritos Construtores.
Refletia sobre esse
fato, quando alguém me tocou levemente, despertando-me a atenção:
Era Alexandre que
sorria paternalmente, elucidando-me:
- Deixemos os nossos
amigos, por alguns minutos, no suave contentamento das expansões afetivas.
Iniciaremos o trabalho no momento oportuno.
Perplexo, diante dos
fatos novos para mim, eu não acomodara o raciocínio em face dos múltiplos
problemas daquela noite. Por isso mesmo, alucinantes interrogações vagueavam-me
no cérebro. O orientador percebeu-me o estado d’alma e, talvez por esse motivo,
deu-me a impressão de mais paciente.
Valendo-me daquele
instante, indiquei Segismundo, recolhido nos braços acolhedores que o guardavam,
e perguntei:
- Nosso irmão
reencarnante apresentar-se-á, mais tarde, entre os homens, tal qual vivia entre
nós? Já que as suas instruções se baseiam na forma perispiritual preexistente,
terá ele a mesma altura, bem como as mesmas expressões que o caracterizavam em
nossa esfera?
Alexandre respondeu sem
titubear:
- Raciocine devagar,
André! Falamos da forma preexistente, nela significando o modelo de configuração
típica ou, mais propriamente, o «uniforme humano». Os contornos e minúcias
anatômicas vão desenvolver-se de acordo com os princípios de equilíbrio e com a
lei da hereditariedade.
A forma física futura
de nosso amigo Segismundo dependerá dos cromossomos paternos e maternos;
adicione, porém, a esse fator primordial, a influência dos moldes mentais de
Raquel, a atuação do próprio interessado, o concurso dos Espíritos Construtores,
que agirão como funcionários da natureza divina, invisíveis ao olhar terrestre,
o auxilio afetuoso das entidades amigas que visitarão constantemente o
reencarnante, nos meses de formação do novo corpo, e poderá fazer uma idéia do
que vem a ser o templo físico que ele possuirá, por algum tempo, como dádiva da
Superior Autoridade de Deus, a fim de que se valha da bendita oportunidade de
redenção do passado e iluminação para o futuro, no tempo e no espaço.
Alguns fisiologistas da
Crosta concordam em asseverar que a vida humana é uma resultante de conflitos
biológicos, esquecidos de que, muitas vezes, o conflito aparente das forças
orgânicas não é senão a prática avançada da lei de cooperação
espiritual.
- Segismundo terá então
- insisti - uma forma física eventual, imprecisa, por enquanto, ao nosso
conhecimento?
O instrutor esclareceu
sem demora:
- Se estivéssemos
diretamente ligados ao caso dele, estaríamos de posse de todas as informações
referentes ao porvir, nesse particular, mas a nossa colaboração neste
acontecimento é transitória e sem maior significação no tempo. Os orientadores
de Segismundo, porém, nas esferas mais altas, guardam o programa traçado para o
bem do reencarnante. Note que me refiro ao bem e não ao destino. Muita gente
confunde plano construtivo com fatalismo. O próprio Segismundo e o nosso irmão
Herculano estão de posse dos informes a que nos reportamos, porque ninguém
penetra num educandário, para estágio mais ou menos longo, sem finalidade
especifica e sem conhecimento dos estatutos a que deve obedecer.
Nesse ponto, o mentor
generoso fez ligeiro intervalo e continuou em seguida:
- Os contornos
anatômicos da forma física, disformes ou perfeitos, longilíneos ou brevilíneos,
belos ou feios, fazem parte dos estatutos educativos. Em geral, a reencarnação
sistemática é sempre um curso laborioso de trabalho contra os defeitos morais
preexistentes nas lições e conflitos presentes. Pormenores anatômicos
imperfeitos, circunstâncias adversas, ambientes hostis, constituem, na maioria
das vezes, os melhores lugares de aprendizado e redenção para aqueles que
renascem.
Por isso, o mapa de
provas úteis é organizado com antecedência, como o caderno de apontamentos dos
aprendizes nas escolas comuns. Em vista disso, o mapa alusivo a Segismundo está
devidamente traçado, levando-se em conta a cooperação fisiológica dos pais, a
paisagem doméstica e o concurso fraterno que lhe será prestado por inúmeros
amigos daqui. Imagine, pois, o nosso amigo voltando a uma escola, que é a Terra;
assim procedendo, alimenta um propósito que é o da aquisição de valores novos.
Ora, para realizá-lo terá de submeter-se às regras do educandário, renunciando,
até certo ponto, à grande liberdade de que dispõe em nosso meio.
- Não poderíamos, porém
- indaguei -, intitular semelhante prova de - «destino fixado»?
O instrutor aduziu com
paciência:
- Não incida no erro de
muita gente. Isto implicaria obrigatoriedade de conduta espiritual.
Naturalmente, a criatura renasce com independência relativa e, por vezes,
subordinada a certas condições mais ásperas, em virtude das finalidades
educativas, mas semelhante imperativo não suprime, em caso algum, o impulso
livre da alma, no sentido de elevação, estacionamento ou queda em situações mais
baixas. Existe um programa de tarefas edificantes a serem cumpridas por aquele
que reencarna, onde os dirigentes da alma fixam a cota aproximada de valores
eternos que o reencarnante é suscetível de adquirir na existência transitória. E
o Espírito que torna à esfera de carne pode melhorar essa cota de valores,
ultrapassando a previsão superior, pelo esforço próprio intensivo, ou
distanciar-se dela, enterrando-se ainda mais nos débitos para com o próximo,
menosprezando as santas oportunidades que lhe foram conferidas.
A essa altura,
Alexandre interrompeu-se, talvez ponderando o tempo gasto em nossa conversação,
e, como quem sentia necessidade de pôr termo à palestra,
observou:
- Todo plano traçado na
Esfera Superior tem por objetivos fundamentais o bem e a ascensão, e toda alma
que reencarna no círculo da Crosta, ainda aquela que se encontre em condições
aparentemente desesperadoras, tem recursos para melhorar sempre.
Logo após, convidou-me
o orientador amigo a nos aproximarmos do casal.
Recordou Alexandre que
a hora ia adiantada e devíamos entregar aos cônjuges felizes o sagrado
depósito.
Os Construtores, por
intermédio do mentor que os dirigia, pediram-lhe fizesse a prece daquele ato de
confiança e observei que profundo silêncio se fizera entre todos.
Dispunha-se o instrutor
ao serviço da oração, quando Raquel se lhe aproximou, e pediu, humilde:
- Boníssimo amigo, se é
possível, desejaria receber meu novo filho, de joelhos!...
Alexandre aquiesceu
sorrindo e, mantendo-se entre ela, genuflexa, e Adelino que se conservava, como
nós outros, de pé, extremamente comovido, começou a orar, estendendo as mãos
generosas para o alto:
- «Pai de Amor e
Sabedoria, digna-Te abençoar os filhos de Tua Casa Terrestre, que vão partilhar
contigo, neste momento, a divina faculdade criadora! Senhor, faze descer, por
misericórdia, a Tua bênção neste ninho afetuoso, transformado em asilo de
reconciliação. Aqui nos reunimos, companheiros de luta no passado, acompanhando
o amigo que retorna ao testemunho de humildade e compreensão de Tua
lei!
«Oh! Pai, fortifica-o
para a travessia longa do rio do esquecimento temporário, permite que possamos
manter sempre viva a sua esperança, ajuda-nos, ainda e sempre, para que possamos
vencer todo o mal!
«Concede aos que
recebem agora o novo ministério de orientação do lar, com o nascimento de um
novo filho, a Tua luz generosa e santificada, que dissipa todas as sombras!
Fortalece-lhes, Senhor, a noção de responsabilidade, abre-lhes a porta de Tua
confiança sublime, conserva-os na bendita alegria de Teu amor desvelado!
Restaura-lhes a energia para que recebam, jubilosos, a missão da renúncia até ao
fim, santifica-Lhes os prazeres para que não se percam nos despenhadeiros da
fantasia!
«Este, Senhor, é um ato
de confiança de Tua bondade infinita que desejamos honrar para sempre! Abençoa,
pois, o nosso trabalho amoroso e, sobretudo, Pai, suplicamos Tua graça para a
nossa irmã que se entrega, reverente, ao divino sacrifício da maternidade.
Unge-Lhe o coração com a Tua magnanimidade paternal, intensifica-Lhe o bom
ânimo, dilata-lhe a fé no futuro sem fim! Sejam para ela, em particular, os
nossos melhores pensamentos, nossos votos de paz e esperanças mais puras!
«Acima de tudo, porém.
Senhor, seja feita a Tua vontade em todos os recantos do Universo, e que nos
caiba, a nós, humildes servos de Teu reino, a alegria incessante de
reverenciar-Te e obedecer-Te para sempre!...»
Calara-se Alexandre,
observando eu que todo o aposento se enchia de novas luzes. Reconheci que de
todos nós, entidades espirituais que ali nos congregávamos, partiam raios
luminosos que se derramavam sobre Raquel em pranto de emoção sublime, mas o
fenômeno radioso não se circunscreveu a isto. Tão logo o meu orientador se
calara, alguma coisa parecia responder à sua súplica. Leve rumor, que apenas
encontrava eco em nossos ouvidos se fazia sentir acima de nossas cabeças.
Ergui-me, surpreso, e pude ver que uma coroa brilhante e infinitamente bela
descia do alto sobre a fronte de Raquel, ajoelhada, em silêncio. Tive a
impressão de que a auréola se compunha de turmalinas eterizadas, que miraculoso
ourives houvera tornado resplandecentes. Seu brilho feria-nos o olhar e o
próprio Alexandre, ao fixá-la, curvou-se, reverente. A coroa sublime, sustentada
por Espíritos muito superiores a nós, que eu não podia ver, descansou sobre a
fronte de Raquel.
Notei, embora a comoção
do momento, que o meu instrutor fez um gesto à depositária de Segismundo, para
que efetuasse a entrega do reencarnante aos braços maternais.
Raquel, dando-me a
impressão de que não via a luminosa auréola, ergueu os olhos rasos de lágrimas e
recebeu o depósito que o Céu lhe confiava. Alexandre estendeu-Lhe a destra,
ajudando-a a levantar-se, e vi que Adelino se aproximou da esposa, estreitando-a
carinhosamente nos braços, beijando-lhe a fronte orvalhada de
luz.
Foi então, ó divino
mistério da Criação Infinita de Deus, que a vi apertar a «forma infantil» de
Segismundo de encontro ao coração, mas tão fortemente, tão amorosamente, que me
pareceu uma sacerdotisa do Poder da Divindade Suprema. Segismundo ligara-se a
ela como a flor se une à haste. Então compreendi que, desde aquele momento, era
alma de sua alma aquele que seria carne de sua carne.
Alexandre recomendou
aos amigos presentes, com exceção dos Construtores, de Herculano e de mim, que
se afastassem da câmara, conduzindo Adelino, confortado e feliz, a pequena
excursão pelo exterior, e, guiando Raquel, com infinito cuidado, ao corpo
físico, disse-nos:
- Agora, auxiliemos
nosso amigo no primeiro contacto com a matéria mais densa.
Raquel acordara,
experimentando no coração estranha ventura. Abraçou-se, instintivamente, ao
companheiro adormecido, como o navegante feliz, ao sentir-se em porto de
tranqüilidade e segurança. Havia atravessado o espesso véu de vibrações que
separa o plano espiritual da esfera física e não conservava qualquer
reminiscência precisa da sublime felicidade de momentos antes; todavia, seu
sentimento de júbilo permanecia dilatado, suas esperanças transbordavam e uma
confiança imensa no porvir acalentava-lhe, agora, o coração. Seria mãe pela
segunda vez? - pensava, contente. Essa idéia, que lhe não despontava no cérebro
por acaso, balsamizava-lhe a alma com deliciosa alegria. Estava pronta para o
serviço divino da maternidade, confiaria no Senhor como escrava de sua bondade
infinita,
Não via a esposa de
Adelino que Alexandre e os Construtores Espirituais lhe rodeavam a mente de
sublime luz, banhando-Lhe as idéias com a água viva do amor
espiritual.
Observando que a forma
de Segismundo se ligara a ela, por divino processo de união magnética, recebi a
determinação do meu orientador para seguir-lhe, de perto, o trabalho de auxilio
na ligação definitiva de Segismundo à matéria.
Indicando os órgãos
geradores de Raquel e fazendo incidir sobre eles a sua luz, Alexandre
preveniu-me, quanto à grandeza do quadro sob nossa observação, acentuando,
respeitosamente:
- Temos aqui o altar
sublime da maternidade humana. Perante o seu augusto tabernáculo, ao qual
devemos a claridade divina de nossas experiências, devemos cooperar, na tarefa
do amor, guardando a consciência voltada para a Majestade
Suprema.
Inclinei-me para a
organização feminina de nossa irmã reencarnada, dentro de uma veneração que
nunca, até então, havia sentido.
Auxiliado pelo concurso
magnético do mentor querençoso, passei a observar as minúcias do fenômeno da
fecundação.
Através dos condutos
naturais, corriam os elementos sexuais masculinos, em busca do óvulo, como se
estivessem preparados de antemão para uma prova eliminatória, em corrida de três
milímetros, aproximadamente, por minuto. Surpreendido, reconheci que o número
deles se contava por milhões e que seguiam, em massa, para frente, em impulso
instintivo, na sagrada competição.
No silêncio sublime
daqueles minutos, compreendi que Alexandre, em vista de ser o missionário mais
elevado do grupo em operação de auxilio, dirigia os serviços graves da ligação
primordial. Segundo depreendi, ele podia ver as disposições cromossômicas de
todos os princípios masculinos em movimento, depois de haver observado,
atentamente, o futuro óvulo materno, presidindo ao trabalho prévio de
determinação do sexo do corpo a organizar-se.
Após acompanhar,
profundamente absorto no serviço, a marcha dos minúsculos competidores que
constituíam a substância fecundante, identificou o mais apto, fixando nele o seu
potencial magnético, dando-me a idéia de que o ajudava a desembaraçar-se dos
companheiros para que fosse o primeiro a penetrar a peque nina bolsa maternal. O
elemento focalizado por ele ganhou nova energia sobre os demais e avançou
rapidamente na direção do alvo. A célula feminina que em face do microscópico
projétil espermático se assemelhava a um pequeno mundo arredondado de açúcar,
amido e proteínas, aguardando o raio vitalizante, sofreu a dilaceração da
cutícula, à maneira de pequenina embarcação torpedeada, e enrijeceu-se, de modo
singular, cerrando os poros tenuíssimos, como se es¬tivesse disposta a
recolher-se às profundezas de si mesma, a fim de receber, face a face, o
esperado visitante, e impedindo a intromissão de qualquer outro dos
competidores, que haviam perdido a primeira posição na grande prova. Sempre sob
o influxo luminoso-magnético de Alexandre, o elemento vitorioso prosseguiu a
marcha, depois de atravessar a periferia do óvulo, gastando pouco mais de quatro
minutos para alcançar o seu núcleo. Ambas as forças, masculina e feminina,
formavam agora uma só, convertendo-se ao meu olhar em tenuíssimo foco de luz. O
meu orientador, absolutamente entregue ao seu trabalho, tocou a pequenina forma
com a destra, mantendo-se no serviço de divisão da cromatina, cujas
particularidades são ainda inacessíveis à minha compreensão, conservando a
atitude do cirurgião seguro de si, na técnica operatória. Em seguida Alexandre
ajustou a forma reduzida de Segismundo, que se interpenetrava com o organismo
perispirítico de Raquel, sobre aquele microscópico globo de luz, impregnado de
vida, e observei que essa vida latente começou a movimentar-se.
Havia decorrido
precisamente um quarto de hora, a contar do instante em que o elemento ativo
ganhara o núcleo do óvulo passivo.
Depois de prolongada
aplicação magnética, que era secundada pelo esforço dos Espíritos Construtores,
Alexandre aproximou-se de mim e falou:
- Está terminada a
operação inicial de ligação. Que Deus nos proteja.
Sentindo a admiração
com que eu seguia, agora, o processo da divisão celular, em que se formava
rapidamente a vesícula de germinação, o orientador acentuou:
- O organismo maternal
fornecerá todo o alimento para a organização básica do aparelho físico, enquanto
a forma reduzida de Segismundo, como vigoroso modelo, atuará como imã entre
limalhas de ferro, dando forma consistente à sua futura manifestação no cenário
da Crosta.
Estava boquiaberto,
diante do que me fora dado observar. E, sentindo que o fenômeno da redução
perispiritual de Segismundo era um fato espantoso aos meus olhos, acrescentou
bondosamente o instrutor:
- Não se esqueça,
André, de que a reencarnação significa recomeço nos processos de evolução ou de
retificação. Lembre-se de que os organismos mais perfeitos da nossa Casa
Planetária procedem inicialmente da ameba. Ora, recomeço significa
«recapitulação» ou «volta ao princípio». Por isso mesmo, em seu desenvolvimento
embrionário, o futuro corpo de um homem não pode ser distinto da formação do
réptil ou do pássaro. O que opera a diferenciação da forma é o valor evolutivo,
contido no molde perispirítico do ser que toma os fluidos da carne. Assim, pois,
ao regressar à esfera mais densa, como acontece a Segismundo, é indispensável
recapitular todas as experiências vividas no longo drama de nosso
aperfeiçoamento, ainda que seja por dias e horas breves, repetindo em curso
rápido as etapas vencidas ou lições adquiridas, estacionando na posição em que
devemos prosseguir no aprendizado. Logo depois da forma microscópica da ameba,
surgirão no processo fetal de Segismundo os sinais da era aquática de nossa
evolução e, assim por diante, todos os períodos de transição ou estações de
progresso que a criatura já transpôs na jornada incessante do aperfeiçoamento,
dentro da qual nos encontramos, agora, na condição de humanidade.
A hora ia muita
avançada.
Sentindo que Alexandre
não se demoraria, acerquei-me, ainda uma vez, do quadro de formação fetal. O
óvulo fecundado animava-se de profunda vida, evoluindo para a vesícula
germinal.
O orientador amigo
convidou-me à retirada e falou:
- Meu trabalho está
findo. Entretanto, André, considerando as suas necessidades de valores novos,
poderei solicitar aos Construtores a aquiescência de sua cooperação fraterna nos
serviços protetores, sempre que você conte com oportunidade de vir até
aqui.
Rejubilei-me,
encantado. Efetivamente, não desejava outra coisa. Aquele estudo de embriologia,
sob novo prisma, era fascinante e maravilhoso.
Enquanto dava expansão
à minha alegria íntima, o obsequioso mentor combinava providências, relativas ao
meu concurso e aprendizado simultâneos, ouvindo os companheiros.
Daí a momentos, quando
trocávamos saudações de despedida, Herculano, com muita simpatia e acolhimento,
declarou que permaneceria à minha espera, sempre que eu pudesse voltar à
residência de Adelino, para colaborar nos trabalhos de
proteção.
Do livro
“Missionários da Luz”. Espírito André Luiz.
Título:
"MISSIONÁRIOS DA LUZ" – 20
capítulos; 347 páginas Autor: Espírito ANDRÉ LUIZ (pseudônimo
espiritual de um consagrado médico que exerceu a Medicina no Rio de
Janeiro) Psicografia: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER (concluída em
Maio/1945) Edições: Primeira edição em 1945, pela Federação Espírita
Brasileira (Rio de Janeiro/RJ); em Dezembro/2001: 36ª Edição (do 442° ao 461°
milheiro)
Conteúdo
doutrinário:
Essa obra descreve vários
processos mediúnicos e como se desenvolvem as providências do plano espiritual,
antes, durante e após as reuniões mediúnicas. Nelas, são pormenorizados
atendimentos a encarnados e desencarnados, sobressaindo preciosos
ensinamentos. Há descrição da sublimidade da reencarnação de um espírito, a
partir da obra-prima que é a fecundação. Raramente se encontrará na
literatura espírita fonte igual de ensinamentos sobre a programação da
existência terrena, que afinal de contas, não passa de uma etapa da bênção maior
que é a vida!
SINOPSE -
Capítulo a Capítulo
Cap 1 – O
psicógrafo – É detalhada a participação de Espíritos protetores na reunião
mediúnica, particularmente quanto à psicografia, cujos mecanismos
psicossomáticos são detalhados. Muito útil aos médiuns psicógrafos.
Cap 2 – A
epífise –
É a glândula da vida mental. Segrega “hormônios psíquicos”: As funções
espirituais dessa glândula, denominada “pineal” (forma de pinha) são trazidas
para os ensinos espíritas, S.M.J., pela primeira vez. Tem potencial magnético
controlador das glândulas genitais. Atua qual poderosa usina segregando
unidades-força nas energias geradoras. É, sobretudo, a glândula da vida
espiritual do homem encarnado.
Cap 3 –
Desenvolvimento mediúnico – Demonstra as providências
da Espiritualidade, preceden-tes à reunião mediúnica propriamente dita. Médiuns,
à visão espiritual, apresentavam: um, "bacilos psíquicos" (larvas) da tortura
sexual; outro, intoxicação alcoólica ampla, tendo pequeninas figuras
horripilantes, vorazes, ao longo da veia porta...; uma médium, com o ventre
superlotado de alimentação, vítima da excessiva alimentação, trazia voracíssimas
lesmas (parasitos destruidores).
Cap 4 -
Vampirismo – A. Luiz inaugura, no
Espiritismo, o emprego das palavras "vampiro/vampirismo", quando trata de
obsessor/obsessão (desencarnado, ainda rudemente fixado às sensações físicas,
roubando energias e sensações deletérias de encarnado viciado em alcoolismo,
tabagismo, toxicomania, sexo desvairado e, de forma geral, nos demais
vícios); - é registrado o problema da alimentação de carne e dedica especial
atenção ao tratamento do ser humano para com os animais, acenando com uma "nova
era", quando o homem cultivará o solo com amor e os respeitará (aos
animais);
Cap 5 –
Influenciação – Comentários sobre os
Espíritos desencarnados, exploradores, que aguardam à porta dos Centros
Espíritas a saída dos médiuns invigilantes... E ainda, sobre o abandono das
reuniões mediúnicas, por parte dos médiuns...
Cap 6 – A
oração –
A.Luiz rememora suas atividades de médico terreno. Agora, diante de um “doente
da alma”, vampirizado, como atendê-lo?... O Instrutor espiritual, em resposta,
demonstra como a prece constrói fronteiras vibratórias: a oração é o mais
eficiente antídoto do vampirismo. Há preciosa informação sobre os bilhões de
raios cósmicos que a cada minuto descem sobre a fronte humana, oriundos do solo,
da água, dos metais, dos vegetais, dos animais e dos próprios seme-lhantes —
todos, sem contar os raios solares, caloríficos e luminosos; igualmente, emanam
sobre cada um de nós, os terrenos, trilhões de raios psíquicos(!)
Cap 7 – Socorro
Espiritual – É lecionado que à noite há
mais facilidade para ajuda espiritual, quando os raios solares diretos não
desintegram certos recursos dos cooperadores espirituais. Também é à noite que
os encarnados sofrem os fenômenos desastrosos mais sérios da circulação, pela
invigilância na criação de fantasmas cruéis, no campo vivo do pensamento. O
capítulo registra um caso de "moratória" (enfermo grave, prestes à
desencarnação, que recebe energias que lhe acrescentam mais 5 meses de
existência terrena).
Cap 8 – No
plano dos sonhos – É citado o curso
espiritual ministrado por Instrutor espiritual a 300 (trezentos) alunos,
encarnados e desdobrados pelo sono, dos quais apenas 32 (trinta e dois)
assimilam as lições. É sugerido como o sono pode ser excelente oportunidade de
boas realizações e de aprendizado, além da chance de reencontro com parentes ou
amigos desencarnados. Há o relato singular do pavor-pesadelo de um encarnado que
ao dormir depara-se com um amigo desencarnado, sobre o qual fizera alusões
desabonadoras durante o dia...
Cap 9 –
Mediunidade e fenômeno – O capítulo explana sobre a
necessidade de planejamento, disciplina e construtividade para todos os
candidatos às atividades mediúnicas, os quais se iniciarão com trabalhos em
pequenas tarefas, para depois, progressivamente, alcançarem grandes obras. Há
interessantíssimo registro: o Espírito de Verdade é Jesus(!). O
desenvolvimento mediúnico não deve ser provocado. As expressões fenomênicas nos
trabalhos mediúnicos deverão estar em plano secundário, pois o Espírito é
tudo.
Cap 10 –
Materialização – Mostra-nos este capítulo
como Sessões de Materialização são trabalhosas, expondo seus grandes riscos para
os médiuns, tendo em vista que poucos reúnem as condições espirituais que elas
exigem: valores morais legitimamente consolidados. NOTA: Lembramos aos
leitores que estávamos em 1945 — reuniões de materialização aconteciam quase
como rotina... e ainda por cima, em residências...
Cap 11
–
Intercessão – Atendendo à solicitação pungente de uma viúva (encarnada,
desdobrada pelo sono) o Instrutor, levando A.Luiz, vai à residência dela. Lá, se
deparam com inúmeros Espíritos desencarnados, familiares diversos, atraídos
pelas vibrações pesadas e doentias dos encarnados. Esses Espíritos estavam
envolvidos em círculos escuros, à mesa de refeições da família, absorvendo as
emanações dos alimentos (pelas narinas). É explicado como tal se processa:
vampirização recíproca... É-nos mostrado o terrível ambiente de um matadouro,
com Espíritos desencarnados atirando-se vampirescamente ao sangue dos animais
abatidos. O capítulo mostra ainda o martírio de um suicida, atormentado pelo
remorso de ter assassinado um amigo para roubar-lhe a noiva.
Cap 12 –
Preparação de experiências – Registra
providências no Planejamento de Reencarnações e os mapas dos futuros corpos
físicos; trata ainda do interessante e raríssimo caso dos "completistas"
(encarnados que aproveitam todas as oportunidades de evolução). A medicina do
futuro, certamente levará em conta o psiquismo, identificando-o como
responsável, senão por todas, mas pela maioria das patologias.
Cap 13 –
Reencarnação – (seguramente
o mais importante de todo o livro) - Após comentários sobre o perdão e o sexo,
descreve a sublimidade que é a reencarnação de um Espírito, a partir da
obra-prima que é a fecundação. É focalizada a interessantíssima questão das
“fecundações físicas” e das “fecundações psíquicas”, aquela, nascendo das uniões
físicas, no domínio das formas, e esta, das uniões espirituais, nos
resplandecentes domínios da alma. Somos informados que o corpo perispiritual,
que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no
sangue(!). NOTA: Raramente se encontrará na literatura espírita fonte igual
de ensinamentos sobre a programação da existência terrena, que afinal de contas,
não passa de uma etapa da bênção maior que é a vida !
Cap 14 –
Proteção –
É citado que muitos são os casais “sem a coroa dos filhos”, por terem agido
egoisticamente, desde o presente ou em vidas passadas. Há a informação sobre a
reencarnação, que só se completa por volta de sete anos do parto. É descrita
a proteção espiritual na fase fetal e embrionária do ser humano.
Cap 15 –
Fracasso –
O capítulo é de grande densidade dramática, narrando como uma gravidez é
interrompida por invigilância (aborto indireto) da mulher grávida que o pratica
pela terceira vez: sai pela noite, em busca de prazeres mundanos; no amanhecer,
perde aquele que lhe seria filho (o aborto é-lhe incensado por Espíritos que a
vampirizavam e que por isso mesmo não lhe admitiam ser mãe, já que com um filho,
não mais lhes daria atenção...).
Cap 16 –
Incorporação – O capítulo demonstra todo
o processo da psicofonia ("incorporação"). Um Espírito desencarnado é levado à
reunião mediúnica do mesmo grupo de médiuns que participava, quando encarnado. A
médium que o atenderá na reunião (à noite), horas antes tem graves problemas
conjugais (marido alcoólico) e é-nos demonstrado o abençoado apoio espiritual
que ela então recebe, mercê do seu devotamento.
Cap 17 –
Doutrinação – Ao doutrinar Espíritos os
médiuns acabam doutrinando-se... Aqui vemos o Espírito de um sacerdote ser
doutrinado por interferência de sua mãe (também desencarnada) que se
responsabilizava por tê-lo induzido ao sacerdócio, quando encarnados, sendo que,
ao contrário, ele renascera para elevada tarefa no campo da filosofia
espiritualista. É citada uma interessante contrapartida das sessões de
materialização: quando elas acontecem no Plano Espiritual, para que
desencarnados sofredores sejam atendidos na doutrinação... por encarnados. Há
explicações sobre a ocorrência da doutrinação, nas reuniões mediúnicas,
justificando porque às vezes ela precisa ser realizada por encarnados (doam seu
“magnetismo humano”). NOTA: O capítulo mostra como a Espiritualidade
atende dois Espíritos necessitados: - o primeiro desconhece a própria morte —
vê, à distância, seus despojos em decomposição; - o segundo, quer agredir aos
encarnados, com auxílio da médium — vê-se diante de um esqueleto, de terrível
aspecto (composto pelos Espíritos Instrutores), desistindo da agressão. Na
nossa opinião, tão forte recurso de convencimento requer enorme prudência na sua
aplicação por médiuns doutrinadores encarnados, pelo que o desaconselhamos.
Cap 18 –
Obsessão –
Trata da obsessão e da desobsessão: vários vingadores, sendo previamente
doutrinados no Plano Espiritual, antes de se manifestarem pelos médiuns. O
capítulo sugere extrema cautela aos médiuns lidadores das obsessões, muitos dos
quais adiantam diagnósticos apressados e fazem promessa de curas no campo
físico...
Cap 19 – Passes
– É
narrado o caso de um encarnado, renitente na invigilância, que após ser atendido
por dez vezes com socorro completo, será deixado entregue a si mesmo, só
voltando a ser socorrido pela Espiritualidade após adotar nova resolução:
receberá, por ora, alguma melhora, apenas. Trata o capítulo, de forma
detalhada, dos passes — especifica a necessidade de conhecimentos
especializados, além de critério e responsabilidade por parte dos
passistas. Ao serem descritas várias modalidades de passes, com movimentos
das mãos, de alto a baixo, rotatórios e longitudinais, isso parece induzir-nos a
ter muita cautela quando quisermos avançar críticas às técnicas dos
passes...
Cap 20 – Adeus
– O
Instrutor espiritual irá para estágio em esferas mais altas. Antes, promove
reunião em “Nosso Lar” para as despedidas com seus inúmeros alunos, dentre os
quais A.Luiz. Comovidos, todos, vêem o abnegado Instrutor orar com infinita
beleza, “como se conversasse com o Mestre presente, embora
invisível”.
PERSONAGENS CITADOS: ANDRÉ LUIZ - é o Autor
Espiritual. Permaneceu no Umbral por oito anos. Somente quando orou com fé pôde
ser recolhido à Instituição Espiritual "Nosso Lar" (situada na psicosfera da
cidade do Rio de Janeiro), por interferência de sua mãe. Graças à sua abnegação
e trabalhos incansáveis de auxílio ao próximo, alguns anos mais tarde conquistou
a faculdade da volitação. - Informa, ao fim do livro "NOSSO LAR" (o primeiro
de sua série), que recebeu a comenda de "Cidadão de Nosso Lar". (André Luiz é um
exemplo dignificante de auto-reforma). - Na obra "OS MENSAGEIROS", reporta
vários aprendizados que alcançou junto à equipe de auxiliares-aprendizes, no
"Centro de Mensageiros", quando, após estágio e uma viagem à Crosta, teve
oportunidade de pôr em prática as lições recebidas. - Agora, com
"MISSIONÁRIOS DA LUZ", A.Luiz aprimora os conhecimentos já auferidos,
estagian-do com o Instrutor ALEXANDRE num recinto terrestre, onde se desenrolam
inúmeras atividades mediúnicas.
OBS: Citaremos a seguir os nomes
dos personagens do livro "MISSIONÁRIOS DA LUZ", colocando entre parênteses (d) =
desencarnado; (e) = encarnado, e os respectivos capítulo e página onde são pela
primeira vez mencionados.
Instrutor ALEXANDRE (d) - 1/11 -
Espírito de "elevadas funções" no "NOSSO LAR". Está presente de ponta a ponta no
livro "MISSIONÁRIOS DA LUZ”. Tem profunda sabedoria e bondade. CALIXTO
(d) - 1/17 - comunicante por psicografia. CECÍLIA (e) - 6/65 -
desdobrada, em sono, atende ao marido que é doente grave (anomalias psíquicas,
ligadas ao sexo) JUSTINA (d) - 7/70 - amiga do Instrutor
ALEXANDRE ANTÔNIO (e) - 7/70 - filho de JUSTINA (está gravemente enfermo - é
contemplado com a "morató-ria" de + 5 meses de vida física) Irmão
FRANCISCO (d) - 7/72 - chefe de grupo socorrista AFONSO (e) - 7/73
- quando desdobrado pelo sono, é prestimoso doador de energias
espirituais VIEIRA e MARCONDES (e) - 8/85 - alunos faltosos ao Curso
do Instrutor ALEXANDRE SERTÓRIO (d) - 8/85 - chefe de grupo espiritual
que freqüenta referido Curso BARBOSA (d) - 8/90 - aborreceu-se com
VIEIRA e esperou-o adormecer para "acertar contas", ou melhor, impedir que
VIEIRA, quando na vigília, continuasse a recriminá-lo Irmão CALIMÉRIO
(d) - 10/108 - Instrutor Espiritual Irmão ALENCAR (d) - 10/113 –
médico, controlador mediúnico VERÔNICA (d) - 10/113 -
enfermeira ESTER (e) - 11/123 - ficou viúva do segundo noivo, RAUL,
que foi assassinado (o primeiro noivo, NOÉ, suicidou-se) ETELVINA (e)
- 11/124 - prima de ESTER - tem razoável evolução espiritual AGOSTINHO e
esposa (e) 11/129 - tios de ESTER - idosos, pobres, queixosos da
vida ROMUALDA (d) - 11/147 - auxiliar da Turma de Socorro do
Ministério do Auxílio SEGISMUNDO (d) - 12/154 - preparando-se para
reencarnar (em processo normal) ADELINO e RAQUEL (e) - 12/155 - serão
pais de Segismundo, que em vida passada, prejudicou-os HERCULANO (d) -
12/155 - Espírito elevado JOSINO (d) - 12/161 – Assistente, auxiliar
do "Planejamento de Reencarnações" MANASSÉS (d) - 12/167 - auxiliar do
"Planejamento de Reencarnações" SILVÉRIO (d) - 12/168 - prestes a
reencarnar - aceitou, resignado, existência com duração de aproximadamente 70
anos, com lesão na perna, como "antídoto à vaidade"... ANACLETA (d) -
12/172 - auxiliar do "Planejamento de Reencarnações" JOÃOZINHO (e) -
13/184 - criança, filho de ADELINO e RAQUEL APULEIO (d) - 14/236 -
chefe dos "Espíritos Construtores" VOLPINI (d) - 15/251 - reencarnante
em processo complicado - (mãe já está no 7° mês de gestação) CESARINA
(e) - 15/252 - futura mãe de VOLPINI - por invigilância, dá à luz a um
natimorto, que viria a ser VOLPINI, o qual, antes do aborto, foi socorrido por
ALEXANDRE FRANCISCA (e) - 15/257 - amiga de CESARINA, tenta
dissuadi-la da invigilância DIONÍSIO FERNARDES (d) - 16/260 -
recolhido a uma Instituição de Socorro OTÁVIA (e) - 16/260 - médium de
psicofonia - marido tenta impedi-la do exercício mediúnico EUCLIDES
(d) - 16/261 - cooperador espiritual no Centro Espírita LEONARDO
(e) - 16/265 - marido de OTÁVIA - é pessoa perturbada GEORGINA (e)
- 16/270 - tia de LEONARDO - auxilia OTÁVIA a não faltar ao C.E. MARINHO
(d) - 17/278 - Espírito em dificuldades (foi sacerdote
católico) NECÉSIO (d) - 17/284 - cooperador espiritual, também
sacerdote católico ANACLETO (d) - 19/325 - chefia trabalhos de
passes LÍSIAS (d) - 20/337 - amigo de ANDRÉ LUIZ EPAMINONDAS
(d) - 20/344 - discípulo mais respeitável do Mentor ALEXANDRE
TERMOS POUCO
USADOS: A título de
colaboração, registramos abaixo o significado ou origem de alguns termos pouco
usados, que eventualmente aparecem ao longo do texto de “Missionários da
Luz”:
TERMOS
|
CAPÍTULO
|
PÁGINA
|
S I G N
I F I C A D O
|
Refocilar-se
|
2
|
23
|
(verbo) = refestelar-se;
recrear-se (no charco)
|
Aluviões
|
3
|
28
|
(subst) = depósitos de
cascalhos/corpúsculos
|
Epidídimo
|
3
|
28
|
(subst) = pequeno corpo
situado nos testículos
|
Cromatina
|
3
|
30
|
(subst) = substância do
núcleo celular
|
Nefron
|
3
|
31
|
(subst) = unidade
morfológica do rim
|
Sigmóide
|
3
|
31
|
(subst) = válvula ou
cavidade do intestino grosso/humano
|
Escalracho
|
4
|
38
|
(subst) = gramínea nociva
às searas
|
Avelhantado
|
5
|
46
|
(adjet) = tornado velho
prematuramente
|
Coorte
|
5
|
47
|
(subst) = multidão de
pessoas; tropa
|
Encomiásticas
|
5
|
48
|
adjet) =
elogiosas
|
Azáfama
|
7
|
76
|
(subst) = muita pressa;
urgência; trabalho muito ativo
|
Bulha
|
7
|
76
|
(subst) = confusão de
sons
|
Remoques
|
8
|
89
|
(subst) = insinuações
maliciosas; zombaria
|
Torva
|
11
|
134
|
(adjet) = perturbada;
sombria
|
Rútila
|
12
|
166
|
(adjet) = resplandecente;
muito brilhante
|
Tálamo
|
13
|
207
|
(subst) = leito
conjugal
|
Querençoso
|
13
|
232
|
(adjet) = benévolo;
afetuoso
|
Símile
|
14
|
244
|
(subst) = semelhante;
análogo
|
Gliais
|
16
|
267
|
(subst) = células do
sistema nervoso
|
Bulhento
|
16
|
269
|
(adjet) = desordeiro;
arruaceiro
|
Patibulares
|
17
|
285
|
(adjet) = figura de aspecto
criminoso
|
Stradivarius
|
18
|
318
|
(subst) = nome de famoso
fabricante de violinos
|
Exorna
|
19
|
331
|
(verbo) = ornamenta;
enfeita; orna
|
RIBEIRÃO
PRETO/SP Eurípedes Kühl – Responsável SOCIEDADE ESPÍRITA ALLAN
KARDEC Rua Monte Alverne, 667 – Ribeirão
Preto/SP
|
|
|
|