A Eterna Primavera Porvindoura
Cada  quadra do tempo caracteriza-se por expressões inconfundíveis da própria  Natureza
Sucede uma à outra, suavemente, e atinge o seu clímax, numa  plenitude de força e domínio de realização.
Nesta, caem as folhas, esmaece a  vida, desnuda-se a paisagem; nestoutra, o frio enregela, as cores alvejam e há  tristeza assinalando dores e sombras de noites demoradas. . .
Depois, os  rios voltam a correr, exulta o verde, a terra se enriquece de flores e os frutos  amadurecem, pendentes nos ramos oscilantes ao vento.
Os grãos se intumescem  no solo levemente aquecido e explodem em poemas de cor, em sons agitados, em  dádivas de vida abundante.
Revoam os pássaros, ampliam-se os dias, e as  noites, salpicadas de círios divinos, são espetáculos convidando à  reflexão.
O vale confraterniza com os altiplanos.
Parece não haver  distâncias nem separações.
Por fim, quando esta época estival logra a total  potência, arde o Sol e o solo se resseca, o pó se ergue em nuvem, a vida  novamente começa a fenecer. . .
O dia é um todo de fogo preparando-se, ao  largo das horas demoradas, para seguir adiante, até receber as primeiras lufadas  frias . . .
E repete-se a roda dos acontecimentos em movimentada orquestração  de ritmos . . .
Ventos festivos varriam os rincões gentis da Galiléia  humilde, cantando esperança para as almas em sofrimento.
Passado o grande  inverno, sem nenhuma promessa de calor ou qualquer perspectiva de claridade,  explodiam as dádivas primaveris numa inesperada sementeira de amor com imediata  colheita de bênçãos.
Narra Mateus* com eloqüência aquela ímpar quadra  primaveril de acontecimentos e bonanças.
A paisagem é a moldura do  lago-espelho, em cujas bordas reflete-se o amor do Mestre pelas dores humanas.
Naquelas paragens, nas cidades fronteiras e ribeirinhas, em cujo solo a  balsamina confraterniza com o miosótis e o trigo dourado espia da terra jovial  as redes espreguiçadas ao Sol, nas praias largas, Jesus viveu a ternura das  gentes simples, sorriu com as crianças e abriu a boca para entoar a canção da  esperança.
Por aqueles sítios de pobreza e festa natural, Suas mãos  arrancaram das aflitivas conjunturas das enfermidades retificadoras os  trânsfugas do passado, emulando-os para o crescimento moral pelas trilhas do  futuro.
Fez-se um suceder de fenômenos auspiciosos.
Ainda repercutia com  profunda emoção nos ouvidos das almas os artigos e parágrafos em luz e  esperança, que foram apresentados no monte, ao ser proclamado o Estatuto da Nova  Era da humanidade do futuro.
Os ouvintes não haviam retornado ao chão das  necessidades habituais, irrigados pela vibração do Sublime Governador, quando  Ele, descendo do cerro, foi solicitado por um leproso, que “O adorava, dizendo:  Senhor, se quiseres bem podes tornar-me limpo” e Ele quis, liberando o enfermo  da sua carga pútrida.
A ação fortalecia a palavra.
O amor era mais forte  do que a voz; esta, era suave e doce, enquanto aquele, poderoso e vital.
O  passado jugula o criminoso à algema disciplinadora, mas o amor libera o precito  para resgatar em ação benéfica o delito infeliz.
Não deseja o Senhor  holocaustos, entretanto, esparze misericórdia.
Há muita dureza no mundo e  terrível crueza nos corações.
Ele dulcifica.
Ninguém foge à culpa, nem  se evade do ressarcimento.
O Seu amor anima os ferreteados a que se  reencontrem e reparem os erros, ajudando suas vítimas e por elas fazendo-se  amar.
Há expectativas atordoantes nos comensais da Boa Nova em  delineamento.
O monte seria, simbolicamente, o mastro da bandeira da paz,  desfraldada nas insuperáveis bem-aventuranças.
Em Cafarnaum, prosseguindo  com os elos da cadeia do sofrimento, que Ele rompe, um centurião acerca-se e  intercede pelo seu criado paralítico.
Uma confiança infantil numa seriedade  adulta transparece naquele homem que comanda homens.
Jesus propõe-se a ir  curar o enfermo, porém o homem, que se acostumou à autoridade, pede-Lhe que  mande um dos Seus subordinados e a Sua vontade se faria.
Assim  fez-se.
Este ordena e esse obedece.
Este quer e esse aquiesce.
Jesus é  a Autoridade e os Espíritos atendem.
Não há maior autoridade do que aquela  que lhe é própria, a que foi adquirida e não a que é concedida por empréstimo e  pode ser retirada.
A fé é energia de vital importância, por irradiar  vibrações poderosas que atingem os fulcros das nascentes que produzem os  acontecimentos, aí agindo.
“Vai-te – disse o Amigo ao amigo confiante, - e  como creste, assim te seja feito.”
Curou-se o servo do centurião.
No lar  de Simão, onde Ele se recolhe por um pouco, a febre arde na velha sogra do  pescador, que se aflige.
Tocando-a, restitui-lhe o equilíbrio térmico.
Irradia-se a inapagável Luz dos Séculos.
Nunca mais a noite se fará  total . . .
À tarde, chegam os obsidiados por Espíritos infelizes, suas  vítimas, seus cobradores.
O ódio grimpa os duelistas da animosidade.
Não  há separação entre mortos e vivos, unidos pelos vínculos dos sentimentos afins  ou dos compromissos a que se atrelam no carro da vida.
Sua palavra é  medicação que atinge as ulcerações morais e as cicatriza.
Ampara o cobrador,  antes ultrajado, e auxilia-o a ser feliz, informando que o calceta não fugirá de  si mesmo.
Um deseja segui-lO, pensando em gozos e comodidades.
Como Ele  não tem uma pedra para pôr a cabeça, apesar de “as raposas terem covis e as aves  do céu ninhos”, o candidato, desiludido, foi-se embora. . .
Outro pretende  dar-se; todavia, quer antes enterrar o pai cadaverizado.
Não há tempo para  simulações.
A vida transcende ao corpo.
E ele não se deu. . .
O  lago-mar sereno exalta-se e todos, na barca, temem; menos Ele, que dorme ou  parece dormir. . .
Ante o receio geral, Sua voz acalma as ondas e os  encarregados das “forças vivas da Natureza” tranqüilizam as águas.
Nada  supera o Rabi, no mundo de Deus, que Ele elaborou sob a proteção do Pai.
Prosseguirá o ministério, naquelas e noutras paragens. . .
Paralíticos,  endemoninhados, cegos, catalépticos, hemorroíssa, mudo por ação obsessiva, por  toda parte a dor, as provações cedem lugar ao pagamento pelo trabalho do amor.
Eram todos, ontem como hoje, doentes da alma e desejavam a cura para os  corpos.
O Mestre fazia cessar os efeitos dos seus erros, sarando a matéria,  entretanto, oferecia-lhes a diretriz evangélica, a verdadeira terapia para o  Espírito, única medicação para eliminar os sofrimentos.
O amor de Deus,  refletido em Jesus, não tem limite.
. . . Prosseguirá a música da esperança  a substituir litania da loucura e da miséria. . .
A responsabilidade do  resgate sobrepõe-se à cobrança cega.
O homem desperta para os compromissos.
Os remotos tempos entenderão, e melhor farão entender o Mestre e Sua  mensagem.
Somente pelo amor se libertará o homem.
Os pecadores são o  campo para a semente de vida eterna e os caídos, sem alternativa de  soerguimento, fazem-se adubo para a própria recuperação ante a oportunidade  feliz do Evangelho.
Nenhum amor renteará com esse imensurável amor.
Aquele período primaveril não se repetiu, nem volverá a acontecer da mesma  forma.
As sementes, todavia, dormem no solo da quadra outonal em que as  almas se demoram, para emergirem, logo mais, em embrião, reflorindo ao claro sol  da Era Nova da eterna primavera que já começa. . .
Agradecimentos: Carlos Eduardo Cennerelli
 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário