O Além é simplesmente o que não alcançam os nossos sentidos, que, como se sabe, são muito pobres, não nos permitindo, por isso, perceber senão as formas mais grosseiras da vida universal.
As formas sutis lhes escapam absolutamente. Que é que a Humanidade, durante longo tempo, soube do Universo? Quase nada! O telescópio e o microscópio alargaram em sentidos opostos o campo de suas percepções. Àquele que, antes de inventado o microscópio, falasse dos infusórios, dessa vida exuberante que desabrocha em miríades de seres nos ares e nas águas, houveram certamente respondido com um encolher de ombros.
Eis que, porém, novas perspectivas se descerram e ignorados domínios da Natureza se revelam. Pode-se dizer que a infância do século XX assinala uma nova fase do pensamento e da ciência. Esta se afasta cada vez mais das linhas acanhadas em que esteve encerrada por tão largo tempo, a fim de levantar o vôo, de desenvolver seus meios de investigação e de apreciação e explorar os vastos horizontes do desconhecido. A psicologia, notadamente, enveredou por outros caminhos. O estudo do eu, da personalidade humana, passou do terreno da metafísica para o da observação e da experiência. Entre as ciências nascidas deste movimento figura o espiritualismo experimental.
[...] Não é isto bastante singular? Nunca talvez se vira um conjunto de fatos, considerados a princípio como impossíveis, que não despertavam, no pensamento da maioria dos homens, senão antipatia, desconfiança, desdém; que eram alvo da hostilidade de muitas instituições seculares, acabar por se impor à atenção e mesmo à convicção de eminentes cientistas, de sábios competentes, cheios de autoridade por suas funções e seus caracteres! Esses homens, anteriormente cépticos, chegaram, por via de estudos, de pesquisas, de experiências, a reconhecer e a afirmar a realidade da maior parte dos fenômenos espíritas.
Sir William Crookes, o mais notável físico dos tempos modernos, depois de ter observado, durante três anos, as materializações do Espírito de Katie King e de as haver fotografado, declarou:
“Não digo: isto é possível; digo: isto é real.”
Pretendeu-se que W. Crookes se retratara. Ora, à semelhante insinuação ele próprio respondeu no discurso que proferiu por ocasião da abertura do Congresso de Bristol, como presidente da Associação Britânica para o Adiantamento das Ciências. Falando dos fenômenos que descrevera, acrescentou:
“Nada vejo de que me deva retratar; mantenho minhas declarações já publicadas.
Poderia mesmo aditar-lhes muita coisa.”
Russel Wallace, da Academia Real de Londres, na obra intitulada: O Milagre e o Moderno Espiritualismo, descreve:
“Eu era um materialista tão completo e experimentado que não podia, nesse tempo, achar lugar no meu pensamento para a concepção de uma existência espiritual... Os fatos, entretanto, são obstinados: os fatos me convenceram."
O professor Hyslop, da Universidade de Colúmbia, Nova Iorque, em seu relatório sobre a mediunidade de Mrs. Piper, médium de transe, disse:
“A julgar pelo que eu próprio vi, não sei como poderia furtar-me à conclusão de que a existência de uma vida futura está absolutamente demonstrada.”
F. Myers, professor em Cambridge, na bela obra: A Personalidade Humana, chega à conclusão de que “vozes e mensagens nos vêm de além-túmulo”.
Falando de Mrs. Thompson, acrescenta:
“Creio que a maioria dessas mensagens parte de Espíritos que se servem temporariamente do organismo dos médiuns, para no-las transmitir.”
Richard Hodgson, presidente da Sociedade Americana de Pesquisas Psíquicas, escrevia nos Proceedings of Society Psychical Research:
“Acredito, sem a menor sombra de dúvida, que os Espíritos que se comunicam são de fato as personalidades que dizem ser; que sobreviveram à mutação conhecida pelo nome de morte e que se comunicaram diretamente conosco, pretensos vivas, por intermédio do organismo de Mrs. Piper adormecida.”
O mesmo Richard Hodgson, falecido em dezembro de 1906, se comunicou depois com seu amigo James Hyslop, entrando em minúcias acerca das experiências e dos trabalhos da Sociedade de Pesquisas Psíquicas. Explica como, para ficar absolutamente provada a sua identidade, deviam as experiências ser conduzidas.[i]
Essas comunicações são feitas por diferentes médiuns que não se conhecem reciprocamente e umas confirmam as outras. Notam-se as palavras e as frases familiares, em vida, aos que se comunicam depois de mortos.
Sir Oliver Lodge, reitor da Universidade de Birmingham e membro da Academia Real, escreveu em The Hilbert Journal o seguinte, que o Light de 8 de julho de 1911 reproduziu:
“Falando por conta própria e com pleno sentimento de minha responsabilidade, dou testemunho de que, como resultado das investigações que fiz no terreno do psiquismo, adquiri por fim, mas de modo inteiramente gradual, a convicção em que me mantenho após vinte anos de estudo, não só de que a continuação da existência pessoal é um fato, como também de que uma comunicação pode ocasionalmente, embora com dificuldade e em condições especiais, chegar-nos através do espaço.”
E na conclusão do seu recente livro A Sobrevivência Humana,[ii] acrescentou:
“Não vimos anunciar uma verdade extraordinária; nenhum novo meio de comunicação trazemos, mas apenas uma coleção de provas de identidade cuidadosamente colhidas, por métodos desenvolvidos, ainda que antigos, mais exatos e mais vizinhos da perfeição talvez do que os empregados até hoje. Digo ‘provas cuidadosamente colhidas’, pois que os estratagemas empregados para a sua obtenção foram postos em prática de um e de outro lado da barreira que separa o mundo visível do invisível; houve distintamente cooperação dos que vivem na matéria e dos que já se libertaram dela.”
O professor W. Barrett, da Universidade de Dublin, declara (Anais das Ciências Psíquicas, novembro e dezembro de 1911):
“Sem dúvida, por nossa parte acreditamos haver alguma inteligência ativa operando por detrás do automatismo (escrita mecânica, transe e incorporação) e fora deste, uma inteligência que mais provavelmente é a pessoa morta que a mesma inteligência afirma ser do que qualquer outra coisa que possamos imaginar... Dificilmente se encontrará solução para o problema dessas mensagens e das ‘correspondências’ de cooperação inteligente entre certos Espíritos desencarnados e os nossos.”
O célebre Lombroso, professor da Universidade de Turim, escrevia na Lettura:
“Sinto-me forçado a externar a convicção de que os fenômenos espíritas são de uma importância enorme e que é dever da Ciência dirigir sem mais demora sua atenção para essas manifestações.”
Mr. Boutroux, membro do Instituto e professor da Faculdade de Letras de Paris, se exprime assim no Matin de 14 de março de 1908:
“Um estudo amplo, completo do psiquismo não comporta unicamente um interesse de curiosidade, mesmo científica; interessa também muito diretamente à vida e ao destino do indivíduo e da Humanidade.”
O sábio Duclaux, diretor do Instituto Pasteur, em uma conferência que fez no Instituto Geral Psicológico, há alguns anos, dizia:
“Não sei se sois como eu, mas esse mundo povoado de influências que experimentamos sem as conhecermos, penetrado desse quid divinum que adivinhamos sem lhe apreendermos as minúcias, ah! esse mundo do psiquismo é mais interessante do que este outro em que até agora se encarcerou o nosso pensamento. Tratemos de abri-lo às nossas pesquisas. Há nele, por se fazerem, imensas descobertas que aproveitarão à Humanidade.”
[i] Ver os “Proceedings of Society Psychical Research.
[ii] A Sobrevivência Humana, por Sir Oliver Lodge, traduzida do inglês pelo Dr. Bourbon, Paris, 1912. Félix Alcan, editor.
Extraído do Livro O Além e a Sobrevivência do Ser, Léon Denis.
Carlos Eduardo Cennerelli
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