Canto sereno que assobia, nos regatos lagos e cachoeiras. Senhora faceira de beleza e ternura. Protetora das crianças e de todos os que necessitam de tua graça. Mamãe Oxum, Deusa formosa dos rios. A Mãe das Águas Doces, acolhe-nos em teu seio, proporciona-nos paz e alegria.
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Nosso Lar - O Filme
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Chico Xavier o Filme
Uma adaptação para o cinema que descreve a trajetória do médium, que viveu 92 anos desta vida terrena desenvolvendo importante atividade mediúnica e filantrópica. Fechava os olhos e colocava no papel poemas, crônicas e mensagens. Seus mais de 400 livros psicografados, consolaram os vivos, pregaram a paz e estimularam caridade. Para os admiradores mais fervorosos, foi um santo. Para os descrentes, no mínimo, um personagem intrigante.
sábado, dezembro 18, 2010
Quimbanda - Linha da Esquerda
Acho estranho que muita gente prefira acreditar que Exu é o diabo, do que crer na simplicidade de uma entidade boa e comum. Talvez seja a estranha força da imagem em gesso do Exu.
Um grande problema para a desmistificação da Umbanda é a colocação correta da Quimbanda e de seus espíritos, os Exus e as Pombas Gira. Tem gente que diz que o Exu é o Diabo. Essa estúpida assertiva, muitas vezes até cometida por umbandistas, tem custado muito para nossa religião. Em todos os momentos que falamos da Umbanda não dispensamos a ladainha que a Umbanda é nova, não tem – e espero que nunca tenha, nenhuma codificação e nenhuma regra existente para diferenciar o certo do errado. Errado na Umbanda só o que fere a moral, o bom senso, a ética ou a cultura. Por isso divulgamos o entendimento do Terreiro Pai Maneco sobre este tema.
O exu não é o agente do mal. Ele é a entidade polêmica, misteriosa e distorcida da umbanda. Sua imagem, na crença popular, é uma figura demoníaca, moldada em gesso de cor vermelha, algumas ainda possuindo chifres e pés de animal. Absurdamente, é assim que ele é cultuado, inclusive, confesso, em nosso terreiro, muito embora saibamos que estamos fazendo parte desta massa ignorante. Mas a força da nossa intenção transforma essas imagens em elementos de ligação com esse mundo maravilhoso – dos Exus.
Acho estranho que muita gente prefira acreditar que Exu é o diabo, do que crer na simplicidade de uma entidade boa e comum. Talvez seja a estranha força da imagem em gesso do Exu. Será que por trás dessas figuras mal feitas e de péssimo gosto artístico não existe um engodo espiritual para esconder suas verdadeiras identidades? Vamos analisar e tentar descobrir pelo raciocínio inteligente quem eles são.
A umbanda é brasileira, baseada em fatos e personagens na época do descobrimento, tendo nos caboclos, nossos ameríndios, a figura mandante, seguido do preto-velho, simbolismo da raça africana escravizada pelos europeus e as crianças que são os espíritos de qualquer nacionalidade que tenham desencarnado na idade da inocência. Fecha-se o Triângulo da Umbanda: Caboclos, Pretos e Crianças. Sabendo serem essas as entidades que compõem a Umbanda, não resta para a Quimbanda, outro tipo de espírito senão os originários da Europa, no caso os nobres, príncipes, lordes, almirantes, eclesiásticos, figuras letradas e culturalmente avançados.
Isso aconteceu através da evolução dessas almas pela reencarnação. Se os europeus invadiram nosso país, mataram nossos índios, escravizaram os africanos e cometeram toda espécie de mal, dentro de seus resgates cármicos podem, espontaneamente, terem aceitado a situação de serviçais àqueles que, em vidas anteriores, foram seus carrascos. A lógica desse argumento baseia-se no fato que seria estranho e de difícil aceitação um príncipe apresentar-se em um terreiro de umbanda, carregando um tridente, afirmar estar morando no cemitério, aceitar farofa, azeite de dendê, charuto e cachaça como oferenda, e ainda receber ordens de um índio ou de um escravo. O melhor é se esconder atrás de um comportamento atípico às suas nobres origens.
Os Exus têm histórias muito bonitas, interessantes e que vale a pena conhecê-las.
Exu Morcego
Em um castelo, inteiramente de pedra, mal cuidado e isolado no meio de uma floresta, típico daqueles pertencentes ao feudo europeu, vivia um homem branco e corpulento, trajando uma surrada roupa, provavelmente antes pertencente a um guarda-roupa fino. Percebia-se o desgaste causado pelo passar do tempo, pois ainda carregava uma grossa e rica corrente de ouro de bom quilate, com um enorme crucifixo do mesmo cobiçado material. Parecia viver na solidão, muito embora no castelo vivessem vários serviçais. Na torre do castelo, as janelas foram fechadas com pedra, e só pequenas frestas foram feitas no alto das paredes.
A luz não podia entrar. A torre não tinha paredes internas, formando uma enorme sala, com pesada mesa de madeira tosca, tendo como iluminação dois castiçais de uma só vela cada. Ao lado da tênue luz das velas, livros se espalhavam sobre a mesa, mostrando ser aquele homem um estudioso e que algo buscava na literatura. De braços abertos, com um capuz preto cobrindo sua cabeça, emitia estranhos e finos sons, tentando descobrir o segredo da levitação. Pelas frestas da torre, entravam e saiam voando vários morcegos com os quais ele procurava inspiração e força para atingir sua conquista. Por quê? Não sabemos. A idéia e as razões eram só da estranha figura. Parecia um homem de fino trato, transfigurado na fixação de atingir um poder que não lhe pertencia. Seu nome? Também não sabemos. Só o conhecemos incorporado nos terreiros como o querido, mas temido, Exu Morcego.
Exu Pantera
O Exu Pantera é uma surpresa. Seu nome dá a entender ser um espírito violento, bravo, mas ao contrário, apresenta-se com muita elegância, com charme e um bom palavreado. Ele contou sua história: afirmou ser europeu, e grande admirador da pantera, para ele, um animal esperto, ágil, e o mais elegante de todos. Veio ao Brasil para resgatar seu carma, agrupando-se à umbanda, especificamente à quimbanda e como tem uma relação direta com o Caboclo da Pantera, não teve nenhuma dúvida em usar o nome do lindo felino. Daí seu nome: Exu Pantera.
Exu João Caveira
O Exu João Caveira contou uma vida passada. Disse que na Idade Média, foi um fiel conselheiro de um senhor feudal. Criada uma situação no feudo de difícil solução, foi solicitada sua opinião para decidir a questão. Se decidisse de uma forma, agradaria todos os senhores, e de outra, faria justiça a todos os moradores desafortunados do lugar. Para ganhar a simpatia do lado forte, decidiu pela primeira hipótese, mesmo contrariando a sua vontade, que em nenhum momento expressou. Por causa disso, ganhou um carma enorme, que está resgatando nos terreiros da Umbanda.
Exu do Fogo
O Exu do Fogo contou uma história interessante. Disse que através do fogo executa seus trabalhos de caridade, por ter ele, no tempo da Inquisição, condenado várias pessoas para serem queimadas em fogueiras com a pecha de bruxos. Hoje ele se considera um bruxo e através do elemento fogo, tenta resgatar os males que carrega em seu carma. E vale a pena ver a habilidade deste Exu manipulando o fogo.
Exu 7 da Lira
O Exu 7 da Lira, segundo a unanimidade dos terreiros afirma, foi o grande cantor brasileiro. De certa forma, foi sinalizada alguma coisa em nosso terreiro, pelo ponto que ele mesmo ditou:
Sou Exu, trabalho no cantoQuando canto desmancho quebrantoSete cordas tem minha violaVou na gira de elenco e cartolaViola é o tridenteCigarro é o charutoBebida é o marafoSou Sete da LiraDerrubo inimigoPonteiro de aço
Interessante texto do saudoso Pai de Santo Andir de Souza:
“Falar de exu não é uma fácil tarefa, porém, inquirir, pesquisar, procurar sua origem e sua finalidade é o direito de quem quer aprender. Há uma nuvem cobrindo a distância do seu princípio até nossos dias. Nesta caminhada lenta da humanidade ganhastes muitas formas e fostes batizados com inúmeros nomes: no Jardim do Éden, eras uma serpente que introduziu o primeiro pecado no seio da humanidade; eras o agente mas não o mal, pois o livre arbítrio nos dá o direito de optar. De Adão e Eva proliferou a humanidade e, com ela, os seus deuses, seu medo e sua curiosidade.
Ah! meu irmão de longa caminhada...
Para Moysés você foi a bengala que apoiava o corpo nas fatídicas andanças mas, se necessário, você seria também a assustadora serpente. Para os fenícios, você foi Molock, espírito tenebroso, cujo interior era uma fornalha ardente onde os seus seguidores depositavam suas oferendas; para a Pérsia de Zoroastro, atendias pelo nome de Arimânio, espírito angustiado e vingador!...para o egípcio, você era Duet, uma guardião que castigava, que punia para, depois de punido, ser entregue para o Deus da Luz e Serenidade; você era a ligação entre o homem e a mente, a morada de Osíris que é o Deus do amor e da criação. No Egito, você também era Tifon ou Aprites; a China milenar te deu o nome de Digin; Ravana para o hindu; os escandinavos de chamavam Azalock. Em cada povo uma personalidade e uma vibração diferente. Para o nosso índio brasileiro, você atendia por vários nomes e várias atuações: Cairé é um fantasma que aparece na lua cheia para punir os maus; Catiti é outro, só visível na lua nova e atrapalha a pesca. Jurupari é o mau espírito que traz pesadelo; Curuganga oficia como assombração.
Até então, você com múltiplas funções e personalidades, não era mais que uma energia, uma força. Até 1984 anos atrás, você era visto e sincretizado como guerreiro, como um homem. Para o mau artista, uma grotesca obra.O hebreu te deu novas formas e, na pia batismal, recebestes os nomes: diabo, demônio, Lúcifer. Pelo pincel do pintor ou o formão do escultor, na metamorfose dos interesses de uma religião que amedronta e não esclarece, te fizeram um monstro... Como monstro, você defendia com maior eficácia os interesses econômicos de seu criador. Causa-nos revolta vê-lo assim desfigurado!A infâmia e o mau gosto do artista que te fez um agregado de homem e animal, com longos cornos e pés caprinos, é uma afronta ao próprio Criador!Ah! meu amigo... A tua imagem hoje, nada mais é que o reflexo, a exteriorização de consciências mal forjadas.São dois mil anos que o padre vem te projetando, programando o subconsciente da pobre humanidade. Ele afirmou que exu era o diabo e assim se propagou, assim ficou... Nós só conhecíamos o catolicismo como religião dominante. O padre era sábio, o doutor, o mentor enfim... e ficaria assim se ao lado da religião não existisse a história.
O diabo é um rival de Deus, um anjo re bel de, Satanás e falsário que tentou Eva e perdeu Adão. Tentou Caim e promoveu o assassinato de A bel ; tentou Jesus, no monte e levou Judas à traição, Jesus não cedeu à sua tentação, prova eloqüente do direito de optar; respeito sagrado ao livre arbítrio do homem.Forçam-nos a pensar que você é o executor porém, não é a causa nem efeito; é sim um elemento, uma vibração, que serve de acordo com a vontade do pedinte ou a licença do patrão. Será isso ou não?... Sabemos que o índio e o negro não conheciam um rival de Deus. Não há um concorrente das Leis Divinas!... um diabo, um Satanás... há sim, uma corte de seres inferiores que, por isso mesmo, estão a serviço de seres superiores, aos quais obedecem e servem sem contestar.Na magia do negro, Exu é um Deva, um Orixá... é um mensageiro, o guarda, o policial, o moço de recado que vive na rua, orientando, servindo de intermediário entre o Orixá e o homem.
Entendemos que o diabo nos ludibriou!...
O negro não sabia que era o diabo, sabê-lo-ia o bugre dispondo de uma mitologia inferior?... Não tinham uma noção semelhante. O bugre conhecia o Caissoré, Curupira, Curuganga, Anhangá, entidades que se tornam pesadelos, que dão maus sonhos e que estorvam a pesca e a caça, contudo, o homem pode amansá-los, dando-lhes pequenas oferendas. Quem ameaçaria o diabo?... Este pretenso rei será tão porco, tão mesquinho que se venda por alguns bicos de vela? Será isso um rival de Deus?... Um diabo, um Satanás?...O bugre e o negro não conheciam esta figura hebraica, pregada e propagada aos quatro cantos do mundo pelos padres e seus discípulos.O negro não servia a interesses financeiros; perante Deus não existe rival. ELE é a Criação, o Princípio e o Fim! Para cada elemento ELE criou uma força dominante, um encarregado, um guardião, um Orixá que rege o plano Cósmico mas, criou também, o intermediário, o EXU, o Deva, o Orixá Menor, que atua em harmonia com seu gerente ou seja, o Orixá.
Lá no alto está a Energia Cósmica, Oxalá, Iemanjá, Ogum, Oxóssi e outros; no plano intermediário, Exu-Tameta, Exu da Rua, Exu-Odé, da encruzilhada, Exu-Adé, do chão, Exu-Ibanan, dos montes, Exu-Itatá, das pedras, Exu-Ibê, do terreiro, Exu-Gelu, das estradas longas, Exu-Baru, do escuro, Exu-Bara, este, puramente africano.Senhores, a minha dissertação talvez não seja erudita... tão inteligente... porém, é honesta e eu afirmo: aquele grupo de demônios avermelhados, guampudos, com pés caprinos e barbas em pontas, olhos saltados, dentre agressivos... não é EXÚ!
Aquilo é uma concepção primária, falsa, mórbida, velhaca, indecente, ridícula!... É uma agressão à nossa inteligência; uma infâmia, um disparate, uma ofensa ao Divino Criador! Não podemos aceitar essa assimilação!Este demônio hebreu não é o Plutão do grego, não é o Tifon do egípcio, não é o Arimam do babilônio, não é o Digin do chinês, não é o Ravana do hindu, não é o Bará do negro, não é o Caissoré do bugre.
Este demônio bestificado não faz parte deste Panteon!Por Deus, não é nada disso!...só pode ser fruto do interesse econômico de escritores mal informados, sem decência ou respeito pelo belo.
Aqui dou meus aplausos àqueles escritores que tiveram a honradez de procurar um novo sincretismo, tentando introduzir uma imagem condizente com o altruístico trabalho desses incansáveis irmãos EXÚS.
sexta-feira, dezembro 17, 2010
A Mulher da Samaria
A Mulher da Samaria
Autor:Divaldo Franco (médium)
Amélia Rodrigues (espírito)
Fonte:Livro: Primícias do Reino
A Samaria já não desfrutava as glórias do passado, ao tempo do esplendor e da impiedade de Acabe e Jezabel. Destruída em 722 (a.C.) por Sargão II, irmão e sucessor de Salmanasar V, ali instalaram os assírios povos exilados de toda parte do Império que se estabeleceram numa amálgama de raças e crenças generalizadas.
Ao tempo de Esdras, como perdurasse a profunda cisão que tivera desfecho em 935 (a.C.) depois da morte de Salomão, um sacerdote de Sião, desligado do Templo, erigira sobre o monte Garizim m santuário opulento para rivalizar com o de Jerusalém.
Arrasada pelos macabeus comandados por João Hircano, em 128 (a.C.) fora, no entanto, reedificada por Herodes, que a denominou Sebaste ou Augusta.
Num desfiladeiro de quase 600 metros de altitude entre Hebal e Garizim, havia velha aldeia denominada Siquém, mas conhecida, todavia, por Sicar.
A cidadezinha histórica conhecera Patriarcas e Juízes e vira Josué reunir “o povo eleito” para ali jurar fidelidade à Aliança...
*
Saindo de Jerusalém, no dia anterior, demandando à Galiléia, Jesus abandonara a estrada real cujo traçado levava de Jericó a Batanéia, seguindo o tranqüilo curso do suave Jordão, para galgar as montanhas de Efraim, penetrando os limites da Samaria, evitados pelos nascidos em Judá.A vereda áspera e cheia de pedregulhos coloria-se de súbito com loendros ondulantes que se alternavam com sicômoros desgalhados por entre os quais, ao entardecer, ventos alísios refrescam o próprio Yahweh em seu jardim, como nos mostra a linguagem bíblica.
As espigas douradas ondulavam ao vento morno da hora sexta (meio-dia), no imenso trigal esparramado pelo vale de Macneh.
O pó, acumulado ao longo da estrada serpenteante entre cortes abruptos, macio como um dossel, levantava leves nuvens ao sopro do ar que desce do espigão de montanhas abrasadas.
Do cimo dos montes via-se o mar de longe, àquela hora, por entre colinas esguias.
O solo anfractuoso coleia e se contorce entre as montanhas até aplainar-se no vale viridente.
Nuvens brancas e esgarçadas deslizavam pela amplidão do céu azul.
A jornada do Mestre e seus discípulos fora longa: cerca de cinqüenta quilômetros.
A garganta ressequida, o corpo cansado e coberto de pó pedem linfa cristalina e refrescante.
Ao chegarem às cercanias da cidade, o Rabi assentou-se junto ao tradicional “poço de Jacó”, nos terrenos que pertenceram a esse venerando ancião e foram legados ao seu filho José, onde ficara sepultado.Os discípulos subiram à cidade para aquisição de víveres e frutas, enquanto Jesus aquietou-se em profundo cismar perdido na paisagem colorida.
*
Cântaro ao ombro, mergulhada em íntimas inquietações, uma mulher desce ao poço sob o Sol queimante e a pino.
Surpreende-se com o estranho olhar que lhe dirige o forasteiro judeu, que ali parece aguardá-la.
Atira, porém, o vaso sobre a água e recolhe o precioso liquido na bilha que repousa sobre o paiol.
Sente-se intranqüila, como se algo estivesse para suceder-lhe.
Emoções desconhecidas tumultuam-lhe o espírito.
Quando se dispõe a tomar o vasilhame e retornar ao lar, ouve:
- Dá-me de beber!
Volta-se, surpresa, dominada por estranhos e profundos ressentimentos.
Como ousa aquele estrangeiro dirigir-lhe a palavra, atentando contra os costumes vigentes? – interroga mentalmente. Que homem é este que se atreve a dirigir a palavra a uma mulher, sabendo-se que ninguém ousava fazê-lo na rua, mesmo que fosse à esposa, filha ou irmã? Ignorará ele essa regra comezinha, parte integrante dos deveres sociais? E, solerte, retruca, com proposital ironia na voz, com que extravasa a própria amargura:
- Como sendo tu judeu me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?
No vale, maio cantava através de mil cigarras no trigal; a estrada deserta e silenciosa perde-se montanha a dentro.
Jesus conhece as dimensões que separam os dois povos: judeus e samaritanos.
Não seria esta a única vez que Ele provocaria escândalo, afrontando costumes odientos e convencionais.
Tem uma mensagem a dar – mensagem de conciliação e consoladora.
Para isto deixara propositalmente a estrada do Jordão e subira as serras. Programara aquele encontro, desde antes...
Aquela mulher, Ele a escolhera para ser a condutora do seu aviso a Siquém.
Responde-lhe, então, sem aspereza nem revide, por conhecê-la, talvez, intimamente.
Sua voz é cantante, compadecida:
- Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é o que te diz: dá-me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva.
Vibrações incomparáveis estrugem no coração da mulher.
Guardava ânsias de paz e não sabia como ou onde encontrá-la.
Uma dúvida, porém, a inquieta.
O espanto dá-lhe à voz uma tonalidade de respeito.
- Senhor! – exclama – tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde pois tem a água viva? És tu maior que nosso pai Jacó que nos deu o poço, dele bebendo, ele próprio, seus filhos e o seu gado?
Os olhos do estranho fulguram com fascínio desconhecido.
A revelação não tarda; a mensagem espraiar-se-á no ar, embalando o mundo, quando Ele a enunciar.
- Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; - foi explícito – mas aquele que beber da água que eu lhe ser, nunca terá sede, porque a água que eu lhe oferecer se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.
- Dá-me dessa água – disse, pressurosa, - para que não mais tenha sede, e aqui não venha tirá-la.
Penetrara a mulher o sentido das palavras do Rabi? Desejava libertar-se da exaustiva tarefa ou buscava mais clareza no ensino?
Os meigos olhos d`Ele incendeiam-se e se fixam nos olhos dela, penetrando-lhe o recôndito do espírito.
- Vai chamar o teu marido e vem cá – ordena-lhe com brandura e segurança.
Ela se perturba.
Era uma pecadora, e Ele o sabia, - conjectura...
Esse era o seu tormento íntimo.
Quanto sentia ferida, humilhada no seu amor, receosa!...
As lágrimas afloraram e escorrem abundantes; a palavra empalidece o vigor nos seus lábios e, quase sem fôlego, esclarece:
- Não tenho marido...
A vergonha estampa no seu rosto moreno a própria dor.
- Disseste bem: não tenho marido; - confirmou Jesus – pois que cinco maridos tiveste, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.
Surpreendida, a samaritana não mais oculta a alegria, a felicidade.
Grita, quase:
- Senhor, vejo que és Profeta!
A mente está em desalinho.
Quantas dúvidas a atormentaram a vida toda!... Agora está diante de um Profeta de Deus. Deve aproveitar cada instante, reabilitar-se, encontrar a paz, por fim.
Comovida, interroga com docilidade.
- Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
- Mulher, acredita-me – elucida o Enviado Divino – que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
A mulher, perplexa, enche-se de ventura.
Tão indigna se considera, e, no entanto, fora chamada à Verdade, ouvindo o que nenhum ouvido jamais escutara antes.
No vale, as espigas continuam oscilando e os loendros cantam ao sopro do vento.
O Desconhecido olha em derredor, e continua com música harmoniosa nas palavras.
- Deus é o Espírito, e importa que os que O adoram, O adorem, em espírito e em verdade.
A humilde “aguadeira” terá compreendido a grandeza universal do ensino?
Transfigurada pela revelação, deseja informar-se com segurança e indaga:
- Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier – nos anunciará tudo...
A sinfonia imponente irrompe do coração do Mestre, e, ante a Natureza em silêncio e expectação, Ele conclui:
- Eu o sou; eu que falo contigo! Por isso digo que a salvação vem dos judeus.
O suor escorre-lhe pelo rosto rubro e másculo.
Já não há segredo.
Despedaçam-se as comportas do mistério e a verdade esparze alegria e consolo.
Não há mais silêncios.
A mulher está conquistada.
O Reino amplia fronteiras entre os “desgarrados”...
*
Os discípulos retornam e “maravilham-se de que estivesse falando com uma mulher”, mas nada disseram.
Tomando o cântaro, a samaritana demanda a cidade e, aos gritos, proclama:
- Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura não é este o Cristo?
Indagações explodem, espontâneas, em todos, admirados ante a natural declaração da informante.
Em grupos compactos os moradores de Sicar descem à fonte, onde o Rabi se demora com os discípulos, que instam para que se alimente.
Sem e perturbar com a multidão que O fita aturdida, explica aos companheiros, de modo a fazer-se ouvir por todos:
- Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra...
“Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: levantai os olhos, e vede as terras que já estão brancas para a sega. O que ceifa recebe o galardão, e ajunta fruto, para a vida eterna, para que assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem”.
“Porque nisso é verdadeiro o ditado: que um é o que semeia, e outro o que ceifa”.
“Eu vos enviei a ceifar, onde não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho”.
A terra se vestia de escarlate e as nuvens ficavam tintas com o ouro do entardecer que se avizinha.
A mensagem é um brado de despertamento aos aprendizes inseguros e displicentes.
Ele semeia, o futuro colherá.
Ali está uma gleba humana referta de corações para a semeação da Era Nova.
Fazia-se necessário estender a todos os prelúdios da paz, numa antevisão do Reino.
Aqueles eram pastores, agricultores e pescadores...
Entendiam a linguagem, conheciam o tempo e as circunstâncias.
Os louvores a Deus não mais se entoarão neste ou naquele recinto.
Erigido um altar no coração, o agricultor exalta-O na vérgea recamada de sementes germinadas, o artista na obra rica de contornos, os sábios nos poemas das estrelas, os rudes no trato com os deveres humílimos.
A luz vem do alto e alarga-se pela planície...
Todos os ódios se apagam ante a Mensagem Nova.
Rompem-se barreiras, aplainam-se abismos.
Quebram-se os elos da escravidão e a desídia não medra.
Irrompe a paz nos corações.
Onde o homem se levanta para a vida, o Pai é adorado.
Deus já não pertence a um povo, a uma casta. É imanente em tudo e todos, e transcendente.
“Um só Deus é o Pai de todos, o qual é sobre todos, por todos e em todos”.
Não importa o agora da vida, no que diz respeito a fruir gozo.
A abominação ao crime, à leviandade, à insensatez que a todos convida larga e facilmente, em titânica batalha íntima pelo equilíbrio; a perseverança do bem; a renúncia ao “eu” enfermiço e ambicioso são as primícias de felicidade... àquele que se doe à Causa.
O galardão é a paz consigo mesmo e a inefável ventura depois, além das sombras...
*
Por dois dias Ele ficou na Samaria a pregar, a curar, espalhando a certeza da Vida além da vida.
E todos diziam a Fotina:
- Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo. O Salvador do mundo.
O céu diáfano diluía-se com os salpicos de flóculos de nuvens, quando, depois, Ele e os discípulos seguiram à Galiléia.
*
Pela afeição com que se ligou a Jesus, primitivos cristãos, que se alentaram na sua coragem de proclamar as imperfeições, denominaram a Samaritana, “A Iluminadora”, que a tradição oral acatou e conservou, até os nossos dias.
Natal do Coração
NATAL DO CORAÇÃO
Abençoadas sejam as mãos que, em memória de Jesus, espalham no Natal a prata e o ouro, diminuindo a miséria e a necessidade, a fome e a nudez!... Entretanto, se não forem iluminadas pelo amor que ajuda sempre, esses flagelos voltarão amanhã, como a erva daninha que espreita a ausência do lavrador. Não retenhas, assim, a riqueza do coração que podes dar, tanto quanto o maior potentado da Terra! Deixa que a manjedoura de tua alma se abra, feliz, ao Soberano Celeste, para que a luz de banhe a vida.
Com Ele, estenderás o coração onde estiveres, seja para trocar um pensamento compassivo com a palavra escura e áspera ou para adubar uma semente de esperança, onde a aflição mantém o deserto!
Com Ele, inflamarás de júbilo os olhos de algum menino triste e desamparado e uma simples criança, arrebatada hoje ao vendaval, pode amanhã ser o consolo da multidão...
Com Ele, podes oferecer a bênção da tolerância aos que trabalham contigo, transformando o altar de teu coração em altar de Deus!...
Que tesouro terrestre pagará o gesto de compreensão no caminho empedrado, o sorriso luminoso da bondade no espinheiro da sombra e a oração do carinho e do entendimento no instante da morte?
Natal no mundo é a epopeia do reconhecimento ao Senhor. Natal no espírito é a comunhão com Ele próprio. Ainda que te encontres em plena solidão na manjedoura do infortúnio, sai de ti mesmo e reparte com alguém o dom inefável de tua fé.
Lembra-te de que Ele, em brilhando na manjedoura, tinha consigo apenas o amor a desfazer-se em humildade, e, em agonizando na cruz, possuía apenas o coração, a desfazer-se em renúncia... Mas, usando tão somente o coração e o amor, sem uma pedra onde repousar a cabeça, converteu-se no Salvador do Mundo, e, embora coroado de espinhos, fez-se o Rei das Nações para sempre.
Francisco Cândido Xavier por Meimei. in: Antologia Mediúnica do Natal
Uma Figura Incomparável
A figura de Jesus não encontra equivalente em nenhuma outra.
Qualquer que seja a personalidade humana que se pretenda estudar, ela apresenta nuanças de luz e sombra.
Em algum aspecto de sua vida, titubeou e cometeu deslizes.
Com Jesus isso não se verifica.
Ele é o Modelo dado por Deus a todos os homens.
Ao surgir no cenário terreno, já havia atingido o ápice de Seu estado evolutivo.
Embora essencialmente humano, não portava nenhuma das mazelas comuns aos homens.
Justamente por isso, causou tanto impacto.
Como Ser perfeito, não Se deixou contaminar por desejos e preconceitos humanos.
Transcendeu a todos os vícios, embora cheio de compaixão pelos pobres viciados.
Sua Celestial Sabedoria confundiu os mais doutos da época.
Sempre pacífico, nem por isso deixou de combater a hipocrisia.
Sem desrespeitar as consciências alheias, tratou de demonstrar em que realmente consistia a essência das Leis Divinas.
Valorizou as mulheres, em uma época em que nenhum direito lhes era reconhecido.
Tratou de leprosos, quando todos fugiam deles.
Amparou e encaminhou prostitutas, as quais eram objeto de intenso desprezo.
Conviveu com pessoas de má vida, sem Se importar com as críticas.
Abriu os braços às crianças, encantado com sua fragilidade e com a pureza que simbolizam.
Gastou tempo com seres ignorantes e rudes, sempre paciente e benfazejo.
Ele viveu no mundo, sem ser do mundo.
Amparou, cuidou e esclareceu a toda a gente, sem jamais ser manchado pela impureza que O rodeava.
Qualquer que seja o ângulo pelo qual se observa, a grandeza de Jesus impressiona.
Não Se deixou tocar pelos preconceitos próprios da época.
Amou sem esperar ser amado.
Ensinou e viveu a compaixão em um período de sentimentos rudes e hábitos cruéis.
Movimentou recursos magnéticos e de cura até hoje desconhecidos.
Lançou a ideia da vida futura, como uma esperança para todos os homens.
Substituiu o conceito de um Deus vingativo e cruel pelo de um Pai amoroso.
Trata-Se de uma figura incomparável, superior a qualquer outra.
E é dEle o convite que ressoa, através dos séculos:
Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me!
* * *
Em algum momento será necessário atender ao amoroso chamado, romper com o passado de equívocos e marchar para a luz.
O seu momento pode ser agora!
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no livro Momento Espírita, v. 8 e no CD Momento Espírita Especial de Natal, v.15, ed. Fep.
Em 16.12.2010.
DECISÃO E ATITUDE
Sua decisão num momento responderá pelos seus dias futuros.
Não se precipite; a meditação o ajudará a discernir com clareza e segurança.
A indecisão prolongada gera a complicação do problema a resolver, por mais adiado que permaneça.
Não cultive receios; ore, consulte o Evangelho e, depois, não retarde demais a decisão.
O desequilíbrio dos outros contagia; harmonize-se antes, para ajudar com elevação.
Pudor e escândalo dependem de quem cultiva honorabilidade e insensatez.
O que você cultiva, rebeldia ou serenidade, exterioriza-se quando você for testado.
Não avinagre suas horas mediante a sustentação de clima pessimista.
Faça sol interiormente, e quando se decidir pelo bem, não recue, não se arrependa e não reclame.
Não exija satisfação dos outros.
Melhore-se primeiro e aprenda a decidir e agir com Jesus em qualquer circunstância.
(De “Momentos de Decisão”, de Divaldo Pereira Franco, Espírito Marco Prisco)
Creditos: Carlos Eduardo Cenerelli
Reflexões de Bezerra de Menezes
Reflexões de Bezerra de Menezes
“O Senhor corrige:a ignorância:
com a instrução;
o ódio: com o amor;
a necessidade: com o socorro;
o desequilíbrio: com o reajuste;
a ferida: com o bálsamo;
a dor: com o sedativo;
a doença: com o remédio;
a sombra: com a luz;
a fome: com o alimento;
o fogo: com a água;
a ofensa: com o perdão;
o desânimo: com a esperança;
a maldição: com a benção.
Somente nós, as criaturas humanas, por vezes, acreditamos que um golpe seja capaz de sanar outro golpe.
Simples ilusão.
O mal não suprime o mal.
Em razão disso, Jesus nos recomenda amar os inimigos e nos adverte de que a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem.”
Bezerra de Menezes
segunda-feira, dezembro 06, 2010
Isso é Umbanda
Imagine um abraço fraterno em 360 graus: isso é Umbanda.
Imagine uma vela acesa com Fé gerando mais energia que uma usina nuclear: isso é Umbanda.
Imagine Divindades, Anjos, Santos, Sábios, Magos, Gênios, Sacerdotes, Xamãs, Babalaôs, Pajés, Iogues, Iniciados, Cientistas, Curadores,
Trabalhadores da Caridade de todas as épocas e culturas voltando à Terra para restaurar a Paz e a Lei Maior: isso é Umbanda.
Imagine a última peça que falta no milenar “quebra-cabeça” que compõe a sua Alma: isso é Umbanda.
Imagine traumas, neuroses, fobias, vírus e bactérias físicas e astrais sendo dissolvidos na baforada de um cachimbo: isso é Umbanda.
Imagine a Pemba traçando e reproduzindo os Códigos Sagrados da Criação: isso é Umbanda.
Imagine o padê de Exu promovendo a harmonia entre Luz e Trevas: isso é Umbanda.
Imagine o médium descalço vestido de branco iluminando-se por dentro: isso é Umbanda.
Imagine o consulente confortado e esclarecido subindo mais um degrau evolutivo: isso é Umbanda.
Imagine o Homem servindo a Natureza e a Natureza servindo o Homem: isso é Umbanda.
Imagine o sal das lágrimas misturando-se ao sal do Mar, Ventre de Yemanjá: isso é Umbanda.
Imagine a flecha certeira de Oxossi alinhando Razão, Emoção e Ação: isso é Umbanda.
Imagine a espada de Ogum abrindo caminho no cipoal das ilusões humanas: isso é Umbanda.
Imagine o machado de Xangô aparando as arestas do Karma Planetário: isso é Umbanda.
Imagine Oxalá retirando os espinhos de teu coração e Oxum cobrindo com mel teus ferimentos: isso é Umbanda.
Agora, deixe de imaginar...
Pois tudo isso não é sonho, é realidade vivida e sentida
A toda hora, todo dia, ao som de um belo ponto cantado
No abraço do Caboclo,
No toque do Preto Velho,
Na brincadeira da Criança,
No olhar do Exu Guardião,
No sorriso do Baiano,
No balanço do Marinheiro,
No encanto da Cigana,
Na ginga do Malandro,
No laço do Boiadeiro...
...meu Filho: ISSO É UMBANDA!
Mensagem do Caboclo Yguaratan recebida espiritualmente pelo médium Vanderlei Alves (Tenda de Umbanda do Caboclo Estrela do Mar) em 01/12/2010.
Um diálogo entre Exú e Oxalá
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