CURAS E
MATERIALIZAÇÕES ESPÍRITAS
(...)
- A sua convicção pessoal vem de uma
constatação experimental? Você já observou algum fenômeno espírita, alguma
materialização?
Vi manifestações espíritas de diversos
tipos, desde a psicografia à comunicação [psicofonia], posto que conversei com
muitos Espíritos nestes trinta anos de militância no Espiritismo.
Fui curado diversas vezes por Espíritos.
Estive em coma e fui tratado através do médium curador Justino Bento da Silva,
em Frutal, Estado de Minas Gerais, que me assistiu em outra oportunidade, em
Campinas, por uma hora e vinte minutos, até que eu pudesse ser socorrido no
hospital, quando eu tive um infarto do miocárdio. Tive e tenho inúmeras provas
em minha família de curas espirituais.
Temos um grande médium em
São Paulo, João Albino, que
tem constatadas curas que vão desde o câncer irremediável até problemas
psiquiátricos crônicos, problemas de estômago e do coração, enfim, de todas as
mazelas do corpo. Temos médiuns curadores em quase todos os Centros Espíritas e
é muito comum a cura pela prece e pela imposição das mãos.
A cura não
é privilégio dos espíritas. Todos têm o poder de curar. A mais elementar forma de cura é pelo sopro, cujo domínio no futuro há
de revolucionar o conhecimento da própria medicina, pela pureza dos que a
praticam. Não se esqueça que alimentamo-nos continuamente pela respiração, que
o bem respirar, o respirar conscientemente, é a primeira libertação na técnica
iogue de purificação, que alma vem do latim anima,
que quer dizer sopro. Ouso concordar com o médico André Luiz, que nossa
alimentação vem setenta por cento da respiração.
Aos vinte e cinco anos, por volta do ano
de 1956, assisti à minha única sessão de materialização. O médium era o hoje
famoso escritor e orador espírita Divaldo Pereira Franco, então pouco
conhecido, mas já um grande médium e orador.
Divaldo Pereira Franco, reunido com o
Prof. Gerson Sestini, professor de Biologia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, e alguns outros espíritas, na casa do saudoso amigo Lázaro de Camargo
Emck, em São José
do Rio Preto, éramos ao todo doze pessoas.
Nós nos endereçamos a uma sala da
residência, fomos convidados a fiscalizar a sala para evitar qualquer fraude,
fomos colocados em volta daquela sala, um sorteado foi encarregado de vigiar a
única porta de acesso, a janela foi trancada e também vigiada, tudo foi
rigorosamente examinado por todos e cada um.
Luz acesa, o médium Divaldo Franco entrou, em mangas de camisa, e
sentou-se no meio da sala. Nenhum truque nas mangas, que eram curtas. Nós, aí à
meia-luz, todos nos vendo uns aos outros, vimos uma sessão de materialização.
Muitas das pessoas lá presentes estão ainda entre nós. O Dr.
Lázaro de Camargo Emck é o pai de um grande médico aqui na Capital, o Dr. Olavo
Emck; lá estiveram também figuras proeminentes da sociedade riopretense, cujos
nomes não tenho de memória, mas o meu amigo Gerson Sestini certamente lembrará,
se consultado.
Lembro-me que tão logo começamos a prece, uma luz de grande
intensidade emergiu das proximidades das mãos do Divaldo Franco, luminosidade
que tinha uma gama muito variada de cores, indescritível, e que se iam
alternando. Foi-se delineando então um rosto de mulher, que depois se
identificou como a Irmã Sheila, hoje muito conhecida pelas suas poesias e
pensamentos, publicados no meio espírita.
A Irmã Sheila, por intermédio da voz do médium, conversou em alemão
e em uma outra língua com os circunstantes e deixou nesta sala um perfume que
ali ficou por oito dias, conforme ela o havia dito, e deixou ainda uma flor
trazida lá do Amazonas, que se materializou no meio da sala à frente de todos.
Fui convidado a assistir outras
materializações, mas não pude comparecer por falta de tempo e também por saber
que já há provas em demasia da realidade do Espiritismo para o meu
entendimento.
A materialização é prova difícil, que exige demasiado fluido do
médium e dos circunstantes. O próprio Divaldo Pereira Franco, eu soube depois,
foi seriamente advertido pelo seu Guia Espiritual para que se dedicasse à sua
real missão, que é a prepagação e a obra social, que ele desenvolveu com
vocação evangélica.
Divaldo Franco, em Salvador, Bahia,
mantém centenas de jovens órfãos à custa do resultado de suas obras espíritas.
É muito conhecido o seu trabalho pioneiro e evangelizador. Talvez após estes
anos todos ele não se recorde deste fato, que para mim constitui um marco
dentro da convicção em mim já existente do Espiritismo.
Anteriormente, eu me recordo agora,
quando era pequeno, nós morávamos na cidade mineira de São Francisco de Sales.
Eu e minha irmã, Dalva Miranda Ramos, que ainda é viva, fomos acordados e, não
havendo energia elétrica, havia entretanto uma luminosidade na cozinha da casa.
Possivelmente, pensamos, a nossa mãe estava preparando o café, já que lá era
comum levantar-se antes do sol. Eu e minha irmã levantamo-nos e lá na cozinha
topamos com uma velha, no meio daquela luz, a mexer com as panelas. Ela nos
sorriu e sumiu. Crianças então, fizemos o mesmo, pois era noite alta e ficamos
amedrontados.
Livro: O Espiritismo em Debates
Antonio Miranda Ramos
Editora Soma
O mais necessário
Conta-se que, certa vez, o Imperador D. Pedro II recebeu uma
carta de seus admiradores, que dizia que eles haviam decidido abrir uma
lista a fim de angariar fundos suficientes para erigir uma estátua em sua
homenagem.
D. Pedro leu com vagar a missiva. Depois, redigiu a resposta
aos promotores do movimento, pedindo-lhes que aplicassem o produto da lista
na instalação de escolas para o povo.
Entre outros apontamentos, escreveu: Senhores. Sabem como sempre tenho
falado no sentido de cuidarmos seriamente da educação pública.
Nada me agradaria tanto como ver a nova era de paz, firmada
sobre o conceito da dignidade dos brasileiros, começar por um grande ato de
iniciativa deles a bem da educação pública.
Agradecemos a ideia que tiveram da estátua. Estou certo de que
não serei forçado a recusá-la.
* * *
Utilizar bem os recursos amoedados é demonstração de sabedoria.
Empreender campanhas em prol dessa ou daquela causa também.
Sempre que nos prestarmos a arrecadar fundos, a colaborar para
o bem geral, pensemos no que é mais apropriado.
Auscultemos as necessidades da localidade onde vivamos, e nos
perguntemos: O que é mais importante?
Se o local está com lixo nas ruas, compete-nos lutar pela
coleta de lixo, e educação aos moradores para que coloquem, em dias certos,
em locais apropriados, bem acondicionado todo o lixo, a fim de ser
recolhido.
Se a localidade onde residimos não dispõe de socorro médico
algum, cabe-nos incentivar a instalação de um ambulatório, um posto médico,
um pequeno hospital. Ao menos, para atender as situações mais emergenciais,
os casos mais críticos, porque perder minutos no atendimento médico pode
significar a morte.
Se observamos a criançada andando solta pelas ruas, rapidamente
encetemos uma campanha pela instalação de uma escola.
Se a escola existe, verifiquemos se não está deficitária. Não
estará necessitando de recursos materiais e humanos para poder atender a
maior número de crianças?
Disponhamo-nos a ser voluntários nas horas da semana que nos
sobrem e auxiliemos a escola.
Verifiquemos, em loco, o que de mais carece e lutemos por
conseguir.
Se nos preocuparmos com a criança, hoje, instruindo-a,
educando-a, amanhã, com certeza, teremos menos criminosos para punir.
* * *
Dinheiro não é fator absoluto de felicidade, mas pode
concretizar a felicidade de muitos.
Pode se transformar no remédio ao doente, na gota de leite à
criança faminta, no teto ao velhinho sem família ou em abandono.
Pouco dinheiro pode comprar um pão, muito dinheiro pode abrir
um negócio que empregue vários pais de família, a fim de que muitas
crianças tenham pão à mesa. E não somente pão, mas frutas, verduras e uns
docinhos extras.
Assim, toda a vez que o dinheiro circular por nossas mãos e nos
sintamos motivados a realizar campanhas, pensemos sempre no mais
necessário. Realizemos o melhor.
Redação do Momento Espírita, com base no
cap. Pedro
II e a instrução, do
livro Chico Xavier, D. Pedro II e o Brasil, de Walter José Faé, ed. Correio
Fraterno.
Em 21.1.2013.
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OS MENSAGEIROS
Autor Espiritual: André Luiz
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
Sinopse: Eurípedes Kühl
Realização: Instituto André Luiz
Recursos
Drásticos em Socorro a alcoólatras - (No Mundo Maior)
Cap 14 — Medida salvadora — Nova lição
transcendental:
a Espiritualidade amiga ministrando ajuda, através
providência provisória, mas drástica: provoca desarmonia no corpo de um
alcoólatra, a benefício do próprio (!) e também visando amparar à esposa e dois
filhinhos.
Põe a descoberto como nos ambientes menos dignos há “multidão de
entidades conturbadas e viciosas” (Espíritos desencarnados), em triste
sociedade, por afinidade.
Vê-se ali, em perfeita
simbiose mental:
- encarnados/alcoólatras → → desencarnados
(também alcoólatras)
- dançarinos (voltados para o
primitivismo do ser, embalados por música inferior e pela viciação dos
sentidos, com gestos ridículos, gritos histéricos, em “atitudes que muitos
símios talvez se pejassem”) → → correspondendo
inconscientemente a desencarnados que a isso os induziam, fazendo-lhes
companhia-sociedade invisível...
institutoandreluiz.org
14
Medida
salvadora
Havíamos
terminado ativa colaboração, num elevado ambiente consagrado à prece, quando
certo companheiro se abeirou de nós, reclamando o concurso do Assistente num
caso particular.
Calderaro
decerto conheceria os pormenores da situação, porque entre ambos logo se
estabeleceu curioso diálogo.
– Infelizmente – dizia o informante –, nosso
Antídio não sobreleva a situação; permanece em derrocada quase total. Vinculou-
se de novo a perigosos elementos da sombra e voltou aos desacertos noturnos,
com grave prejuízo para o nosso trabalho socorrista.
– Não lhe
valeram as melhoras da quinzena passada? – indagou fraternalmente o orientador.
–
Aproveitou-as para mais presto volver à irreflexão – esclareceu o interlocutor
com inflexão magoada.
– É de
notar, porém, que se achava quase de todo louco.
– Sim, mas conseguiu fruir, outra vez, estado
orgânico invejável, mercê de sua intervenção última; logo, porém, que se viu
fortalecido, tornou desbragadamente aos alcoólicos. A sede escaldante,
provocada pela própria displicência e pela instigação dos vampiros que,
vorazes, se lhe enxameiam à roda, e verteu-lhe o sistema nervoso. A organização
perispirítica, semiliberta do corpo denso pelos perniciosos processos da
embriaguez, povoa-lhe a mente de atros pesadelos, agravados pela atuação das
entidades perversas que o seguem passo a
passo.
– Estará
em casa a esta hora? – inquiriu Calderaro com interesse.
– Não –
disse o outro, abatido –, deixei-o, ainda agora, num centro menos digno, onde a
situação do nosso doente tornou a características lamentáveis.
O
instrutor estudou o caso em silêncio, durante alguns instantes, e considerou:
–
Poderemos providenciar; contudo, se da outra vez consistiu o socorro em restitui-lo
ao equilíbrio orgânico possível, no momento há que agir em contrário. Convém
ministrar-lhe provisória e mais acentuada desarmonia ao corpo. Neste, como em
outros processos difíceis, a enfermidade retifica sempre.
E,
contemplando o benfeitor do necessitado distante, interrogou:
– De
acordo?
–
Perfeitamente – redargüiu ele, sem hesitação –; o meu amigo é especialista em
assistência e eu lhe acato as determinações. O que nos interessa é a saúde
efetiva do infeliz irmão, que se entregou sem defesa aos reclamos do vício.
Rumamos para o local em que deveríamos acudir o
amigo extraviado.
Penetramos o recinto, servido de amplas janelas e
abundantemente iluminado.
O ambiente sufocava. Desagradáveis emanações se
faziam cada vez mais espessas, à maneira que avançávamos.
No salão principal do edifício, onde abundavam
extravagantes adornos, algumas dezenas de pares dançavam, tendo as mentes
absorvidas nas baixas vibrações que a atmosfera vigorosamente insuflava.
Indefinível e dilacerante impressão dominou-me o
ser. Não provinha da estranheza que a indiferença dos cavalheiros e a
leviandade das mulheres me provocavam; o que me enchia de assombro era o quadro
que eles não viam. A multidão de
entidades conturbadas e viciosas que aí se movia era enorme. Os dançarinos não
bailavam sós, mas, inconscientemente, correspondiam, no ritmo açodado da música
inferior, a ridículos gestos dos companheiros irresponsáveis que lhes eram
invisíveis. Atitudes simiescas surdiam aqui e ali e, de quando em quando,
gritos histéricos feriam o ar.
Calderaro
não se deteve. Mostrava-se habituado à cena; mas, não conseguindo sofrear a
estupefação que se assenhoreara de mim, solicitei-lhe uma intermitência,
perguntando:
– Meu amigo, que vemos? criaturas alegres cercadas de
seres tão inconscientes e perversos? Pois será crime dançar? Buscar alegria
constituirá falta grave?
O
orientador escutou pacientemente as indagações ingênuas que me escapavam dos
lábios, ditadas pelo espanto que me assomara repentinamente, e esclareceu:
– Que perguntas, André! O ato de dançar pode ser tão
santificado como o ato de orar, pois a alegria legítima é sublime herança de
Deus. Aqui, porém, o quadro é diverso. O bailado e o prazer nesta casa
significam declarado retorno aos estados primitivos do ser, com iniludíveis
agravantes de viciação dos sentidos. Observamos, neste recinto, homens e
mulheres dotados de alto raciocínio, mas assumindo atitudes de que muitos
símios talvez se pejassem.
Todavia, esteja longe de nós qualquer
recriminação: lastimemo-los simplesmente. São trânsfugas sociais e, na maioria,
rebeldes à disciplina instituída pelos Desígnios Superiores para os seus
trilhos terrestres. Muitos deles são profundamente infelizes, precisando de
nossa ajuda e compaixão.
Procuram
afogar no vinho ou nos prazeres certas noções de responsabilidade que não
logram esquecer. Fracos perante a luta, mas dignos de piedade pelos remorsos e
atribulações que os devoram, merecem ser amparados fraternalmente. E, passando
os olhos de relance pela multidão de Espíritos perturbadores que ali se davam
ao vampirismo e ao sarcasmo, obtemperou:
– Quanto a estes infortunados, que fazer senão
recomendá-los ao Divino Poder? Tentam igualmente a fuga impossível de si
mesmos. Alucinados, apenas adiam o terrível minuto de autoreconhecimento, que
chega sempre, quando menos esperam, através dos mil processos da dor, esgotados
os recursos do amor divino, que o Supremo Pai nos oferece a todos. A mente
deles também está apegada aos instintos primitivos e, frágeis e hesitantes,
receiam a responsabilidade do trabalho da regeneração.
Vendo-me
boquiaberto e faminto de novas elucidações, o Assistente propôs-me:
– Vamos! Deixemo-los divertir-se. A dança, nesta casa,
não lhes deixa de ser, em última análise, um benefício. Chegaram nossos amigos
encarnados e desencantados, aqui presentes, a nível tão desprezível que, sem
dúvida, não fora o sapateado, estariam rodando, lá fora, em atos extremamente
condenáveis, tal a predisposição em que se encontram para o crime. Que o Pai se
comisere de todos nós.
Demandamos
o interior, apressadamente.
Numa saleta abafada, um cavalheiro de quarenta e
cinco anos presumíveis jazia a tremer. Não conseguia manter-se de pé.
Calderaro examinou-o detidamente e indagou do novo
amigo que nos acompanhava:
– Voltou aos alcoólicos, há muitos dias?
– Precisamente, há uma semana.
– Vê-se que se esgotou rápido.
Enquanto encetava a aplicação de fluidos
magnéticos, o orientador aconselhou-me notar os característicos do quadro
dantesco sob nossos olhos.
Antídio, doente e desventurado, a despeito das
condições precárias, reclamava um copinho, sempre mais um copinho, que um rapaz
de serviço trazia, obediente. Tremiam-lhe os membros, denunciando-lhe o abatimento.
Álgido suor lhe escorria da fronte e, de vez em quando, desferia gritos de
terror selvagem. Em derredor, quatro entidades
embrutecidas submetiam-no aos seus desejos. Empolgavam-lhe a organização
fisiológica, alternadamente, uma a uma, revezando-se para experimentar a
absorção das emanações alcoólicas, no que sentiam singular prazer. Apossavam-se
particularmente da “estrada gástrica”, inalando a bebida a volatilizar-se da
cárdia ao piloro.
A cena
infundia angústia e assombro.
Estaríamos diante de um homem embriagado ou de uma
taça viva, cujo conteúdo sorviam gênios satânicos do vício?
O
infortunado Antídio trazia o estômago atestado de líquido e a cabeça turva de
vapores.
Semidesligado do organismo denso pela atuação
anestesiante do tóxico, passou a identificar-se mais intimamente com as
entidades que o per seguiam.
Os quatro infelizes desencarnados, a seu turno, tinham
a mente invadida por visões terrificantes do sepulcro que haviam atravessado
como dipsomaníacos. Sedentos, aflitos, traziam consigo imagens espectrais de
víboras e morcegos dos lugares sombrios onde haviam estacionado.
Entrando em sintonia magnética com o psiquismo
desequilibrado dos vampiros, o ébrio começou a rogar, stentoreamente:
– Salve-me! salve-me, por amor de Deus!
E indicando as paredes próximas, bradava sob a
impressão de indefinível pavor:
– Oh! os morcegos!... os morcegos! afugentem-nos,
detenham-nos...!
Piedade! quem me livrará! Socorro! Socorro!...
Dois senhores, também obnubilados pelo vinho,
aproximaram-se, espantados. Um deles, porém, tranqüilizou o outro, dizendo:
– Nada de
mais. É o Antídio, de novo. Os acessos voltaram.
Deixemo-lo
em paz.
Enquanto
isso, o desditoso ébrio continuava bradando:
– Ai! ai!
uma cobra... aperta-me, sufoca-me... Que será de mim? Socorro!
As entidades perturbadoras timbravam nas atitudes
sarcásticas; gargalhavam de maneira sinistra. Ouvia-as o infeliz, a lhe ecoarem
no fundo do ser, e gritava, tentando investir, embora cambaleante, os algozes
invisíveis:
– Quem
zomba de mim? quem?
Cerrando
os punhos, acrescentava:
–
Malditos! malditos sejam!
A cena
prosseguia, dolorosa, quando Calderaro se acercou de mim, esclarecendo:
– É deplorável pai de família que, incapaz de reagir
contra as atrações do vício, se entregou, inerme, à influência de malfeitores
desencarnados, afins com a sua posição desequilibrada. Em atenção às
intercessões da esposa e de dois filhinhos amoráveis que o seguem, assistimo-lo
com todos os recursos ao alcance de nossas possibilidades; entretanto, o
imprevidente irmão não corresponde ao nosso esforço. Emerge de todas as
tentativas, mais e mais disposto à perversão dos sentidos; busca, acima de
tudo, a fuga de si mesmo; detesta a responsabilidade e não se anima a conhecer
o valor do trabalho. Atenuando-lhe a ânsia irrefreável de sorver alcoólicos,
esperamos se reeduque. Para isso, porém, usaremos agora recurso drástico, já
que o desventurado se revela infenso a todos os nossos processos de auxílio.
Fixando
em mim expressivo olhar, concluiu:
– Antídio, por algum tempo, a partir de hoje, será
amparado pela enfermidade. Conhecerá a prisão no leito, durante alguns meses, a
fim de que se lhe não apodreça o corpo num hospício, o que se iniciaria dentro
de alguns dias, lançando nobre mulher e duas crianças em pungente incerteza do
porvir.
Dito
isto, Calderaro encetou complicado serviço de passes, ao longo da espinha
dorsal.
O enfermo
aquietou-se, pouco a pouco, na velha poltrona em que se mantinha.
O Assistente passou a aplicar-lhe eflúvios luminosos
sobre o coração, durante vários minutos. Notei que essas emissões se
concentravam gradativamente no órgão central, que em certo instante acusou
parada súbita.
Antídio parecia prestes a desencarnar, quando o
orientador lhe restituiu as energias, em movimentação rápida. Premido pelo
fenômeno circulatório, que lhe valeu tremendo choque, o desditoso amigo pôs-se
a pedir auxílio em altos brados. Havia tamanha inflexão de dor, na voz
lamentosa, que grande número de pessoas se aproximaram, penalizadas.
Um
piedoso cavalheiro tomou-lhe o pulso, verificou a desordem do coração e,
presto, requisitou um carro da assistência pública.
Em breves
momentos Antídio era transportado em maca de hospital, para receber socorro
urgente, seguido, de perto, pelo solícito benfeitor espiritual.
Retirando-se
em minha companhia, Calderaro acrescentou, tristonho:
– O infortunado amigo será portador de uma nevrose
cardíaca por dois a três meses, aproximadamente. Debalde usará a valeriana e
outras substâncias medicamentosas, em vão apelará para anestésicos e
desintoxicantes. No curso de algumas semanas conhecerá intraduzível mal-estar,
de modo a restabelecer a harmonia do cosmo psíquico. Experimentará indizível
angústia, submeter-se-á a medicações e regimes, que lhe diminuirão a tendência
de esquecer as obrigações sagradas da hora e lhe acordarão os sentimentos,
devagarzinho, para a nobreza do ato de viver.
Notando-me a
estranheza, o Assistente concluiu:
– Que fazer, meu amigo? As mesmas Forças Divinas
que concedem ao homem a brisa cariciosa, infligem-lhe a tempestade
devastadora... Uma e outra, porém, são elementos indispensáveis à glória da
vida.
OS MENSAGEIROS
Autor Espiritual: André Luiz
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
Sinopse: Eurípedes Kühl
Realização: Instituto André Luiz
AJUDA
AOS ENCARNADO
Cap 28 –
Vida social – O Posto recebe visita de amigos vindos do “Campo
da Paz”, em belo carro tirado por dois soberbos cavalos brancos. São expostos
ensinamentos referentes aos doentes do Espírito, rebeldes ao tratamento.
Os
atendentes sentem-se obrigados a semear pensamentos novos e aguardar que a obra
do tempo os faça germinar nesses doentes. É citado o “desculpismo” (pretextos
de encarnados — médiuns — compromissados com a tarefa de auxílio ao próximo
para fugirem à tarefa e ao dever sagrado).
– Compreendo, compreendo. Aliás,
o progresso humano não é uma questão de dias. Não tenhamos ilusões.
E, percebendo que Vicente e eu
poderíamos aproveitar com a palestra, Aniceto indicou o novo hóspede de
Alfredo, explicando solícito:
– Nosso amigo Bacelar é chefe de
turmas de assistência aos nossos irmãos do círculo carnal. Tem longa
experiência dos homens e conhece-os como ninguém. Há muito que aproveitar nas
suas observações.
– Não tanto, meus caros –
exclamou o senhor Bacelar, de bom humor – não tanto. Sou simples companheiro de
vocês, cumprindo deveres por acréscimo da misericórdia divina. Não posso fazer
muito, em razão de minhas deficiências naturais.
– Estamos certos do grande
proveito da sua palavra – objetou Vicente, até então calado.
– Tudo o que nos disser sobre o
problema de assistência constituirá, para nós, ensinamento precioso – disse por
minha vez. O novo amigo fitou-nos com inteligência, e perguntou:
– Foram médicos no mundo?
– Sim – respondemos a um só
tempo.
O senhor Bacelar pensou alguns
momentos e acentuou:
– Sempre gostei de conversar com
os amigos, recorrendo aos símbolos sugeridos pela profissão que exercem. Mas,
no tocante às minhas atividades, não teria muito o que dizer a médicos
militantes.
– Pelo contrário – aduzi –, seus
esclarecimentos enriquecerão nossas experiências.
O interlocutor sorriu, otimista,
e declarou:
– Não creia. Recorde os seus doentes comuns. Muito raramente lembram a
medicina preventiva. De modo quase invariável, esperam a positivação das
moléstias para buscarem o recurso preciso. Necessitam de anestésicos para o
socorro do bisturi.
Fogem ao regime tão logo surja a primeira melhora. Confundem o método
de tratamento, apenas se registre o primeiro sinal de cura.
Detestam a dor que restabelece o equilíbrio. Descontentam-se com a
indicação de purgativos. Preferem a medicação de sabor agradável. E, sobretudo,
quase sempre querem saber muito mais que os médicos. Esta síntese aplicável a
corpos doentes representa, em nosso campo de serviço, o resumo do programa de
assistência aos Espíritos enfermos, encarnados na Terra, e com agravantes de
vulto, porque, em nosso setor, não podemos manipular a alma, à maneira do
cirurgião que opera as amídalas. Somos forçados à preparação do campo mental
conveniente, a proceder à semeadura de pensamentos novos, velar pela
germinação, ajudar os rebentos minúsculos e aguardar a obra do tempo. Nossa
luta não é simples, porque, se o clínico do mundo encontra sempre familiares
amorosos, dispostos a cooperar com ele em benefício do doente, o que
encontramos, por nossa vez, são enormes legiões de elementos adversos à nossa
atividade restauradora e curativa.
Em
geral, o médico do mundo presta socorro a quem deseja recebê-lo, pelo menos nas
ocasiões de graves perigos; nós, porém, meus amigos, muitas vezes temos de
prestar assistência aos que não a desejam, por viverem sob véus de profunda
ignorância.
– Tem razão – murmurei, ouvindo
comparações tão lógicas –; entretanto, vale por conforto a certeza de que há
muitos cooperadores encarnados no mundo prontos a colaborar na tarefa.
O senhor Bacelar teve uma
expressão fisionômica muito significativa, e revelou:
–
Nem sempre. A cooperação é outro problema. A maioria dos irmãos que se propõem
ao serviço, partem daqui prometendo mas gostam de viver descansados, no
planeta. Poucos fogem ao estalão comum. Raramente encontramos companheiros
encarnados com bastante disposição para amar o trabalho pelo trabalho, sem
idéia de recompensa. A maioria está procurando remuneração imediata. Nessas
condições, não percebem que a mente lhes fica como aposento escuro, atulhado de
elementos inúteis. À força de viciarem raciocínios, confundem igualmente a
visão. Enxergam tormentas onde há paisagens celestes, montanhas de pedra onde o
caminho é gloriosa elevação. De pequenos enganos a pequenos enganos, formam o
continente das grandes fantasias. Daí por diante, a recapitulação das
experiências terrenas inclina-os, mais fortemente, para a exigência animal e,
chegados a esse ponto, raros voltam ao dever sagrado, para considerar a
grandeza das divinas bênçãos.
Nosso interlocutor fez uma pausa
e tornou:
– E o “desculpismo”? Nesse terreno de assistência espiritual, verão, um
dia, quantos pretextos são inventados pelas criaturas terrestres por fugir ao
testemunho da verdade divina, nas tarefas que lhes são próprias. Os mordomos da
responsabilidade alegam excesso de deveres, os servidores da obediência afirmam
ausência de ensejo. Os que guardam possibilidades financeiras montam guarda ao
patrimônio amoedado, os que receberam a bênção da pobreza de recursos
monetários aconselham-se com a revolta. Os moços declaram-se muito jovens para
cultivar as realidades sublimes, os mais idosos afirmam-se inúteis para servi-las.
Os casados reclamam quanto à família, os solteiros queixam-se da ausência dela.
Dizem os doentes que não podem, comentam os sãos que não precisam. Raros
companheiros encarnados conseguem viver sem a contradição.
OS MENSAGEIROS
Autor Espiritual: André Luiz
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
Sinopse: Eurípedes Kühl
Realização: Instituto André Luiz
DIFICULDADE EM CHEGAR NA TERRA
A caminho da Crosta
Cap 33 – A caminho da Crosta – A.Luiz, Vicente e Aniceto dirigem-se à Crosta. Caminham por via escura
e nevoenta, diferente da que liga “Nosso Lar” à Crosta. Aos poucos começam a
vislumbrar luz solar. A partir dali, praticam a volitação, com emprego de
transformação da força centrípeta
Após nos refazermos pela manhã,
considerando a viagem ainda longa, despedimo-nos, comovidos. Pelo menos, quanto
a mim, podia afirmar que me afastava com mágoa, tão belas as lições ali
colhidas!
Alfredo e a esposa nos abraçaram,
sensibilizados, desejando-nos jornada feliz e êxito no trabalho.
Vários amigos da véspera estavam
presentes, saudando-nos jubilosos. Tomamos o carro, agradavelmente
surpreendidos.
Ser-me-ia muito difícil descrever
a pequena máquina, que mais se assemelhava a pequeno automóvel de asas, a
deslocar-se impulsionado por fluidos elétricos acumulados.
Sempre atencioso, Aniceto
explicou:
– Aceitei a cooperação do
aparelho, não porque os deseja escravizados ao menor esforço, mas porque a
permanência, embora ligeira, no Posto de Socorro, constituiu ensejo dos mais
frutuosos à aquisição de conhecimentos necessários. Receberam vocês lições
intensivas, relativamente aos nossos irmãos perturbados e sofredores, bem como
sobre os efeitos da prece. Desse modo, temos nosso expediente bastante
adiantado, considerando que se encontram ambos em tarefa de observação e
aprendizado, acima de tudo.
E, depois de pequena pausa,
continuou:
– Não creiam, todavia, que possamos aproveitar a máquina até a Crosta.
Calculo que só poderemos voar até ao meio-dia. Em seguida, prosseguiremos a pé.
Aniceto calou-se por instantes,
sorriu noutra expressão fisionômica, e acentuou:
– Isto, porém, acontecerá somente enquanto não hajam vocês criado asas
espirituais, que possam vencer todas as resistências vibratórias. Semelhante
realização pode não estar distante. Dependerá do esforço que desejarem
despender no trabalho aquisitivo.
Todo aquele que opere, e coopere de espírito voltado para Deus, poderá
aguardar sempre o melhor. Não é promessa de amizade.
É lei.
O pequeno aparelho nos conduziu por enormes distâncias, sempre no ar,
mas conservando-se a reduzida altura do solo.
Quase precisamente ao meio-dia,
estacionamos em humilde pouso, destinado a abastecimento e reparação de
maquinaria de natureza daquela em que havíamos viajado.
Despediu-se de nós o condutor,
que nos desejou boa viagem, preparando-se para regressar.
A paisagem tornou-se, então,
muito fria e diferente. Não estávamos em caminho trevoso, mas muito escuro e
nevoento.
Tornara-se densa a atmosfera,
alterando-nos a respiração.
Aniceto contemplou, conosco, a
vastidão caliginosa e falou em tom grave:
– Com quatro horas de locomoção, estaremos na Crosta. Reparem as
sombras que nos rodeiam, identifiquem a mudança geral. Infelizmente, as
emissões vibratórias da Humanidade encarnada são de natureza bastante inferior,
em nos referindo à maioria das criaturas terrestres, e estas regiões estão
repletas de resíduos escuros, de matéria mental dos encarnados e desencarnados
de baixa condição. Atravessaremos grandes zonas, não propriamente tenebrosas,
mas muito obscuras ao nosso olhar. Daqui a duas horas, porém, encontraremos
sinais da luz solar.
Nossa peregrinação, francamente, foi muito pesada e dolorosa, e,
somente aí, avaliei, de fato, a enorme diferença da estrada comum, que liga a
Crosta a “Nosso Lar” e aquela que agora percorríamos a pé, vencendo obstáculos
de vulto. Imaginei, comovido, o sacrifício dos grandes missionários espirituais
que assistem o homem, compreendendo, então, quão meritório lhes é o serviço e
como necessitam disposições especiais e extraordinário bom ânimo, para
auxiliarem as criaturas encarnadas, de maneira constante.
Os monstros, que fugiam à nossa
aproximação, escondendo-se no fundo sombrio da paisagem, eram indescritíveis e,
obedecendo a determinações de Aniceto, não posso ensaiar qualquer informe nesse
sentido, a fim de não criar imagens mentais de ordem inferior no espírito dos
que, acaso, venham a ler estas humildes notícias.
No horário previsto por nosso
orientador, começamos a vislumbrar, de novo, a luz do Sol, como se estivéssemos
em madrugada clara. O espetáculo era magnífico e novo para mim. Calor brando
começou a revigorar-nos.
Aniceto fixou o quadro
maravilhoso dos raios de luz atravessando as sombras, e falou, de olhos úmidos:
– Agradeçamos ao Senhor dos
Mundos a bênção do Sol! Na Natureza
física, é a mais alta imagem de Deus que conhecemos.
Temo-lo, nas mais variadas combinações, segundo a substância das
esferas que habitamos, dentro do sistema. Ele está em “Nosso Lar”, de acordo
com os elementos básicos de vida, e permanece na Terra segundo as qualidades
magnéticas da Crosta. É visto em Júpiter de maneira diferente, ilumina Vênus
com outra modalidade de luz. Aparece em Saturno noutra roupagem brilhante.
Entretanto, é sempre o mesmo, sempre a radiosa sede de nossas energias vitais!
Avançamos, comovidos, e, dai a algum tempo, surgiu-nos o astro sublime,
na posição que antecede o crepúsculo.
Doutras vezes, viajando sempre
através da estrada luminosa e fácil de ser percorrida, em vista das
possibilidades de volitação, não fizera maior reparo. Agora, porém, que
atravessara névoas compactas, anotava diferenças profundas.
A certa distância, surgia a Terra, não na forma esférica, porque nos
achávamos não longe da Crosta, mas como paisagem além, a interpenetrar-se nas
extensas regiões espirituais.
O Sol resplandecia, rumo ao
Poente, como enorme lâmpada de ouro.
Aniceto, que parecia alegrar-se
sobremaneira, exclamou:
– Entramos na zona de influenciação direta da Crosta. Poderemos,
doravante, praticar a volitação, utilizando nossos conhecimentos de
transformação da força centrípeta. A luz que nos banha resulta do contacto
magnético entre a energia positiva do Sol e a força negativa da massa
planetária. Prossigamos. Não tardaremos a entrar no Rio de Janeiro.
A essa altura, assaltou-me o
desejo de perguntar alguma coisa relativamente à direção.
– Como nos orientaremos? – indaguei, curioso.
– Antes de tudo – respondeu o instrutor – é preciso não esquecer que
nossas colônias estão situadas no campo magnético da América do Sul. Qualquer
bússola seria sensível, de agora em diante, mas, em nosso caso, é indispensável
educar o pensamento e orientar-nos dentro da energia que lhe é peculiar.
Empregamos, de novo, a capacidade volitante e, dentro em pouco, as
matas de Petrópolis estavam à vista. Mais alguns minutos e perlustrávamos as
grandes artérias cariocas. Por sugestão do instrutor, abeiramo-nos do mar, em
exercício respiratório de maior expressão.
Vicente e eu estávamos
positivamente exaustos. Reconhecíamos que o esforço fora significativo para
nossas escassas forças.
Indiferentes à nossa presença, os
transeuntes passavam apressados, de mente chumbada aos problemas de ordem
material.
Fonfonavam ônibus repletos. A
grande baía figurava-se-nos cheia de forças renovadoras.
Quando se acendiam as primeiras
luzes elétricas, Aniceto convidou-nos,
amavelmente:
– Vamos ao reconforto! Vocês estão fatigadíssimos.
Irei mostrar-lhes que “Nosso Lar” tem, igualmente, alguns refúgios na Crosta.
Fonte:Carlos Eduardo Cenerelli