Programa
Transição - Mensagem de Natal - Divaldo Franco 1ª Parte
DIVALDO FRANCO - NATAL -
PARTE 2
Nossos
Natais
Toda vez que o Natal retorna, cantando
Hosanas, aciono as lembranças dos Natais da minha infância.
Na tela do pensamento, repasso imagens
daqueles dias vividos, no seio da família: pais, avós, irmãos.
Dias tão diversos dos atuais. Dias em
que a TV ainda não chegara ao nosso lar e o que nos ligava ao mundo, naquele
distante rincão, eram as ondas radiofônicas.
Recordo que os dias que antecediam o
Natal eram de agitação. Minha irmã era muito criativa e, juntas, fazíamos a
decoração da casa.
Laços de fita colorida se mesclavam ao
verde de pequenos ramos que retirávamos das árvores do quintal.
Os presentes eram escassos: um para cada
criança. Éramos cinco.
No entanto, de forma miraculosa, quando
a família adentrava a sala, para a troca tão esperada, havia pacotes e mais
pacotes.
Pacotes coloridos, de tamanhos e formas
diversas. Leves, pesados, pequenos, grandes.
Era o nosso milagre particular.
Tomávamos, minha irmã e eu, de pequenos mimos, esquecidos em gavetas e
armários, lavávamos, políamos e providenciávamos embrulhos.
O momento da distribuição era de
surpresas contínuas. A pessoa tomava do pacote e tentava adivinhar o que
continha.
Seria um presente de verdade ou uma
brincadeira? Por
vezes, colocávamos algo minúsculo em caixas de variados tamanhos.
E lá ficava um de nós, entre a emoção e
a ansiedade de todos, desembrulhando e desembrulhando.
No final, havia sempre risos. Às vezes,
era apenas um seixo liso, colhido em passeio familiar e zelosamente guardado
para a ocasião.
Ou então, era uma concha sui generis,
fruto de uma ida à praia. Um livro emprestado, lido e que retornava, dessa
forma, às mãos do dono.
Surpresas e mais surpresas. As crianças
participávamos com risos, gritos, exclamações!
A figura de Papai Noel jamais adentrou a
nossa casa. Desde muito cedo, aprendemos que nossos pais e avós faziam grandes
sacrifícios para conseguir brindar a cada um de nós com um brinquedo.
E nós lhes dávamos lembranças, feitas
por nós, entre o carinho e a inabilidade de nossas mãos.
Depois, era a ceia, servida em baixelas
de porcelana, especialmente reservadas para dias importantes como o Natal.
Presente de casamento! – Informava nossa mãe, para atestar da
importância de todos aqueles pratos.
E bebíamos em copos de cristal, que nos
requeriam todo cuidado.
Todos brindávamos, com guaraná, cujas
bolhas, provocando cócegas, mais nos faziam rir.
Dias felizes. Natais passados em que não
faltava o momento de oração ao Divino Aniversariante, o mais importante convidado.
Porque, afinal, só se tinha festa, porque Ele estava aniversariando.
Hoje, quando os anos se transformaram em
décadas, agradeço a Deus pelos Natais de tantas venturas familiares.
Agradeço pelos amores que me deram
alegrias, tantas e multiplicadas para recordar.
E lhes digo, desejando ouçam no mundo
espiritual, onde se encontram: Feliz Natal, vovô, vovó, pai, mãe, irmãos
queridos da minha alma saudosa!
Redação
do Momento Espírita.
“Certa vez, alguém me contou que havia
sido perseguido e injuriado, por muitos anos, por um ferrenho adversário de
suas ideias. Ele vivia sonhando com o dia em que seu opositor, reconhecendo os
equívocos cometidos, o procurasse para pedir perdão...
Imaginava, finalmente, ter o referido
adversário aos seus pés, dando a mão à palmatória. Acalentava essas ideias de
triunfo em que justiça lhe seria feita.
Pois bem. Quando já estava com os
cabelos quase todos brancos, o adversário de muito tempo, também de cabelos
brancos, inesperadamente o procura para o tão aguardado entendimento.
Confessou-lhe os seus excessos, pediu a
ele que o desculpasse na inveja e no ciúme que sempre o haviam motivado no
combate acirrado, falou de suas lutas pessoais e de ordem íntima semelhantes
àqueles que exatamente criticara no companheiro...
Conversaram longamente, sem ninguém por
perto para testemunhar o diálogo. O amigo injuriado, que tinha tantas respostas
na ponta da língua, que havia decorado o que dizer justamente para quando
chegasse a hora inevitável daquele confronto, percebeu, segundo ele próprio me
confidenciou, que ele também inutilmente perdera tempo...
De repente, sentiu que não havia
qualquer razão para o revide... Ambos haviam
envelhecido naquela disputa que ninguém saberia identificar como teria
começado.
–‘Chico – disse-me ele -, eu não tive
vontade nenhuma de reagir; é verdade que ele se prevalecera de todas as
artimanhas para me prejudicar, mas eu também mentalizara aquele momento, no dia
em que, face a face comigo, ele se sentisse humilhado...
Ele estava tendo a grandeza de me pedir
perdão se eu não lhe perdoasse, ele estaria triunfando sobre mim... Eu nunca
tido ido a ele; ele é que estava tomando a iniciativa de vir a mim... Eu, que
anelava fazer uma publicação no jornal, tornando pública aquela hora de retratação,
não tive ânimo de contar isso a quem quer que fosse.
Você é a primeira pessoa que está
sabendo – ele desencarnou há mais de um mês!...
Hoje, sinto por ele uma afeição que não
sei explicar. Reconheci que em muita coisa ele tinha razão a meu respeito...’
Feliz daquele que, na hora de dar o troco,
perde a vontade! Esses encontros com os nossos desafetos mais cedo ou mais
tarde acontecerão; se não for nesta vida, será na Vida Espiritual. Os que nos
perseguem, com razão ou sem razão, nos auxiliam a identificar o nosso próprio
lugar... Às vezes, nos é muito mais útil um adversário sincero que um amigo
bajulador.”
xxx
=32=
“... No futuro, os homens cogitarão de
se prepararem, em bases de educação raciocinada, sobre o que lhes acontecerá
depois da morte no Plano Físico, porque, efetivamente, ninguém vai morrer, no
sentido de desaparecer, de vez que nos achamos todos, queiramos ou não, diante
de nossa própria imortalidade, além do corpo que usamos atualmente.”
xxx
de “O EVANGELHO DE CHICO XAVIER” –
Carlos A. Baccelli
“Quem compreende o espírito da Doutrina
não se sente animado à discussão... O Espiritismo nos auxilia a identificar tão
claramente as nossas necessidades, que, quando delas tomamos consciência, não
encontramos, no sentido de nos melhorarmos um pouco, outra alternativa que não
seja a do trabalho aliado ao silêncio.”
“Quem não tem razão no que me
critica, não merece resposta; quem tem, está falando a verdade, e contra a
verdade ninguém pode. É o que Emmanuel tem me ensinado. Por este motivo, a vida
inteira procurei ouvir em silêncio as verdades e as mentiras que têm sido ditas
a meu respeito.”
“À Igreja Católica dedico o meu
respeito, sem compartilhar-lhe da militância, na atualidade. Será, talvez, por
isso que, entregue às tarefas da mediunidade, na Doutrina Espírita, qual me
vejo há muito tempo, não conheço o movimento que se nomeia por ‘Teologia da
Libertação’. Posso apenas dizer que considero a Doutrina Espírita, na face
religiosa, na condição de Cristianismo Redivivo, acessível a todos, sem
distinção de faixas sociais. Com este esclarecimento, permitam-me que me
recorde do ensinamento de Jesus: ‘Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos fará
livres’, acentuando que na teologia simples do Evangelho temos nós todos, os
cristãos, o enunciado inesquecível dos princípios divinos: A cada um, segundo
as suas obras.”
xxxx
Do livro “O EVANGELHO DE CHICO
XAVIER”/Carlos A. Baccelli
Os Vinte e Sete Zeros de Chico Xavier
Livro: Chico Xavier O Apóstolo da Fé
Carlos Baccelli
Uma companheira comentava com Chico
sobre um concurso, de âmbito estadual, a que se submetera. Era professora e
almejava a efetivação no cargo. Classificara-se, no entanto não se conformava
com a nota obtida na prova de redação.
Chico disse-lhe então:
- Console-se comigo, minha filha...
E, em seguida, contou-lhe curiosa
historia:
- Eu tinha ido ao Rio de Janeiro para
fazer um concurso, objetivando promoção. Ganhava muito pouco e, realmente,
estava precisando melhorar os vencimentos, pois a minha família era muito
grande. Em Belo Horizonte, já foram reprovado em dois concursos. Era o
terceiro. O Sr. Rômulo Joviano me acompanhava ao DASP - Departamento do Serviço
Público. A prova seria no Colégio Pedro II. Para que eu fosse aprovado,
precisaria totalizar 40 pontos. Pois bem, fui reprovado outra vez... Consegui
apenas 13 pontos, tirando 27 zeros!... Os oito companheiros, aos quais havia
ensinado, passaram e eu fiquei... Eu me sentia muito triste, pois tinha certeza
de que estava preparado, mas os examinadores sempre me marcaram muito. Você
sabe, eu era espírita, médium... O Diretor do DASP me chamou: - "O senhor
é que é Chico Xavier?!... pois a sua incompetência é tamanha, que o seu caso
está me chamando para a fé religiosa. A minha esposa tem lido os seus livros e
está encantada; não pode ser o senhor quem os escreve de fato..." À noite,
tive um sonho - prossegue o Chico com sua pitoresca narrativa -, tive um sonho
e nele me vi diante de um palácio muito bonito. Embora não visse Emmanuel,
sentia que ele estava por perto, me acompanhando. Aproximei-me mais daquela
majestosa construção e percebi uma sigla: DASP. Então, muito assustado,
exclamei:
- "Meu Deus, aqui também existe
DASP!..." foi aí que ouvi a voz de Emmanuel, me falando:
- "Mas o DASP daqui é diferente,
Chico. O DASP aqui significa: Departamento de Assistência aos Servidores do
Pai!..."
e Chico completa:
- Daí em diante, jamais faltou
dinheiro para as necessidades primeiras.
Nossa irmã ficou muito edificada com
a experiência de Chico, mas ainda lamentava-se, argumentando ter se esforçado
muito. E dizia: - As minhas coisas são conseguidas com muita dificuldade,
Chico! Sempre com muita luta!...
- Mas isso é bom, minha filha -
prosseguiu o médium -, porque, quando a gente está de mais idade, olha para
trás, vê as dificuldades superadas e sente satisfação intima enorme! Diz
Emmanuel assim: "Você esteja certo de que, na Terra, os felizes não tem
história."
O assunto terminou por ali, mas todos
permanecemos meditando na beleza das palavras de Chico, nas suas provas ao
longa da vida e... nos seus 27 zeros!...
ORAÇÃO
NO NATAL
Jesus,
que neste Natal, Seu olhar de luz penetre nossa alma, como a brisa morna da
primavera, e acorde a esperança adormecida sob as folhas secas das ilusões, dos
medos, da indiferença, do desespero...
Que Seu perfume, suave como a
ternura, envolva todo o nosso ser, confortando-nos e despertando a alegria que
jaz esquecida por trás das lamúrias e distrações do caminho...
Que o bálsamo do Seu amor
acalme as nossas dores, silencie as nossas queixas, socorra a nossa falta de
fé.
Que, neste Natal, o calor da
Sua bondade se derrame sobre o nosso Espírito e derreta o gelo milenar do
egoísmo que nos infelicita e faz infelizes nossos semelhantes...
Que Seu coração generoso afine
as cordas da harpa viva que vibra em nossa intimidade, e possamos cantar e
dançar, até que o preconceito fuja, envergonhado, e não mais faça morada em
nós...
Que o Seu canto de paz seja
ouvido por todos os povos, do Oriente e do Ocidente, e as guerras nunca mais
sejam possíveis entre a raça humana...
Que, neste Natal, Suas mãos
invisíveis e firmes sustentem as nossas, e nos arranquem dos precipícios dos
vícios, da ira, dos ódios que tanto nos infelicitam...
Que a água cristalina da Sua
misericórdia percorra nossa alma e remova o lodo do ciúme, da inveja, do desejo
de vingança, e de tantos outros vermes que nos corroem e nos matam
lentamente...
Que o bisturi do Seu afeto
extirpe a mágoa que se aloja em nosso íntimo e nos turva as vistas,
impedindo-nos de ver as flores ao longo do caminho...
Que, neste Natal, a pureza da
Sua amizade faça com que possamos ver apenas as virtudes dos nossos amigos, e
os abracemos sem receio, sem defesas, sem prevenções...
Que Seu canto de liberdade ecoe
em nós, para que sejamos livres como as falenas que brincam na brisa morna,
penetrada pela suavidade da luz solar...
Que o sopro da Sua fé nos
impulsione na direção das estrelas que cintilam no firmamento, onde não mais se
ouvem gemidos de dor, e onde a felicidade plena já é realidade.
Ensine-nos, Jesus, a amar, a
fazer desabrochar em nossa alma esse sol interior que nos fará luz por
inteiro...
Ajude-nos a desenvolver o gosto
pelo conhecimento, para que possamos encontrar a verdade que nos libertará da
ignorância pertinaz...
E, por fim, Jesus, que neste
Natal cada ser humano possa sentir a Sua presença sábia e amiga, convidando a
todos a uma vida mais feliz...
Tão feliz que Sua mensagem não
mais seja um tímido eco repercutindo em almas vacilantes, mas que seja uma
grande melodia que vibra o amor em todos os cantos da Terra...
Redação
do Momento Espírita.
A
ORDEM DO MESTRE Humberto de Campos
Avizinhando-se
o Natal, havia também no Céu um rebuliço de alegrias suaves. Os Anjos acendiam
estrelas nos cômoros de neblinas douradas e vibravam no ar as harmonias
misteriosas que encheram um dia de encantadora suavidade a noite de Belém. Os
pastores do paraíso cantavam e, enquanto as harpas divinas tangiam suas cordas
sob o esforço caricioso dos zéfiros da imensidade, o Senhor chamou o Discípulo
Bem-Amado ao seu trono de jasmins matizados de estrelas.
O
vidente de Patmos não trazia o estigma da decrepitude como nos seus últimos
dias entre as Espórades. Na sua fisionomia pairava aquela mesma candura
adolescente que o caracterizava no princípio do seu apostolado.
- João
– disse-lhe o Mestre – lembras-te do meu aparecimento na Terra?
-
Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de
frei Dionísios, que colocou erradamente o vosso natalício em 754, calculando no
século io em 754, calculando no ste o vosso natalromana, apesar da
arbitrariedade de frei Dions z encantadora suavidade a noite de BeVI da era
cristã.
- Não,
meu João – retornou docemente o Senhor – não é a questão cronológica que me
interessa em te argüindo sobre o passado. É que nessas suaves comemorações vem
até mim o murmúrio doce das lembranças!...
- Ah!
sim, Mestre Amado – retrucou pressuroso o Discípulo – compreendo-vos. Falais
da significação moral do acontecimento. Oh!...se me lembro... a manjedoira,
a estrela guiando os poderosos ao estábulo humilde, os cânticos harmoniosos dos
pastores, a alegria ressoante dos inocentes, afigurando-se-nos que os animais
vos compreendiam mais que os homens, aos quais ofertáveis a lição da humildade
com o tesouro da fé e da esperança. Naquela noite divina, todas as potências
angélicas do paraíso se inclinaram sobre a Terra cheia de gemidos e de amargura
para exaltar a mansidão e a piedade do Cordeiro. Uma promessa de paz
desabrochava para todas as coisas com o vosso aparecimento sobre o mundo.
Estabelecera-se um noivado meigo entre a Terra e o Céu e recordo-me do júbilo
com que Vossa Mãe vos recebeu nos seus braços feitos de amor e de misericórdia.
Dir-se-ia, Mestre, que as estrelas de ouro do paraíso fabricaram, naquela noite
de aromas e de radiosidades indefiníveis um mel divino no coração piedoso de
Maria!...
Retrocedendo
no tempo, meu Senhor bem-amado, vejo o transcurso da vossa infância, sentindo o
martírio de que fostes objeto; o extermínio das crianças de Vossa idade, a fuga
nos braços carinhosos da Vossa progenitora, os trabalhos manuais em companhia
de José, as vossas visões maravilhosas no Infinito, em comunhão constante com o
Vosso e nosso Pai, preparando-Vos para o desempenho da missão única que Vos fez
abandonar por alguns momentos os palácios de sol da mansão celestial para
descer sobre as lamas da Terra.
- Sim,
meu João, e, por falar nos meus deveres, como seguem no mundo as coisas
atinentes à minha doutrina?
- Vão
mal, meu Senhor. Desde o concílio ecumênico de Nicéia, efetuado para combater o
cisma de Ario em 325, as vossas verdades são deturpadas. Ao arianismo seguiu-se
o movimento dos inconoclastas em 787 e tanto contrariaram os homens o Vosso
ensinamento de pureza e de simplicidade, que eles próprios nunca mais se
entenderam na interpretação dos textos evangélicos.
- Mas
não te recordas, João, que a minha doutrina era sempre acessível a todos os
entendimentos? Deixei
aos homens a lição do caminho, da verdade e da vida sem lhes haver escrito uma
só palavra.
- Tudo
isso é verdade, Senhor, mas logo que regressastes aos vossos impérios
resplandecentes, reconhecemos a necessidade de legar à posteridade os vossos
ensinamentos. Os evangelhos constituem a vossa biografia na Terra; contudo, os
homens não dispensam, em suas atividades, o véu da matéria e do símbolo. A
todas as coisas puras da espiritualidade adicionam a extravagância de suas
concepções. Nem nós e nem os evangelhos poderíamos escapar. Em diversas
basílicas de Rávena e de Roma, Mateus é representado por um jo0vem, Marcos por
um leão, Lucas por um touro e eu, Senhor, estou ali sob o símbolo estranho de
uma águia.
- E os
meus representante, João, que fazem eles?
-
Mestre, envengonho-me de o dizer. Andam quase todos mergulhados nos interesses
da vida material. Em sua maioria, aproveitam-se das oportunidades para explorar
o vosso nome e, quando se voltam para o campo religioso, é quase que apenas
para se condenarem uns aos outros, esquecendo-se de que lhes ensinastes a se
amarem como irmãos.
- As discussões e os símbolos, meu querido – disse-lhe suavemente o
Mestre – não me impressionam tanto. Tiveste, como eu, necessidade destes
últimos, para as predicações e, sobre a luta das idéias, não te lembras quanta
autoridade fui obrigado a despender, mesmo depois da minha volta da Terra, para
que Pedro e Paulo não se tornassem inimigos? Se entre meus apóstolos
prevaleciam semelhantes desuniões, como poderíamos eliminá-las do ambiente dos
homens, que não me viram, sempre inquietos nas suas indagações? ... O que me
contrista é o apego dos meus missionários aos prazeres fugitivos do mundo!
- É
verdade, Senhor.
- Qual
o núcleo de minha doutrina que detém no momento maior força de expressão?
- É o
departamento dos bispos romanos, que se recolheram
dentro de uma organização admirável pela sua disciplina, mas altamente
perniciosa pelos seus desvios da verdade. O Vaticano, Senhor, que não
conheceis, é um amontoado suntuoso das riquezas das traças e dos vermes da
Terra. Dos seus palácios confortáveis e maravilhosos irradia-se todo um
movimento de escravização das consciências. Enquanto vós não tínheis uma pedra
onde repousar a cabeça, dolorida os vossos representantes dormem a sua sesta
sobre almofadas de veludo e de ouro; enquanto trazíeis os vossos pés macerados
nas pedras do caminho escabroso, quem se inculca como vosso embaixador traz a
vossa imagem nas sandálias matizadas de pérolas e de brilhantes. E junto de
semelhantes superfluidades e absurdos, surpreendemos os pobres chorando de
cansaço e de fome; ao lado do luxo nababesco das basílicas suntuosas, erigidas
no mundo como um insulto à glória da vossa humildade e do vosso amor, choram as
crianças desamparadas, os mesmos pequeninos a quem estendíeis os vossos braços
compassivos e misericordiosos. Enquanto sobram as lágrimas e os soluços entre
os infortunados, nos templos, onde se cultua a vossa memória, transbordam
moedas em mãos cheias, parecendo, com amarga ironia, que o dinheiro é uma
defecação do demônio no chão acolhedor da vossa casa.
-
Então, meu Discípulo, não poderemos alimentar nenhuma esperança?
-
Infelizmente, Senhor, é preciso que nos desenganemos. Por um estranho contraste,
há mais ateus benquistos no Céu do que aqueles religiosos que falavam em vosso
nome na Terra.
- Entretanto – sussurraram os lábios divinos docemente – consagro o
mesmo amor à humanidade sofredora. Não obstante a negativa dos filósofos, as
ousadias da ciência, o apodo dos ingratos, a minha piedade é inalterável... Que
sugeres, meu João, para solucionar tão amargo problema?
- Já não dissestes, um dia, Mestre, que cada qual tomasse a sua cruz e
vos seguisse?
- Mas
prometi ao mundo um Consolador em tempo oportuno!...
E os
olhos claros e límpidos, postos na visão piedosa do amor de seu Pai Celestial,
Jesus exclamou:
- Se os vivos nos traíram, meu Discípulo Bem-Amado, se traficam com o
objeto sagrado da vossa casa, profligando a fraternidade e o amor, mandarei que
os mortos falem na Terra em meu nome. Deste Natal em diante, meu João,
descerrarás mais um fragmento dos véus misteriosos que cobrem a noite triste
dos túmulos para que a verdade ressurja das mansões silenciosas da Morte. Os
que já voltaram pelos caminhos ermos da sepultura retornarão à Terra para
difundirem a minha mensagem, levando aos que sofrem, coma esperança posta no
Céu as claridades benditas do meu amor!...
E
desde essa hora memorável, há mais de cinqüenta anos, o Espiritismo veio, com
as suas lições prestigiosas, felicitar e amparar na Terra a todas as criaturas.
Humberto
de Campos
(Recebida
em Pedro Leopoldo a 20 de dezembro de 1935)
Do
livro Crônico de Além Túmulo. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Madrugada
Exuberante
Amélia
Rodrigues (espírito)
A
noite esplendente de círios estrelares banhava-se de suave luar, que se
refletia sobre as águas tranqüilas do mar espelho.
O dia
havia sido caracterizado por amena temperatura, enriquecido simultaneamente por
incontáveis emoções.
Sucediam-se
as experiências no convívio com as massas humanas, incessantes, com suas
aflições que recordavam ondas contínuas espraiando-se nas areias imensas
salpicadas de seixos e conchas variadas.
O
hinário da Boa Nova era cantado na região por quase todas as bocas, mas, as
interpretações variavam de acordo com as necessidades de cada qual.
Tinha-se
a impressão que os Céus haviam descido à Terra e se fundiram umas nas outras as
canções de amor e os lamentos clamorosos, que logo após silenciaram suas vozes
desesperadas.
Jesus
constituía, sem dúvida, o divisor das águas e daqueles dias turbulentos...
Os
discípulos haviam acompanhado o Mestre durante o aconselhamento à uma
desesperada mãe, que Lhe buscara o socorro, face à perda do filho amado que o
anjo da morte arrebatara.
O
desespero da suplicante logo se transformara em tranqüila e dúlcida alegria que
lhe colocara luz brilhante nos olhos antes amortecidos pela aflição.
Como a
morte sempre era temida e certamente detestada, utilizando-se da noite
harmoniosa, na qual o Amigo parecia aguardar as inquietações dos discípulos,
sentado diante do mar ornado da luz da lua, musicada pelos ventos suaves e pelo
espreguiçar das vagas macias nas areias úmidas, formou-se o grupo gentil, cujo
silêncio foi quebrado pela voz de João, o jovem que O amava com arrebatamento.
Havia
uma doce magia no ar, que bailava no velário das sombras salpicadas de
pingentes de prata...
— Como
entender a morte, Mestre querido – indagou o discípulo ansioso – que sempre nos
ameaça e apavora? Ante a sua inexorável fatalidade, nossos dias perdem a cor e
a beleza, quase tirando-nos a razão de existir. Como entender a hedionda
mensageira da sombra?
O
nobre Guia desenhou tranqüilo sorriso na face banhada pelo argênteo luar, e
respondeu com doçura:
A
morte não é mensageira da sombra, nem do pavor, mas a missionária da vida
imperecível. É a incompreendida intermediária entre Deus e os seres sencientes,
encarregada de reconduzir os homens ao verdadeiro lar, após terem encerrado os
seus compromissos na escola terrestre. Suavemente ou mediante ação abrupta, sem
agressão nem receio, convoca reis e vassalos, mendigos e poderosos, crianças e
anciãos, sadios ou enfermos ao despertar do sono fisiológico, fazendo-os volver
ao país da consciência desperta, ao Grande Lar.
Portadora
de alta responsabilidade, apresenta-se com a mesma nobreza a todos os seres,
desvestindo-os das pesadas roupagens da ilusão, para a vivência da realidade
inevitável. Sem o seu árduo trabalho a vida não teria qualquer sentido e o
corpo se decomporia durante a existência, que se alongaria sem limite com
tormentos inimagináveis... Para uns, todavia, é a misericórdia que chega em
momento máximo, para outros, trata-se da libertação do cativeiro. Alguns a
tomam como cruel inimiga, enquanto diversos a odeiam com rebeldia. Não
obstante, impávida, faz-se instrumento da Vida para a grandeza do ser
indestrutível.
— E o
sofrimento, Senhor, que ela impõe – voltou, à carga, o discípulo receoso -, não
dilacera a alma daqueles que ficam?! Morrer, afinal, dói?
O
incomparável Benfeitor alongou o olhar pela noite feliz, e após breve reflexão,
elucidou:
— A
Casa de meu Pai tem infinitas moradas. Cada flor de luz que brilha ao longe é
um pouso feliz que nos aguarda após vencidas as batalhas terrenas. Para
alcançá-lo é necessário descer aos vales humanos nas roupas densas da matéria,
a fim de tecer as delicadas asas de luz que nos erguerão aos seus planos quase
divinos. Sem a morte compassiva e misericordiosa, isso não seria possível.
Passo a passo, o viajante vence as distâncias no mundo físico. Da mesma forma,
graças à morte-vida, à vida-após-a-morte desaparecem os abismos que medeiam
entre os sublimes lares que voam na amplidão e a pequenina Terra onde nos
encontramos.
Silenciando
novamente por breves segundos, com específica entonação de voz, prosseguiu:
—
Morrer não dói. O desprendimento é suave para os justos e inquietante para
aqueles que são portadores de consciência culpada. O trânsito que leva à
liberdade entre o cárcere e o horizonte largo, sem barreira, é sempre rico de
expectativa e não de sofrimento. A marcha, porém, de cada qual, é resultado da
conduta vivenciada no período do cativeiro. Quem considera o corpo como a única
realidade, sofre decepção e angústia, medo de o abandonar e apego à forma em
decomposição, fenômeno que se alonga por largo período, enquanto dure a
alucinação. No entanto, quem o utilizou como educandário de iluminação para o espírito,
deixa-o, qual borboleta ditosa que abandona o casulo pesado para flutuar na
leve brisa do dia... A morte após o dever cumprido transforma-se em madrugada
iridescente, que é o pórtico da imortalidade ditosa, onde o amor inunda o
recém-liberto de alegria, sem dor nem saudade da caminhada terrestre.
É
necessário viver de maneira que a morte lhe signifique prosseguimento, sem
qualquer interrupção, conduzindo o ser no rumo da plenitude, da paz inefável.
Fez
novo silêncio repassado de emoção, que igualmente dominava os ouvintes, logo
dando continuidade:
— Eu
vim para que todos tenhais vida em abundância no meu reino, que se amplia além
das fronteiras da morte. Sem ela, não o alcançareis. Superando os desafios e
vencidas as paixões, o ser se sutiliza e passa a habitar em mundo feliz, sem
angústia ou ansiedade alguma.... A fim de o conseguir, torna-se indispensável
que o amor e o dever diluam as sombras da ignorância que encarceram nas
masmorras da carne o desavisado, sem permitir-lhe os vôos libertadores que
anela realizar.
Quando
se calou, os amigos tinham lágrimas que não se atreviam a descer da comporta
dos olhos. Saudades de seres amados e gratidão pelo que lhes haviam oferecido,
esperanças de vitórias futuras sobre as pesadas algemas dos desejos, das falsas
necessidades e sonhos de felicidade, mesclavam-se nos seus sentimentos, e eles
entenderam que o corpo é meio, é veículo de condução, mas o Espírito é o
imperecível instrumento do Pai Criador, que nos aguarda nos penetrais do
Infinito, e que a morte libera da injunção penosa.
A
noite harmônica e perfumada, então dominada pelo lucilar dos astros e as ânsias
da Natureza, insculpiu no ádito daqueles corações a mensagem da imortalidade,
enquanto o Mestre os preparava para a madrugada resplandecente do futuro reino
dos Céus.
(Página
psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 14 de março
de 2001, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)
(Jornal
Mundo Espírita de Junho de 2001)
A
Estrela de Belém
Cristãos
decididos e sinceramente interessados na elucidação do fenómeno que produziu a
estrela de Belém, à semelhança dos investigadores materialistas, hão recorrido,
através da História, a matemáticos e astrónomos capacitados, ansiosos por
resposta perfeitamente lógica e racional sobre o inusitado aparecimento do
astro a que se referem os escritores evangélicos.
E, de
quando em quando, fiéis às pesquisas feitas nos mapas celestes, aqueles
estudiosos tentam traçar directrizes que clarifiquem, em definitivo, o
insuspeito acontecimento, na noite santa em que ocorreu o Natal de Jesus, e
posteriormente vista pelos Magos do Oriente, que por ela foram guiados.
Segundo
alguns observadores, fora o Cometa de Halley que naquele dia e àquele período
se fazia visível por toda a Galiléia e parte oriental do país.
Para
outros era uma conjunção oportuna de astros que produziram refração na
atmosfera, incidindo o facho luminoso sobre a manjedoura singela, que Ele
dignificou com o Seu nascimento.
Conquanto
possamos admitir uma ou outra hipótese, Jesus é, em síntese, a constelação dos
astros divinos ergastulados temporariamente na forma humana para conviver com
os homens, deixando pela atmosfera envolvente do Planeta o rasto luminescente
da sua imersão, como mensagem de advertência reveladora.
REI
DIVINO - e não obstante, submeteu-se às conjunturas da transitória convivência
humana para, sublime, lecionar humildade.
CONSTRUTOR
DA TERRA - todavia, deixou-se experimentar pelas circunstâncias ocasionais do
ministério entre as criaturas, para ensinar a grandeza da renúncia.
LEGISLADOR
SUBLIME - entretanto, aquiesceu sofrer as imposições da ignorância religiosa de
Israel e os padrões arbitrários da política do Império Romano, facultando-se a
decisão no jogo odioso da ética vulgar, a fim de que se cumprissem as Leis e os
Profetas, na integridade das previsões n'Ele, todo amor!
Em
toda a sua jornada, à semelhança de astro que se arrebenta em luz na imensidão
escura da noite, clareou os destinos dos homens, como obreiro infatigável,
acendendo lâmpadas de esperança nos corpos alquebrados e nos tecidos gastos das
almas, pelas constrições das paixões esmagadoras de todos os tempos.
Misturou-se
à caterva dos que viviam a Sua hora e caminhou com os pés da aflição, sem
permitir-se consumir ou contaminar pelas querelas mesquinhas, pelas imposições
tradicionais ou pelas suspeitas manifestações da idiossincrazia a que se
aferravam os que O cercavam continuamente.
Por um
minuto sequer se rebelou contra a miserabilidade que defrontava em toda a
parte...
Arquiteto
das estrelas, dobrou-se, sereno, na marcenaria humilde para que o pão fosse
honrado com o suor da Sua face, e a estrutura da Nova Humanidade pudesse
alicerçar-se no trabalho edificante, que é a mola mestra do progresso e da
felicidad humana.
Mantendo
incessante quão ininterrupto contacto com o Pai e servindo pela aquiescência
dos anjos que se Lhe submetiam, dialogou, pulcro, demoradamente, com os
Espíritos das sombras , abrindo-lhes os ouvidos e acendendo a luz nos seus
olhos apagados, com a inteireza moral das Suas conquistas incomparáveis.
Antes,
todavia, de descer aos homens, fez que Avatares do Seu Reino viessem ampliar as
dimensões das fronteiras terrenas, preparando o solo do futuro.
E eles
floresceram como superior manifestação da vida, ora na Índia, disseminando o
reencarnacionismo e perfumando com toda uma filosofia de paz e renúncia os
continentes dos Espíritos;
ora na
China, empreendendo os audaciosos vôos da política sob as bases seguras da
família, no lar e na sociedade, de modo a traduzir a porvindoura fraternidade
entre os homens, com inequívoca força de amor e respeito ao dever;
ora no
Egito reacendendo os subtis aromas da Imortalidade, nos santuários dos Templos
e na intimidade das Escolas de Iniciação, mantendo acesas as flamas da verdade,
mediante as comunicações entre os dois planos da vida;
ora na
Caldeia ou na Pérsia, favorecendo com a esperança milhares de vidas estioladas
sob o clangor da guerra;
ora na
Helade ou em Roma, criando a conceituação da beleza, da justiça, da legislação
equilibrada e do ideal do bem.
Assim
também por Israel, que por longos séculos de dor se fez depositária da Mensagem
do Deus Único, transitaram esses Embaixadores Sublimes, irrigando com a linfa
preciosa, decorrente do intercâmbio espiritual, os solos crestados dos
Espiritos sofridos, a fim de que Ele próprio viesse oportunamente imular-se,
para ensinar a libertação total das limitações físicas e da opressão do barro
humano...
Por
isso, todos os Seus feitos empalidecem ante os Seus ditos , pois que as
realizações no corpo são menores do que a vitalização da alma em considerando
que ninguém jamais vivera conforme Ele o fazia, transformando-se, Ele próprio,
no caminho por onde deveriam rumar todos os homens na direcção da Vida e da
Verdade, que em suma Ele representava na Terra.
Mesmo
assim, quando contemplava com lágrimas as dores do porvir do mundo e via o
homem imerso na fragilidade do corpo carnal prometeu voltar, através do
Consolador , que seria o liame perene de união com Ele até ao fim dos tempos...
O
mergulho que começou em Belém não terminou no Gólgota, nem desapareceu após a
visão da Jerusalém libertada, que o vidente de Patmos prelodiou...
Em
Jesus, o Herói Invencível, que na Sua grandeza superou a astúcia de Cambises,
rei dos persas, a violência de Alexandre Magno, da Macedónia, audácia de
Cipião, o africano, e a estratégia de Júlio César, o divino Imperador, as armas
foram a mansidão e o amor, a abnegação e a misericórdia, entretecendo com esses
fios de luz a túnica nupcial do noivado intérmino com a Humanidade de todos os
tempos, pela qual espera desde o princípio, até ao instante da boda sublime,
para a reunião numa grande família, em pleno reinado da paz!
A
viagem fora longa para aquele casal, principalmente para aquela mulher grávida,
durante quatro ou cinco dias, sacudida pelo trote da montaria...
Sucederam-se
abismos e montes, subidas e descidas, quase às portas da Cidade Santa, chegando
por fim a Belém...
... E
em pleno fastígio do Império Romano, indicado por uma estrela, anunciado pelos
anjos, nasceu Jesus!
Antes,
e desde então, a Sua vida deverá ser examinada, em "espírito e
verdade" , para ser compreendida e penetrada pelos olhos imateriais, os
únicos capazes de vislumbrar o Seu Reino.
Seja
qual for a hipótese respeitável sobre a estrela de Belém , a união dos
Espíritos da Luz que mantinham o intercâmbio entre as duas Esferas formou um
facho poderoso que indicava o lugar da tradição, em que Ele deveria começar o
ministério entre os homens.
...
Pastores e reis magos, todos videntes, convidados pelas Entidades Celestes,
seguiram-na, cada um a seu turno, enquanto os cantores sublimes proclamavam:
"GLÓRIA
A DEUS NAS ALTURAS E PAZ NA TERRA ENTRE OS HOMENS DE BOA VONTADE."
Bibliografia
:
Amélia
Rodrigues "A Luz do Mundo" - Item 2 , Editora: LEAL , 9 ed.
PL-Salvador
Indagação de Natal
Joanna de Ângelis
Estes são outros tempos, não muito diferentes daqueles, os tempos nos
quais Ele nasceu.
Há também predomínio da força e do esmagamento dos ideais, ganância e
loucura nos quais os homens se locupletam, vitimados em si mesmos.
Não obstante, há glórias do amor e do sacrifício, da abnegação e da
renúncia.
Milhões de vidas que se estiolam na fome, na miséria moral e econômica,
aguardam que Jesus volte a nascer, a fim de poderem respirar e viver,
adquirindo a dignidade que lhes têm sido negada pelos enganados-enganadores,
ora guindados ao poder temporal.
Imprescindível que cada homem se pergunte o que tem feito em favor de si
mesmo, no sentido da sua realidade eterna e em relação ao seu próximo.
FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Joanna de Ângelis.
CELEBRAÇÃO DO NATAL
A prepotência da
força gerara a arbitrariedade do poder. O mundo era, então, um espólio fácil
nas garras dos insaciáveis esbulhadores.
Homens, mulheres e crianças facilmente transitavam de mão em mão sob a canga de
vil cativeiro, cujas rédeas eram conduzidas pela impiedade triunfante no carro
da guerra...
A ostentação e a miséria, a opulência e a sordidez, a exuberância do
desperdício e a escassez de recursos constituíam contrastes aparvalhantes
naqueles dias...
Dominadores de uma hora tombavam, logo depois, desfilando como hilotas ou
sucumbiam asfixiados nos rios de sangue em que se compraziam...
Intrigas na política de César, desídias nas hostes poderosas, desmandos
criminosos e conciliábulos argentários confraternizavam disfarçados com as
tricas religiosas, as disputas pela primazia e as ambições desmedidas, fazendo
que a alma dos povos sofresse o jugo do pulso férreo dos títeres do mundo e a
mão veludosa, porém, traiçoeira, dos mandatários da fé.
A felicidade se consubstanciava na fortuna enganosa de um dia, no sorriso de um
momento, logo convertidos em miséria de largo período e esgar de contínua
contração facial.
Nenhuma fanfarra apregoadora. Festividade alguma entoando alvíssaras.
Nem palácio, nem berço de ouro.
Anunciado por profetas e anjos, Ele era esperado como o Justiçador.
Os que O aguardavam transferiam para Ele os métodos da violência e da
subjugação com que esperavam submeter os outros homens, vencendo os povos e os
humilhando vergonhosamente.
...Ele, todavia, elegeu o altar de uma lapa e o império imensurável da Natureza
para apresentar-se aos homens.
Somente alguns poucos ouviram a melodia angélica e perceberam o lucilar da
estrela indicadora, saudando o Seu advento e a Sua jornada.
Sua vida, no entanto, modificou a estrutura moral e espiritual da Humanidade
desde então.
Esperança dos infelizes, fez-se porto de segurança dos desesperados. A partir
daquele momento, em quaisquer conjunturas, Jesus é o alfa e o ômega das
criaturas terrenas, apontando as direções seguras para a paz e a felicidade.
* * *
De certo modo, ante a semelhança destes tempos com aqueles dias, não te
distraias nas exterioridades frívolas com que recordam o nascimento do Senhor.
Esparze em derredor a luz da alegria, o bálsamo do consolo e o pão da bondade,
celebrando o Natal com as mãos da caridade e os tesouros do amor, de modo a
transformares o coração num altar e a alma na sede do Seu reino, donde Ele
possa novamente apresentar-se, por teu intermédio, aos desditosos,
reconstruindo a vida sob a excelsa sinfonia dos anjos a repetirem:
Glória a Deus nas alturas; paz aos homens de boa vontade!
Joanna de Ângelis (espírito), psicografia de Divaldo Franco
Ressonâncias do Natal
Na paisagem fria e sem melhor acolhimento, a única hospedaria à
disposição era a gruta modesta onde se guardavam os animais.
Não havia outro lugar que O pudesse receber.
O mundo, repleto de problemas e de vidas inquietas, preocupava-se com os
poderosos do momento e reservava distinções apenas para os que se refestelavam
no luxo, bem como no prazer.
Aos simples e desataviados sempre se dedicavam a indiferença, o
desrespeito, fechando-lhes as portas, dificultando-lhes os passos.
Mas hoje, tudo permanece quase que da mesma forma.
Não obstante, durante aquela noite de céu transparente e estrelado,
entre os animais domésticos, em uma pequena baia, usada como berço acolhedor,
nasceu Jesus, que transformou a estrebaria num cenário de luzes inapagáveis que
prosseguem projetando claridade na noite demorada dos séculos, em quase dois
mil anos...
Inaugurando a era da humildade e da renúncia, Jesus elegeu a
simplicidade, a fim de ensinar engrandecimento íntimo como condição única para
a felicidade real.
O Seu reino, que então se instalou naquela noite de harmonias cósmicas,
permanece ensejando oportunidades de redenção a todos quantos se resolvam
abrigar nas suas dependências.
E o Seu nascimento modesto continua produzindo ressonâncias históricas,
antes jamais previstas.
Homens e mulheres, que tomaram contato com Sua notícia e mensagem,
transformaram-se, mudando-se-lhes o roteiro de vida e o comportamento,
convertendo-se, a partir de então, em luzeiros que apontam rumos felizes para a
Humanidade.
Guerreiros triunfadores passaram pelo mundo desde aquela época,
inumeráveis.
Governantes poderosos estabeleceram reinos e impérios, que pareciam
preparados para a eternidade, e ruíram dolorosamente.
Artistas e técnicos, de rara beleza e profundo conhecimento, criaram
formas e aparelhagens sofisticadas para tornarem a Terra melhor, e
desapareceram.
Ditadores indomáveis e aristocratas incomuns surgiram no proscênio
terrestre, envergando posição, orgulho e superioridade, que o túmulo silenciou.
...Estiveram, por algum tempo, deixando suas pegadas fortes, que
tornaram alguns odiados, outros rechaçados e sob o desprezo das gerações
posteriores.
Jesus, porém, foi diferente.
Incompreendido, o Cantor do Amor aceitou a cruz, para não anuir com o
crime, e abraçou a morte para não se mancomunar com os mortos.
Por isso, ressurgiu, em triunfo e grandeza, permanecendo o Ser mais
perfeito que jamais esteve na Terra, como modelo que Deus nos ofereceu para
Guia.
Quando a Humanidade experimenta dores superlativas, quando a miséria
sócio-econômica assassina milhões de vidas que estertoram ao abandono; quando
enfermidades cruéis demonstram a fragilidade orgânica das criaturas; quando a
violência enlouquece e mata; quando os tóxicos arruínam largas faixas da
juventude mundial, ao lado de outros males que atestam a falência do
materialismo, ressurge a figura impoluta de Jesus, convidando à reflexão, ao
amor e à paz, enquanto as ressonâncias do Seu Natal falam em silêncio: Ele, que
tem salvo vidas incontáveis, pede para que tentes fazer algo, amando e
libertando do erro pelo menos uma pessoa.
Lembrando-te dEle, na noite de Natal, reparte bondade, insculpe-O no
coração e na mente, a fim de que jamais te separes dEle.
* * *
Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Momentos Enriquecedores.
Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Salvador, BA: LEAL, 1994.
O Conquistador Diferente
Os conquistadores aparecem no
mundo, desde as recuadas eras da selvageria primitiva. E, há muitos séculos,
postados sem soberbos carros de triunfo, exibem troféus sangrentos e abafam,
com aplausos ruidosos, o cortejo de misérias e lágrimas que deixam à distância.
Sorridentes e felizes, aceitaram as ovações do povo e distribuem graças e
honrarias, cobertos de insígnias e incensados pelas frases lisonjeiras da
multidão. Vasta fileira de escritores congrega-se-lhes em torno, exaltando-lhes
as vitórias no campo de batalha. Poemas épicos e biografias romanceadas surgem
no caminho, glorificando-lhes a personalidade que se eleva, perante os homens
falíveis, à dourada galeria dos semideuses.
Todavia, mais longe, na
paisagem escura, onde choram os vencidos, permanecem as sementeiras de dor que
aguardarão os improvisados heróis na passagem implacável do tempo. Muitas
vezes, contudo, não chegam a conduzir para o túmulo as medalhas que lhes
brilham no peito dominador, porque a própria vida humana se incumbe de esclarece-los,
através das sombras da derrota, dos espinhos da enfermidade e das amargas
lições da morte.
Dario, filho de Histaspes,
reis dos persas, após fixar o poderio dos seus exércitos, impôs terríveis
sofrimentos à Índia, a Trácia e à Macedônia, conhecendo, em seguida, a amargura
e a derrota, à frente dos gregos.
Alexandre Magno, por tantos
motivos admirado na história do mundo, titulou-se generalíssimo dos helenos, em
plena mocidade e, numa série de movimentos militares que o celebrizaram para
sempre, infligiu inomináveis padecimentos aos lares gregos, egípcios e persas;
todavia, apesar das glórias bélicas com que desafiava cidades e guerreiros,
fazendo-se acompanhar de incêndios e morticínios, rendeu-se à doença que lhe
imobilizou os ossos em Babilônia.
Aníbal, o grande chefe
cartaginês, espalhou o terror e a humilhação entre os romanos, em sucessivas
ações heróicas que lhe imortalizaram o nome, na crônica militar do Planeta;
contudo, em seguida à bajulação dos aduladores e à falsa concepção de poder,
foi vencido por Cipião, transformando-se num foragido sem esperança,
suicidando-se, por fim, num terrível complexo de vaidade e loucura.
Júlio César, o famoso general
que pretendia descender de Vênus e de Anquises, constitui um dos maiores
expoentes do engenho humano; submeteu a Gália e desbaratou os adversários em
combates brilhantes, governando Roma, na qualidade de magnífico triunfador; no
entanto, quando mais se lhe dilatava a ambição, o punhal de Bruto, seu
protegido e comensal, assassinou-o, sem comiseração, em pleno Senado.
Napoleão Bonaparte, o
imperador dos franceses, depois de exercer no mundo uma influência de que raros
homens puderam dispor na Terra, morre, melancolicamente, numa ilha apagada, ao
longo da vastidão do mar.
Ainda hoje, os conquistadores
modernos, depois dos aplausos de milhões de vozes, após a dominação em que se
fazem sentir, magnânimos para os seus amigos e cruéis para os adversários,
espalhando condecorações e sentenças condenatórias, caem ruidosamente dos
pedestais de barro, convertendo-se em malfeitores comuns, a serem julgados
pelas mesmas vozes que lhes cantavam louvores na véspera.
Todos eles, dominadores e
tiranos, passam no mundo, entre as púrpuras do poder, a caminho os mistérios do
sofrimento e dos desencantos da morte. Em verdade, sempre deixam algum bem no
campo das relações humanos, pelas novas estradas abertas e pelas utilidades da
civilização, cujo aparecimento aceleram; todavia, o progresso amaldiçoa-lhes a
personalidade, porque as lágrimas das mães, os soluços dos lares desertos, as
aflições da orfandade, a destruição dos campos e o horror da natureza
ultrajada, acompanham-nos, por toda parte, destacando-os com execráveis sinais.
Um só conquistador houve no
mundo, diferente de todos pela singularidade de sua missão entre as criaturas.
Não possuía legiões armadas, nem poderes políticos, nem mantos de gala. Nunca
expediu ordens e soldados, nem traçou programas de dominação. Jamais humilhou e
feriu. Cercou-se de cooperadores aos quais chamou "amigos".
Dignificou a vida familiar, recolheu crianças desamparadas, libertou os
oprimidos, consolou os tristes e sofredores, curou cegos e paralíticos. E, por
fim, em compensação aos seus trabalhos, levados a efeito com humildade e amor;
aceitou acusações para que ninguém as sofresse, submeteu-se à prisão para que
outros não experimentassem a angústia do cárcere, conheceu o abandono dos que
amava, separou-se dos seus, recebeu, sem revolta, ironias e bofetadas, carregou
a cruz em que foi imolado e na sua morte passou por ser a de um ladrão.
Mas, desde a última vitória no
madeiro, tecida em perdão e misericórdia, consolidou o seu infinito poder sobre
as almas, e, desde esse dia, Jesus Cristo, o conquistador diferente, começou a
estender o seu divino império no mundo, prosseguindo no serviço sublime da
edificação espiritual, no Oriente e no Ocidente, no Norte e no Sul, nas mais
cariadas regiões do Planeta, erguendo uma Terra aperfeiçoada e feliz, que
continua a ser construída, em bases de amor e concórdia, fraternidade e
justiça, acima da sombria animalidade do egoísmo e das ruínas geladas da morte.
Xavier, Francisco Cândido. Da
obra: Antologia Mediúnica do Natal. Ditado pelo Espírito Irmão X. 5a
edição. Capítulo 3. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 2002.
Natal
Aquele nascimento, nas
especiais circunstâncias em que ocorreu, deveria assinalar, conforme sucedeu, o
período de renovação humana e social, alterando, por definitivo, os fastos
históricos.
Antes dele, o tumulto galopava
o corcel da violência e a barbárie solucionava as disputas, favorecendo o
perverso que elaborava as próprias leis.
É certo que, depois, por um
largo período continuou predominando a força da estupidez e o desequilíbrio dos
crimes hediondos na governança das nações.
Mergulhou, naquela oportunidade,
Jesus, nas vestes humanas, a fim de conviver com os seres terrestres.
Ele, porém, dividiu as épocas,
em face da significação de que se revestiu a Sua vida.
Renunciando ao sólio do
Altíssimo, Ele entregou-se às atividades próprias daqueles que estagiavam nas
faixas primárias da evolução moral.
Naquele período, a guerra
alterava, a cada instante, o mapa terrestre; os impérios sucediam-se uns aos
outros, reduzidos sempre a escombros após os breves períodos de esplendor,
enquanto a crueldade se encarregava de estabelecer os seus impositivos.
Reduzidos à condição de
animália de carga, os pobres e esquecidos nada representavam no cenário
convulsionado em que reinavam os execrandos dominadores.
Os exércitos alucinados
sucediam-se sob comandos perversos, varrendo o planeta conhecido e a tudo
transformando.
Suas glórias de efêmera
duração cediam lugar a sofrimentos inomináveis.
Os triunfadores de um dia logo
cediam lugar a outros, não menos ensandecidos, posteriormente passando à
servidão ou sendo consumidos por mortes vergonhosas...
Foi nesse clima que nasceu
Jesus e um mundo novo se iniciou...
É certo que ainda vigem o
abuso do poder, os crimes covardes, as dominações arbitrárias, a arrogância dos
poderosos, o horror dos extermínios em massa, a crueza do terrorismo...
Nada obstante, as leis, mesmo
que não cumpridas por enquanto, bafejadas pelas Suas diretrizes vêm-se
humanizando, enquanto se alargam as possibilidades para a vigência do amor, da
solidariedade, do respeito pelos direitos humanos e pela Natureza...
Desenvolveram-se os
sentimentos da compaixão e o anjo da caridade passou a cuidar dos réprobos, dos
oprimidos, dos considerados excluídos, que eram descartados sem consideração,
tidos como peso negativo na economia da sociedade que os ignorava.
Certamente ainda ocorrem as
lamentáveis execuções grupais, o olvido dos países miseráveis, o exclusivismo
que se permite o poder... No entanto, periodicamente tomam forma humana
estrelas espirituais fulgurantes em nome do Seu amor, iluminando as sendas
sombrias, diminuindo a amargura generalizada e ensejando esperança e paz.
Sucede que a evolução é um
processo muito lento, em razão das fixações perturbadoras que são trazidas das
experiências primitivas.
A vinculação com a força
predomina em a natureza humana durante muito tempo em detrimento dos valores
morais, o que faz retardar a marcha do progresso.
Aquele nascimento insculpiu na
memória dos tempos a grandeza do amor, então desconhecido ou ignorado.
Mediante os ensinamentos de
Jesus, porém, ocorreram significativas alterações em favor do mais rápido
desenvolvimento espiritual dos seres humanos.
A misericórdia, que era
desconsiderada, passou a assinalar as consciências, ensejando visão diferente a
respeito dos párias e dos deserdados.
Ele próprio entregou-se ao
ministério de exemplificar, tomando-se a Sua vida um evangelho de feitos.
O Seu inefável amor renovou a
face do planeta com a palavra libertadora, musical, severa e nobre.
Não amado, porfiou amando.
Não compreendido, manteve-se
compreensível.
Não aceito, perseverou nos
ensinamentos sublimes.
Jesus entre as criaturas
humanas é o momento culminante no processo histórico da evolução.
Não mais se repetirão aquele
nascimento, aqueles dias, aquelas bênçãos. Nem serão necessários, porquanto os
acontecimentos permanecem indeléveis na consciência dos tempos idos,
assinalando os porvindouros...
Estes são igualmente dias
muito difíceis.
Durante a larga transição que
se opera na Terra, atinge-se; neste momento, o ponto culminante das provações e
dores acerbas, invitando à reflexão e à mudança de atitude comporta mental para
melhor.
Não te desesperes em vão, se
te sentes excruciado por problemas e dores.
Recorda-te de Jesus e deixa-te
por Ele conduzir.
Na data evocativa do Seu
nascimento, faze uma reflexão mais profunda e verifica se Ele já nasceu em teu
coração.
Após a constatação da Sua
presença ou não em ti, sai do desconforto moral ou da comodidade, da
indiferença ou do erro e deixa que este seja um sublime Natal em tua vida,
passando a viver feliz e dedicado ao Bem de que Ele se fez vexilário.
Franco, Divaldo Pereira.
Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. Página psicografada pelo médium Divaldo
P. Franco, na reunião mediúnica da noite de 21 de setembro de 2005, no Centro
Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
No Caminho do Amor IRMÃO – X
Em Jerusalém, nos arredores do Templo, adornada mulher encontrou um
nazareno, de olhos fascinantes e lúcidos, de cabelos delicados e melancólicos
sorriso, e fixou-o estranhamente.
Arrebatada na onda de simpatia a irradiar-se dele, corrigiu as dobras da
túnica muito alva; colocou no olhar indizível expressão de doçura e, deixando
perceber, nos meneios do corpo frágil, a visível paixão que a possuíra de
súbito, abeirou-se do desconhecido e falou, ciciante:
-Jovem, as flores de Séforis encheram-me a ânfora do coração com
deliciosos perfumes. Tenho felicidade ao teu dispor, em minha loja de essências
finas...
Indicou extensa vila, cercada de rosas, à sombra de arvoredo acolhedor,
e ajuntou:
-Inúmeros peregrinos cansados me buscam a procura do repouso que
reconforta. Em minha primavera juvenil, encontram o prazer que representa a
coroa da vida. E' que o lírio do vale não tem a carícia dos meus braços e a
romã saborosa não possui o mel de meus lábios. Vem e vê! Dar-te-ei leito macio,
tapetes dourados e vinho capitoso ... Acariciar-te-ei a fronte abatida e
curar-te-ei o cansaço da viagem longa! Descansarás teus pés em água de nardo e
ouvirás, feliz, as harpas e os alaúdes de meu jardim. Tenho a meu serviço
músicos e dançarinas, exercitados em palácios ilustres!...
Ante a incompreensível mudez do viajor, tornou, súplice, depois de leve
pausa:
-Jovem, porque não respondes?
Descobri em teus olhos diferentes chama e assim procedo por amar-te. Tenho sede
de afeição que me complete a vida. Atende! atende!...
Ele parecia não perceber a vibração febril com que semelhantes palavras
eram pronunciadas e, notando-lhe a expressão fisionômica indefinível, a
vendedora de essências acrescentou uma tanto agastada:
-Não virás?
Constrangido por aquele olhar esfogueado, o forasteiro apenas murmurou:
-Agora, não. Depois, no entanto, quem
sabe?!...
A mulher, ajaezada de enfeites, sentindo-se desprezada, prorrompeu em
sarcasmos e partiu.
Transcorridos dois anos, quando Jesus levantava paralítico, ao pé do
Tanque de Betesda, venerável anciã pediu-lhe socorro para infeliz criatura,
atenazada de sofrimento.
O Mestre seguiu-a, sem hesitar.
Num pardieiro denegrido, um corpo chagado exalava gemido angustioso.
A disputada marcadora de aromas ali se encontrava carcomida de úlceras,
de pele enegrecida e rosto disforme. Feridas sanguinolentas pontilhavam-lhe a
carne, agora semelhante ao esterco da terra. Exceção dos olhos profundos e
indagadores, nada mais lhe restava da feminilidade antiga. Era uma sombra
leprosa, de que ninguém ousava aproximar.
Fitou o Mestre e reconheceu-o.
Era o mesmo mancebo nazareno, de porte sublime e atraente
expressão.
O Cristo estendeu-lhe os braços, tocados de intraduzível ternura
e convidou:
-Vem a mim, tu que sofres! Na
Casa de Meu Pai, nunca se extingue a esperança.
A interpelada quis recuar, conturbada de assombro, mas não conseguiu
mover os próprios dedos, vencida de dor.
O Mestre, porém, transbordando compaixão, prosternou-se fraternal, e
conchegou-a, de manso...
A infeliz reuniu todas as forças que lhe sobravam e perguntou, em voz
reticenciosa e dorida
-Tu?... o Messias nazareno?...
O Profeta que cura, reanima e alivia?!... Que viste fazer, junto de mulher tão
miserável quanto eu?
Ele, contudo, sorriu benevolente, retrucando apenas:
-Agora, venho satisfazer-te os
apelos.
E, recordando-lhe a palavra do primeiro encontro, acentuou, compassivo:
-Descubro em teus olhos diferentes chama e assim procedo por amar-te.
(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier)
Fonte: Reformador nº12 – Dezembro/1950
Jesus e a mulher atormentada - Divaldo
Pereira
Na solidão da vida, nos declaramos carentes de afeto, de compreensão, de
reconhecimento. Buscamos adquirir companhias quando o mais correto seria
buscarmos servir de companhia. Muitas vezes pagamos por momentos de companhia,
como se conseguíssemos tirar desses momentos os valores da felicidade buscada.
A frustração é a eterna companheira daquele que busca comprar e receber do
mundo aquilo de que pensa necessitar.
Aquele que se sente carente diante da solidão devia antes perceber que
se mantém isolado em si mesmo. A verdadeira carência não é aquela que pensamos
experimentar. A verdadeira necessidade é vivermos fazendo diferença pelo
serviço que prestamos, é amarmos como gostaríamos de sermos amado, e não o
contrário. Somente nossas ações e doações serão capazes de vencer as angústias
e as aflições da solidão. Só é solitário aquele que se esconde do mundo, que
não age na vida, que não dá de si.
O nível de sofrimento que experimentamos está diretamente ligado ao
valor que damos ao ato de receber do mundo. Quanto mais esperarmos receber,
mais infelizes nos sentiremos, e mais responsabilizaremos os outros pelas
nossas mazelas. Quanto mais nos dispusermos a dar, mais seremos capazes de
compreender e menor será o sentimento de frustração, angústia e sofrimento diante
das experiências da vida.
“Dar para
receber”.
“Amar para ser
amado”.
“Compreender para
ser compreendido”.
“Negar-se para ser
reconhecido”
“Humilhar-se para
ser exaltado”.
Todas estas afirmações são interpretações da Lei de Deus. Quando formos
capazes de, usando nossa razão, vencer a emoção e a ilusão do orgulho e do
egoísmo, aí teremos o progresso moral requerido, até nos tornarmos reais
cidadãos do mundo e Filhos de Deus. Neste dia, quem sabe, poderemos dizer como
Jesus: “Nós e o Pai somos um, pois sua vontade é a minha vontade”.
Assim, caro companheiro de ideal espírita, se hoje sentes carência de
afeto, de compreensão, e te deixas levar pela tristeza, pela angústia, pela frustração
e pela dor; se hoje não és capaz de ver o caminho da felicidade; medita nesta
história que o Irmão X nos proporcionou.
Quando fores procurado e convidado a receber do mundo, imuniza-te,
prepara-te para servir e coloca-te à disposição da vontade de Deus para dar de
ti. Aí, caro amigo, caro irmão, encontrarás a felicidade que tanto procuras,
pois estarás trilhando o verdadeiro caminho do amor.
RESSONÂNCIAS do
Natal
Na paisagem
fria e sem melhor acolhimento, a única hospedaria à disposição era a gruta
modesta onde se guardavam os animais.
Não havia outro
lugar que O pudesse receber.
O MUNDO,
REPLETO DE PROBLEMAS E DE VIDAS INQUIETAS, PREOCUPAVA-SE COM OS PODEROSOS DO
MOMENTO E RESERVAVA DISTINÇÕES APENAS PARA OS QUE SE REFESTELAVAM NO LUXO, BEM
COMO NO PRAZER.
Aos simples e
desataviados sempre se dedicavam a indiferença, o desrespeito, fechando-lhes as
portas, dificultando-lhes os passos.
Mas hoje, tudo
permanece quase que da mesma forma.
Não obstante,
durante aquela noite de céu transparente e estrelado, entre os animais
domésticos, em uma pequena baia, usada como berço acolhedor, nasceu Jesus, que
transformou a estrebaria num cenário de luzes inapagáveis que prosseguem
projetando claridade na noite demorada dos séculos, em quase dois mil anos...
Inaugurando a
era da humildade e da renúncia, Jesus elegeu a simplicidade, a fim de ensinar
engrandecimento íntimo como condição única para a felicidade real.
O Seu reino,
que então se instalou naquela noite de harmonias cósmicas, permanece ensejando
oportunidades de redenção a todos quantos se resolvam abrigar nas suas
dependências.
E o Seu
nascimento modesto continua produzindo ressonâncias históricas, antes jamais
previstas.
Homens e
mulheres, que tomaram contato com Sua notícia e mensagem, transformaram-se,
mudando-se-lhes o roteiro de vida e o comportamento, convertendo-se, a partir
de então, em luzeiros que apontam rumos felizes para a Humanidade.
GUERREIROS
TRIUNFADORES PASSARAM PELO MUNDO DESDE AQUELA ÉPOCA, INUMERÁVEIS.
GOVERNANTES
PODEROSOS ESTABELECERAM REINOS E IMPÉRIOS, QUE PARECIAM PREPARADOS PARA A
ETERNIDADE, E RUÍRAM DOLOROSAMENTE.
ARTISTAS E
TÉCNICOS, DE RARA BELEZA E PROFUNDO CONHECIMENTO, CRIARAM FORMAS E APARELHAGENS
SOFISTICADAS PARA TORNAREM A TERRA MELHOR, E DESAPARECERAM.
DITADORES
INDOMÁVEIS E ARISTOCRATAS INCOMUNS SURGIRAM NO PROSCÊNIO TERRESTRE, ENVERGANDO
POSIÇÃO, ORGULHO E SUPERIORIDADE, QUE O TÚMULO SILENCIOU.
...ESTIVERAM,
POR ALGUM TEMPO, DEIXANDO SUAS PEGADAS FORTES, QUE TORNARAM ALGUNS ODIADOS,
OUTROS RECHAÇADOS E SOB O DESPREZO DAS GERAÇÕES POSTERIORES.
Jesus, porém,
foi diferente.
Incompreendido,
o Cantor do Amor aceitou a cruz, para não anuir com o crime, e abraçou a morte
para não se mancomunar com os mortos.
Por isso,
ressurgiu, em triunfo e grandeza, permanecendo o Ser mais perfeito que jamais
esteve na Terra, como modelo que Deus nos ofereceu para Guia.
QUANDO A
HUMANIDADE EXPERIMENTA DORES SUPERLATIVAS, QUANDO A MISÉRIA SÓCIO-ECONÔMICA
ASSASSINA MILHÕES DE VIDAS QUE ESTERTORAM AO ABANDONO; QUANDO ENFERMIDADES
CRUÉIS DEMONSTRAM A FRAGILIDADE ORGÂNICA DAS CRIATURAS; QUANDO A VIOLÊNCIA
ENLOUQUECE E MATA; QUANDO OS TÓXICOS ARRUÍNAM LARGAS FAIXAS DA JUVENTUDE
MUNDIAL, AO LADO DE OUTROS MALES QUE ATESTAM A FALÊNCIA DO MATERIALISMO,
RESSURGE A FIGURA IMPOLUTA DE JESUS, CONVIDANDO À REFLEXÃO, AO AMOR E À PAZ,
ENQUANTO AS RESSONÂNCIAS DO SEU NATAL FALAM EM SILÊNCIO: ELE, QUE TEM SALVO
VIDAS INCONTÁVEIS, PEDE PARA QUE TENTES FAZER ALGO, AMANDO E LIBERTANDO DO ERRO
PELO MENOS UMA PESSOA.
Lembrando-te
dEle, na noite de Natal, reparte bondade, insculpe-O no coração e na mente, a
fim de que jamais te separes dEle.
* * *
Franco, Divaldo
Pereira. Da obra: Momentos Enriquecedores.
Ditado pelo
Espírito Joanna de Ângelis.
Salvador, BA:
LEAL, 1994.
História de um Bonequinho de Pano
Conto de Natal
José
Brígido
Zequinha
era filho de papais ricos. Sempre tivera todos os seus caprichos satisfeitos o
que de certo modo estava influindo desfavoravelmente no seu caráter ainda em
formação.
Uma
tarde, quando passeava com a bá ele avistou um garotinho muito pobre, sujo e esfarrapado,
que parecia feliz, imensamente feliz com um bonequinho de pano, já desbotado e
sem forma. Chorou, gritou, esperneou tanto que a ama, sem refletir no que
fazia, arrancou bruscamente o boneco das mãos do garotinho sujo para atender à
impertinência de Zequinha. O menino pobre; surpreendido pela brutalidade do
gesto, empalideceu, levou os dedinhos imundos à boca e, depois, fez beicinho
como se desejasse chorar. Mas não chorou. Enquanto isso, o outro se afastou,
alegre, empolgado pela sensação nova que lhe proporcionava o brinquedo alheio.
Tão
castigada pelo infortúnio era a alminha de Luís, o guri esfarrapado, que ele
não pôde desfazer-se em lágrimas Sentiu o peito opresso e se deteve,
paralisado, perplexo, acompanhando de longe, com o olhar ansioso, o seu querido
bonequinho de pano, a sua riqueza, o único enlevo da sua infância dolorosa.
Dirigiu-se tristemente para o cortiço que lhe servia de lar, onde dominava a
madrasta rude, egoísta e indiferente à sua sorte. Seu pai, homem simples, saía
bem cedo para o trabalho e voltava sempre muito tarde. Todavia, ensinara o
filho à não se deitar sem se dirigir ao Alto. Assim, antes de repor o corpinho
débil nos trapos que lhe davam como leito, no chão duro e húmido, Luisinho
murmurava sempre
-Papai
do Céu: eu quelo mamãe! Eu quelo ficá cum ela, Papaizinho do Céu!. ..
E
depois dormia tranqüilamente um sono só.
...................................................................................................................................................
Na
noite que sucedeu ao episódio do bonequinho de pano reclamado pelo menino rico,
Luisinho, antes de dormir, pôs-se de joelhos, juntou as mãozinhas à altura do
peito e balbuciou timidamente, como se estivesse fazendo algo de censurável:
-Papai
do Céu: eu quelo minha mamãezinha, Papaizinho do Céu! Eu quelo meu bunequinho
de pano qui mamãe me deu!
E
dando à voz uma inflexão de súplica rematou, quase soluçando:
-
Num isquece de mim, não... Sim Papaizinho do Céu?! . . .
...................................................................................................................................................
Jamais
aquele menino pobre tivera um sono tão calmo e uma noite tão linda! Seu
rostinho sujo se enfeitou de estranha claridade. Sua cabecinha emoldurada de
luz semelhava à obra mestra de prodigioso pintor divino. Luisinho despertou
mais cedo que de costume. Saiu. Havia grande alvoroço lá fora, pois algumas
crianças menos desafortunadas exibiam, contentes, humildes presentinhos de
Natal que havia ganhado.
Luisinho
olhava para tudo aquilo sem inveja e se lembrava do seu bonequinho de pano. Não
se mostrava propriamente triste. Se leve sombra de melancolia lhe velava o
gracioso semblante, es olhos testemunhavam secreta confiança, o que lhe
permitia contemplar serenamente a justa alegria dos outros pequeninos.
Eis,
porém, que, em dado momento, Luisinho olha para o meio da rua e vê seu querido
boneco de pano, abandonado, tão desprezado quanto ele, ambos irmanados no
destino cruel e áspero. Bateu as mãozinhas e seus olhos, agora lacrimejantes,
brilhavam de satisfação intensa. Correu, pressuroso, para apanhar aquela jóia
tão grata ao seu coraçãozinho sofredor, justamente quando um automóvel surge,
célere, sobre ambos...
...................................................................................................................................................
Naquela
noite de Natal, as estrelas brilharam mais fortemente e duas delas refulgiam de
modo assaz extraordinário em tão maravilhoso conjunto de beleza celestial. Cá
em baixo, a brisa agitava suavemente o arvoredo e o ruído das folhas parecia
dizer com infinita ternura
Obrigado,
Papaizinho do Céu! Agola tou tão contente com a minha mamãezinha!...
...................................................................................................................................................
Foi
esse o melhor Natal do garotinho pobre, sujo e esfarrapado, que amava
tanto um bonequinho de pano, tão infeliz quanto ele, na infelicidade da
vida terrena...
Fonte: Reformador
nº12 – Dezembro/1950
Responsável pela transcrição: Wadi Ibrahim
NATAL
Emmanuel
"Glória a
Deus nas Alturas, paz na Terra e boa vontade parai com os Homens."
Lucas, 2:14.
As
legiões angélicas, junto à Manjedoura, anunciando o Grande Renovador, não
apresentaram qualquer ação de reajuste violento.
Glória
a Deus no Universo Divino.
Paz
na Terra.
Boa
vontade para com os homens.
O
Pai Supremo, legando a nova era de segurança e tranqüilidade ao mundo, não
declarava o Embaixador Celeste investido de poderes para ferir ou destruir.
Nem
castigo ao rico avarento.
Nem
punição ao pobre desesperado.
Nem
desprezo aos fracos.
Nem
condenação aos pecadores.
Nem
hostilidade para com o fariseu orgulhoso.
Nem
anátema contra o gentio inconsciente.
Derramava-se
o Tesouro Divino, pelas mãos de Jesus, para o serviço da Boa Vontade. .
A
justiça do "olho por olho" e do "dente por dente"
encontrara, enfim, o Amor disposto à sublime renúncia até à cruz.
Homens
e animais, assombrados ante a luz nascente na estrebaria, assinalaram júbilo
inexprimível...
Daquele
inolvidável momento em diante a Terra se renovaria.
O
algoz seria digno de piedade.
O
inimigo converter-se-ia em irmão transviado.
O
criminoso passaria à condição de doente.
Em
Roma, o povo gradativamente extinguiria a matança nos circos. Em Sídon, os
escravos deixariam de ter os olhos vazados pela crueldade dos senhores. Em
Jerusalém, os enfermos não mais sofreriam relegados ao abandono nos vales de
imundície.
Jesus
trazia consigo a mensagem da verdadeira fraternidade e, revelando-a, transitou,
vitorioso, do berço de palha ao madeiro sanguinolento.
Irmão,
que ouves no Natal os ecos suaves do cântico milagroso dos anjos, recorda que o
Mestre veio até nós para que nos amemos uns aos outros.
Natal!
Boa Nova! Boa Vontade!...
Estendamos
a simpatia a todos e comecemos a viver realmente com Jesus, sob os esplendores
de um novo dia.
(Página recebida
pelo médium Francisco Cândido Xavier)
Fonte: Reformador nº12 – Dezembro/1950
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