Aprendendo
sempre – Na reunião mediúnica
estavam trinta e cinco encarnados e mais de duzentos desencarnados(!). É
alertado o alto preço que terão que pagar os que usam o intercâmbio espiritual
levianamente.
Aprendendo sempre
Segundo informações de Aniceto, faltava mais de uma hora
para o início da preleção evangélica, sob a responsabilidade do senhor Bentes,
na esfera dos freqüentadores encarnados, mas o movimento de serviço espiritual
tornara-se intensíssimo.
Reuniam-se ali,
para olhos humanos, trinta e cinco individualidades terrestres e, no entanto,
em nosso círculo, o número de necessitados excedia de duas centenas, porqüanto,
agora, a assembléia estava acrescida de muitas entidades que formavam o séquito
perturbador da maioria dos aprendizes ali congregados. Para elas, organizou-se
uma divisão especial, que me pareceu constituída por elementos de maior
vigilância, visto chegarem, quase obrigatóriamente, acompanhando os que
buscavam o socorro espiritual, sem a indicação dos orienta-dores em serviço nas
vias públicas.
A movimentação era enorme e o tempo era escasso para
qualquer observação, sem movimento ativo. Todos os servidores da casa se
mantinham a postos, desenvolvendo a melhor atenção.
Reparei que num
ângulo da grande mesa havia numerosas indicações de receituário e assistência.
Os mais variados nomes ali se enfileiravam. Muitas pessoas pediam conselhos
médicos, orientação, assistência e passes. Quatro facultativos espirituais se
moviam diligentes, e, secundando-lhes o esforço humanitário, quarenta
cooperadores diretos iam e vinham, recolhendo informações e enriquecendo pormenores.
Aproximamo-nos do
grande número de papéis nominados, e, enquanto curiosamente buscava examiná-los,
Aniceto explicou:
— Temos aqui a indicação das pessoas que se
afirmam necessitadas de amparo e socorro imediato.
— Mas recebem elas tudo quanto pedem?
—indagou Vicente, curioso.
Nosso mentor
sorriu e respondeu:
— Recebem o que precisam. Muitos solicitam a
cura do corpo, mas somos forçados a estudar até que ponto lhes podemos ser
úteis, no particularismo dos seus desejos; outros reclamam orientações várias,
obrigando-nos a equilibrar nossa cooperação, de modo a lhes não tolher a
liberdade individual. A existência terrestre é um curso ativo de preparação
espiritual e, quase sempre, não faltam na escola os alunos ociosos, que perdem
o tempo ao invés de aproveitá-lo, ansiosos pelas realizações mentirosas do
menor esforço. Desse modo, no capítulo das orientações, a maior parte dos
pedidos são desassisados. A solicitação de terapêutica para a manutenção da
saúde física, pelos que de fato se interessem pelo concurso espiritual, é
sempre justa; todavia, no que concerne a conselhos para a vida normal, é
imprescindível muita cautela de nossa parte, diante das requisições daqueles
que se negam voluntàriamente aos testemunhos de conduta cristã.
O Evangelho está
cheio de sagrados roteiros espirituais e o discípulo, pelo menos diante da própria
consciência, deve considerar-se obrigado a conhecê-los.
O instrutor
amigo fêz pequena pausa, mudou a inflexão de voz, como para acentuar fortemente
as palavras, e considerou:
— Possivelmente,
vocês objetarão que toda pergunta exige resposta e todo pedido merece solução;
entretanto, nesse caso de esclarecer determinadas solicitações dos
companheiros encarnados, devemos recorrer, muitas vezes, ao silêncio. Como
recomendar humildade àqueles que a pregam para os outros; como ensinar a
paciência aos que a aconselham aos semelhantes, e como indicar o bálsamo do
trabalho aos que já sabem condenar a ociosidade alheia? Não seria contra-senso?
Ler os regulamentos da vida para os cegos e para os ignorantes é obra
meritória, mas, repeti-los aos que já se encontram plenamente informados, não
será menosprezo ao valor do tempo? Alma alguma, nas diversas confissões
religiosas do Cristianismo, recebe noticias de Jesus, sem razão de ser. Ora,
se toda condição de trabalho edificante traduz compromisso da criatura, todo
conhecimento do Cristo traduz responsabilidade. Cada aprendiz do Mestre,
portanto, está no dever de observar a consciência, conferindo-lhe os alvitres
profundos com as disposições evangélicas.
Vicente, que escutava com grande interesse, aventou:
— No entanto,
ousaria lembrar os que formulam semelhantes pedidos levianamente...
— Sim —
elucidou Aniceto, sorrindo —, mas nós não poderemos copiar-lhes o impulso. Os
desencarnados e os encarnados, que ainda abusam das possibilidades do
intercâmbio entre as esferas visíveis e invisíveis ao homem comum, pagarão
alto preço pela invigilância.
— Neste caso —
perguntei, respeitoso —, como corresponder aos pedidos de orientação?
— Alguns,
raros — esclareceu nosso orientador —, merecem o concurso da nossa elucidação
verbal, na hipótese de se referirem aos interesses eternos do espírito, quando
isso nos seja possível; entretanto, quase sempre é indispensável nada responder
de maneira direta, auxiliando os interessados na pauta de nossos recursos, em
silêncio, mesmo porque, não temos grande tempo para relembrar a irmãos
encarnados certas obrigações que lhes não deviam escapar da memória, para
felicidade de si mesmos.
Calou-se por momentos o bondoso instrutor, considerando
em seguida, interessado em nos subtrair quaisquer dúvidas:
— Muitas
entidades desencarnadas estimam o fornecimento de palpites para as diversas
situações e dificuldades terrestres, mas esses pobres amigos estacionam desastradamente
em questões subalternas, incapazes de uma visão mais alta, em face dos
horizontes infinitos da vida eterna, convertendo-se em meros escravos de
mentalidades inferiores, encarnadas na Terra. Esquecem que o nosso interesse
imediato, agora, deve ser, acima de todos, aquele que se refira à
espiritualidade superior. Nossos irmãos inquietos, que forneçam palpites a
preguiçosas mentes encarnadas, sobre assuntos referentes à responsabilidade
justa e necessária do homem, devem fazê-lo de própria conta.
— Que acontece,
então? — perguntou Vicente, curioso.
Nosso mentor, contudo, respondeu com outra pergunta:
— Que acontece
ao homem de responsabilidade que se põe a brincar?
Nesse instante, um dos clínicos espirituais,
aproximando-se, foi gentilmente saudado por Aniceto, que lhe disse, depois de
apresentar-nos:
— Disponha da
nossa colaboração humilde. Aqui estamos na qualidade de médicos itinerantes,
prontos ao concurso ativo.
— Vêm de “Nosso
Lar”? — indagou o novo companheiro, respeitosamente.
— Sim — respondeu
Aniceto, prestativo.
— Pois bem —
considerou ele —‘ se possível, estimarei receber-lhes o auxílio, após a
reunião, para dois casos urgentes. Trata-se de uma jovem desencarnada hoje e de
um agonizante, meu amigo.
— Sem dúvida —
acentuou nosso orientador, solícito —, aguardaremos suas indicações.
43 - Antes da reunião
Cap
43 – Antes da reunião – É mostrada a movimentação espiritual
que antecede a uma reunião mediúnica, estabelecendo faixas magnéticas nas dependências
físicas. Há um alerta quanto à hipocondria (afecção mental, obsessiva: mania de
doenças).
Os preparativos espirituais para a
reunião eram ativos e complexos.
Chegamos de regresso a residência de Dona Isabel, quando
faltavam poucos minutos para as dezoito horas e já o salão estava repleto de
trabalhadores em movimento.
Observando, com estranheza, determinadas operações, fiz
algumas perguntas ao nosso orientador, que me esclareceu com bondade:
— Realizar uma sessão de trabalhos espirituais eficientes
não é coisa tão simples. Quando encontramos companheiros encarnados, entregues
ao serviço com devotamento e bom ânimo, isentos de preocupação, de experiências
malsãs e inquietações injustificáveis, mobilizamos grandes recursos a favor do
êxito necessário. Claro que não podemos auxiliar atividades infantis, nesse
terreno. Quem não deseje cuidar de semelhantes obrigações, com a seriedade
devida, poderá esperar fatalmente pelos espíritos menos sérios, porqüanto a
morte física não significa renovação para quem não procurou renovar-se. Onde se
reúnam almas levianas, ai estará igualmente a leviandade. No caso de Isabel,
porém, há que lhe auxiliar o esforço edificante. Em todos os setores
evolutivos, é natural que o trabalhador sincero e eficiente receba recursos
sempre mais vastos. Onde se encontre a atividade do bem, permanecerá a
colaboração espiritual de ordem superior.
Calara-se o bondoso amigo.
Continuei reparando as laboriosas atividades de
alguns irmãos que dividiam a sala, de modo singular, utilizando longas faixas
fluídicas. Aniceto veio em socorro da minha perplexidade, explicando,
atencioso:
— Estes amigos estão promovendo a obra de
preservação e vigilância. Serão trazidas aos trabalhos de hoje algumas dezenas
de sofredores e torna-se imprescindível limitar-lhes a zona de influenciação
neste templo familiar. Para isso, nossos companheiros preparam as necessárias
divisões magnéticas.
Observei, admirado, que eles magnetizavam o próprio ar.
Nosso instrutor, porém, informou, gentil:
— Não se impressione, André. Em nossos serviços, o
magnetismo é força preponderante. Somos compelidos a movimentá-lo em grande
escala.
E, sorrindo, concluiu:
— Já os sacerdotes do antigo Egito não ignoravam
que, para atingir determinados efeitos, é indispensável impregnar a atmosfera
de elementos espirituais, saturando-a de valores positivos da nossa vontade.
Para disseminar as luzes evangélicas aos desencarnados, são precisas
providências variadas e complexas, sem o que, tudo redundaria em aumento de
perturbações. Este núcleo é pequenino, considerado do ponto de vista material,
mas apresenta grande significação para nós outros. É preciso vigiar, não o
esqueçamos.
Enquanto as atividades de
preparação espiritual seguiam intensas, Dona Isabel e Joaninha, noutra ordem
de serviço, chegaram ao salão, dispondo arranjos diferentes. Usaram,
largamente, a vassoura e o espanador. Revestiram a mesa de toalha muito alva e
trouxeram pequenos recipientes de água pura.
A uma ordem de um dos superiores daquele templo
doméstico, espalharam-se os vigilantes, em derredor da moradia singela. Nos
menores detalhes. estava a nobre supervisão dos benfeitores. Em tudo a ordem, o
serviço e a simplicidade.
Logo após alguns minutos além das dezoito horas,
começaram a chegar os necessitados da esfera invisível ao homem comum.
Se fosse concedida à criatura vulgar uma vista de
olhos, ainda que ligeira, sobre uma assembléia de espíritos
desencarnados, em perturbação e sofrimento, muito se lhes modificariam as
atitudes na vida normal. Nessa afirmativa, devemos íncluir, igualmente, a
maioria dos próprios espiritistas, que freqüentam as reuniões doutrinárias,
alheios ao esforço auto-educativo, guardando da espiritualidade uma vaga
idéia, na preocupação de atender ao egoísmo habitual, O quadro de retificações
individuais, após a morte do corpo, é tão extenso e variado que não
encontramos palavras para definir a imensa surpresa.
Aqueles rostos esqueléticos causavam compaixão. Chegavam
ao recinto aquelas entidades perturbadas, em pequenos magotes, seguidas de
orientadores fraternais. Pareciam cadáveres erguidos do leito de morte. Alguns
se locomoviam com grande dificuldade. Tínhamos diante dos olhos uma autêntica
reunião de “coxos e estropiados”, segundo o símbolo evangélico.
- Em maioria —
esclareceu Âniceto — são irmãos abatidos e amargurados, que desejam a renovação
sem saber como iniciar a tarefa. Aqui, poderemos observar apenas sofredores
dessa natureza, porque o santuário familiar de Isidoro e Isabel não está
preparado para receber entidades deliberadamente perversas. Cada agrupamento
tem seus fins.
Com efeito, os recém-chegados estampavam profunda
angústia na expressão fisionômica. As senhoras em pranto eram numerosas. O
quadro consternava. Algumas entidades mantinham as mãos no ventre, calcando
regiões feridas. Não eram poucas as que traziam ataduras e faixas.
— Muitos — disse-nos o mentor — não concordam
ainda com as realidades da morte corporal. E toda essa gente, de modo geral,
está prisioneira da ideia de enfermidade. Existem pessoas, e vocês, como
médicos, as terão conhecido largamente, que cultivam as moléstias com
verdadeira volúpia. Apaixonam-se pelos diagnósticos exatos, acompanham no
corpo, com indefinível ardor, a manifestação dos indícios mórbidos, estudam a
teoria da doença de que são portadoras, como jamais analisam um dever justo no
quadro das obrigações diárias, e quando não dispõem das informações nos livros,
estimam a longa atenção dos médicos, os minuciosos cuidados da enfermagem e as
compridas dissertações sobre a enfermidade de que se constituem voluntárias
prisioneiras. Sobrevindo a desencarnação, é muito difícil o acordo entre elas
e a verdade, porqüanto prosseguem mantendo a ideia dominante. Ás vezes, no
fundo, são boas almas, dedicadas aos parentes do sangue e aproveitáveis na
esfera restrita de entendimento a que se recolhem, mas, no entanto, carregadas
de viciação mental por muitos séculos consecutivos.
E num gesto diferente, nosso instrutor considerou:
— Demoramo-nos todos a escapar da velha concha do
individualismo. A visão da universalidade custa preço alto e nem sempre estamos
dispostos a pagá-lo. Não queremos renunciar ao gosto antigo, fugimos aos
sacrifícios louváveis. Nessas circunstâncias, o mundo que prevalece para a alma
desencarnada, por longo tempo, é o reino pessoal de nossas criações inferiores.
Ora, desse modo, quem cultivou a enfermidade com adoração, submeteu-se-lhe ao
império. E’ lógico que devemos, quando encarnados, prestar toda a assistência
ao corpo físico, que funciona, para nós, como vaso sagrado, mas remediar a
saúde e viciar a mente são duas atitudes essencialmente antagônicas entre si.
A palestra era magnificamente educativa; entretanto, o
número crescente de entidades necessitadas chamava-nos à cooperação. Muitas
choravam baixinho, outras gemiam em voz mais alta. Depois de longa pausa, Aniceto advertiu:
— Vamos ao serviço. Para nós, cooperadores espirituais,
os trabalhos já começaram. A prece e o esforço dos companheiros encarnados
representarão o termo desta reunião de assistência e iluminação em Jesus Cristo.
47
No trabalho ativo
– No trabalho
ativo – Mostra como médiuns novatos em conhecimentos
evangélicos causam desarmonia na reunião mediúnica. A concentração em trabalhos
de natureza espiritual é definida e porque alguns pedidos nem sempre devem ser
atendidos... para o bem do próprio necessitado
A interpretação de Bentes, obedecendo à inspiração de um
emissário de nobre posição, presente à assembléia, era recebida com respeito
geral, no circulo das entidades desencarnadas.
Na esfera dos encarnados, porém, não se notava o mesmo
traço de harmonia. Observava-se apreciável instabilidade de pensamento. A
expectativa ansiosa dos presentes perturbava a corrente vibratória. De quando
em quando, surpreendiamos determinados desequilíbrios, que afetavam, particularmente,
a organização mediúnica de Dona Isabel e a posição receptiva do comentarista,
que parecia perder “o fio das idéias”, tal qual se diria na linguagem comum.
Colaboradores ativos restabeleciam o ritmo, quanto possível. Reparamos que
alguns irmãos encarnados se mantinham irrequietos, em demasia. Mormente os
mais novos em conhecimentos doutrinários exibiam enorme irresponsabilidade. A
mente lhes vagava muito longe dos comentários edificantes. Viam-se-lhes,
distintamente, as imagens mentais. Alguns se prendiam aos quefazeres
domésticos, outros se impacientavam por não lograrem a realização imediata dos
propósitos que os haviam levado até ali.
Aniceto, que não perdia ocasião de prestar-nos
esclarecimentos novos, considerou, discreto:
— Muitos estudiosos do Espiritismo se preocupam com o
problema da concentração, em trabalhos de natureza espiritual. Não são poucos
os que estabelecem padrão ao aspecto exterior da pessoa concentrada, os que
exigem determinada atitude corporal e os que esperam resultados rápidos nas
atividades dessa ordem. Entretanto, quem diz concentrar, forçosamente se refere
ao ato de congregar alguma coisa. Ora, se os amigos encarnados não tomam a
sério as responsabilidades que lhes dizem respeito, fora dos recintos de
prática espiritista, se, porventura, são cultores da leviandade, da
indiferença, do erro deliberado e incessante, da teimosia, da inobservância
interna dos conselhos de perfeição cedidos a outrem, que poderão concentrar
nos momentos fugazes de serviço espiritual? Boa concentração exige vida reta.
Para que os nossos pensamentos se congreguem uns aos outros, fornecendo o
potencial de nobre união para o bem, é indispensável o trabalho preparatório de
atividades mentais na meditação de ordem superior. A atitude íntima de
relaxamento, ante as lições evangélicas recebidas, não pode conferir ao crente,
ou ao cooperador, a concentração de forças espirituais no serviço de elevação,
tão só porque estes se entreguem, apenas por alguns minutos na semana, a
pensamentos compulsórios de amor cristão. Como vêem, o assunto é complexo e
demanda longas considerações e ensinamentos.
Reparei com mais atenção os circunstantes encarnados.
Não fosse o devotamento dos colaboradores do nosso plano, tornar-se-ia
impossível qualquer proveito concreto.
Isidoro e outros amigos devotados trabalhavam com ardor,
despertando alguns dorminhocos e reajustando o pensamento dos invigilantes,
para neutralizar determinadas influências nocivas.
Eu reconhecia que os benefícios imediatos da doutrinação
de Bentos eram muito mais visíveis entre os desencarnados. No grupo destes, não
havia um só que não recebesse consolações diretas e sublime conforto.
Finda a interpretação, pouco antes de se entregar Dona
Isabel ao trabalho do receituário, observei que uma senhora desencarnada se
aproximara de Isidoro, pedindo, emocionada:
— Ser-lhe-á
possível, meu irmão, entender-se por mim com os nossos orientadores quanto à
possibilidade de me comunicar diretamente com a minha filha, presente à
reunião? Estou certa de que, com a permissão devida, nossa Isabel me atenderá a
angústia materna.
O interpelado
mostrou sincero desejo de ser útil, mas, depois de trocar algumas palavras com
o instrutor mais graduado da reunião, que se colocara entre a médium e o
doutrinador, veio trazer
a resposta, algo constrangido, com grande surpresa para mim:
— Minha irmã —
disse ele —, o nosso nobre Anselmo não julga viável o seu pedido. Asseverou que
sua filhinha ainda não está em condições de receber essa bênção. Ela tem
necessidade de testemunhar, agora, o que aprendeu do seu exemplo, no mundo, e
precisa permanecer no campo da oportunidade, sem repousar indevidamente nos
seus braços.
E como a senhora. denotasse tristeza, Isidoro continuou
em tom fraternal:
— Não somente por isso, minha amiga, nosso instrutor se
vê forçado a desatender. A medida traria inconveniente grave para o seu
Sentimento maternal. No estado evolutivo em que se encontra, e considerando o
velho hábito adquirido, a filhinha se agarraria excessivamente ao seu auxílio.
Prender-se-ia à mãezinha afetuosa e sensível, e talvez a irmã se visse
perturbada em sua nova carreira espiritual. Ela precisa estar mais livre para
testemunhar, enquanto o seu coração deve permanecer em liberdade, por nobre
merecimento conquistado ao preço do seu suor e lágrimas, quando na Terra.
Considerando, embora, o caráter sagrado do amor em sua feição maternal, nossos
orienta-dores não podem conceder à sua filha o direito de perturbá-la.
Compreende? Não se atormente com esta impossibilidade transitória. Lembre-se de
que todos somos filhos de Deus. O Senhor terá recursos para atender à jovem,
em seu lugar. Quanto ao mais, alegremo-nos em nossos serviços. Recorde que o
auxílio não se verificará pelo processo direto, mas podemos recorrer ao método
indireto. Quem sabe? Amanhã, possivelmente, poderá encontrar-se com sua filha,
em sonho.
A interpelada sorriu, confortada, e obtemperou:
— É verdade.
Devo compreender a nova situação.
Nesse instante, acercou-se de Isidoro uma entidade
amiga, que solicitou:
— Meu caro,
estimaria suas providências junto dos receitistas, para que forneçam novas
indicações ao Amaro. Meu sobrinho necessita de amparo à saúde física.
O esposo
espiritual de Isabel tomou uma expressão significativa e respondeu:
— Não posso,
meu amigo, não posso. Se Amaro pedir e os receitistas cederem, tudo estará
muito bem; mas você não ignora que o nosso doente émuito rebelde. Já lhe
providenciei a obtenção de conselhos médicos do nosso plano, por cinco vezes,
sem que ele correspondesse aos nossos esforços. Não se resolve a adquirir os
remédios indicados, e quando os obtém, por obséquio de amigos, despreza os
horários e julga-se superior ao método. Critica mordazmente as indicações
obtidas e serve-se delas com desprezo. Naturalmente não estou agastado com
isso, como adulto que se não aborrece com as brincadeiras de uma criança; mas
você compreende que estamos lidando com um material muito sagrado e não há
tempo para conviver com os que estimam a brincadeira. Além disso, não será caridade
o ato de dar aos que não querem receber.
Isidoro falava com uma inflexão de bondade fraternal, que
afastava todos os característicos da franqueza contundente. Compreendi que,
para atender a tanta gente e movimentar-se entre tantos propósitos
heterogêneos, não seria possível tratar os assuntos de outro modo.
O serviço
prosseguia com enorme demonstração educativa para Vicente e para mim. O
esforço dos clínicos espirituais, aliado à abnegação da intermediária,
comovia-me o coração. Era necessário, de fato, grande renúncia para atender ao
trabalho compacto e numeroso, no setor de assistência aos encarnados, porque
poucos freqüentadores do grupo pareciam manter atitude correspondente à sublime
dedicação fraternal em nome do Mestre.
Aniceto, porém, adivinhando meus pensamentos, falou com
bondade:— Um dia, André, você
compreenderá, com Jesus, que melhor é servir que ser servido; mais belo é dar
que receber
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