sexta-feira, dezembro 17, 2010

A Mulher da Samaria




A Mulher da Samaria

Autor:Divaldo Franco (médium)
Amélia Rodrigues (espírito)

Fonte:Livro: Primícias do Reino

A Samaria já não desfrutava as glórias do passado, ao tempo do esplendor e da impiedade de Acabe e Jezabel. Destruída em 722 (a.C.) por Sargão II, irmão e sucessor de Salmanasar V, ali instalaram os assírios povos exilados de toda parte do Império que se estabeleceram numa amálgama de raças e crenças generalizadas.
Ao tempo de Esdras, como perdurasse a profunda cisão que tivera desfecho em 935 (a.C.) depois da morte de Salomão, um sacerdote de Sião, desligado do Templo, erigira sobre o monte Garizim m santuário opulento para rivalizar com o de Jerusalém.
Arrasada pelos macabeus comandados por João Hircano, em 128 (a.C.) fora, no entanto, reedificada por Herodes, que a denominou Sebaste ou Augusta.
Num desfiladeiro de quase 600 metros de altitude entre Hebal e Garizim, havia velha aldeia denominada Siquém, mas conhecida, todavia, por Sicar.
A cidadezinha histórica conhecera Patriarcas e Juízes e vira Josué reunir “o povo eleito” para ali jurar fidelidade à Aliança...
*
Saindo de Jerusalém, no dia anterior, demandando à Galiléia, Jesus abandonara a estrada real cujo traçado levava de Jericó a Batanéia, seguindo o tranqüilo curso do suave Jordão, para galgar as montanhas de Efraim, penetrando os limites da Samaria, evitados pelos nascidos em Judá.A vereda áspera e cheia de pedregulhos coloria-se de súbito com loendros ondulantes que se alternavam com sicômoros desgalhados por entre os quais, ao entardecer, ventos alísios refrescam o próprio Yahweh em seu jardim, como nos mostra a linguagem bíblica.
As espigas douradas ondulavam ao vento morno da hora sexta (meio-dia), no imenso trigal esparramado pelo vale de Macneh.
O pó, acumulado ao longo da estrada serpenteante entre cortes abruptos, macio como um dossel, levantava leves nuvens ao sopro do ar que desce do espigão de montanhas abrasadas.
Do cimo dos montes via-se o mar de longe, àquela hora, por entre colinas esguias.
O solo anfractuoso coleia e se contorce entre as montanhas até aplainar-se no vale viridente.
Nuvens brancas e esgarçadas deslizavam pela amplidão do céu azul.
A jornada do Mestre e seus discípulos fora longa: cerca de cinqüenta quilômetros.
A garganta ressequida, o corpo cansado e coberto de pó pedem linfa cristalina e refrescante.
Ao chegarem às cercanias da cidade, o Rabi assentou-se junto ao tradicional “poço de Jacó”, nos terrenos que pertenceram a esse venerando ancião e foram legados ao seu filho José, onde ficara sepultado.Os discípulos subiram à cidade para aquisição de víveres e frutas, enquanto Jesus aquietou-se em profundo cismar perdido na paisagem colorida.
*
Cântaro ao ombro, mergulhada em íntimas inquietações, uma mulher desce ao poço sob o Sol queimante e a pino.
Surpreende-se com o estranho olhar que lhe dirige o forasteiro judeu, que ali parece aguardá-la.
Atira, porém, o vaso sobre a água e recolhe o precioso liquido na bilha que repousa sobre o paiol.
Sente-se intranqüila, como se algo estivesse para suceder-lhe.
Emoções desconhecidas tumultuam-lhe o espírito.
Quando se dispõe a tomar o vasilhame e retornar ao lar, ouve:
- Dá-me de beber!
Volta-se, surpresa, dominada por estranhos e profundos ressentimentos.
Como ousa aquele estrangeiro dirigir-lhe a palavra, atentando contra os costumes vigentes? – interroga mentalmente. Que homem é este que se atreve a dirigir a palavra a uma mulher, sabendo-se que ninguém ousava fazê-lo na rua, mesmo que fosse à esposa, filha ou irmã? Ignorará ele essa regra comezinha, parte integrante dos deveres sociais? E, solerte, retruca, com proposital ironia na voz, com que extravasa a própria amargura:
- Como sendo tu judeu me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?
No vale, maio cantava através de mil cigarras no trigal; a estrada deserta e silenciosa perde-se montanha a dentro.
Jesus conhece as dimensões que separam os dois povos: judeus e samaritanos.
Não seria esta a única vez que Ele provocaria escândalo, afrontando costumes odientos e convencionais.
Tem uma mensagem a dar – mensagem de conciliação e consoladora.
Para isto deixara propositalmente a estrada do Jordão e subira as serras. Programara aquele encontro, desde antes...
Aquela mulher, Ele a escolhera para ser a condutora do seu aviso a Siquém.
Responde-lhe, então, sem aspereza nem revide, por conhecê-la, talvez, intimamente.
Sua voz é cantante, compadecida:
- Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é o que te diz: dá-me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva.
Vibrações incomparáveis estrugem no coração da mulher.
Guardava ânsias de paz e não sabia como ou onde encontrá-la.
Uma dúvida, porém, a inquieta.
O espanto dá-lhe à voz uma tonalidade de respeito.
- Senhor! – exclama – tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde pois tem a água viva? És tu maior que nosso pai Jacó que nos deu o poço, dele bebendo, ele próprio, seus filhos e o seu gado?
Os olhos do estranho fulguram com fascínio desconhecido.
A revelação não tarda; a mensagem espraiar-se-á no ar, embalando o mundo, quando Ele a enunciar.
- Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; - foi explícito – mas aquele que beber da água que eu lhe ser, nunca terá sede, porque a água que eu lhe oferecer se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.
- Dá-me dessa água – disse, pressurosa, - para que não mais tenha sede, e aqui não venha tirá-la.
Penetrara a mulher o sentido das palavras do Rabi? Desejava libertar-se da exaustiva tarefa ou buscava mais clareza no ensino?
Os meigos olhos d`Ele incendeiam-se e se fixam nos olhos dela, penetrando-lhe o recôndito do espírito.
- Vai chamar o teu marido e vem cá – ordena-lhe com brandura e segurança.
Ela se perturba.
Era uma pecadora, e Ele o sabia, - conjectura...
Esse era o seu tormento íntimo.
Quanto sentia ferida, humilhada no seu amor, receosa!...
As lágrimas afloraram e escorrem abundantes; a palavra empalidece o vigor nos seus lábios e, quase sem fôlego, esclarece:
- Não tenho marido...
A vergonha estampa no seu rosto moreno a própria dor.
- Disseste bem: não tenho marido; - confirmou Jesus – pois que cinco maridos tiveste, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.
Surpreendida, a samaritana não mais oculta a alegria, a felicidade.
Grita, quase:
- Senhor, vejo que és Profeta!
A mente está em desalinho.
Quantas dúvidas a atormentaram a vida toda!... Agora está diante de um Profeta de Deus. Deve aproveitar cada instante, reabilitar-se, encontrar a paz, por fim.
Comovida, interroga com docilidade.
- Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
- Mulher, acredita-me – elucida o Enviado Divino – que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
A mulher, perplexa, enche-se de ventura.
Tão indigna se considera, e, no entanto, fora chamada à Verdade, ouvindo o que nenhum ouvido jamais escutara antes.
No vale, as espigas continuam oscilando e os loendros cantam ao sopro do vento.
O Desconhecido olha em derredor, e continua com música harmoniosa nas palavras.
- Deus é o Espírito, e importa que os que O adoram, O adorem, em espírito e em verdade.
A humilde “aguadeira” terá compreendido a grandeza universal do ensino?
Transfigurada pela revelação, deseja informar-se com segurança e indaga:
- Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier – nos anunciará tudo...
A sinfonia imponente irrompe do coração do Mestre, e, ante a Natureza em silêncio e expectação, Ele conclui:
- Eu o sou; eu que falo contigo! Por isso digo que a salvação vem dos judeus.
O suor escorre-lhe pelo rosto rubro e másculo.
Já não há segredo.
Despedaçam-se as comportas do mistério e a verdade esparze alegria e consolo.
Não há mais silêncios.
A mulher está conquistada.
O Reino amplia fronteiras entre os “desgarrados”...
*
Os discípulos retornam e “maravilham-se de que estivesse falando com uma mulher”, mas nada disseram.
Tomando o cântaro, a samaritana demanda a cidade e, aos gritos, proclama:
- Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura não é este o Cristo?
Indagações explodem, espontâneas, em todos, admirados ante a natural declaração da informante.
Em grupos compactos os moradores de Sicar descem à fonte, onde o Rabi se demora com os discípulos, que instam para que se alimente.
Sem e perturbar com a multidão que O fita aturdida, explica aos companheiros, de modo a fazer-se ouvir por todos:
- Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra...
“Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: levantai os olhos, e vede as terras que já estão brancas para a sega. O que ceifa recebe o galardão, e ajunta fruto, para a vida eterna, para que assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem”.
“Porque nisso é verdadeiro o ditado: que um é o que semeia, e outro o que ceifa”.
“Eu vos enviei a ceifar, onde não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho”.
A terra se vestia de escarlate e as nuvens ficavam tintas com o ouro do entardecer que se avizinha.
A mensagem é um brado de despertamento aos aprendizes inseguros e displicentes.
Ele semeia, o futuro colherá.
Ali está uma gleba humana referta de corações para a semeação da Era Nova.
Fazia-se necessário estender a todos os prelúdios da paz, numa antevisão do Reino.
Aqueles eram pastores, agricultores e pescadores...
Entendiam a linguagem, conheciam o tempo e as circunstâncias.
Os louvores a Deus não mais se entoarão neste ou naquele recinto.
Erigido um altar no coração, o agricultor exalta-O na vérgea recamada de sementes germinadas, o artista na obra rica de contornos, os sábios nos poemas das estrelas, os rudes no trato com os deveres humílimos.
A luz vem do alto e alarga-se pela planície...
Todos os ódios se apagam ante a Mensagem Nova.
Rompem-se barreiras, aplainam-se abismos.
Quebram-se os elos da escravidão e a desídia não medra.
Irrompe a paz nos corações.
Onde o homem se levanta para a vida, o Pai é adorado.
Deus já não pertence a um povo, a uma casta. É imanente em tudo e todos, e transcendente.
“Um só Deus é o Pai de todos, o qual é sobre todos, por todos e em todos”.
Não importa o agora da vida, no que diz respeito a fruir gozo.
A abominação ao crime, à leviandade, à insensatez que a todos convida larga e facilmente, em titânica batalha íntima pelo equilíbrio; a perseverança do bem; a renúncia ao “eu” enfermiço e ambicioso são as primícias de felicidade... àquele que se doe à Causa.
O galardão é a paz consigo mesmo e a inefável ventura depois, além das sombras...
*
Por dois dias Ele ficou na Samaria a pregar, a curar, espalhando a certeza da Vida além da vida.
E todos diziam a Fotina:
- Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo. O Salvador do mundo.
O céu diáfano diluía-se com os salpicos de flóculos de nuvens, quando, depois, Ele e os discípulos seguiram à Galiléia.
*
Pela afeição com que se ligou a Jesus, primitivos cristãos, que se alentaram na sua coragem de proclamar as imperfeições, denominaram a Samaritana, “A Iluminadora”, que a tradição oral acatou e conservou, até os nossos dias.



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