RESGATES COLETIVOS
André Luiz
Entendíamo-nos com Silas, acerca de variados
problemas, quando expressivo chamamento de Druso nos reuniu ao diretor da casa,
em seu gabinete particular de serviço.
O chefe da Mansão foi breve e claro.
Apelo urgente da Terra pedia
auxílio para as vítimas de um desastre aviatório.
Sem alongar-se em minúcias, informou que a
solicitação se repetiria, dentro de alguns instantes, e conviria esperar a fim
de examinarmos o assunto com a eficiência precisa.
Com efeito, mal terminara o apontamento e
sinais algo semelhantes aos do telégrafo de Morse se fizeram notados em curioso
aparelho. Druso ligou tomada próxima e vimos um pequeno televisor em ação, sob
vigorosa lente, projetando imagens movimentadas em tela próxima, cuidadosamente
encaixada na parede, a pequena distância.
Qual se acompanhássemos curta notícia em
cinema sonoro, contemplamos, surpreendidos, a paisagem terrestre.
Sob a crista de serra alcantilada e selvagem, destroços de grande
aeronave guardavam consigo as vítimas do acidente. Adivinhava-se que o piloto,
certamente enganado pelo traiçoeiro oceano de espessa bruma, não pudera evitar
o choque com os picos graníticos que se
salientavam na montanha, silenciosos e implacáveis, à maneira de medonhos
torreões de fortaleza agressiva.
Em pleno quadro inquietante, um ancião desencarnado, de semblante
nobre e digno, formulava requerimento comovedor, rogando à Mansão a remessa de
equipe adestrada para a remoção de seis das catorze entidades desencarnadas no
doloroso sinistro.
Enquanto Druso e Silas combinavam medidas para
a tarefa assistencial, Hilário e eu olhávamos, espantados, o espetáculo inédito
para nós ambos.
A cena aflitiva parecia desenrolar-se ali
mesmo.
Oito dos desencarnados no acidente jaziam em posição de choque,
algemados aos corpos, mutilados ou não; quatro gemiam, jungidos aos próprios
restos, e dois deles, não obstante ainda enfaixados às formas rígidas, gritavam
desesperados, em crises de inconsciência.
Contudo, amigos espirituais, abnegados e
valorosos, velavam ali, calmos e atentos.
Figurando-se cascata de luz vertendo do Céu,
o auxílio do Alto vinha, solícito, em abençoada torrente de amor.
O quadro patético era tão real à nossa observação, que podíamos
ouvir os gemidos daqueles que despertavam desfalecentes, as preces dos
socorristas e as conversações dos enfermeiros que concertavam providências à
pressa...
De alma confrangida, vimos desaparecer a
notícia televisada, enquanto Silas cumpria as ordens do comandante da
instituição com admirável eficiência.
Em poucos instantes, diversos operários da
casa puseram-se em marcha, na direção do local minuciosamente descrito.
Voltando ao gabinete em que lhe aguardávamos
o retorno, Silas ainda se entendeu com o orientador, por alguns minutos, com
respeito ao serviço em foco.
Foi então que Hilário e eu indagamos se não
nos seria possível a participação na obra assistencial que se processava, no
que Druso, paternalmente, não concordou, explicando que o trabalho era de
natureza especialíssima, requisitando colaboradores rigorosamente treinados.
Cientes de que o generoso mentor poderia
dispensar-nos mais tempo, aproveitamos o ensejo para versar a questão das
provas coletivas.
Hilário abriu campo livre ao debate, perguntando, respeitoso, por
que motivo era rogado o auxílio para a remoção de seis dos desencarnados,
quando as vítimas eram catorze.
Druso, no entanto, replicou em tom sereno e
firme:
- O socorro no avião sinistrado é distribuído indistintamente,
contudo, não podemos esquecer que se o desastre é o mesmo para todos os que
tombaram, a morte é diferente para cada um. No momento serão retirados da carne
tão-somente aqueles cuja vida interior lhes outorga a imediata liberação.
Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o afastamento
rápido da armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo, aos despojos
que lhes dizem respeito.
- Quantos dias? – exclamou meu colega, incapaz de conter a emoção
de que se via possuído.
- Depende do grau de animalização dos fluidos que lhes retêm o
Espírito à atividade corpórea – respondeu-nos o mentor.
– Alguns serão detidos por
algumas horas, outros, talvez, por longos dias...
Quem sabe? Corpo inerte nem sempre significa libertação da alma. O
gênero da vida que alimentamos no estágio físico dita as verdadeiras condições
de nossa morte.
Quanto mais chafurdamos o ser nas correntes de baixas ilusões, mais
tempo gastamos para esgotar as energias vitais que nos aprisionam à matéria
pesada e primitiva de que se nos constitui a instrumentação fisiológica,
demorando-nos nas criações mentais inferiores a que nos ajustamos, nelas
encontrando combustível para dilatados enganos na sombras do campo carnal,
propriamente considerado.
E quanto mais nos submetamos
às disciplinas do espírito, que nos aconselham equilíbrio e sublimação, mais
amplas facilidades conquistaremos para a exoneração da carne em quaisquer
emergências de que não possamos fugir por força dos débitos contraídos perante
a Lei. Assim é que não é o mesmo que .
- Isso, no entanto – considerei -, não quer dizer que
os demais companheiros acidentados estarão sem assistência, embora coagidos a
temporária detenção nos próprios restos.
- De modo algum – ajuntou o amigo generoso -,
ninguém vive desamparado. O amor infinito de Deus abrange o Universo. Os irmãos
que se demoram enredados em mais baixo teor de experiência física
compreenderão, gradativamente, o socorro que se mostram capazes de receber.
- Todavia – reparou Hilário -, não serão atraídos por criaturas
desencarnadas, de inteligência perversa, já que não podem ser resguardados de
imediato?
Druso estampou significativa expressão facial
e ponderou:
- Sim, na hipótese de serem surdos ao bem, é possível se rendam às
sugestões do mal, a fim de que, pelos tormentos do mal, se voltem para o bem.
No assunto, entretanto, é preciso
considerar que a tentação é sempre uma sombra a atormentar-nos a vida,
de dentro para fora. A junção de nossas almas com os poderes infernais
verifica-se em relação com o inferno que já trazemos dentro de nós.
A explicação não poderia ser mais clara.
Talvez por isso, algo desconcertado pelo
esclarecimento direto, meu companheiro que, tanto quanto eu, não desejava
perder a oportunidade de mais ampla conversação, acentuou, humilde:
- Nobre instrutor, decerto não temos o direito de questionar
qualquer determinação que lhe dimane da autoridade; ainda assim, estimaria
conhecer mais profundamente as razões pelas quais nos é defeso o trabalho de
colaboração nos serviços pertinentes ao socorro nos resgates de conjunto.
Não poderíamos, acaso,
cooperar com os obreiros desta casa, nas expedições de auxílio às vítimas de
acidentes diversos, de modo a pesquisar as causas que os determinaram?
Indiscutivelmente a Mansão, com as responsabilidades de que se
encontra investida, desincumbir-se-á de trabalhos dessa espécie todos os
dias...
- Quase todos os dias – corrigiu Druso, sem
pestanejar.
E, fitando Hilário de estranha maneira,
aduziu:
- É imperioso observar, porém, que vocês
coletam material didático para despertamento de nossos irmãos encarnados, quase
todos eles em fase importante de luta, no acerto de contas com a Justiça
Divina. Analisando os resgates dessa ordem, vocês fatalmente seriam compelidos
à autópsia de situações e problemas suscetíveis de plasmar imagens destrutivas
no ânimo de muitos daqueles que ambos se propõem auxiliar.
Esboçando leve sorriso em que deixava
transparecer a humildade que lhe adornava o espírito de escol, aditou:
- Parece-me que não seriamos capazes de
comentar um desastre de grandes proporções, no campo dos homens, sem lhes
insuflar o vírus do medo, tanta vez portador do desânimo e da morte.
A palavra do orientador, serena e evangélica,
reajusta-nos os impulsos menos edificantes.
Inegavelmente, a Terra jaz repleta de criaturas, tanto quanto nós,
algemadas a escabrosos compromissos, carentes de ação contínua para o
necessário reequilíbrio. Não seria justo atormentá-las com pensamentos de temor
e flagelação, quando através do bem, sentido e praticado, podemos cada hora
arredar de nossos horizontes as nuvens de sofrimentos prováveis.
Assinalando-nos a atitude inequívoca de
compreensão e de obediência, como não podia deixar de ser, o chefe da
instituição continuou em tom afável, depois de ligeira pausa:
- Imaginemos que fossem analisar as origens da provação a que se
acolheram os acidentados de hoje... Surpreenderiam, decerto, delinqüentes que,
em outras épocas, atiraram irmãos indefesos do cimo de torres altíssimas, para
que seus corpos se espatifassem no chão; companheiros que, em outro tempo,
cometeram hediondos crimes sobre o dorso do mar, pondo a pique existências
preciosas, ou suicidas que se despenharam de arrojados edifícios ou de picos
agrestes, em supremo atestado de rebeldia, perante a Lei, os quais, por
enquanto, somente encontraram a própria situação.
Quantos milhares de irmãos encarnados possuímos nós, em cujas contas
com os Tribunais Divinos figuram débitos desse jaez?
Entretanto, não desconhecemos que nós, consciências endividadas,
podemos melhorar nosso créditos, todos os dias. Quantos romeiros terrenos, em
cujos mapas de viagem constam surpresas terríveis, são amparados devidamente
para que a morte forçada não lhes assalte o corpo, em razão dos atos louváveis
a que se afeiçoam!... Quantas intercessões da prece ardente conquistam
moratórias oportunas para pessoas cujo passo já resvala no cairel do
sepulcro?!... quantos deveres sacrificiais granjeiam, para a alma que os aceita
de boamente, preciosas vantagens na Vida Superior, onde providências se
improvisam para que se lhes amenizem os rigores da provação necessária?! Bem
sabemos que, se uma onda sonora encontra outra, de tal modo que as “cristas” de
uma ocorram nos mesmos pontos dos “vales” da outra, esse meio, em conseqüência
aí não vibra, tendo-se como resultado o silêncio.
Assim é que, gerando novas causas com o bem,
praticado hoje, podemos interferir nas causa do mal, praticado ontem,
neutralizando-as e reconquistando, com isso, o nosso equilíbrio. Desse modo,
creio mais justo incentivarmos o serviço do bem, através de todo os recursos ao
nosso alcance. A caridade e o estudo
nobre, a fé e o bom ânimo, o otimismo e o trabalho, a arte e a meditação
construtiva constituem temas renovadores, cujo mérito não será lícito esquecer,
na reabilitação de nossas idéias e, conseqüentemente, de nossos destinos.
Entregara-se o chefe a mais longa pausa e, movido pelo propósito de
aprender, indaguei de Druso se ele mesmo não teria acompanhado algum processo
de resgate coletivo, em que os Espíritos interessados não teriam outro recurso
senão a morte violenta, como remate aos dias do corpo denso, ao que o instrutor
respondeu, presto:
- Guardo em minha experiência
alguns casos expressivos que seria justo relacionar, no entanto,
reportar-nos-emos simplesmente a um deles, pois nossas obrigações são
inadiáveis.
Depois de momentos rápidos em que
naturalmente apelava para a memória, comentou, benevolente:
- Há trinta anos desfrutei o convívio de dois benfeitores, a cuja
abnegação muito devo neste pouso de luz. Ascânio e Lucas, assistentes
respeitados na Esfera Superior, integravam-nos a equipe de mentores valorosos e
amigos...
Quando os conheci em pessoa, já haviam despendido vários lustros no
amparo aos irmãos transviados e sofredores.
Cultos e enobrecidos, eram companheiros infatigáveis em nossas
melhores realizações. Acontece, porem, que depois de largos decênios de luta,
nos prélios da fraternidade santificante, suspirando pelo ingresso nas esferas
mais elevadas, para que se lhes expandissem os ideais de santidade e beleza,
não demonstravam a necessária condição específica para o vôo anelado.
Totalmente absortos no entusiasmo de ensinar o caminho do bem aos semelhantes,
não cogitavam de qualquer mergulho no pretérito, por isso que, muitas vezes,
quando nos fascinamos pelo esplendor dos cimos, nem sempre nos sobra disposição
para qualquer vistoria aos nevoeiros do vale...
Dessa forma, passaram a desejar ardentemente a ascensão, sentido-se
algo desencantados pela ausência de apoio das autoridades que lhes não
reconheciam o mérito imprescindível. Dilatava-se o impasse, quando um deles
solicitou o pronunciamento da Direção Geral a que nos achamos submissos. O
requerimento encontrou curso normal até que, em determinada fase, ambos foram
chamados a exame devido.
A posição imprópria que lhes era característica foi carinhosamente
analisada por técnico do Plano Superior, que lhes reconduziram a memória a
períodos mais recuados no tempo. Diversas fichas de observação foram extraídas
do campo mnemônico, à maneira das radioscopias dos atuais serviços médicos no
mundo e, através delas, importantes conclusões surgiram à tona...
Em verdade, Ascânio e Lucas possuíam créditos extensos, adquiridos
em quase cinco séculos sucessivos de aprendizado digno, somando as cinco
existências últimas nos círculos da carne e as estações de serviço espiritual,
nas vizinhanças da arena física; no entanto, quando a gradativa auscultação
lhes alcançou as atividades do século XV, algo surgiu que lhes impôs dolorosa
meditação...
Arrebatadas ao arquivo da memória e a doer-lhes profundamente no
espírito, depois da operação magnética a que nos referimos, reapareceram na
ficha mencionadas as cenas de ominoso delito por ambos cometido, em 1429, logo
após a libertação de Orleães, quando formavam no exército de Joana d’Arc...
Famintos de influência junto aos irmãos de armas, não hesitaram em
assassinar dois companheiros, precipitando-os do alto de uma fortaleza no
território de Gâtinais, sobre fossos imundos, embriagando-se nas honrarias que
lhes valeram mais tarde, torturantes remorsos além do sepulcro.
Chegados a esse ponto da inquietante investigação, pela
respeitabilidade de que se revestiam foram inquiridos pelos poderes competentes
se desejavam ou não prosseguir na sondagem singular, ao que responderam
negativamente, preferindo liquidar a dívida, antes de novas imersões nos
depósitos da subconsciência.
Desse modo, em vez de continuarem insistindo na elevação a níveis
altos, suplicaram, ao revés, o retorno ao campo dos homens, no qual acabam de
pagar o débito a que aludimos.
- Como? – indagou Hilário,
intrigado.
- Já que podiam escolher o
gênero de provação, em vista dos recursos morais amealhados no mundo íntimo –
informou o orientador -, optaram por tarefas no campo da aeronáutica, a cuja
evolução ofereceram as suas vidas.
Há dois meses regressaram às
nossas linhas de ação, depois de haverem sofrido a mesma queda mortal que
infligiram aos companheiros de luta no século XV.
- E o nosso caro instrutor
visitou-os nos preparativos da reencarnação agora terminada?
– inquiri com respeito.
- Sim, por várias vezes os
avistei, antes da partida. Associavam-se a grande comunidade de Espíritos
amigos, em departamento especifico de reencarnação, no qual centenas de
entidades, com dívidas mais ou menos semelhantes às deles, também se preparavam
para o retorno à carne, abraçando, assim, trabalho redentor em resgates
coletivos.
- E todos podiam selecionar o
gênero de luta em que saldariam as suas contas? – perguntei, ainda, com natural
interesse.
- Nem todos – disse Druso,
convicto. – Aqueles que possuíam grandes créditos morais, qual acontecia aos
benfeitores a que me reporto, dispunham desse direito. Assim é que a muitos vi,
habilitando-se para sofrer a morte violenta, em favor do progresso da
aeronáutica e da engenharia, da navegação marítima e dos transportes
terrestres, da ciência médica e da indústria em geral, verificando, no entanto,
que a maioria, por força dos débitos contraídos e consoante os ditames da
própria consciência, não alcançava semelhante prerrogativa, cabendo-lhe aceitar
sem discutir amargas provas, na infância, na mocidade ou na velhice, através de
acidentes diversos, desde a mutilação primária até a morte, de modo a
redimir-se de faltas graves.
- E os pais? – inquiriu meu
colega, alarmado. – Em que situação surpreenderemos os pais dos que devem ser
imolados ao progresso ou à justiça, na regeneração de si mesmos? A dor deles
não será devidamente considerada pelos poderes que nos controlam a vida?
- Como não? – respondeu o
orientador – as entidades que necessitam de tais lutas expiatórias são
encaminhadas aos corações que se acumpliciaram com elas em delitos lamentáveis,
no pretérito distante ou recente ou, ainda, aos pais que faliram junto dos
filhos, em outras épocas, a fim de que aprendam na saudade cruel e na angústia
inominável o respeito e o devotamento, a honorabilidade e o carinho que todos
devemos na Terra ao instituto da família. A dor coletiva é o remédio que nos
corrige as falhas mútuas.
Estabelecera-se longa pausa.
A lição como que nos impelia a rápidos
mergulhos no mundo de nós mesmos.
Hilário, contudo, insatisfeito como sempre,
perguntou, irrequieto:
-
Instrutor amigo, imaginemos que Ascânio e Lucas, após a vitória de que
nos dá noticia, continuem anelando a subida aos planos mais altos...
Precisarão, para isso, de nova consulta ao passado?
- Caso
não demonstrem a condição específica indispensável, serão novamente submetidos
à justa auscultação para o exame e seleção de novos resgates que se façam
precisos.
- Isso
que dizer que ninguém se eleva ao Céu sem quitação com a Terra?
O interlocutor sorriu e completou:
- Será mais lícito afirmar
que ninguém se eleva a pleno Céu, sem plena quitação com a Terra, porquanto a
ascensão gradativa pode verificar-se, não obstante invariavelmente condicionada
aos nossos merecimentos nas conquistas já feitas. Os princípios de relatividade
são perfeitamente cabíveis no assunto.
Quanto mais céu interior na alma, através da sublimação da vida,
mais ampla incursão da alma nos céus exteriores, até que se realize a suprema
comunhão dela com Deus, Nosso Pai. Para isso, como reconhecemos, é
indispensável atender à justiça, e a Justiça Divina está inelutavelmente ligada
a nós, de vez que nenhuma felicidade ambiente será verdadeira felicidade em
nós, sem a implícita aprovação de nossa consciência.
O ensinamento era profundo.
Cessamos a inquirição e, como serviço urgente
requeria a presença de Druso, em outra parte, retiramo-nos em demanda do Templo
da Mansão, com o objetivo de orar e
pensar.
André
Luiz, em: Ação e Reação de Chico Xavier
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REVELAÇÃO DE POETA
Motivos da explosão do DC-10 em Paris
Francisco Cândido Xavier
Regressávamos de ligeira viagem e
reunimo-nos em oração, apenas três companheiros, após comentar o acidente aéreo
ocorrido em Paris, no dia 3 deste mês.* Os sofrimentos de perto nos fazem
meditar nos sofrimentos que se verificam longe de nós.
Ainda não refeitos das
atribulações pelas quais todos passemos, com o incêndio de fevereiro, em São Paulo, reunimo-nos em prece para buscar, acima de tudo,
compreensão para nós mesmos, de maneira a entendermos que a dor, em qualquer
parte, vem das leis de Deus em beneficio de nós próprios.
Abrimos O Livro dos Espíritos,
antes de iniciar o nosso culto de oração e a questão 266 veio em nossa ajuda.
Pensamos no assunto e, numa confortadora surpresa, recebemos a visita do poeta
Silva Ramos que nos tomou a mão e escreveu o soneto que ele mesmo intitulou
Culpas.
Ainda profundamente
sensibilizados com o lamentável desastre, enviamos ao prezado amigo o soneto do
poeta desencarnado, na idéia de que as suas anotações auxiliem-nos a
desenvolver o nosso pensamento a respeito das desencarnações coletivas.
*3 de março de 1974. (Nota da
Editora)
CULPAS
Silva Ramos
A Natureza aponta a culpa que começa:
Em cidade praiana, a legião pirata
Desembarca, saqueia, humilha, fere, mata...
Por nada se detém, por mais que se lhe peça..
Quantas vidas ao mar sob golpes à pressa!...
Incêndios e orações no horror que se desata...
Depois, vinho e prazer, os butins de ouro e prata
E as horas avançando ao tempo que não cessa...
Os séculos se vão marchando em luz e treva...
Um dia, em mar aéreo, enorme nave leva
Os piratas de outrora e a Justiça Divina...
Surge a morte no ar... A aflição se renova...
Preces, gemidos e ais de corações em prova...
E a Natureza apaga a culpa que termina.
A ESCOLHA DO
ESPÍRITO
Irmão Saulo
A revelação do poeta Silva Ramos
pode parecer absurda e até mesmo ofensiva para muitas pessoas
. Pereceram na
explosão do avião turco, sobre Paris, 345 pessoas. Três brasileiros estavam
nesse número espantoso de vítimas. Como considerar todas elas criminosas,
envolvidas em atos de pirataria? Convém lembrar que se trata de culpas remotas,
de vidas anteriores. Quem pode, na Terra, examinando suas próprias tendências
atuais, considerar que há cinco séculos tenha sido uma criatura virtuosa,
incapaz de ações criminosas?
O Espiritismo ensina que os espíritos escolhem e pedem as provas
por que vêm passar na terra. Outra dúvida se levanta, mas já a vemos registrada
na questão 266 de O Livro dos Espíritos. Kardec perguntou: “Não parece natural
que os espíritos escolham as provas menos penosas?” E os Espíritos Superiores
responderam: “Para vós, sim, para o espírito, não”. Nossas provas decorrem de
nossa consciência. As leis de Deus, inscritas na consciência, levam o culpado a
pedir o seu próprio castigo. Note-se a perfeição absoluta dessa justiça que não
vem de fora, mas se processa de dentro para fora. O culpado é o seu próprio
juiz, o mais severo dos juízes.
Por isso mesmo as provas mais
graves não são imediatas. O Espírito do culpado precisa amadurecer moralmente
para sentir o aguilhão da consciência e obedecê-lo. As provas coletivas reúnem
criaturas que nos parecem incapazes de haver cometido atrocidades. Elas tiveram
de atingir esse grau atual de evolução para terem a coragem heróica de
submeter-se às expiações necessárias. Nessa perspectiva, como vemos, tudo se
torna compreensível.
As vítimas de hoje são almas purificadas que se redimem por vontade
própria. Não são mais criminosas, são heroínas da evolução.
Silva Ramos usa o soneto para
mostrar, numa síntese poética, o que podemos chamar de mecânica da prova.
As ações do passado dão começo à culpa; os séculos de luz e treva
desenvolvem os espíritos nas experiências dolorosas; e, por fim, a culpa se
apaga na prova coletiva em que todos se reúnem. As lentas depurações
individuais se conjugam, no final, para o resgate coletivo em que a culpa é
liquidada.
Do livro Diálogo dos Vivos.
Espíritos Diversos
Psicografia de Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires
RESGATE COLETIVO
Marcus V. Monteiro
(transcrito de “Presença
Espírita” – DIÁRIO DO NORDESTE – 14.jun.1982)
“Félix! Estamos no local. Tudo destruído. Não há sobreviventes”, foi o comunicado oficial
emitido da área, por um oficial da FAB e que o jornal DIÁRIO DO
NORDESTE estampou em sua primeira página, na edição de quarta-feira, 9 de junho.
A área, no cume da serra de Aratanha, no município de Pacatuba,
distante 30km de Fortaleza, registra o local do maior acidente aéreo ocorrido
no Brasil. A aeronave, um Boeing 727 Super 200, da Viação Aérea São Paulo
(VASP), prefixo PP SRK, quando preparava o seu pouso terminal, no vôo 168, na
rota São Paulo – Rio – Fortaleza, chocou-se na madrugada do dia 8 com o pico da
serra, explodindo em seguida.
No acidente
pereceram passageiros e tripulantes, somando um total de 137 pessoas, sendo 128
passageiros e 9 tripulantes, os quais em sua totalidade tiveram os corpos
dilacerados e espalhados por extensa aérea, dificultando o resgate e
impossibilitando a identificação de cada um deles.
Fortaleza parou! Colégios e Universidades não funcionaram, setores
da indústria (principalmente a de confecções) não acionaram suas máquinas e o
comércio abriu, simbolicamente fechado, mantendo suas portas semi-abertas para
os pouquíssimos clientes que ocorreram às compras! Personalidades de destaque
da vida sócio-econômica da cidade, líderes empresariais e homens comuns do
povo, encontravam-se no vôo sinistrado e, baldados foram todos os esforços no
sentido de identificação dos corpos... Parentes foram convocados, reunidos com
representantes do Governo e diretores da empresa aérea, decidindo-se, após dias
de grande tensão emocional: - o sepultamento dos fragmentos dos corpos será
coletivo, o que ocorreu na tarde do dia 10. Um enterro simbólico.
Caracterizando, ainda mais, o tipo de desencarne daqueles 137 Espíritos: resgate
coletivo.
O assunto vem sendo estudado em suas particularidades nas Obras
Básicas da Doutrina dos Espíritos. Allan Kardec reporta-se aos casos de morte
coletiva em “O Livro dos Espíritos” (item 165); em “A Gênese” (cap. XVIII); em
“O Céu e o Inferno” (segunda parte – cap. VIII – Expiações Terrenas); em “Obras
Póstumas” dedica todo um capítulo a que intitulou:
Questões e Problemas – As expiações coletivas, apresentando
uma comunicação de Clélia Duplantier e reunindo em magistral síntese, a
explicação fornecida pelos Espíritos à questão em foco; e no livreto “O que é o Espiritismo”,
esclarece: “Estas respostas e todas relativas à situação da alma depois da
morte ou durante a vida, não são o resultado de uma teoria ou de um sistema,
mas de estudos diretos feitos sobre milhares de indivíduos, observados em todas
as fases e períodos de sua existência espiritual, desde o mais baixo ao mais
alto grau da escala, segundo seus hábitos durante a vida terrena, gênero de
morte, etc.”.
“Muitas vezes,
diz-se, falando da vida futura, que não se sabe o que nela se passa, porque
ninguém no-lo veio contar; é um erro, pois são precisamente os que nela já se
acham, que, a respeito, nos vêm instruir, e Deus o permite hoje, mais que em
nenhuma época, como último aviso à incredulidade e ao materialismo.”
Os casos estudados e comprovadamente tidos como resgates coletivos
são inumeráveis. Segundo André Luiz (Espírito): “- A Misericórdia Divina
quer a transformação moral do pecador e não o seu sacrifício sem motivo
consistente”. E, em sua classificação dos débitos, apresenta seis tipos –
Estacionário, Resgate interrompido, Aliviado, Dívida expirante, Dívida
agravada, e, Resgate Coletivo (em grupos, todos com a mesma dívida).
A desencarnação coletiva é igual à súbita, com a peculiaridade de
processar-se em conjunto, por meio de desastres variados. Espíritos com débitos
semelhantes reúnem-se para uma expiação coletiva, aproveitando uma oportunidade
planejada para o desencarne súbito de vários ou muitos indivíduos.
Francisco Cândido Xavier, o médium de Uberaba, tem servido de
intermediário na recepção de mensagens de Espíritos que passaram pelo tipo de
desencarne em foco, destacando-se os dos incêndios: de um Circo em Niterói
(1961), repleto de crianças numa tarde de domingo, quando centenas de pessoas
morreram carbonizadas e dezenas de outras sofreram queimaduras irreparáveis,
enquanto alguns eram pisoteados em meio ao pânico que se estabeleceu; os dos
edifícios Andraus (1972) e Joelma (1974), ambos localizados no centro da
capital paulista, atingidos pelos sinistros em horários de expediente,
provocando dezenas de mortes, presenciadas por bombeiros e milhares de pessoas
que pouco puderam fazer para evitá-las. O último, serviu até para a produção de
uma película cinematográfica cujo título é “Joelma 23o andar”,
baseado, exatamente, em uma das comunicações recebidas por Chico Xavier.
Pelas observações deles decorrentes, verifica-se também que nos
casos de morte coletiva, quando todos perecem ao mesmo tempo, nem sempre, se
revêem imediatamente. Na natural perturbação que se segue à morte do corpo
físico, cada um vai para o seu lado ou se preocupa apenas com aqueles que lhes
interessam.
As grandes partidas coletivas, ensinam os Espíritos, não têm por
único fim ativar as saídas; têm igualmente o de transformar mais rapidamente
uma parcela da comunidade, livrando-as de más influências e dando maior
ascendente às novas idéias.
Também são elas solicitadas pelos próprios Espíritos (antes de sua
encarnação, na escolha dos tipos de provas), com o fim de abreviar o seu
período de erraticidade e atingir mais rapidamente as esferas superiores.
Não nos devemos surpreender com o número considerável de pessoas que
morrem vítimas de acidentes isolados ou em catástrofes coletivas, mesmo uma
atual vida honrada, dedicada ao bem e ao progresso geral da humanidade, não
exclui provações, que são pedidas ou aceitas como complemento de expiação, antes
de receber a recompensa pelo progresso realizado.
Muitas desgraças só nos parecem imerecidas porque encaramos apenas
o momento atual.
Num simples artigo seria impossível analisar todos os detalhes do
caso em apreciação, entretanto, chamamos a atenção dos estudiosos do assunto
para
uma
particularidade toda especial no desastre do vôo 168: os corpos foral
totalmente dilacerados, impossibilitando um reconhecimento individual e tiveram
um enterro simbólico, coletando-se em urnas, despojos os mais diversos, sepultando-os em uma
vala comum a todos.
Allan Kardec, “o bom senso encarnado” afirma: “O Espiritismo
toca em todas as questões que interessam à humanidade; seu campo é imenso e é
sobretudo em suas conseqüências que convém considerá-lo. A crença nos Espíritos
lhe forma, sem dúvida a base, mas somente a crença não é suficiente para fazer
um espírita esclarecido, como a crença em Deus não basta para fazer um teólogo.
O Espiritismo contém princípios que, sendo firmados sobre leis naturais e não
sobre abstrações metafísicas, tendem a ser, e um dia o serão, abraçados pela
universalidade dos homens”.
E, não será mera abstração metafísica fazer-se uma incursão em
pensamento ao cenário espiritual onde se desenrolava a cena que descrevemos
no início de nosso artigo e lá, vislumbrarmos a equipe espiritual encarregada
de amparar todos aqueles Espíritos em fase de desencarnação coletiva.
O responsável pela operação no campo da Espiritualidade, haverá de
também ter enviado a sua mensagem aos Planos Superiores do Espírito e ela (a
mensagem), bem poderá ter sido:
“Félix! Estamos no local. Tudo
concluído. Só há sobreviventes”.
CALAMIDADES E PROVAÇÕES
|
O
homem desejou recursos para mais facilmente abrir estradas e a Divina
Providência lhe suscitou a idéia de reunir areia a nitroglicerina, em cuja
conjugação despontou a dinamite. A comunidade beneficiou-se da descoberta, no
entanto, certa facção organizou com ela a bomba destruidora de existências
humanas.
O
homem pediu veículos que lhe fizessem vencer o espaço, ganhando tempo, e o
Amparo Divino ofereceu-lhe os pensamentos necessários à construção das
modernas máquinas de condução e transporte. Essas bênçãos carrearam progresso
e renovação para todos os setores das aquisições planetárias, entretanto,
apareceram aqueles que desrespeitam as leis do trânsito, criando processos
dolorosos de sofrimento e agravando débitos e resgates, nos princípios de
causa e efeito.
O
homem solicitou apoio contra a solidão psicológica e a Eterna Bondade,
através da ciência, lhe concedeu o telégrafo, o rádio e o televisor,
aproximando as coletividades e integrando no mesmo clima de aperfeiçoamento e
cultura. Apesar disso, junto desses nobres empreendimentos, surgiram aqueles
que se valem de tão altos instrumentos de comunicação e solidariedade para a
disseminação da discórdia e da guerra.
O
homem rogou medidas contra a dor e a Compaixão Divina lhe enviou os
anestésicos, favorecendo-lhe o tratamento e o reequilíbrio no campo orgânico.
Ao lado dessas concessões, porém, não faltam aqueles que transformam os
medicamentos da paz e da misericórdia em tóxicos de deserção e delinqüência.
O
homem pediu a desintegração atômica, no intuito de senhorear mais força, a
fim de comandar o progresso, e a desintegração atômica está no mundo,
ignorando-se que preço pagará o Orbe Terrestre, até que essa conquista seja
respeitada fora de qualquer apelo à destruição.
Como
é fácil observar, Deus concede sempre ao homem as possibilidades e vantagens
que a Inteligência Humana resolve requisitar à Sabedoria Divina. Por isso
mesmo, as calamidades que surjam nos caminhos da evolução no mundo, não
ocorrem obviamente, sob a responsabilidade de Deus.
Pelo Espírito
ANDRÉ LUIZ
Do livro: BUSCA E ACHARÁS
Psicografia de FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
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Estudando o problema da escolha de provações da Esfera Espiritual
para o círculo das experiências humanas, imaginemos um campo de serviço
terrestre em que cada trabalhador é chamado à execução de tarefa específica.
Decerto que, aí dentro, vige a liberdade na razão direta do dever bem cumprido.
O servidor que haja
inutilizado deliberadamente as peças do arado que lhe requer devoção e suor
gastará tempo em adquirir instrumento análogo com que possa atender à
orientação que o dirige.
O lavrador invigilante que tenha permitido por desleixo a incursão de vermes
destruidores na plantação que lho define o trabalho, não pode esperar a
colheita nobre antes que se consagre à limpeza e preservação da leira que a
administração lhe confia.
O cooperador que tenha a infelicidade de envolver-se no crime terá cerceada a
sua independência de ação, de vez que será necessário circunscrever-lhe a
influência em processo adequado de reajuste.
Entretanto, se o
operário fiel da lavoura satisfaz agora todos os requisitos das justas
obrigações a que, se vê convocado, sem dúvida, plasma, em seu próprio favor, o
direito de indicar por si mesmo o novo passo de serviço na direção do futuro,
com pleno assentimento da autoridade superior que lhe traça o roteiro de lutas
edificantes.
Assim, pois, além do sepulcro, nem todos desfrutam de improviso a faculdade de
escolher o lugar ou a situação em que deva prosseguir no esforço de evolução,
porquanto, quase sempre, é imperioso o regresso às sombras da retaguarda para
refazer com sofrimento e lágrimas, amargura e aflição o ensejo sublime de
acesso à luz.
Se desejas, assim, a marcha vitoriosa para lá dos portais de cinza em que o
túmulo se te expressa à visão, afeiçoa-te, com perseverança e lealdade, ao
próprio dever, dele fazendo o teu pão espiritual, cada dia, por que para
alcançar o triunfo e a elevação de amanhã é indispensável saibamos
consagrar-lhes a nossa atenção desde hoje.
Página recebida pelo
médium Francisco Cândido Xavier Revista O Semeador – Abril de 1981 .
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DESENCARNADOS NO EDIFÍCIO JOELMA - 1974 - SP – MENSAGENS
Tragédias Coletivas e seus Resgates Coletivos
Uma tragédia mereceu dos Benfeitores Espirituais vários
esclarecimentos.
Por ocasião do incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo, ocorrido
no dia lº de fevereiro de 1974, o médium Francisco Cândido Xavier, em seu lar,
em Uberaba (MG), ouvindo a notícia pelo rádio, reuniu-se em prece com quatro
amigos, solicitando auxílio dos Benfeitores Espirituais para as vitimas .
Atendendo ao apelo apresenta-se o Mentor Espiritual Emmanuel e
escreve, através do médium, comovedora prece inserida no livro "Diálogo
dos Vivos".*
Dias depois, em reunião pública, na qual estavam
presentes alguns familiares de vítimas do incêndio do Joelma, os poetas Cyro
Costa e Cornélio Pires (Espíritos) manifestaram-se pela psicografia, ditando ao
médium sonetos referentes à tragédia.
O soneto de Cyro Costa traz uma dedicatória e o transcrevemos, tal
como está, no citado livro "Diálogo dos Vivos" (cap. 26, pág. 150):
Luz nas chamas Cyro Costa (Homenagem
aos companheiros desencarnados no incêndio ocorrido na capital de São Paulo a
1º de fevereiro de 1974, em resgate dos derradeiros resquícios de culpa que
ainda traziam na própria alma, remanescentes de compromissos adquiridos em
guerra das Cruzadas.)
Fogo!... Amplia-se a voz no assombro em que se espalha.
Gritos, alterações... O tumulto domina. No templo do progresso,
em garbos de oficina, O coração se agita, a vida se estraçalha. Tanto fogo a
luzir é mística fornalhaE a presença da dor reflete a lei divina. Onde a fé se
mantém, a prece descortina O passado remoto em longínqua batalha...
Varrem com fogo e pranto as sombras de outras eras Combatentes
da Cruz em provações austeras, Conquanto heróis do mundo, honrando os tempos
idos.
Na Terra o sofrimento, a angústia, a cinza, a escória... Mas
ouvem-se no Além os hinos de vitória Das Milícias do Céu saudando os redimidos.
Tecendo comentários sobre o soneto de Cyro Costa, Herculano
Pires (no livro retrocitado), pondera que somente a reencarnação pode explicar
a ocorrência trágica.
Segundo o poeta as dívidas remontavam ao tempo
das Cruzadas.
Estas foram realizadas entre os séculos XI e XIII e eram guerras
extremamente cruéis com a agravante de terem sido praticadas em nome da fé
cristã. Os historiadores relatam atos terríveis, crimes hediondos, chacinas
vitimando adultos e crianças. Os débitos contraídos foram de tal gravidade que
os resgates ocorreram a longo prazo. Tal como o do circo em Niterói. O que
denota a Bondade Divina que permite ao infrator o parcelamento da dívida, pois
não haveria condição de quitá-la de uma só vez.
Vejamos agora o outro soneto (cap. 27, pág. 155):
Incêndio em São Paulo
CORNÉLIO PIRES
Céu de São Paulo...
O dia recomeça...
O povo bom na rua lida e passa...
Nisso, aparece um rolo de fumaça
E o fogo para cima se arremessa.
A morte inesperada age possessa,
E enquanto ruge, espanca ou despedaça,
A Terra unida ao Céu a que se enlaça
É salvação e amor, servindo à pressa...
A cidade magoada e enternecida
É socorro chorando a despedida,
Trazendo o coração triste e deserto...
Mas vejo, em prece, além do povo aflito,
Braços de amor que chegam do Infinito
E caminhos de luz no céu aberto...
A idéia de que um ente querido tenha cometido
crimes tão bárbaros às vezes não é bem aceita e muitos se revoltam diante
dessas explicações, mas, conhecendo-se um pouco mais acerca do estágio
evolutivo da Humanidade terrestre e do quanto é passageira e impermanente a
vida humana, a compreensão se amplia e aceitam-se de forma mais resignada os
desígnios do Criador. Por outro lado, que outra explicação atenderia melhor às
nossas angustiosas indagações?
Estas orientações do Plano Maior sobre as provações coletivas
expressam, é óbvio, o que ocorre igualmente no carma individual. Todavia, é
compreensível que muitos indaguem como seria feita a aproximação dessas pessoas
envolvidas em delitos no passado.
A literatura espírita, especialmente a mediúnica, tem trazido
apreciáveis esclarecimentos sobre essa irresistível aproximação que une os
seres afins, quando envolvidos em omprometimentos graves. A culpa, insculpida
na consciência, promove a necessidade da reparação.
O Codificador leciona de forma admirável a respeito das
expiações, em "O Céu e o Inferno" (Ed. FEB), cap. 7 - As penas
futuras segundo o Espiritismo. Esclarece que
"o Espírito é sempre o árbitro da
própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela permanência no mal, ou
suavizá-los e anulá-los pela prática do bem".
Assim - expressa Kardec -, as condições para apagar os
resultados de nossas faltas resumem-se em três: arrependimento, expiação e
reparação.
"O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo
pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular
o efeito destruindo-lhe a causa.
Este o notável Código penal da vida futura, que tem 33 itens e
que apresenta no último o seguinte resumo, em três princípios:
"1º O sofrimento é inerente à imperfeição.
2º
Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio
castigo nas conseqüências naturais e inevitáveis: assim, a moléstia pune os
excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação
especial para cada falta ou indivíduo.
3º
Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode
igualmente anular os males consecutivos e assegurar a felicidade futura.
A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra:
- tal é a lei da Justiça Divina."
___________
* XAVIER, Francisco Cândido e PIRES, J.
Herculano.
Espíritos Diversos, cap. 25, p. 145, 1ª ed. da GEEM,
São Bernardo do Campo (SP) - 1974. (Transcrita na página seguinte.)
fonte:
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/celuz/textos/tragedias-coletivas.html
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DESENCARNADOS
NO EDIFÍCIO JOELMA - 1974 - SP – MENSAGENS
Veja o
filme:
ENTREVISTANDO
CHICO XAVIER
Wilson
Willian Garcia
A morte de crianças e jovens tem nos últimos anos merecido a
atenção dos Espíritos que pela psicografia de Francisco Cândido Xavier nos
oferecem páginas maravilhosas de revelação e conforto.
Dezenas e dezenas de mensagens do Além têm sido recebidas por
Chico Xavier ultimamente, de modo particular de jovens recém-falecidos, em
evidente destaque que os Benfeitores Espirituais, em nome de Jesus, dão à
necessidade crescente de consolo aos familiares saudosos e de esclarecimento
aos outros jovens da Terra, quanto à compreensão de suas responsabilidades.
Realmente a marcha do progresso, carrega em seu bojo, o preço
doloroso de acidentes de toda sorte, que somados às enfermidades naturais, têm
aumentado os números das estatísticas que anotam falecimentos em faixas etárias
menos avançadas.
Neste livro, dois jovens pereceram em incêndio de grandes
proporções, outros dois, imersos nas águas de nossas praias, enquanto que
apenas dois de morte natural.
Muitos dos rapazes e moças, citados nas mensagens dos seis jovens,
partiram da Terra, vitimados por acidentes de trânsito, assim nas vias urbanas
como nas estradas, sendo a morte colhida nas rodas dos veículos, das causas que
mais preocupam, pela sua elevada incidência, tendo merecido de nossas
autoridades a maior das atenções, no sentido de que vidas não sejam ceifadas
pela imprudência e pela invigilância na obediência às leis que disciplinam o
trânsito.
Sobre tema tão atual, como a morte de crianças e jovens, e sobre
comentários feitos pelos autores espirituais deste livro, a respeito de
aspectos que nos chamaram particularmente a atenção, oferecemos a Francisco
Cândido Xavier, e o nosso querido amigo aquiesceu em responder, algumas
perguntas que apresentamos a seguir:
1) Por que morrem os jovens?
- Dizem os Benfeitores Espirituais que a maioria dos jovens
desencarnados são companheiros completando determinados resgates na lei de
causa e efeito.
2) Um dos autores deste livro, o Wilson Willian Garcia, falecido no
Joelma, fala em máquinas semelhantes a helicópteros, no Além. É válida essa
informação de que do outro lado da Vida existem máquinas de voar semelhantes à
nossa? Você pessoalmente já viu algum desses aparelhos?
- Sim, já vi por mim mesmo. Existem máquinas preciosas e para nós,
na Terra, muito complexas no Plano de Vida próximo a nós.
3) A Volquimar fala em suas duas mensagens que alguns jovens mortos
no incêndio do Joelma ainda se encontram em fase de recuperação na
Espiritualidade, submetendo-se mesmo a plásticas para cura de seus corpos
espirituais ainda enfermos. O incêndio não lesou apenas o corpo físico?
- O corpo espiritual submete-se no Além a tratamentos determinados,
conforme os imperativos de sua reestruturação e recuperação na Vida Maior.
4) Qual a explicação que o Espiritismo oferece,
face à Reencarnação, às mortes ocorridas no Andrauss e no Joelma?
- Diversas mensagens e instruções se
referem a provas escolhidas pelos próprios amigos que lhes deram causa.
5) Há uma mensagem de Augusto no livro
que de modo particular aborda o problema dos tóxicos entre os jovens. É grande
a preocupação dos Espíritos pelo envolvimento de jovens na névoa densa do
tóxico?
- Sim, muitos Benfeitores Espirituais se empenham no auxílio a nós
todos para que aprendamos a valorizar a vida.
6) Os jovens, em especial o Augusto e o
Jair, explicam para você o porquê de utilizarem a
gíria em suas mensagens?
- Pra eles, segundo dizem, é o melhor meio de
comunicação nas faixas etárias a que ainda se vinculam.
7) Você
teria alguma mensagem pessoal para os pais e familiares que amargam a dor da
separação pela morte de seus filhos queridos, retirados ao seu convívio, tão
jovem ainda?
- Deus nos auxilie a todos na sustentação de nossa fé na
imortalidade da alma, porque essa fé na continuidade da vida além da morte do
corpo, é o sustentáculo em que nos escoramos para vencer nas provas e tarefas
que trazemos ao mundo.
-
São Paulo – 07 de fevereiro de 1949
-
São Paulo – 1º. de fevereiro de 1974
Casado
com a Sra. Maria Cristina Bueno Ribeiro Garcia
Filho
de Armando Garcia e Hilda Arbulu Garcia
Irmão:
Armando Garcia Filho
Todos
residentes em São Paulo - Capital
Psicografia
Francisco Cândido Xavier e Caio Ramacciotti – Espíritos Diversos - livro
“Somos Seis”
Digitado
por Jamil Eduardo Testa
NÃO CHORE MAIS,
MAMÃE! EU NÃO MORRI!
Volquimar
A reapresentação de Volquimar, após sua morte, traz-nos algumas
cogitações mais profundas.
Suas palavras descrevem, de início, como ocorreu a
morte, traz-nos algumas
cogitações mais profundas.
Suas palavras descrevem, de
início, como
ocorreu a morte, contando-nos das
dificuldades e lutas para a
tentativa de sobrevivência.
O anseio inicial de descer, frustrado pelas
volutas de negras fumaças:
a determinação de atingir o topo do edifício e a
compreensão de que seus minutos
estavam contados. Nada mais havia a fazer,
senão orar. E Volquimar orou como nunca.
Diga-se de passagem que muitas das pessoas
que se encontravam
no Joelma
tentaram salvar-se, subindo até os cimos do edifício, numa comparação
instantânea com o incêndio do Andrauss, ocorrido
dois anos antes. Mas o
Andrauss, em função
do heliporto, pôde ter centralizados os serviços de
salvamento em
sua lage de cobertura; contudo, o Joelma, sem heliporto, pouco
ofereceu
de segurança aos que chegaram lá em cima; muitos morreram
carbonizados, enquanto que outros se jogaram, encontrando
a morte, no violento
choque com o chão.
O salvamento no Joelma se processou, basicamente, através
das escadas Magirus e
foram mais beneficiados, nas tarefas de socorro,
os que puderam permanecer nas
laterais do edifício e nos andares
intermediários ou mais baixos, onde os
intrépidos bombeiros podiam atuar.
Após descrever os momentos últimos de vida, Volquimar faz um
comentário que
aparentemente pode causar surpresa entre os que não
estão familiarizados com as
notícias a respeito da vida após a morte.
É quando diz que há irmãos, entre os morreram,
que se encontram
hospitalizados, no Plano Espiritual, que se reconhecem
desfigurados,
por falta de preparação íntima, na reconstituição da própria
forma. É que,
como sabemos, a morte não significa mudança milagrosa das
condições
de vida e sim a ida do espírito para o Mundo Espiritual, em que passa
a
individualizar-se através do perispírito ou corpo espiritual, envoltório
sutil que lhe dá forma. O corpo físico, é, aliás, reprodução
bastante
aproximada do corpo espiritual.
Convém lembrar, assim, que o corpo espiritual também se lesa
em função de
determinadas agressões, como as mutilações provocadas
pelo trauma do incêndio,
sendo a sua recuperação mais ou menos rápida,
de acordo com o merecimento
próprio e, em última análise, segundo
o grau de compreensão e evolução do
espírito e dos compromissos
que traga de vidas passadas. Daí alguns
companheiros que pereceram no
Joelma apresentarem, alguns meses depois, ainda o
corpo
espiritual em processo de recuperação.
Muito rica de informação, do pleno desconhecimento do médium,
informações, tão
numerosas, pelo anseio de colocar em dia todos
os assuntos pertinentes à
situação de reencontro, a mensagem da
Volquimar exprime a vontade de atualizar
o papo,
acalmando mais amplamente o coração materno.
Assim, à medida em que formos identificando os
nomes e esclarecendo as citações
de Volquimar, ofereceremos
mais elementos, colhidos na entrevista com os
familiares da jovem.
1 – Álvaro – seu irmão, já identificado.
2 – meu avô – refere-se ao seu avô materno
Álvaro de Carvalho,
como veremos mais adiante. Sub-oficial da Marinha de Guerra,
desapareceu com o
Cruzador Bahia, em 4 de julho de 1945, torpedeado nos
Rochedos São
Pedro e São Paulo, quando retornava ao Brasil, ao fim da 2° Guerra
Mundial.
3 – não mais o cartão de alfabeto – veja-se comentário
anterior, quando falamos do
encontro
da mãe de Volquimar com o Chico de Uberaba.
4 – mais tarde com algumas horas de liberação do corpo é que
despertei ao seu lado –
como
também já comentamos na Biografia de Volquimar, é a confirmação de que a
mãe
realmente a viu em espírito, próximo ao Instituto Médico Legal, de São Paulo.
5 - Irmãos de Volquimar
6 - Nossa querida Célia – Célia Januário Ferreira,
amiga de
Volquimar, colega de cursinho e dos primeiros empregos.
7 - Flávio e Cristiano – seus sobrinhos, Flávio Henrique dos
Santos Foguel e Cristiano
dos
Santos Augusto, filhos, respectivamente, das irmãs Volnelita e volnéia.
8 - Estou satisfeita...
9 - a senhora não precisa hesitar...
São
daquelas informações pela psicografia do Chico que verdadeiramente nos
desnorteiam. D. Walkyria havia utilizado o seguro de vida da filha como entrada
para aquisição de um apartamento; consolando a mãe, pela conveniência da
atitude, Vôlqui nos revela episódio restrito ao ambiente familiar, em evidente
prova da exuberância do processo mediúnico autêntico. Sem ter qualquer idéia ou
informação a respeito, como pôde, senão mediunicamente, Chico Xavier
transmitir com tanta riqueza de dados este episódio pela
Volquimar??
10 - Volquimar guardava secreta intuição de que seus dias na Terra
estavam contados,
dando a entender à mãe, sua intuições, por diversas vezes.
11 - Referência ao seu aniversário de nascimento e à data de
falecimento do avô, a 1.º
e a 4 de julho, respectivamente. A comemoração de que fala Volquimar na
mensagem diz respeito à reunião familiar nesses dias em que a filha
desencarnada
se comunicou pelo cartão do alfabeto.
12 - Nossos amigos Augusto e José Roberto – Augusto é co-autor
deste livro; José
Roberto Pereira da Silva, filho de Nery Pereira da Silva e Lucy Ianez Silva,
faleceu a 8 de junho de 1972, no acidente com o trem que levava estudantes para
Mogi das Cruzes. Contava, então, 18 anos. Como o Augusto, José Roberto, ou
Beto, aparece citado em outras oportunidades neste livro.
13 - Yolanda, Helena e Acácia - O leitor, terá,
também, oportunidade de encontrar em
outras citações, os nomes de D. Acácia e da mãe do Augusto. D. Helena Leal do
Canto acompanhava a mãe de Volquimar, quando da recepção desta mensagem.
Do livro: Somos Seis - Psicografia:
Francisco Candido Xavier e Caio Ramacciott
Espíritos Diversos
APRESENTAÇÃO
Facilmente o leitor identificará no decorrer da leitura deste livro, o
estilo
próprio dos seus seis autores. Jovens escritores que não vieram
de cursos
de beletrismo, nem se preocuparam particularmente com o estudo das
figuras
de expressão literária, de modo a se lançarem como novos candidatos
aos troféus e às cadeiras de nossas academias.
Estes jovens, que tão cedo deixaram a Terra, numa idade variável
entre
17 e 25 anos, levaram daqui evidentemente o ardor de sua juventude,
trazendo
de lá, a vontade de contar o que viram aos companheiros e aos pais
queridos
que não se acostumam à sua ausência, ainda que não estejam ausentes.
Mas, a despeito de sua despretensão em fazer
literatura, todos escrevem bem,
cada qual carregando a marca inconfundível de
sua comunicação pessoal.
Assim, em Volquimar, a estrela do grupo,
sentimos a filha amorosa,
falando simples e de forma elevada
com a mãe, do
mesmo modo que conversavam quando na Terra. Wilson, o outro
estreante,
é o marido muito jovem e o filho afetuoso que divide o coração
entre a esposa
querida e a mãezinha, consolando-as a ambas, numa linguagem clara,
como são claras
suas posições diante da morte.
Wadyzinho é o jovem amadurecido que aos 17 anos
já se dedicava à Causa do Bem,
na tarefa de levas as palavras do Mestre aos
jovens distantes da compreensão dos
valores morais da vida, imersos nos
pesadelos induzidos por drogas e vícios outros.
Wady, além de filho
amoroso, é a Doutrina, exposta, aliás, em estilo sóbrio,
encorpado, com o uso
da adjetivação fácil.
Carlos Alberto, o Tato, é o engenheiro que
abdicou temporariamente
de sua linguagem pragmática, concisa, em função dos
sofrimentos da mãe,
inadaptada, ainda, à dor da separação.
Augusto e Jair são diferentes dos outros em
termos de comunicação.
Lembremos que todos, basicamente, são muito
ligados às famílias,
filhos carinhosos, cada qual com suas características
proporias, idênticas às que apresentavam quando encarnados.
Jair, por exemplo, brincalhão, manuseava a gíria, como Wady
os
analogismos
e as metáforas: cabe aqui o depoimento de uma sua colega dos
tempos
de escola, a estudante de Antropologia da PUC de Campinas,
Renata
Manjaterra, que ao ler uma de suas mensagens psicografadas
pelo Chico, que
seu pai lhe fez chegar às mãos,
disse: -“papai, mas esse é mesmo o Jair”.
De fato, em suas mensagens, reconhece-se o Jair
em
qualquer circunstância: são as frases curtas, entrecortadas,
carregadas de
pontos e vírgulas, como se Jair não estivesse
escrevendo e sim falando. Sua
gíria é, como a
do Augusto, até mesmo dicionarizada.
E o Augusto, também usava a gíria, quando
encarnado?
Conversamos com sua mãe a respeito e D. Yolanda disse
que
sim, usando-a o Augusto com moderação, e reconhecendo
em suas mensagens
recebidas por Chico Xavier, expressões
habituais, do seu agrado quando entre
nós.
A verdade é que falando em gíria ou se
expressando em estilo
convencional, sente-se no Augusto uma linha de
exposição típica,
em que o rapaz já mais velho que os outros (hoje estaria
com 33 anos)
é amoroso e alegre, utilizando-se de construções gramaticais bem
próprias.
Particularmente entendemos que houve como que uma
divisão de trabalho
entre os jovens autores,de modo a atingirem a todas as
áreas no campo
da divulgação de suas idéias, com uma preferência evidente do
Augusto
e do Jair pela penetração entre os jovens mais familiarizados com as
expressões de gíria. E, reconheçamos,
estes jovens são os estudantes,
são os rapazes voltados para experiências
perigosas com as ervas e as
bolinhas e são os outros jovens, , ainda na fase
dourada da juventude,
desligados dos problemas e das coisas,
bastantes carentes de orientação e
esclarecimento.
É inquestionável a penetração dessa técnica que
Jair e Augusto trouxeram
do Além e que é a técnica também dos jovens daqui: a
conversa franca,
descontraída, em que as palavras, ou as palas como dizem,
surgem ao
sabor do próprio diálogo ou do papo informal.
Psicografia Francisco
C. Xavier e Caio Romacciotti – Espíritos Diversos
Livro: “Somos Seis”.
LIVRO
SOMOS SEIS
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Luz nas chamas
(Cyro Costa)
Homenagem aos companheiros desencarnados no incêndio ocorrido na
capital de São Paulo em 1° de fevereiro de 1974, em resgate dos derradeiros
resquícios de culpa que ainda traziam na própria alma, remanescentes de
compromissos adquiridos em guerra das Cruzadas.
Fogo!… Amplia-se a voz no assombro em que se
espalha Gritos, alterações… O tumulto domina.
No templo do progresso, em garbos de oficina,
O coração se agita, a vida se estraçalha.
Tanto fogo a luzir é mística fornalha E a
presença da dor reflete a lei divina.
Onde a fé se mantém, a prece descortina O
passado remoto em longínqua batalha…
Varrem com fogo e pranto as sombras de outras
eras Combatentes da Cruz em provações austeras, Conquanto heróis do mundo,
honrando os tempos idos.
Na Terra o sofrimento, a angústia, a cinza, a
escória…
Mas ouvem-se no Além os hinos de vitória Das
Milícias do Céu saudando os redimidos.
Resgates a longo prazo
(J. Herculano Pires)
Para
as pessoas que ainda não aceitam o princípio da reencarnação, a revelação
parece absurda, simplesmente imaginária. Mas quem conhece realmente o problema
não terá dúvidas a respeito. O poeta Cyro Costa, autor do livro Terra
Prometida (José Olímpio Editora, 1938) foi um dos homens exponenciais de
São Paulo nos idos de 30. Foi ele, já desencarnado, quem encerrou o primeiro
“Pinga Fogo” de Chico Xavier, no Canal 4, a 28 de julho de 1971, com o soneto
intitulado “Segundo Milênio”.
Por
que razão Cyro Costa teria revelado a causa longínqua da morte das vítimas do
incêndio?
Certamente
para consolar os familiares aflitos que não viam motivo para esse fim cruel.
Muitos desses familiares são espíritas ou aceitam os princípios doutrinários,
como vemos pela presença de alguns na reunião de Chico Xavier.
Além
desse motivo caridoso há o interesse de confirmar o princípio da reencarnação
diante de uma ocorrência que sem ele não seria explicável.
Em
termos de consolação para os que ficaram, o final do soneto é de suma importância,
pois informa que as vítimas da Terra foram recebidas no Além como vitoriosas.
A
convicção espírita, firmada em fatos reais e nas intuições profundas da alma,
recebe com alegria informações espirituais dessa natureza, quando dadas por
espíritos plenamente identificados e de comprovada elevação.
Mesmo
entre os espíritas, alguns poderão perguntar por que motivo dívidas tão remotas
só agora foram pagas. As Cruzadas se verificaram entre princípios do Século XI
e final do Século XIII.
É
que a Lógica Divina é superior à lógica humana.
Débitos
pesados esmagariam o espírito endividado, sob cobrança imediata.
Convém
dar tempo ao tempo para que os resgates se façam de maneira proveitosa.
Os
Espíritos devem evoluir o suficiente para que suas próprias consciências os
levem a aceitar o resgate e a pedi-lo, reconhecendo a medida como necessária
para continuidade de sua evolução. Entrementes, nas encarnações sucessivas,
partes do débito vão sendo pagas, aliviando o devedor. Por isso Cyro Costa
alude a “resquícios de culpa” e não à culpabilidade total.
Também
por isso as vítimas foram recebidas de maneira gloriosa, pois agora comparecem
na Espiritualidade como heróis da evolução, espíritos que se propuseram a
passar na Terra pelo que infligiram a outros no passado. Não foram submetidos
compulsoriamente ao sacrifício, mas entregaram-se a ele de maneira espontânea,
no exercício voluntário do seu livre arbítrio. Essa a sua glória. E o consolo
para os que ficaram é evidente. Seus entes queridos não foram vítimas
ocasionais de um golpe nefando do destino ou da fatalidade. Nada disso.
Sacrificaram-se num momento terrível mas passageiro, para assegurar-se a
felicidade no mundo espiritual e reencarnações felizes no futuro.
Sem
as provas positivas que o Espiritismo oferece aos que o estudam e praticam, é
difícil ao homem compreender o problema. Mas há mais de um século a revelação
espírita vem beneficiando milhares de criaturas, hoje perfeitamente aptas a
compreender esse processo.
Quanto
às Cruzadas, convém lembrar que suas guerras foram das mais desumanas, marcadas
por massacres e incêndios. Historiadores de insuspeita autoridade, como
Brentano, Langlois, Michaud, relatam cenas de canibalismo, massacres de
crianças, horrores de toda espécie praticados em nome da fé cristã.
Na
queda de Jerusalém, segundo Brentano, em 1099, os judeus da cidade foram
reunidos na sinagoga e queimados vivos. Correndo a notícia de que os mouros
haviam engolido objetos de ouro, para escondê-los, milhares deles tiveram o
ventre aberto e suas vísceras remexidas pelos cruzados, ainda quentes.
O
fogo era largamente usado. Mouros e judeus eram levados aos edifícios mais
altos e obrigados a saltar para se espatifarem no solo. Encurralavam-se
prisioneiros em prédios altos, que eram incendiados para que eles morressem nas
chamas. Como vemos, crimes tão hediondos só poderiam provocar resgates a longo
prazo.
Os poetas e o incêndio
(Chico Xavier)
Os
poetas Cyro Costa e Cornélio Pires manifestaram-se pela psicografia, como já
dissemos anteriormente, oferecendo-nos visão nova do terrível acidente. Ambos
os poetas trouxeram-nos grande conforto. Nossa troca de impressões sobre o
acontecimento doloroso, antes da manifestação dos poetas, revelava o grande
abalo que todos sofrêramos.
Concordamos
todos em colocar os sonetos em suas mãos, na ideia de que possam consolar
outros irmãos, cujos sentimentos estejam mais diretamente ligados à provação
que nos atingiu a todos.
*
* *
Nota – O soneto de Cyro
Costa, que revela os motivos cármicos de tantas mortes no incêndio, está
publicado no capítulo anterior.
Neste capítulo reproduzimos o de Cornélio Pires, o poeta de Tietê, de saudosa
memória, que nos dá uma dupla visão da dolorosa ocorrência.
Incêndio em São Paulo
(Cornélio Pires)
Céu
de São Paulo… O dia recomeça…
O povo bom na rua lida e passa…
Nisso, aparece um rolo de fumaça
E o fogo para cima se arremessa.
|
A
morte inesperada age possessa,
E enquanto ruge, espanca ou despedaça,
A Terra unida ao Céu a que se enlaça
É salvação e amor, servindo à pressa…
|
A
cidade magoada e enternecida
É socorro chorando a despedida,
Trazendo o coração triste e deserto…
|
Mas
vejo, em prece, além do povo aflito,
Braços de amor que chegam do Infinito
E
caminhos de luz no céu aberto…
|
Almas libertas
(J. Herculano Pires)
Tudo
se encadeia no Universo, explicam os Espíritos na obra básica da doutrina. Nada
acontece por acaso. Há em tudo uma sequência natural de causas e efeitos, de
ação e reação. Cyro Costa nos deu em seu soneto as raízes da tragédia do
Joelma. Cornélio Pires nos relata as consequências. Temos assim uma visão em
três tempos da catástrofe que seria absurda, ininteligível, sem os
esclarecimentos proporcionados pela comunicação mediúnica.
A
ocorrência não se torna menos dolorosa, mas a consolação é levada a muitos
corações desesperados. Saber que os entes queridos não pereceram ao acaso nem
desapareceram nas cinzas, mas foram socorridos por amigos espirituais e estão a
caminho de recuperação nos planos superiores da vida, é aliviar o coração e
desafogar a alma. Muitos perguntarão: E as provas de tudo isso? E quantos, ao
fazer a pergunta, já obtiveram a resposta pela intuição da realidade que trazem
em si mesmos, nas profundezas misteriosas da consciência.
O
soneto de Cornélio Pires é descritivo, como era de seu estilo tão conhecido de
todos. O poeta busca socorro nas reticências, nos três pontinhos que, sem mudar
de aparência, mudam de significação em cada verso. Todo o quadro da tragédia
foi apanhado nesses catorze versos de um decassílabo modesto, mas preciso. Não
há uma pincelada a mais nem a menos. E a última reticência é uma abertura para
tudo aquilo que a palavra não pode traduzir.
Das
terríveis guerras das Cruzadas, em nome de Cristo, as almas enclausuradas em
reencarnações sucessivas vieram imolar-se no último sacrifício. Em breves
momentos de desespero e dor libertaram-se do passado para librar-se a planos
superiores da vida. Aliviaram para sempre suas consciências doloridas. Almas
libertas, podem agora prosseguir nos caminhos da evolução espiritual sem cair
em novos enganos. Possuem a experiência maior. Amadureceram para a imortalidade.
Ontem queriam servir a Deus a ferro e fogo. Hoje compreendem que só o amor nos
livra das ciladas do egoísmo e da arrogância e nos prepara de maneira eficiente
para os serviços de Deus.
Francisco
Cândido Xavier
J.
Herculano Pires
Espíritos
diversos
Livro
Diálogo dos Vivos
Fonte e agradecimentos pela matéria: Carlos Eduardo Cenerelli
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