::O ABORTO NA VISÃO ESPÍRITA ::
Autor: Fredson
Em nossa primeira enquete o aborto foi  lançamos como assunto central, mas não imaginávamos que este tema fosse motivo  de tantas polêmicas entre nós espíritas. Já que as opiniões foram as mais  diversas nos sentimos na obrigação de escrever algumas linhas no intuito de  esclarecer quanto à posição
espírita que nesse caso é bastante clara.
Não esperamos contudo convencer a ninguém que queira se manter  cristalizado em conceitos puramente materialistas. É conveniente entretanto  estarmos abertos a novas opiniões para que não transformemos as nossas em  preconceitos que são sempre prejudiciais.
A doutrina espírita é  reencarnacionistas, portanto assevera que o ser humano nasce varias vezes em  corpos diferentes em busca do auto-aperfeiçoamento. Neste contexto o ser é um  Espírito imortal e não deixa de existir com a morte do corpo, nem tão pouco é  enviado ao céu ou ao inferno para viver em eterna contemplação ou num suplicio  sem fim.
Após a morte o Espírito passa por um período mais ou menos  longo no mundo espiritual e depois desse período volta a nascer em um outro  corpo físico, participando assim do mais legitimo processo de educação  (reeducação) criado por Deus. Dentro dessa proposta o momento da criação do  gênero humano se perde no confim dos tempos.
A visão da igreja católica  hoje é que a Alma humana é criada por Deus no momento da concepção. No caso das  doutrinas protestantes a crença é semelhante, não sendo possível no entanto  especificar o momento em que se dá criação, justamente porque existem milhares  de denominações diferente, cada uma com seus dogmas divergentes, ainda
que  partindo da mesma base (a Bíblia).
Já com o espiritismo a crença difere  num ponto crucial. Para
a doutrina dos Espíritos a Alma passa por muitas  existências corpóreas e deixando um corpo toma outro de concorrendo assim para o  próprio aperfeiçoamento (O Livro dos Espíritos Q, 166). O que é indispensável  descobrirmos é em que momento
o Espírito, que já existia, inicia sua ligação  com o novo corpo.
Segundo as informações contidas em O Livro dos Espíritos a  união entre a Alma e o corpo inicia-se no momento da concepção e se completa com  o nascimento.
Vejamos como está registrada essa informação: “desde o  momento da concepção, o Espírito designado para tomar determinado corpo a ele se  liga por um laço fluídico, que se vai encurtando cada vez mais, até que a  criança vem à luz” (O Livro dos Espíritos Q, 351). O aborto nada mais é que a  interrupção desse processo ou seja, o Espírito que esta reencarnando é impedido  de renascer.
Analisando a reencarnação como processo de reeducação e uma  nova oportunidade que nos é oferecida percebemos o quanto o aborto é prejudicial  para o progresso dos Espíritos. Mas hoje o problema do aborto se apresenta como  ponto de polêmica em diversas áreas da sociedade, porém todos podem ser  solucionados se analisados sob a ótica da doutrina espírita e é justamente o que  tentaremos fazer a partir de agora. Para tanto, separaremos caso a caso e iremos  junto com Kardec descobrir quais são as chaves de mais esse grande  problema. 
Planejamento familiar:
Na questão do planejamento familiar o número  de filhos que o casal terá é fator de fundamental importância, com influência  sociológica, econômica e cultural de imensas proporções. Sabe-se que algo em  torno de 43% das crianças nascidas no Brasil são fruto de gestações indesejadas  (Super interessante – ano 15 – nº 04 – Abril de 2001) e muitas pessoas acreditam  que este problema pode ser solucionar com a legalização do aborto.
Com  referência ao planejamento familiar, não cremos que o aborto seja ferramenta  recomendável, já que terá por objetivo interromper um processo já iniciado.
Está registrado em O Livro dos Espíritos que o homem pode regular a  reprodução segundo a necessidade* e no contexto atual precisamos solucionar  questões de assistência, instrução, alimentação, saúde, orientação no lar e no  grupo social, e portanto, o casal tem, não só o direto, mas também o dever de se  preocupar com planejamento familiar* para, inclusive, poder executar outra  tarefa que lhe é confiada: a de educadores dos próprios filhos*.
E  ademais, os métodos anticoncepcionais hoje à disposição são tão vastos e tão ao  alcance de todos que não há mais justificativa para pretextarmos ignorância, não  nos dias de hoje. Mas se com todas as precauções possíveis, ainda assim houver  uma gravidez indesejada, não tenhamos a pretensão de dirigirmos todos os  acontecimentos da vida. O ser humano não vive exclusivamente ao sabor dos  instintos, porém, nem tudo nos é dado controlar e os fenômenos da natureza  prosseguirão ocorrendo mesmo que à nossa revelia.   (LE Q nº 582 e 692a)
Direito sobre o próprio corpo:
Estamos de total acordo que a mulher deva  ter o direito sobre seu próprio corpo, mas quando se fala em aborto está se  falando objetivamente em interrupção de uma gravidez e é justamente aí que se  deve aplicar a ética proposta pela doutrina dos Espíritos, que alias, foi  absorvida de Jesus: nunca faça ao outro o que não gostaria que o outro vos  fizesse.
É atreves da gravidez que os Espíritos retornam ao mundo e  impedir que eles voltem, para manter a beleza do corpo é no mínimo antiético,  para não dizer criminoso. E quem disse que a mulher grávida perde a beleza ou  que a gravidez pode em enflacidar tanto assim o corpo. A gravidade é muito mais  prejudicial que a gravidez e não se pode fazer nada a respeito. O importante é  entender o processo natural da vida e viver com saúde.
Além do mais,  abordar o assunto beleza tratando somente do corpo físico é muito pouco. Vejamos  o que diz Chico Xavier ao tratar do aborto: Em 1936, conhecemos uma senhora  amiga, que praticou diversas vezes o aborto. Não era uma criatura perversa, mas  entendia que estava agindo bem. Depois de sua desencarnação, depois de seis  abortos, vímo-la no mundo espiritual, e ela estava em condições muito  lamentáveis, e se lastimava da situação de irresponsabilidade a que ela se  entregara nos domínios do aborto inconseqüente, do aborto sem orientação médica,  de aborto não terapêutico. Falando em aborto terapêutico vejamos o próximo  tópico.
Risco de morte para a mãe:
Este é o  único caso em que os Espíritos superiores ratificaram a pratica do aborto,  quando a vida da mãe esta em risco. Argumentam eles que é preferível que a mãe  prossiga viva, tanto por que a própria mãe poderá trazer à luz o mesmo Espírito  que não conseguiu reencarnar agora.
Além disso, a presença materna,  ainda que menosprezada em muitos casos, é indispensável. Não pretendemos dizendo  com isso que o pai não consiga realizar o trabalho que caberia a mão por que  estaríamos indo contra os fatos. Porém, imaginemos os problemas que esse pai  seria obrigado a solucionar. Existem, às vezes, outros filhos envolvidos que o  pai deverá educar, existe agora uma outra criança a ser educada, criança essa  que poderá ser encarada como o motivo da morte da mãe. Mesmo sem nos referirmos  ao pai, outras pessoas que estejam envolvidas poderão desenvolver certa  inimizade com essa nova criança, e isso tudo sem levar em consideração que em  optarmos pela criança ainda corre-se o risco de o próprio bebê acabar morrendo  também, já que nesses partos de risco não é só a mão quem corre risco de morte.
Portanto a posição do espiritismo nesse caso, e exclusivamente nesse caso, é  a favor do aborto.      
Quando o feto é defeituoso:
O corpo é a ferramenta através da qual o  Espírito se serve para seu próprio aperfeiçoamento. Mas acontece às vezes que  nós não sabemos cuidar bem dela e é então que precisamos aprender a lidar com  ferramentas desajustadas.
Em conseqüência da lei de ação e reação é que  recebemos corpos defeituosos para o devido reajuste, primeiro conosco mesmo e  posteriormente com aqueles a quem tenhamos prejudicado. Imaginemos por exemplo  como seria a reencarnação de pessoas que usaram a muita inteligência que tiveram  para guerrear ou para desenvolver armas de guerra.
Diz o Livro dos  Espíritos que essas pessoas passam por “uma expiação imposta ao abuso que  tenham feito de certas faculdades; é um tempo de suspensão”. Imaginemos  agora que essas mesmas pessoas não encontrassem um meio para se reencarnarem.  Estariam impostas a um sofrimento eterno, o que é contrario a Lei de Amor, e a  esses casos Deus escolhe pessoas que estejam em condições de realizar a tarefa  de mãe e de pai para cuidar dessa nova criança.
Acontece também que Deus  poderá aproveitar a situação para reaproximar antigos desafetos para uma  proveitosa reconciliação mas sempre em condições de possibilidade e quando  falhamos a responsabilidade é inteiramente nossa.
A eugenia praticada na  Grécia antiga visava a seleção de pessoas que servissem para a guerra e os que  não eram fortes o bastante eram abandonados. Abortar os fetos por serem  portadores de defeitos como a Síndrome de Down é adotar a mesma prática,  tratando-os como descartáveis.        
No caso de estupro:
Reconhecemos que este caso é,  provavelmente, o mais difíceis a ser abordados, não que a doutrina espírita não  tenha uma posição clara, mas por compreendermos o quanto deve ser difícil para  uma mãe e, às vezes, para um “pai” lidar com uma situação dessas. O trauma que  fica após o aborto muito difícil de ser administrado, porém, quando o fruto do  aborto vai além do trauma e acontece a gravidez as dificuldades se multiplicam,  requisitando muito mais amor e resignação da parte das pessoas que deverão  trabalhar na solução do problema.
Optar pelo aborto nesse caso será  ainda mais fácil, por que se contará com o apoio médico, da lei, às vezes da  família, do marido (quando existir), da sociedade e ir contra tudo isso é muito  difícil. Mas é importante lembrar que nem tudo que é legal e ético é bom e  moral.
O espiritismo nos ensina que tudo o que nos ocorre, para o bem ou  para o mal, é fruto do que nós próprios fizemos. Podemos relembrar o que disse  Jesus a Pedro: “aquele que ferir com a espada com a espada será  ferido”*. É necessário ter uma postura moral bastante corajosa para  encararmos um problema desses como uma oportunidade de aprendizado e não é nos  livrando do problema, seja lá como fizermos, que iremos soluciona-lo.
Cada um de nós, neste como em todos os casos, terá sempre o livre  arbítrio, mas é indispensável levarmos em consideração o Espírito reencarnante,  que talvez não tenha nenhuma culpa mas que provavelmente tem o passado ligado ao  nosso e terá de esperar por uma outra oportunidade de reconciliação. 
 
 
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