UM
ALERTA AOS HOMENS PÚBLICOS
Evocação
do Espírito de um andarilho
“Aqui me encontro a convite dos
instrutores da casa. Obrigado por chamarem à vossa sessão, este que ainda
labuta para dar os primeiros passos na senda do progresso.
- Quem sois vós, irmão?
Resposta: Sou um andarilho, que passou toda a vida distante do convívio
familiar ou do contato c
- Poderíeis nos falar um pouco
de vossa experiência?
Resposta: Sim. É para mim, motivo de satisfação, pois tenho consciência que o
vagar pela Terra me ajudou a ver muitas coisas importantes.
- Dissestes que não tivestes
contato com pessoas civilizadas, mas não as viu durante vossa vida?
Resposta: Sim. Não tive um contato muito feliz, quis dizer. Delas, recebi
reproches e olhares de desdém.
- Isso vos fez sofrer?
Resposta: Não tanto quanto tal ato provoca em muitos que vivem e viveram sem
rumo como eu. Sentia no fundo do coração, que a experiência que vivia me seria
útil de alguma maneira.
- Mas os andarilhos em geral são
revoltados.
Resposta: Nem todos. Aqueles que expiam seu passado, o fazem com inconsciente
conhecimento de causa, o que nos momentos de desprendimento os conforta.
- Dizeis que vossa vida de
andarilho foi em encarnação expiatória?
Resposta: Sim, consegui quitar parte das dívidas que assumi numa encarnação,
onde fora personagem rico e influente.
- Todos os andarilhos expiam
faltas do passado?
Resposta: De modo geral, todos os Espíritos encarnados na Terra expiam o
passado. Mas alguns pagam débitos mais acentuados. Nem todos os andarilhos,
porém, possuem tal peso a aliviar. Alguns vivenciam provas, outros, foram
colocados à margem da vida pelos próprios parentes ou pela sociedade que
poderiam cuidar devidamente deles. Afinal, eles não são em número tão grande.
- O QUE DETERMINOU QUE TIVÉSSEIS
UMA VIDA DE TANTAS PRIVAÇÕES?
RESPOSTA: MEU DESCASO PARA COM A COMUNIDADE. FUI UM HOMEM DE GRANDE INFLUÊNCIA
NO PASSADO. MAS MINHA VIDA FOI A DE UM EGOÍSTA.
Pensava mais em mim e nos meus
interesses, do que naqueles que depositaram em minha pessoa seu voto de
confiança, para que eu pudesse ajudá-los. Passei muitos anos nas regiões de
sofrimento e trevas, até que após uma eternidade, consegui libertar-me. Depois,
com a ajuda de Benfeitores espirituais, cuidei de encontrar solução para tantos
descasos.
- COMO FOI ESSA PROGRAMAÇÃO
REENCARNATÓRIA?
RESPOSTA: HAVIA SOFRIDO TANTO NO MUNDO INVISÍVEL AOS HUMANOS, QUE FIQUEI
DESEJOSO DE PÔR FIM AOS DESCALABROS PROVOCADOS EM VIDA. E O QUIS FAZER DA
MANEIRA MAIS RÁPIDA POSSÍVEL. DISSERAM-ME, QUE A VOLTA COMO ANDARILHO PODERIA
FAZER-ME QUITAR GRANDE PARTE DAS DÍVIDAS COM O PAI CELESTIAL. E FOI ASSIM QUE
NASCI EM FAMÍLIA POBRE E DESDE PEQUENO VIVI NO ABANDONO, COMO SE UMA MÃO
INVISÍVEL ME GUIASSE AO DESTINO LIBERTADOR.
- Falas com desenvoltura. Não
sois muito lúcido, para quem viveu como um andarilho?
Resposta: A lucidez me vem da bagagem adquirida anteriormente. Hoje, estando
livre, posso fazer uso desse conhecimento.
- Mas ele não se manifestou na
matéria, durante sua encarnação como um andarilho?
Resposta: Nasci num organismo material, que contribuiu sobremaneira para que
minhas faculdades permanecessem latentes.
Sentia com freqüência, impulsos de
inteligência, mas a matéria agia como um anteparo às minhas manifestações.
- E como foi vosso regresso à
pátria do Espírito?
Resposta: Morri, depois de sofrer o ataque de uma pneumonia. Meu organismo
frágil não resistiu à ação funesta do micróbio.
- Sofrestes muito tempo nas
regiões umbralinas?
Resposta: Pela bondade de Deus, não. Despertei quase de imediato e fui recebido
por dois anjos guardiães. Após adormecerem-me, eles me conduziram a uma colônia
onde passei meus primeiros dias de adaptação.
- Vossas recordações voltaram de
imediato?
Resposta: Não. Tudo se fez gradualmente, até que consegui atingir a maturidade,
pelo despertar de tudo o que eu era interiormente, agora burilado pelos
sofrimentos pungentes a que fora submetido na minha última existência.
- Que tendes a dizer da vossa
experiência como andarilho?
Resposta: Sou feliz por esta dádiva. Mas pode-se escolher outros caminhos para
a evolução. Basta que se guie na vida pelo bom senso, pela razão e retidão de
juízo.
- Mas não tivestes razão e bom
senso quando endividastes?
Resposta: Sim, achava que tinha razão, que era dotado de bom senso. Mas de que
razão falais? A que bom senso vos refere? O dos homens? Ora, irmãos, não há
verdadeiro bom senso e razão sob o desconhecimento das leis de Deus. Pensai na
reencarnação, pois ela é uma lei da vida. Pensai na lei de causa e efeito, pois
através dela podereis guiar-vos nas boas obras, fazendo ao vosso próximo aquilo
que quereis para vós mesmos. Pensai na imortalidade, não só como possibilidade
teológica, mas como realidade de vida eterna, a única que verdadeiramente
importa. Fui homem de grande importância social, mas deixei de cumprir com
minhas obrigações frente ao povo necessitado. Perdi-me e os anos de sofrimento
e desespero nas faixas umbralinas, fizeram-me descobrir um tesouro chamado
Jesus. E eis que resolvi segui-Lo e, para isso, nada mais importava. Queria me
desfazer de tudo o que até então me era importante, para poder ter o direito de
estar com Ele no Paraíso. E foi como um andarilho, que me despi das riquezas
materiais, dos meus títulos mundanos. Hoje sou feliz, por estar liberto e poder
compreender Deus em suas graves conseqüências.
- GOSTARIA DE DIZER ALGO AOS HOMENS PÚBLICOS?
RESPOSTA:
QUE CUMPRISSEM SEU PAPEL DE AGENTES
TRANSFORMADORES DO MUNDO ONDE ESTÃO SITUADOS. QUE SUAS RESPONSABILIDADES
COLETIVAS SEJAM CUMPRIDAS EM ESPÍRITO E VERDADE. QUE TENHAM A PLENA CERTEZA DE
QUE SÃO SERVOS DO POVO, MAS QUE JAMAIS DEVEM SERVIREM-SE DELE.
Deus não joga dados com o Universo,
disse um sábio. Digo-vos que Ele a tudo vê e cobra, ceitil por ceitil. Acordai,
irmãos da vida política. De vós, muito será cobrado.........................”
- DR. JUVENAL, O ANTIGO
POLÍTICO.
- Luís Silva, o que andava pelo mundo em busca de paz.
Espírito: Juvenal / Luís Silva
Grupo Espírita Bezerra de Menezes
São José do Rio Preto - SP
O POSSIVEL FUTURO DE MUITOS POLÍTICOS
BRASILEIROS NA PRÓXIMA REENCARNAÇÃO
Muitos mendigos que vimos nas ruas são
espíritos que no passado foram grandes políticos, porém corruptos.
Desviaram dinheiro público, receberam
propinas, não fizeram o que deveriam ter feito.
Ao chegarem no plano espiritual a
decepção é muito grande das suas atitudes. E suas ações negativas deverão ter
reações na próxima vida que irá ter.
Pelos casos já vistos e estudados,
geralmente reencarnam como mendigos, pobres em estado de miséria; e na atual
circunstância pode ser ainda pior seu futuro espiritual.
Como Isac Newton nos revelou pela sua Terceira Lei,
toda ação terá uma reação.
É uma lei universal, aplicada no plano físico
e espiritual, como nos é revelada pelo Espirito da Verdade, enviado por Jesus
através do Espiritismo.
A reencarnação, percebe-se sua verdadeira ocorrência pela seguinte reflexão:
Se Deus é bom, é amor e justiça, por que
nascem pessoas na miséria, doentes, deformadas, e outras ricas, saudáveis,
bonitas? Resposta: Não é Deus que nos faz nascer em má situação, e sim nossas
atitudes das nossas vidas passadas.
J. Raul
Teixeira conta que certo dia ia a uma conferência numa cidade importante do
Brasil, e ao dirigir-se para almoçar num restaurante, com os seus anfitriões,
enquanto esperavam que o semáforo abrisse para atravessarem larga avenida, ele
via uma mulher andrajosa ali ao lado, no caixote do lixo a procurar comida e a
separar o lixo mais limpo do mais sujo. Tal cena causou-lhe tamanha impressão,
que perdeu a vontade de almoçar, embora a necessidade de o fazer.
Enquanto
tentava se recompor mentalmente, já no restaurante, pensando naquele ser que
nada tinha, e ele ali num restaurante com os seus amigos, apareceu-lhe, através
do fenômeno da vidência espiritual, um espírito amigo que o acompanha na sua
tarefa doutrinária, que o acalmou, referindo que mesmo que fosse dar comida
àquela senhora ela recusaria.
E o
Espírito, em breves pinceladas contou a história daquela mulher, que nesta vida
era a reencarnação de um famoso político brasileiro, ainda hoje muito conceituado,
e que por ter prejudicado tanto o povo, tinha reencarnado numa condição
miserável, devido ao mecanismo do complexo de culpa que fez, após a morte do
corpo de carne, no mundo espiritual (onde não conseguimos esconder nada, nem de
nós, nem dos outros), voltando numa condição miserável para aprender a
valorizar aquilo que ele tanto desprezara na vida anterior: as dificuldades
financeiras do próximo.
Curiosamente,
o nome desse famoso político estava afixado nesse local, dando nome à avenida,
e essa mulher, por um mecanismo de fixação inconsciente, não largava aquele
local onde outrora lhe prestaram grandes homenagens. Não era um castigo divino,
mas sim uma decorrência da Lei de Causa e Efeito, onde cada um colhe de acordo
com os seus atos, pensamentos e sentimentos.
"A
SEMEADURA É LIVRE MAS A COLHEITA OBRIGATÓRIA"
FRASE
DE CHICO XAVIER:
"Devemos
orar pelos políticos, pelos administradores da vida pública. A tentação do
poder é muito grande. Eu não gostaria de estar no lugar de nenhum deles. A
omissão de quem pode e não auxilia o povo é comparável a um crime que se
pratica contra a comunidade inteira. Tenho visto muitos espíritos dos que foram
homens públicos na Terra em lastimável situação na Vida Espiritual . . ."
D. Pedro II
(LONGINUS*)
Uma Grande
Missão
*LONGINUS FOI O
SOLDADO ROMANO QUE TRNASFIXOU JESUS QUANDO DA CRUCIFICAÇÃO
Em
sua vibrante narrativa (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho - FEB),
Humberto de Campos (espírito) explica, no dizer de Emmanuel, a missão da
terra brasileira no mundo moderno. Nas suas esclarecedoras
páginas lemos que...
“no último quartel do século XIV o Senhor desejou realizar uma
visita à Terra, a fim de observar os progressos de sua doutrina e de seus
exemplos no coração dos homens." A um de seus mensageiros que com ele
viera indaga: "onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do
qual se enxerga, no infinito, o símbolo da redenção humana?" "Mais
para o Sul, Senhor."
Contemplando o que mais tarde seria o Brasil, sentenciou o Divino Mestre:
“para esta terra
maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho e piedade e
amor; sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o
coração do mundo!"
Desde então, muitos foram os seus enviados a diversas partes do mundo para que
o seu Evangelho de piedade e amor fosse pregado e divulgado. Muitos
fracassaram, porém!
Os séculos se sucederam na contagem da eternidade. No século XIX, a 7 de
setembro de 1822, o Brasil separa-se de Portugal e passa a ser uma nação livre
e independente. Aos 25 de março de 1824, após vários incidentes políticos,
passa a contar com uma Constituição que lhe daria uma relativa organização
estatal. Mas o coração amoroso do Anjo Ismael estava inquieto; acerca-se do
Amorável Mestre e lhe confidência sua preocupação. Havia necessidade de um
centro polarizador, um centro de exemplos e de virtudes, para modelo geral de
todos. Chamando à sua augusta presença um nobre Espírito, lhe falou:
"Longinus,
entre as nações do orbe terrestre, organizei o Brasil como coração do mundo.
Consegui evitar que a pilhagem das nações ricas e poderosas fragmentassem o seu
vasto território, cuja configuração geográfica representa o órgão do sentimento
do planeta”... "Sente-se o teu coração com a necessária fortaleza para
cumprir uma grande missão na Pátria do Evangelho?" Longinus, servidor bom
e fiel, recebia, humildemente, naquele momento uma grande missão, sobre a qual
Jesus lhe esclareceu: "esta missão, se for bem cumprida por ti,
constituirá a tua última romagem pelo planeta escuro da dor e do esquecimento;
serás Imperador do Brasil
... Inaugura um
novo período de progresso para o povo das terras do Cruzeiro ... Ampara os
fracos e os desvalidos... Tuas lides terminarão ao fim deste século; não
esperes a gratidão dos teus contemporâneos; ao fim delas será alijado da tua
posição; as mãos aduladoras, que buscaram a proteção das tuas, voltarão aos
teus palácios para assinar o decreto da tua expulsão do solo abençoado...
Contudo, amparar-te-ei o coração nos angustiosos transes do teu último
resgate..."
Longinus preparou a sua volta à Terra. E, no dia 2 de dezembro de 1825 renascia
como Pedro de Alcântara, futuro D. Pedro II.
Grandes
entrevistas (Mediúnicas)
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Dom
Pedro II
Entrevista mediúnica conduzida por
Humberto de Campos em abril de 1938 e publicada no seu livro Novas
mensagens, 4ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1959 e
republicada no livro: FAÉ, Walter José. Chico Xavier, D. Pedro II e o
Brasil, São Paulo: Edições Correio Fraterno, 1982, de
onde foi extraída.
Apresentação:
Seria
possível uma entrevista com Pedra d’Alcântara-Morto em alguns recantos de
além-sepulcro? Humberto de Campos-Espírito, valendo-se da sensibilidade
mediúnica de Chico Xavier, ofereceu-nos estas páginas reconfortantes e
originais, para espanto dos céticos e dos materialistas, a mostrar-nos
o Homem-Alma magnânimo, sereno, humilde e bom.
“Enquanto os vivos se reuniam em
torno do monumento que o Brasil erigiu ao Patriarca da Independência, no Rio
de Janeiro (no ano de seu centenário), os grandes “mortos” da Pátria
igualmente se colocavam entre os encarnados, aliando-se ao povo carioca nas
suas comovedoras lembranças.
Também acorri ao local da festa
votiva dos Brasileiros acompanhado do meu amigo José Porfirio de Miranda,
milionário do Pará, que a borracha elevara às culminâncias da fortuna,
conduzindo-o, em seguida, aos declives da miséria, nos seus caprichosos
movimentos.
Os vivos e mortos do Brasil se
reuniam na mesma vibração afetiva das recordações suaves, enviando ao nobre
organizador da vida política da nacionalidade um pensamento de amizade e de
veneração. Antigo companheiro nosso, também no plano invisível, em plena via
pública acercou-se de mim, exclamando:
- Chegas um pouco tarde. Jose
Bonifácio já não está presente; mas poderás ainda conseguir uma proveitosa
entrevista para os teus leitores. Sabes quem saiu daqui neste momento?
- Quem? - pergunto eu, na minha
fome de notícias.
- O Imperador.
- D. Pedro II?
- Ele mesmo. Após lembrar a
grande figura do Patriarca, dirigiu-se com alguns amigos para Petrópolis, a
reavivar velhas lembranças.
Em meu íntimo, havia um alvoroço de
emoções. Lembrei-me de que em toda a minha existência de jornalista no mundo,
só enxergara um monarca diante de meus olhos: o rei Alberto I, dos Belgas,
quando, no Clube dos Diários, a elite dos intelectuais do país lhe oferecera
a homenagem de uma comovida admiração. E ponderei se haveria mérito em
consultar o pensamento de um rei, no outro mundo, onde todas as majestades
desaparecem. Recordei a figura do grande imperador que Victor Hugo
considerava o monarca republicano. Com os olhos da imaginação, vi-o, de novo,
na intimidade dos Paços de São Cristóvão: o perfil heráldico, onde um sorriso
de bondade espalhava o perfume da tolerância; as barbas compridas e brancas,
como as dos santos das oleografias católicas; o olhar cheio de generosidade e
de brandura, irradiando as mais doces promessas.
Um vivo, em havendo de ir a
Petrópolis, é obrigado ao trajeto penoso dos ônibus, embora as perspectivas
maravilhosas do mais belo trecho de todas as estradas do Brasil; os
desencarnados, porém, não necessitam de semelhantes sacrifícios. Num abrir e
fechar de olhos, eu e o meu amigo nos encontrávamos na encantadora cidade das
hortênsias, onde os milionários do Rio de Janeiro podem descansar nas mais
variadas épocas do ano.
Não fomos encontrar o Imperador nos
antigos edifícios em que estabelecera a residência patriarcal de sua família;
mas justamente num recanto de jardim, contemplando as deliciosas paisagens da
Serra da Estrela e apreciando o sabor das recordações amigas e doces.
Acerquei-me da sua individualidade, com um misto de curiosidade e de profundo
respeito, procurando improficuamente identificar os dois companheiros que o
rodeavam.
-
Majestade! - tentei chamar-lhe a atenção com a minha palavra humilde e
obscura.
Aproximem-se, meus amigos!
- respondeu-me com benevolência e carinho. - Aqui não existe nenhuma
expressão de majestade. - Cá estão, fraternalmente comigo, o Afonso (*) e o
Luís (**), como três irmãos, sentindo eu muito prazer na companhia de ambos.
Se o mundo nos irmana sobre a Terra, a morte nos confraterniza no espaço
infinito, sob as vistas magnânimas do Senhor.
E,
fazendo uma pausa, como quem reconhece que há tempo de falar e tempo de
ouvir, conforme nos aconselha a sabedoria da Bíblia, exclama o Imperador com
bondade:
A que devo o obséquio da sua interpelação?
-
Majestade! - respondi, confundido com a sua delicadeza - desejaria colher a
vossa opinião com respeito ao Brasil e aos brasileiros. Estamos no
limiar do cinqüentenário da República e seria interessante ouvir o vosso
conselho paternal para os vivos de boa vontade. Que pensais destes quarenta e
tantos anos de novo regime?
Minha palavra - retrucou
D. Pedro - não pode ter a importância que a sua generosidade lhe
atribui. Que poderia dizer do Brasil, senão que continuo a amá-lo com a mesma
dedicação de todos os dias? Do plano invisível, para o mundo, prosseguimos no
mesmo labor de construção da nacionalidade. As convenções políticas dos
homens não atingem os espíritos desencarnados. O exílio termina sempre na
sepultura, porque a única realidade é o amor, e o amor, eliminando todas as
fronteiras, nos ligou sempre ao torrão brasileiro. Não tenho o direito de
criticar a República, mesmo porque todos os fenômenos políticos e sociais do
nosso país tiveram os seus pródromos no mundo espiritual, considerando-se a
missão do Brasil dentro do Evangelho. Apenas quero dizer que não só os
republicanos, mas também nós, os da monarquia, estávamos redondamente
enganados. O erro da visão, quando na Terra, foi supor no Brasil o mesmo
espírito anglo-saxão que a Inglaterra legara aos norte-americanos. Eu também
fui apaixonado pelo liberalismo, mas a verdade é que em nossa terra,
prevalecem outros fatores mesológicos e, até agora, não temos sabido
conciliar os interesses da nação com esses imperativos. A ausência de
tradições nos elementos de nossa origem como povo estabeleceu uma
descentralização de interesse, prejudicial ao bem coletivo do país. Para a
formação nacional, não vieram da metrópole os espíritos mais cultos. Pesando,
de um lado, os africanos revoltados com o cativeiro, e de outro, os índios
revoltados com a invasão do estrangeiro na terra que era propriedade deles, a
balança da evolução geral ficou seriamente comprometida. Sentimentos
excessivos de liberdade não nos permitiram um refinamento de educação
política. Todos querem mandar e ninguém se sente na obrigação de obedecer.
Quando no Império, possuíamos a autoridade centralizadora da Coroa,
prevalecendo sobre as ambições dos grupos partidários que povoavam os nossos
oito milhões e meio de quilômetros quadrados; mas, quando os republicanos
sentiram de perto o peso das responsabilidades que tomaram à sua conta, os
espíritos mais educados reconheceram o desacerto das nossas concepções
administrativas. Enquanto as nações da Europa e os Estados Unidos podiam
empregar livremente em nosso país os seus capitais, a título de empréstimos
vultuosos que desbaratavam compulsoriamente a nossa economia, o Brasil podia
descansar na monocultura, fazer a política dos partidos e adiar a solução dos
seus problemas para o dia seguinte, dentro de um regime para o qual não se
achava preparado em 1889. Mas quando se manifestou a crise mundial de 1929,
todas as instituições políticas sofreram as mais amplas renovações, dentro
dos movimentos revolucionários de 1930. Os capitais estrangeiros não puderam
mais canalizar suas disponibilidades para a nossa terra, controlados pelos
governos autárquicos dos tempos que correm, e o Brasil acordou para a sua
própria realidade. Aliás, nós, os desencarnados, há muito tempo procuramos
auxiliar os vivos na sua tarefa.
- QUER DIZER QUE TAMBÉM TENDES
INSPIRADO OS LABORES DOS ESTADISTAS BRASILEIROS?
SIM, DE MODO INDIRETO, POIS NÃO PODEMOS INTERFERIR NA LIBERDADE DELES.
HÁ ALGUNS ANOS, PROCUREI AUXILIAR ALBERTO TORRES NAS SUAS ELUCUBRAÇÕES DE
ORDEM SOCIAL E POLÍTICA. EM GERAL, NÓS OS DESENCARNADOS, BUSCAMOS
INFLUENCIAR, DE PREFERÊNCIA, OS ORGANISMOS MAIS SENSÍVEIS À NOSSA AÇÃO E
TORRES ERA O INSTRUMENTO DE NOSSAS VERDADES PARA A ADMINISTRAÇÃO. A REALIDADE
PORÉM, É QUE ELE FALOU COMO JEREMIAS. SOMENTE A GRAVIDADE DA SITUAÇÃO
CONSEGUIU DESPERTAR O ESPÍRITO NACIONAL PARA NOVAS REALIZAÇÕES.
-
Majestade, as vossas palavras me dão a entender que aprovais o novo estado de
coisas do Brasil. Aplaudimos, então a queda da denominada república velha,
sob as vibrações revolucionárias de 1930?
Com as minhas palavras -
disse ele bondosamente - não desejo exaltar a vaidade de quem quer
que seja, nem deprimir o esforço de ninguém. Não posso aplaudir nenhum
movimento de destruição, pois entendo que sobre a revolução, deve pairar o
sentimento nobre da evolução geral de todos, dentro da maior concórdia
espiritual. Considere que examinando a minha consciência, não me lembro de
haver fortalecido nenhum sentimento de rebeldia nos meus tempos de governo;
entretanto, muito sofri, verificando que poderia ter suavizado a luta entre
os nossos estadistas e os políticos da América espanhola. Outra forma de ação
poderíamos ter empregado no caso de Rosas e de Oribe e mesmo em face do
próprio Solano López(***), cuja inconsciência nos negócios do povo ficou
evidentemente patenteada. E note-se que o problema se constituía de graves questões
internacionais. O nosso mal foi sempre o desconhecimento da realidade
brasileira. Os nossos períodos históricos têm sofrido largamente os reflexos
da vida e da cultura européias. Nos tempos do Império, procurei saturar-me
dos princípios democráticos da política francesa, tentando aplicá-los,
amplamente, ao nosso meio, longe das nossas realidades práticas. Os
republicanos, como Benjamim Constant, Deodoro, etc., deram-se a estudar a
"República Americana", de Bryce, distantes dos nossos problemas
essenciais. Quando regressei das lutas terrestres, procurei imediatamente
colaborar na consolidação do novo regime, a fim de que a divisão e os
desvarios de muitos dos seus adeptos não terminassem no puro e simples
desmembramento do País. Graças a Deus, conseguimos conduzir Prudente de
Morais ao poder constitucional, para acabarmos reconhecendo agora as nossas
realidades mais fortes. Devo, todavia, fazer-lhe sentir que não me reconheço
com o direito de opinar sobre os trabalhos dos homens públicos do País. Cabe-me
sim, rogar a Deus que os inspire, no cumprimento de seus austeros deveres,
diante da pátria e do mundo. O grande caminho da atualidade é a organização
da nossa Economia, em matéria de política, e o desenvolvimento da Educação,
no que concerne ao avanço sociológico dos tempos que passam. Os demais
elementos de nossas expressões evolutivas dependem de outros fatores de ordem
espiritual, longe de todas as expressões transitórias da política dos homens.
A
essa altura, notei que a minha curiosidade jornalística começava a magoar a
venerável entidade e mudei repentinamente de assunto.
-
Majestade, que dizeis da grande figura hoje lembrada?
O vulto de José Bonifácio foi sempre objeto de meu respeito e de minha
amizade. E olhe que foi ele o mais sensato organizador da nacionalidade
brasileira, cujo progresso acompanha, carinhosamente, com a sua lealdade
sincera. Hoje, que se comemora o centenário da sua desencarnação, devemos
relembrar o seu regresso de novo ao Brasil, em meados do século passado,
tendo sido uma das mais elevadas expressões de cultura, na Constituinte
de 1891.
Dispunha-se a obter novos
esclarecimentos; mas o Imperador, acompanhado de amigos, retirava-se quase
abruptamente da nossa companhia, correspondendo fraternalmente a outros
apelos sentimentais.
Palavras
amigas de adeus e votos de ventura no plano imortal, e eu e o meu amigo José
Porfirio lá ficávamos com a suave impressão da sua palavra sábia e
benevolente.
Daí
a momentos, o meu companheiro quebrava o silêncio de minha meditação:
-
Humberto, os monarquistas tinham razão!... Este velho é um poço de verdade e
de experiência da vida! Você deve registrar esta entrevista, oferecendo aos
vivos estas palavras quentes de conhecimento e de sabedoria!...
E
aqui estou escrevendo para os meus ex-companheiros pelo estômago e pelo
sofrimento. Acreditarão no humilde cronista desencarnado? Não guardo dúvidas
nesse sentido. Penso que obteria mais amplos resultados, se fosse ao
Cemitério do Caju e gritasse a palavra do Imperador para dentro de cada
túmulo."
________
Notas
(*)
Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto. Foi presidente do
último gabinete ministerial que teve a monarquia.
(**)
Luis Filipe Gastão de Orleãs, Conde d'Eu. Foi genro de D. Pedro II, por ter
casado com a princesa Isabel.
(***)
Alusão às lutas e à guerra em que se envolveu o Brasil com as Repúblicas do
Uruguai, da Argentina e do Paraguai.
|
A
palavra de Pôncio Pilatos
Pôncio Pilatos
Apresenta-se
à vidente um espírito muito luminoso envolto em luz branca e verde,
distinguindo-se
apenas o seu vulto no meio dessas luzes,
não podendo a vidente reconhecer o sexo a que pertence o espírito.
A
luz branca tem reflexos prateados e,
de mistura com o verde e o branco,
aparecem também raios lilases.
Afinal,
a vidente reconhece ser um homem que está em sua presença.
__________________
Antes de tudo quero agradecer a Jesus as graças que tem concedido ao meu pobre
espírito.
Quero render, aqui mesmo na Terra, graças a Deus pelo muito que me foi
concedido pelo nada que fiz.
Curvo-me, reverente e humilde, para agradecer à Infinita Misericórdia os
benefícios e favores dispensados a este humilde e insignificante servo do
Senhor, a quem nesta hora sublime recorro, pedindo forças e alento para poder
falar aos meus irmãos em nome de Jesus, que me disse:
“Vai tu também, Pôncio, e proclama a sublime verdade.”
“Vai, meu filho, e reparte com os teus irmãos o que recebeste de meu Pai: dá ao
mundo o exemplo da tua humildade; oferece à humanidade a prova material da tua
existência e da realidade da Infinita Misericórdia do meu Pai, em cujo nome
falarás, cujos desígnios proclamarás, cuja sabedoria patentearás aos olhos dos
homens que habitam aquele atrasado planeta.
“Vai, meu filho, e fala também em meu nome; anuncia a minha presença entre essa
gente ingrata, que tanto se tem esquecido dos ensinamentos do seu Mestre, das
provas de amor que lhes têm sido dispensadas pela sublime bondade do Pai.”
“Vai Pôncio, dize o que sabes, conta o que viste aqui, anuncia às criaturas o
futuro que as espera; fala-lhes em linguagem simples, mas sugestiva, emprega
frases repassadas de doçura, mas ao mesmo tempo, enérgicas e incisivas,
de modo a abalar-lhes a consciência, despertar-lhes na alma os sentimentos que
parece terem para sempre emigrado do coração do homem”.
“Vai Pôncio, e anuncia entre os homens que — são chegados os tempos prometidos
pela Escrituras”.
Venho, portanto, no cumprimento de uma ordem do Mestre; volto ao mundo na
qualidade de enviado do Nazareno, a quem um dia procurei defender da sanha
feroz dos homens, não o conseguindo, porém, porque era justamente este o
Seu destino; morrer para salvar o gênero humano.
Deus julga as nossas intenções, preocupando-se muito pouco ou quase nada com os
atos da criatura, que nem sempre traduzem os desejos e intuitos do espírito
encarnado. Deus julga o nosso foro íntimo, busca saber o que nos conduziu à
prática de determinados atos, o móvel das nossas ações, os atos exteriores
pouca significação têm para o Eterno Ser; a consciência é quem responde perante
o supremo tribunal de Deus.
Os crimes perpetrados na Terra são, muitas vezes, atenuados perante a Justiça
Eterna, que julga levando sempre em conta o grau de adiantamento do espírito, o
seu passado e presente, as causas remotas que concorreram para a criatura
cometer estas ou aquelas ações e executar atos muitas vezes involuntários,
porquanto, neste caso, o espírito é levado a tais crimes por circunstâncias
independentes da sua vontade, sendo, em várias ocasiões, mero instrumento de
outras vontades que constantemente atuam sobre a alma encarnada e a conduzem ao
erro, levam-na ao crime e à desgraça.
Muitos dos criminosos da Terra acham-se, no mundo dos espíritos em condições de
relativa calma e felicidade, porque Deus é justo e a balança divina é perfeita
e acusa a mais insignificante partícula de mais ou de menos, nas culpas dos
espíritos julgados pela Infinita Sabedoria.
Deus julga sem recorrer ao testemunho humano, como fazem os juízes da Terra.
Não estuda processos preparados por outros juízes; Ele é o principal e único
órgão dessa justiça infalível e sábia até o infinito; as suas decisões são
inapeláveis; as suas sentenças irrevogáveis, porque são absolutamente sábias e
justas, quer quando condena, quer quando absolvem o culpado.
A Justiça de Deus não tem alternativas, nem sofre contraste com outra justiça,
por ser a única existente em todo o Universo.
Deus julga as almas pela intenção, pelo que observa no fundo da sua
consciência, e não castiga nem perdoa — dá o que cada um merece “a cada um por
suas obras”.
Deus não condena os seus filhos a penas eternas, isto porque, se assim
procedesse, anularia o grandioso e principal objetivo da sua obra
colossal: — progredir até o infinito, caminhar sempre, nascendo e renascendo
para poder viver eternamente.
A condenação eterna, lançada por Deus, importaria na revogação da mais sublime
das Suas leis — o aperfeiçoamento dos espíritos à custa dos seus próprios
esforços.
O espírito que delinque está no caminho do aperfeiçoamento e é comparável ao
aprendiz que só executa maus trabalhos ou produz obras imperfeitas, sem que,
por isso, o mestre o expulse da oficina, o que seria iniquidade, pois, se assim
procedesse os mestres, chegaria o momento de lamentar a falta de artífices,
atrofiando-se, por esse modo, as artes e as indústrias, paralisando o seu desenvolvimento
e progresso necessários.
O Universo é a formidável oficina onde todos nós aprendemos a trabalhar,
produzir boas obras, executar com perícia os trabalhos, as tarefas que nos são
confiadas pelo nosso Mestre. Assim, Deus não condena, nem absolve, propriamente
falando; Ele dá o que o aprendiz merece, aquilo a que fez jus pelos seus
esforços e pela sua perseverança no trabalho. Aprecia as nossas obras, da mesma
maneira como procede o mestre na oficina; não despede o aprendiz que executou
mal o trabalho, mas o repreende ou elogia pela má ou boa tarefa executada,
ordenando ao que alcançou bom êxito na confecção da obra e a ele confiada, que
se encarregue de outros trabalhos de maior importância, e exigindo daquele que
executou mal a obra, que recomece e execute novo trabalho, confeccione nova
obra.
Aí tendes a imagem da reencarnação e porque Deus não condena, nem absolve, o
que importaria na anulação do plano divino: — caminhar sempre, aperfeiçoando-se
à custa dos seus próprios esforços, nascendo e renascendo até o infinito, até o
dia em que, não mais precisando nascer e morrer para tornar a nascer e morrer,
possa o espírito viver eternamente.
Deus perdoa, mas o seu perdão é condicional, e não como concebeis, o esquecimento
eterno da culpa, não!
Deus, ou melhor, a Justiça Divina, quer o aperfeiçoamento das almas e, se as
culpa ficassem desde logo esquecida, o espírito permaneceria inerte, daquele
momento em diante; nenhum compromisso assumido para com o seu Criador, ficaria
inativo, interrompendo, assim, o seu progresso.
A Justiça de Deus suspende o sofrimento logo que o espírito, ao reconhecer o
mal praticado, se propõe a repará-lo em existências sucessivas.
Isso não é perdoar, condenar ou absolver, é apenas apreciar as obras da
criatura, compará-las, medi-las e depois dar a cada um o que cada um merece.
A ideia do perdão absoluto e incondicional é, como vedes, errônea, visto que,
perdoar é esquecer, nada mais exigir daquele sobre quem recai o perdão,
dispensando-o de qualquer reparação do mal praticado.
Deus dá, dessa forma, o que cada um merece pelos seus esforços, pelos
sacrifícios feitos com intuito de caminhar para a perfeição absoluta, por isso
que é justo, sábio, misericordioso e infinitamente bom.
Ser bom, portanto, é ser justo, dar a cada um o que lhe pertenceu, e não
condenar eternamente ou perdoar a falta cometida por aquele que, não tendo
ainda adquirido o aperfeiçoamento necessário, voltará um dia, à prática de
novos crimes, cercando-se das maiores cautelas para escapar à ação da justiça
que o condenou ou perdoou anteriormente.
Deus não esquece; o Criador não consente que se apague o que estiver escrito no
infinito, com relação aos erros e crimes praticados pela criatura. A própria
alma, na ascensão que for fazendo pelo tempo além, irá apagando, ela mesma, o
que estiver escrito em letras de fogo — a história dos seus desregramentos, das
suas fraquezas e misérias.
Ao passar de um plano inferior para o imediatamente superior, o espírito salda
as suas contas até aquele dia, pois vai, desse momento em diante, começar uma
nova vida, percorrer nova etapa, e inova existência as boas obras, as virtudes
que possui, os dons e os predicados de que for portadora, ficando os erros, os
defeitos, as faltas e os crimes apagados, desfeitos, por ter o espírito, com as
suas próprias mãos, os destruídos para sempre!
Aí tendes a Justiça de Deus pintada em rápidas e singelas palavras; aí estão,
em ligeiros traços descritos, os intuitos e desejos da divina Providência,
mandando o espírito diversas, inúmeras vezes à superfície dos mundos de
expiação, aos planetas atrasados, como este onde habitei e habitais neste
momento.
Tudo quanto tendes aprendido sobre o modo de agir da suprema Justiça é falso,
nada vale o que vos tem ensinado os chamados diretores espirituais e os
intitulados livros sagrados; a justiça de Deus não tem preferências, no
tribunal divino não se distinguem os delinquentes por outros meios senão o
exume das intenções que os levaram a delinquir.
Ali nada se indaga, coisa alguma se procura saber acerca da posição que o
culpado exerceu na Terra, o cargo que ocupou no mundo, se foi artífice, douto,
magistrado, sacerdote ou mercador, escravo ou soldado rico ou mendigo.
O que se examina nesse tribunal sublime é o forum intimum do
espírito, a intenção, o móvel das suas ações boas ou más.
Ninguém, ao chegar a essas paragens, se lembra do que foi na Terra.
O espírito, ao transpor aquelas regiões, sente que se apagam todas as
reminiscências, se lhe enfraquece a memória das honras, posições e riquezas, do
poder de que dispôs entre os homens, da força que enfeixou nas suas mãos, do
que gozou e do que desfrutou.
Diante dos nossos olhos espirituais desenham-se nítidos, lá no grandioso
Tribunal, os nossos pecados, as faltas, os erros e crimes que praticamos e
também as boas ações, os atos dignos, as obras de caridade e de amor que
deixamos na Terra e, ah! meus queridos irmãos! ah! meus amados companheiros!
felizes os que podem, nessa hora solene, ver brilhar diante de si a luz suave
dos atos de caridade, de amor e de piedade para com o seu semelhante!
Ah ! meus irmãos! que delícia, que felicidade desfruta todo aquele que ouve ali
o eixo das preces, os votos dos que ficam na Terra orando pela alma que no
mundo cumpriu o seu dever cristão, dando com a direita sem que a esquerda o
percebesse, que amou o seu semelhante como a si mesmo, que só fez a outrem o
que desejou que outrem lhe fizesse, que não feriu, que perdoou e, por isso,
encontra no mundo dos espíritos o que merece pelas suas boas obras!
Ah! meus amigos, meus queridos irmãos! este que vos está falando também
compareceu à barra desse grandioso tribunal e viu escritos os seus erros, todos
os delitos que cometeu na Terra, os crimes e as fraquezas da sua carne; mas,
oh! meus queridos irmãos! como foi para ele consoladora a presença, naquela
hora, dos atos bons que praticara, avultando entre eles o da defesa de Jesus, a
intenção de defender o justo da sanha feroz dos seus algozes!
Ah ! meus caros companheiros! como vos hei de contar as minhas alegrias ao
ouvir ali ecoarem as minhas palavras, proferidas quando levaram Jesus à minha
presença, no tribunal de Judá !
Ah ! meus irmãos ! como foram doces para mim aqueles momentos, em que ouvi
também a voz de Jesus, dizendo: “Que se cumpra a vontade do meu Pai”.
Essa recordação compensou largamente os dissabores que então experimentei pelos
erros e delitos que pratiquei na Terra, onde tenho comparecido diversas vezes,
mas sempre amparado pela divina misericórdia, guiado pela luz dos ensinamentos
de Jesus, que hoje venho também proclamar, na qualidade de seu discípulo e
enviado para dizer-vos tudo quanto ficou escrito e, ainda, que reencarnei na
Terra, para propagar os santos princípios da doutrina daquele cujas palavras já
abalaram o meu espírito, no tempo em que estive entre vós e me chamei Pôncio
Pilatos.
Hoje sou defensor do puro Cristianismo, do Deus de infinita bondade e amor, sou
discípulo do seu Filho — o divino Jesus — que proclamo daqui o Mestre dos
mestres, o Rei dos reis, o supremo Diretor deste planeta!
Eis ai, meus amigos e irmãos queridos, cumprida a minha missão, o meu dever, e
satisfeito o compromisso, que assumi com a divina misericórdia, de vir à Terra
narrar o que acabastes de ouvir, para que tenhais melhor noção da justiça
eterna, que em nada se parece com a dos homens.
Agora, resta apenas dirigir-me a vós, meus irmãos e companheiros muito amados;
resta-me fazer-vos um pedido, dar-vos um conselho que, de certo, vos servirá de
muito: — Caminhai na vida com os olhos fitos em Jesus; marche sempre guiados
pelos ensinamentos do Mestre, os quais deveis cultivar e propagar, procurando o
caminho do bem, da justiça e do amor ao próximo.
Jamais vos afasteis da caridade cristã, da caridade pura, dando com a direita
sem que a esquerda o perceba, perdoando ao vosso semelhante, querendo e amando
aos vossos irmãos como a vós mesmos.
Defendei Jesus, livrai a sua doutrina dos botes e assaltos dos novos fariseus,
ensinai as suas máximas; divulgai as suas parábolas; interpretai o fundo dessas
sublimes palavras e tirai dali toda a luz de que careceis para a vossa viagem
nesse vale de lágrimas; procurai praticar pelo menos um bom ato na vossa vida
que, um dia, quando tiverdes de comparecer perante o tribunal de que tantas
vezes vos falei no correr desta comunicação, possais ser consolados, como foi o
vosso irmão que hoje vos visita em nome de Deus e de Jesus e que se retira
dizendo-vos:
“Amai-vos uns aos outros e a Deus sobre todas as coisas”.
Pôncio Pilatos (Março
de 1917)
in “Revelação
dos Papas” (UES - 1934)
SÓCRATES
Do livro Crônicas de Além Túmulo. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
Humberto de Campos
7 de janeiro de 1937
Foi no Instituto Celeste de Pitágoras (1) que vim
encontrar, nestes últimos tempos, a figura veneranda de Sócrates, o ilustre
filho de Sofronisco e Fenareta.
A reunião, nesse castelo luminoso dos planos
erráticos, era, nesse dia, dedicada a todos os estudiosos vindos da Terra
longínqua. A paisagem exterior, formada na base de substâncias imponderáveis
para as ciências terrestres da atualidade recordava a antiga Hélade, cheia de
aromas, sonoridades e melodias. Um solo de neblinas evanescentes evocava as
terras suaves e encantadoras, onde as tribos jônias e eólias localizaram a sua
habitação, organizando a pátria de Orfeu, cheia de deuses e de harmonias.
Árvores bizarras e floridas enfeitavam o ambiente de surpresas cariciosas,
lembrando os antigos bosques da Tessália, onde Pan se fazia ouvir com as
cantilenas de sua flauta, protegendo os rebanhos junto das frondes vetustas,
que eram as liras dos ventos brandos, cantando as melodias da Natureza.
O palácio consagrado a Pitágoras tinha aspecto de
severa beleza, com suas colunas gregas à maneira das maravilhosas edificações
da gloriosa Atenas do passado.
Lá dentro, agasalhava-se toda uma multidão de Espíritos ávidos da
palavra esclarecida do grande mestre, que os cidadãos atenienses haviam
condenado à morte, 399 anos antes de Jesus-Cristo.
Ali se reuniam vultos venerados pela filosofia e pela ciência de todas
as épocas humanas, Terpandro, Tucídides, Lísis, Ésquines, Filolau, Timeu,
Símias, Anaxágoras e muitas outras figuras respeitáveis da sabedoria dos
homens.
Admirei-me, porém, de não encontrar ali nem os
discípulos do sublime filósofo ateniense, nem os juízes que o condenaram à
morte. A ausência de Platão, a esse conclave do Infinito, impressionava-me o
pensamento, quando, na tribuna de claridades divinas, se materializou aos
nossos olhos o vulto venerando da filosofia de todos os séculos. Da sua figura
irradiava-se uma onda de luz levemente azulada, enchendo o recinto de vibração
desconhecida, de paz suave e branda. Grandes madeixas de cabelos alvos de neve
molduravam-lhe o semblante jovial e tranqüilo, onde os olhos brilhavam
infinitamente cheios de serenidade, alegria e doçura.
As palavras de Sócrates contornaram as teses mais
sublimes, porém, inacessíveis ao entendimento das criaturas atuais, tal a
transcendência dos seus profundos raciocínios. À maneira das suas lições nas
praças públicas de Atenas, falou-nos da mais avançada sabedoria espiritual,
através de inquirições que nos conduziam ao âmago dos assuntos; discorreu sobre
a liberdade dos seres nos planos divinos que constituem a sua atual morada e
sobre os grandes conhecimentos que esperam a Humanidade terrestre no seu futuro
espiritual.
É verdade que não posso transmitir aos meus
companheiros terrenos a expressão exata dos seus ensinamentos, estribados na
mais elevada das justiças, levando-se em conta a grandeza dos seus conceitos,
incompreensíveis para as ideologias das pátrias no mundo atual, mas, ansioso de
oferecer uma palavra do grande mestre do passado aos meus irmãos, não mais
pelas vísceras do corpo e sim pelos laços afetivos da alma, atrevi-me a
abordá-lo:
- Mestre - disse eu -, venho recentemente da Terra distante, para onde
encontro possibilidade de mandar o vosso pensamento. Desejaríeis enviar para o
mundo as vossas mensagens benevolentes e sábias?
- Seria inútil - respondeu-me bondosamente -, os homens da Terra ainda
não se reconheceram a si mesmos. Ainda são cidadãos da pátria, sem serem irmãos
entre si. Marcham uns contra os outros, ao som de músicas guerreiras e sob a
proteção de estandartes que os desunem, aniquilando-lhes os mais nobres
sentimentos de humanidade.
- Mas. . . - retorqui - lá no mundo há uma elite de
filósofos que se sentiriam orgulhosos de vos ouvir! ...
- Mesmo
entre eles as nossas verdades não seriam reconhecidas. Quase todos estão com o
pensamento cristalizado no ataúde das escolas. Para todos os espíritos, o
progresso reside na experiência. A História não vos fala do suicídio orgulhoso
de Empédocles de Agrigento, nas lavas do Etna, para proporcionar aos seus
contemporâneos a falsa impressão de sua ascensão para os céus? Quase todos os
estudiosos da Terra são assim; o mal de todos é o enfatuado convencimento de sabedoria.
Nossas lições valem somente como roteiro de coragem para cada um, nos grandes
momentos da experiência individual, quase sempre difícil e dolorosa.
Não crucificaram, por lá, o Filho de Deus, que lhes oferecia a própria
vida para que conhecessem e praticassem a Verdade? O pórtico da pitonisa de
Delfos está cheio de atualidade para o mundo. Nosso projeto de difundir a
felicidade na Terra só terá realização quando os Espíritos aí encarnados
deixarem de ser cidadãos para serem homens conscientes de si mesmos. Os Estados
e as Leis são invenções puramente humanas, justificáveis, em virtude da
heterogeneidade com respeito à posição evolutiva das criaturas; mas, enquanto
existirem, sobrará a certeza de que o homem não se descobriu a si mesmo, para
viver a existência espontânea e feliz, em comunhão com as disposições divinas
da natureza espiritual. A Humanidade está muito longe de compreender essa
fraternidade no campo sociológico.
Impressionado com essas respostas, continuei a
interrogá-lo:
- Apesar dos milênios decorridos, tendes a exprimir
alguma reflexão aos homens, quanto à reparação do erro que cometeram,
condenando-vos à morte?
- De modo algum. Méletos e outros acusadores
estavam no papel que lhes competia, e a ação que provocaram contra mim nos
tribunais atenienses só podia valorizar os princípios da filosofia do bem e da
liberdade que as vozes do Alto me inspiravam, para que eu fosse um dos
colaboradores na obra de quantos precederam, no Planeta, o pensamento e o
exemplo vivo de Jesus-Cristo. Se me condenaram à morte, os meus juízes estavam
igualmente condenados pela Natureza; e, até hoje, enquanto a criatura humana
não se descobrir a si mesma, os seus destinos e obras serão patrimônios da dor
e da morte. .
- Poderíeis dizer algo sobre a obra dos vossos
discípulos? .
- .Perfeitamente - respondeu-me o sábio ilustre -,
é de lamentar as observações mal-avisadas de Xenofonte, lamentando eu,
igualmente, que Platão, não obstante a sua coragem e o seu heroísmo, não haja
representado fielmente a minha palavra junto dos nossos contemporâneos e dos
nossos pósteros. A História admirou na sua Apologia os discursos sábios e bem
feitos, mas a minha palavra não entoaria ladainhas laudatórias aos políticos da
época e nem se desviaria- para as afirmações dogmáticas no terreno metafísico.
Vivi com a minha verdade para morrer com ela. Louvo, todavia, a Antístenes, que
falou com mais imparcialidade a meu respeito, de minha personalidade que sempre
se reconheceu insuficiente. Julgáveis então que me abalançasse, nos últimos instantes
da vida, a recomendações no sentido de que se pagasse um galo a Esculápio?
Semelhante expressão, a mim atribuída, constitui a mais incompreensível das
ironias.
- Mestre, e o mundo? - indaguei.
- O mundo atual é a semente do mundo paradisíaco do
futuro. Não tenhais pressa. Mergulhando-me no labirinto da História, parece-me
que as lutas de Atenas e Esparta, as glórias do Pártenon, os esplendores do
século de Péricles, são acontecimentos de há poucos dias; entretanto, soldados
espartanos e atenienses, censores, juízes, tribunais, monumentos políticos da
cidade que foi minha pátria, estão hoje reduzidos a um punhado de cinzas!. . .
A nossa única realidade é a vida do Espírito.
- Não vos tentaria alguma missão de amor na face do
orbe terrestre, dentro dos grandes objetivos da regeneração humana?
- Nossa tarefa, para que os homens se persuadam com
respeito à verdade, deve ser toda indireta. O homem terá de realizar-se
interiormente pelo trabalho perseverante, sem o que todo o esforço dos mestres
não Passará do terreno do puro verbalismo.
E, como se estivesse concentrado em si mesmo,
o,grande filósofo sentenciou:
- As criaturas humanas ainda não estão preparadas
para o amor e para a liberdade... Durante muitos anos, ainda, todos os
discípulos da Verdade terão de morrer muitas vezes!. . .
E enquanto o ilustre sábio ateniense se retirava do
recinto, junto de Anaxágoras, dei por terminada a preciosa e rara entrevista.
(1) Nome convencional para figurar os centros
de grandes reuniões espirituais no plano Invisível. - O Autor Espiritual
Do livro Crônicas de Além Túmulo. Psicografia de
Francisco Cândido Xavier.
Este trabalho é de autoria de Carlos Eduardo Cennerelli o qual somos inteiramente agradecidos. CEMA/TEMOXUM
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